CÁPSULAS DE TEMPO
Laerte Antonio
Fiz de palavras
em palavras
um edifício de tempo:
cápsulas de tempo,
e ali guardei-te
com jeito e arte —
a coma
de leãozinho...
Os olhos
cor de saudade...
O sorriso
rendado de ternuras
de avencas...
O riso
tilintante e niquelado...
O semblante:
lonjuras
entre o mar e gaivotas...
O pescoço
de garça
mergulhado na brisa castanha
dos teus cabelos...
Ombros e braços
despojados
lembrando outono-inverno...
Dois coelhos
curiosos
pelos desvãos do decote...
Cintura
de pinheiro novo
( Pinus elliottii ), acariciada
pelo vento...
Andar
esguio e longo,
as pernas bordando panos...
E quanto ao todo,
você toda —
uma rosa entre os lábios da vida...
Um sonho a transpirar o orvalho
de uma manhã que já desponta...
a convidar os girassóis
a olharem para você
e se esquecerem
de terem se esquecido...