FRASES 9
LAERTE ANTONIO
Tinha os pígios tão ajeitados
que pareciam embutidos
em um travesseirinho...
LA 11/03
Tinha tanto ciúme da esposa,
que a trancou numa barrica
amarrada ao pé da mangueira.
À noite, o vizinho foi lá:
meteu a pua no meio
e fez um buraco competente:
bem oxigenado.
Ia lá visitá-la toda noite...
No sétimo dia, o ciumento amanheceu
com a cabeça de um lado e o corpo de outro...
O vizinho, embora sensibilizado
com aquele crime hediondo,
tomou uma atitude:
rolou a barrica para o seu terreiro.
E os três
foram felizes pra burro e sempre.
Os Três?
Sim: ambos, agora, só trepavam
por aquele buraco ( lembra? )
da barrica.
LA 11/03
Era um hominho engraçado,
um meia-foda quase sem pernas,
a bundinha arrebitada...
mas que, no consultório,
avaliava empréstimos
e degustava
as belas desesperadas
de seus amigos.
Era um baixinho foda.
Muitos maridos foram lá,
mas ele tinha a urina solta...
LA 11/03
Eu? Quero outonizar-me
com as palmas
segurando cada vez mais nada.
LA 11/03
Mandruvá ou Mandaruvá?
Não sei. Tá muito enrolado...
LA 11/03
Uma pessoa incompreendida... Vivia
lá no inferno das boas intenções.
LA 11/03
— Se melhorar estraga,
compadre?!
— Estraga nada:
a mãe dela também é bonita...
LA 11/03
— Masturbar-se, meu filho, é pecado.
Aliás, o pecado está,
não na masturbação propriamente...
mas no pensar no que se pensa...
— Padre, mas não seria mais pecado
a gente pensar num poste,
numa navalha?
LA 11/03
Tudo uma trágica piada
social.
Por isso a arte
precisa recontá-la.
LA 11/03
Laura, Laura,
a língua lambe o céu
para dizer-lhe o nome.
LA 01/04
Quando o amor esfria,
Rosa, —
é pé na estrada.
Comida de geladeira,
mesmo quentada,
nunca mais será a mesma.
LA 01/04
Ali,
fazendo bó-bó-bó
no bu-bu-bu
das bi-bi-bis —
sem precisar
nem ser feliz,
ali
( sim, dai-me esse ali! ) —
que fica aí, logo aí,
no Priguilá
do Priguali,
onde me espera
minha fantástica
Sueli.
LA 02/04
É muito pouco
ser dono do próprio nariz —
até porque tal patrimônio
nunca foi dos mais nobres.
LA 02/04
Se aquilo que te falta,
alguém que poderia dar
sente prazer em não fazê-lo —
aprende a fazê-lo
a mão.
LA 02/04
Parapsicogastria
( Diálogo Luso-Espanhol )
— Quevedo?!
— Não vês nada.
Apenas um distúrbio
gastromental:
comeste sarapatel demais.
LA 02/04
Sua calma
( brunida de abulia ),
seu sorriso
( de asa quebrada )
tinham a sombra
de algo
que lhe ficava bem:
fracasso
autoprofetizado.
LA 02/04
Olhava
fazendo questão
de não ver.
Ou se via,
era chocho —
sem fome do objeto.
LA 02/04
Aos muito chegados
sugeria:
Calma! Uma por vez.
LA 02/04
Seu jeito de olhar
parecia dizer
que mais vale um tiziu voando
que uma águia na gaiola.
LA 02/04
Casado,
caprichou nas entrelinhas —
mais vale o modesto em casa
que o belo lá no vizinho.
LA 02/04
Ao esteta ponderou
que a beleza das coisas
é nem precisarem ser belas.
LA 02/04
Deu uma idéia ao padre:
Montar uma fábrica de berrantes
bordados em ouro e prata.
LA 02/04
Dizia sempre ao coveiro:
Quando chegar a minha vez,
nem vou estar...
LA 02/04
Pediu encarecidamente às noivas:
Não os magoem —
digam que não os amam,
mas só depois do divórcio.
LA 02/04
Aos políticos aconselhou:
Deixam um pouco em caixa.
LA 02/04
O mugido da vaca era branquinho
e ordenhado com mel e rapadura.
LA 02/04
Na prática, amorzão,
é outra a teoria.
Por isso o coração,
hoje, aposta no que não cria.
LA 02/04
Ah! Vamos aprendendo
a canção
que existe entre os espinhos
e a rosa.
LA 03/04
Vamos lá, meu coração!
Logo virá a primavera
arrebentando de beleza.
LA 03/04
Vamos amolecer a água dura,
amor,
depois a passamos
pelas nossas caldeiras.
LA 03/04
Se não der tempo
de os sonhos brotarem —
ao menos ficam plantados.
Plantados entre da vida
e seu mistério.
LA 03/04
A morte? Há de me ser
uma mulher muito bonita
e muito parecida
com minha mãe...
De mão dada, me ensinará
a andar por sobre as águas
e atravessar o rio.
LA 03/04
Precisamos mais deste mundo
do que ele de nós —
viemos buscar o que nos falta
( nossa falta de ser )
para irmos chegando...
lá por degraus em nós.
LA 03/04
O verbo?
para transfigurar
e decolar —
transitar no inter-realidades
lá entre ser
e parecer.
LA 03/04
A vida é uma gangorra
que eis... quebrou!
LA 03/04
Um dia chegou à sala
e disse alegre:
Boa-noite, vou dormir.
E dormiu mesmo.
LA 03/04
— Será que ele sabe?
— Vê lá! Se soubesse,
tinha matado a mulher.
LA 03/04
A vida?
Aquele poste
mijado de cachorros.
LA 03/04
Passou muita vaselina
e disse ao rapagão:
Vem, mete o pau!
Treinavam boxe.
LA 03/04
Das mulheres bonitas
Deus não vê os pecados.
Assim tem sempre vaga no inferno.
LA 07/04
A gente tomava umas
lá no bar do Fudêncio —
ambiente meio-a-meio
homens/mulheres.
LA 07/04
Curta,
divinamente curta,
sua saia
estava mais para abajur
de xota.
LA 07/04
Para os inimigos —
flores, muitas e belas.
Claro: sobre o seu túmulo.
LA 06/04
Ri hoje, que amanhã
talvez nem tenhas boca.
LA 06/04
A mulher do vizinho?
Terrível.
Terrivelmente bela.
LA 06/04
Além de charmosa,
a fome é um negocião
e puro status —
para os que não a passam.
LA 06/04
Aliás, a desgraça dos outros
sempre serviu de consolo,
não é mesmo, meu bem?
LA 06/04
Nunca peças misericórdia
para o ser humano,
senão ele te mata mesmo.
LA 06/04
Sair só morto?
Muito egoísmo.
Sai vivo,
morre depois.
LA 06/04
Relacionamento acabou?
Que bom! Assim começas outro.
LA 06/04
Misericórdia é bom:
cabe em qualquer extremo.
LA 06/04
Xiranha é bom.
Terrível
é o molho cultural
que ela contém.
LA 06/04
Melhor que um beijo,
é dois.
Melhor que dois
é vestir a peruca.
LA 06/04
Vem cá, amada,
e me ajuda
a socar no almofariz
a dor deste desejo —
até virar geléia
de amendoim
e musse, amada,
de goiaba..
LA 08/04
Evite o mal,
faça o bem.
E viva, viva sua vida
extraordinariamente.
LA 08/04
Partir do porto-eu
por mares de Eu Sou —
em busca de outros em mim
que me tornem sempre outro.
Um chegar sempre diverso
lá em cada sonho-partir.
LA 08/04
Xiranha ao molho-pardo
dá um coaxar danado —
arrepia a penumbra.
LA 09/04
“Trepar ainda trepo —
desde que a coisa
não seja muito alta.”
LA 09/04
Pegava só no tranco.
Mas quando funcionava
fazia ressoar
até as latas do barraco.
LA 09/04
Rosinha era um mimo.
Mas pra fungar?! —
nem lutador de sumô.
LA 09/04
Tinha umas pernas
que desenhavam arabescos
em qualquer imaginação.
LA 09/04
Pulava o muro de taipa,
e se vestia de luar...
E eram aquelas fodelanças
de trançar os pentelhos.
LA 09/04
Tem cara que não perdoa —
come a esposa ao molho-pardo
com pena e tudo.
LA 09/04
Entre os 45 e 50,
sua esposa deu o rabo
para os donos e notáveis
da cidadela.
Ele? Tranqüilo.
Considerava-se
um corno ilustre.
LA 09/04
Cuidado, minha Rosa,
não andes pelos mato,
que pegas carrapato
e me morres
de febre maculosa...
E sem as tuas pétalas,
minha Rosa,
meu viver vai ser duro.
LA 09/04
Aqui, sim, sou feliz —
porque nunca estive aqui.
Onde estou? Sei lá!
Por aí... a viajar-me...
Menos aqui.
LA 09/04
Quanto maior o poema
tão menos compreendido.
LA 10/04
Só pegava com o vizinho,
mas não no tranco —
gostosamente
assim ó: na chave.
LA 10/04
A sério só o riso.
LA 10/04
Cuidado pra não pronunciar
o nome deles dormindo...
LA 10/04
Quando ser corno
deixar de fato de doer —
o casamento
terá perdido
sua última graça.
LA 10/04
Paçoca de xiranha,
ainda hoje,
dá morte.
LA 10/04
Xireca mexidinha
a gente come
e pede mais.
LA 10/04
O que é, o que é:
padre que é homem não agüenta,
homem que é padre se benze?
LA 10/04
Antes do DNA,
muita beata engravidava
por milagre...
LA 10/04
Não podemos levar a sério
o homem que não aprendeu
a rir de si.
LA 11/04
Que a nossa mágoa
vá se tornando em água...
E esta regue a rosa
que brota entre corações
que se sabem superar.
LA 11/04
Xandanga com manga?
Não, não faz mal —
desde que se coma
uma de cada vez.
LA 11/04
Melhor que tê-la em casa
é pensar
em tê-la em casa.
LA 11/04
Pediu por telefone
aquela peça
que mais amamos nas amadas...
Todinha cibertrabalhada
naquele ponto divino
da matéria...
E a deixava bem ao lado
do seu cachimbo inglês.
LA 11/04
Sua mulher lhe deu cinco segundos:
que ele escolhesse —
Ou ela, ou a empregada!
Ele optou pela sogra.
LA 11/04
A cidadela inteira o amava.
De fato, o vigário era bom
como fazer amor
em noites de trovoada e chuva.
LA 11/04
Cuidado. Não se engane —
é falso esse Sesane.
LA 11/04
Uma obra em geral se torna
em obra de arte
quando traz ao seu lado
o inalcansável:
abre a possibilidade
de não ser entendida.
LA 11/004
Ela pediu-lhe um tempo...
Ele ( claro ) lhe deu.
Mas não deu tempo...
LA 11/04
O buraco era mais em baixo...
“Mais em baixo!” — ela lhe gritava
engasgada...
O cara tinha 2 metros e 42.
LA 11/04
Melhor que a nossa,
só a do próximo.
LA 11/04
Ah, o conforto, o inexprimível conforto de sentir-se seguro com uma
pessoa; não precisando nem pesar pensamentos, nem medir palavras, mas
despejá-los todos, exatamente como são, joio e trigo juntos, sabendo que
uma mão fiel haverá de peneirá-los,manter o que vale ser mantido e então,
com um fôlego de amabilidade, soprar o resto para longe.
Texto anônimo
Uma mulher toda olhos
para todos os lados.
Linda: um pessegueiro em flor.
Fazia amor com paixão —
até com o marido.
LA 11/04
Não importava ao marido
tivesse sócios
nos laticínios
e no charque —
ostentando um sorriso
a lembrar queijo e jabá.
LA 11/04
Devia ter uns 70.
Enviuvara.
As palavras lhe caíam da boca
custosas e doloridas,
à sombra de um sorriso amargo...
.........................................................................
Não demorou, e lhe aparece a Júlia:
primona desquitada,
20 mais nova, livre leve solta...
cujas pernas
ele tinha namorado ( platonicamente )
década após década.
E André ( chamava-se assim ),
André agarrou-se à sua bunda
com tal ímpeto —
que chegou gostosamente
até os 96.
LA 11/04
A mendicância é o produto inevitável
da perversão da sociedade.
Outro dia, vi uma Havaiana H Stern
com franjas de ouro e diamantes:
R$ 58,500 —
e este era o calçado mais barato
de toda a grande amostragem.
LA 11/04
Só não dava pro marido,
que era um ‘chaaaaaaaaaaato!’
Mas pro resto dava —
de fazer gosto.
Até pro padre,
que tinha cara de símio...
e bafo de jibóia
( isto segundo as beatas ).
Até pro cardiologista,
com a barriga a carregar
30 kg ou mais de torresmo.
Dava porque dar
lhe era uma espécie de missão.
LA 11/04
Sua filha mais velha lhe dizia:
“A mãe é muito nova e bonita, pai.
Parece mais uma moça...
Espera ela envelhecer um pouco,
aí, pai, ela fica só tua —
e não sai mais de casa.
É só saber esperar.”
LA 11/04
A beleza da vida
é que ela dura pouco.
A loucura da morte
é que ela nos despeja
de nós mesmos
e nos faz cantar hinos
ao que não vemos
a não ser lá em nossas sensações...
LA 11/04
Ler-escrever
( no meu caso )
é seguro-saúde contra o tédio.
LA12/04
Antes tarde do que mais tarde —
quando a gente já não puder
( não é mesmo, Guiomar? ),
sim, se a tarde ainda arde
é tempo de tilintar
o garfo com a colher.
LA 12/04
O amor é tão ridículo,
que seu lado mais belo,
mais patético ( e sublime! ) —
é justamente ser ridículo.
E o amor é tão mais belo
quanto mais companheiro —
força mútua, dom mútuo
construindo o sonho-mais
da vida.
LA 12/04
Tudo que é bom,
por algum tempo é bom.
Pra toda a vida?
Só pra doidos varridos.
LA 12/04
Ela é genial.
Faz embaixada no andar
com quatro bolas.
LA 01/05
Ele pediu um tempo...
Ela deu dois.
LA 01/05
Cuidado com o que pedes,
pois pode se realizar.
Ditado judeu.
Não se faz omelete
nem se vive
sem quebrar os ovos
e a cara.
LA 01/05
Já não crê em bruxas?
Azar seu.
Uma condução a menos.
LA 01/05
Nem no amor já não crê?
Azar seu, que perdeu
seus deliciosos enganos.
LA 01/05
Nem em Deus já crê?
Azar seu: não tem mais
com quem falar no silêncio
das longas noites brancas.
LA 01/05
O que dizem os poetas
se lhe tornou coisas inúteis?...
Azar seu —
que se deixou ficar
maduro de problemas,
empanzinado de tédio,
pobre de si,
podre de angústia...
Como o mundo te gosta.
LA 01/05
Força, cara!
Dê o melhor de si,
e você conseguirá
não fazer nada.
O inútil, meu amigo,
é da melhor utilidade.
Mas isso
só depois que você fizer
tudo o que devia fazer.
LA 01/05
— Assombrações?
— Não: elucubrações.
Frio corta.
Hora morta.
Rua torta.
Só conforta
sua porta.
LA 01/05
Se eu morresse de amor,
os meus amigos
iam ficar putos de inveja.
LA 01/05
Já percebeu que gozado?
Em geral os amigos
é que querem regular
a intensidade
de seus relacionamentos.
Que adoráveis canalhas!
LA 01/05
— E aí, André?
— Nem “aí”, nem “ai”, —
só um “oi!”
LA 01/05
Sempre muito chegado,
lá uma vez por mês,
degustava a consorte
ao molho pardo.
LA 02/05
Toda separação
tem seu divisor de mágoas.
LA 02/05
Não passemos vontade —
finjamos não saber
pra onde estamos indo.
LA 02/05
A carne canta —
é Carnaval.
LA 02/05
Um dia ele lhe disse:
“É, André,
precisamos escolher
com quem andamos!...”
Caiu a ficha ao André:
nunca mais falou com ele.
LA 02/05
Se jogas a toalha,
a vida vira bicho —
e te pega.
LA 02/05
Comemos do que plantamos,
e temos sérias dores de barriga.
LA 02/05
Plantou tesões,
colheu um filho
e uma pensão que lhe come
um terço do contra-cheque.
LA 02/05
Dias difíceis:
doenças brabas
e xotas à Velho-Oeste...
Vivam as infláveis!
LA 02/05
Ela climatizava
ternuras rococó:
flores bem miudinhas,
minúsculos gemidos
vestidos
de trêmula penumbra
arfando
por mares de sorrisos
verticais.
LA 02/05
Um bom negócio?
O ócio.
Melhor que o ócio,
só coçar-se.
LA 02/05
Sim: tudo vale a pena,
quando valer não custar
as penas da peteca.
LA 03/05
Atrevido como o vento,
o amor joga peteca
( só de cueca )
com as irmãs do convento.
LA 03/05
Ao meio-dia a sombra
vem ronronar
em torno de nossos sapatos.
LA 03/05
Os dois amam odiar-se,
tanto assim, que se descasam
e casam a cada dois anos.
LA 03/05
“ Ousar é perder
momentaneamente
o equilíbrio.
Não ousar é perder-se.”
Kierkegaard
“ Felicidade é boa saúde
e péssima memória.”
Marlene Dietrich
“O homem deve ter a sensação da verdade para conhecê-la. Assim, o verdadeiro conhecimento entre os sufistas consiste em viver a verdade e não em pensá-la.”
De um sufista.
Quando um homem recebe aplausos por ter sido honesto, é que a sociedade em que ele vive está por demais enferma.
LA 03/05