FRASES 7
LAERTE ANTONIO
O desejo é sempre um risco.
LA 05/03
Como não sermos feridos,
se queremos ser amados?
LA 05/03
A satisfação de um desejo
é sempre uma ferida.
LA 05/03
Quem quer precisa.
Quem precisa
tem que pagar o preço.
LA 05/03
O amor devora quem o ama.
LA 05/03
O ódio ama devorar,
ou devora porque ama?
Sei não, compadre.
LA 05/03
O despudor, que cora a face,
tem raiva de si mesmo.
LA 05/03
Falar nos torna conhecidos
de nós mesmos.
LA 05/03
Falar revela o que nos falta.
LA 05/03
Já ninguém falará em liberdade
quando ela existir de fato.
LA 05/03
Se a coisa existe,
falar dela é puro ócio.
LA 05/03
Aquilo que é
exclui dialéticas.
LA 05/03
O ódio por si mesmo
chama-se culpa.
LA 05/03
A moralidade nos protege
de nós mesmos.
LA 05/03
Termos sido crianças
é todo o trabalho
da nossa recuperação.
LA 05/03
A fala do outro,
sobre o nosso sofrimento,
sopra as brasas da esperança.
LA 05/03
Desejo é o risco não-arriscado,
a vida não-vivida —
aliás, talvez a única
que merece ser vivida.
LA 05/03
Desejar sem esperança
de harmonia ou compreensão,
e com muita, muita astúcia:
jamais esperar bons tempos
para amar.
LA 05/03
O prazer, sempre o prazer
onde nos for possível.
LA 05/03
É bom falar bastante
daquilo que desejamos.
LA 05/03
O sonho traz em si
a permissão de Deus,
isto é:
sua realização
está em nós.
LA 05/03
A matéria mental é dúctil.
O saber: o tempo certo.
O querer: as mãos.
O ousar: o fogo.
O calar: a força.
LA 05/03
O humor, o riso, a ironia
são o molho
para a carne da vida.
LA 05/03
O paradoxo
é que conserva atual
todo texto.
LA 05/03
Se a rosa fosse eterna,
seria tédio,
não rosa.
LA 05/03
Se o amor existisse,
não seria preciso
ficar dizendo “eu te amo”.
LA 05/03
Laura, Laura!
Dá-me um pouco
dos teus louros.
LA 05/03
Débora, Débora!
Usa o ferrão, minha santa,
mas com favos,
com favos:
Fa... favosssssssssssssss!...
LA 05/03
Dulce, Dulce!
Café amargo, minha cara,
é pra quem não gosta de si.
LA 05/03
Rosa, Rosa!
Não chores não, menina,
que vais pintar o chão
que não entende de arte...
LA 05/03
Rosângela, Rosângela!
Um pouco de rosa e anjo,
ou de anjo e rosa?
LA 05/03
Roseli, Roseli!
O Senhor tinha uma rosa
e o vento sideral
Lha roubou...
E dizem, minha fofa,
que ela caiu na Terra...
Ah, Roseli, se te acho!
LA 05/03
Eulália, Eulália!
Falavas sempre tão bonito
coisas tão belas —
que eu pensava
nunca irias embora.
LA 05/03
Maria, Maria!
O amargo, minha cara,
faz mal pro coração.
LA 05/03
Lourival, Lourival!
Louros é bom, meu mancebo...
Porém, não vás colhe-los
à beira de precipícios.
LA 05/03
Romeu, Romeu!
Põe um cravo na lapela,
que ela
há de entender o que queres.
LA 05/03
Ana, Ana!
Aproveita a graça
que Deus lhe dá —
e sê pródiga!
LA 05/03
Mário, Mário!
Nem sempre elas gostam
dos muito machos.
LA 05/03
José, José!
Se a vida lhe dá pouco,
Deus aumenta.
LA 05/03
Atirei uma flecha no ar,
onde caiu não sei não.
Dei um tiro
no meio da floresta,
não vi não aonde foi.
Joguei uma machadinha
que zurziu os ares do bosque.
Pus um copo de veneno
sobre o piano.
Daí a três dias,
vi a sogra de um índio
com uma flecha
atravessada na cabeça.
Na orelha tinha um furo
em que cabia o mindinho...
Uma de suas pernas
tinha sido decepada.
A mulher estava mal,
mas, nem por isso, feia.
Dez dias depois casou-se
com o pai daquele índio.
LA 05/03
O leitor(a) de Machado
vai degustando com fome
e encanto
seus personagens: homens,
mulheres, adolescentes...
Lê toda a sua obra...
Daí a pouco tempo, volta
a ler os seus livros... até
não lê-los nunca mais...
Isto é, começam a compreender
que o Bruxo-autor lhes diz
cada vez mais insistente:
“Vocês não lêem personagens,
nem “outros”... mas estão lendo
vocês mesmos: exatamente vocês mesmos.
Assustaram? Tomem uma água de melissa...
Comam muito purê: sempre haverá muita batata...
Aquelas duas tribos ( Lembram? )
devem ter deixado muitas pelo chão,
após a batalha em que as desputaram...
Aí o leitor(a), que o chamava de Bruxo,
retifica: Demônio, não Bruxo:
Demônio é o que ele é.
LA 05/03
Mulher bonita? Dá problema.
Os amigos não são de ferro.
LA 04/03
Bom é a paixão do impossível:
sempre impossível,
mas paixão.
Bom é a esperança em algo:
sempre esperança,
e vivência antecipada.
Bom é a fé:
que já frui o amanhã.
Bom é o amor:
que transforma um beijo
numa história sem fim.
Bom é a bondade:
que é o avesso do sonho.
Bom é o sonho:
que, com o querer de Deus,
gesta e pare.
Bom é a vida:
porque sempre precisa.
LA 04/03
Depois do almoço,
elas iam repousar.
Durante uma hora ou mais,
chapavam aranha com aranha.
A empregada
ficava suando em bica.
LA 04/03
Com camisinha,
xiranha não coaxa.
Mas que fazer?
Os tempos
andam mesmo embrulhados.
LA 04/03
Tinha tantas caraminholas,
que a esposa as ia tirando,
pelo ouvido, com uma pinça —
enquanto lhe dizia:
A cabeça de cima
assim sempre tão cheia,
faz a de baixo vazia.
LA 04/03
Se você não consegue o orgasmo,
de jeito algum se preocupe,
de modo nenhum se vexe —
muitos demais da conta
também não sabem o que é isso.
Sim, não se vexe —
procure um médico.
LA 04/03
Você é desses que precisa
ver alguém na pior
pra se sentir melhor?
Nós também.
LA 04/03
Quando no barraco
o pau começava a comer
( no bom sentido ) —
a vizinha de baixo
dava graças aos céus:
“Fungos e gemidos
perturbam menos
que pauladas e tiros”.
LA 04/03
Esqueciam sempre o guarda-chuva.
Às vezes, o marido dela
ia ele mesmo entregar.
LA 04/03
Chamava-se Rosinha,
mas tinha um gosto
de murupi —
de que fazia musse
( mental )
pra sogra.
LA 04/03
decreta abertas
temporadas de caça
aos direitos.
O chumbo é grosso,
e a caça ( miúda )
fica que nem peneira.
Como diria Chico Fomindo:
“Nem dá pra aproveitá, sô!”
LA 04/03
O maior dos cachorros
já foi o cachorrinho da mamãe.
LA 5/03
Não faz mal não:
a gente espera
( por dentro )
e caminha
( por fora ).
e jamais passa
pelo mesmo lugar.
LA 05/03
Há os que te querem refém,
avivando-te as brasas
do sentimento de culpa...
Aqui ó:... pra eles!
LA 05/03
O cavalo do Príncipe
relinchava ( e era visto )
no coração das donzelas...
Quanto ao dito-cujo,
esse jamais foi cujado.
LA 05/03
O herói do povo
teve profunda amnésia
e contraiu um vírus
apocalíptico:
ficou besta
nas mãos dos gringos:
vendeu seu povo —
fê-lo refém
de reiterados empréstimos.
Deixou o país qual vaca —
no brejo: atolado.
Passou a faixa,
e foi morar em Paris:
vestir-se de sua luz....
Sua mulher, que tem um caso,
com um de seus ex-ministros,
diz que ele, agora,
só tem um interesse:
Las Vegas.
LA 05.03
Mal seca a saliva do beijo,
os dois bifurcam a estrada.
LA 05/03
Foi uma vindima e tanto.
Os dois prensaram uvas
a tarde toda.
LA 05/03
No divã:
— Quer dizer que o senhor jogou
seu casamento pela janela?
— Não, só joguei minha mulher.
LA 08/03
Epitáfio:
Quem gosta de terra é minhoca.
Por mim,
não estaria aqui.
Por outro lado,
é muito bom este lugar,
pois nunca estive aqui.
LA 08/03
Ela só pegava no tranco.
Mas, depois que esquentava,
era um baita dum maquinão.
LA 09/03
Namorar no virtual
tem lá suas vantagens:
Quando os dois se encontram no real,
vêem, dos dois lados, que não era “isso”...
LA 09/03
O amor é lindo,
foda é a convivênvia.
LA 09/03
Amanhã será outro dia —
afirmam os infelizes.
LA 09/03
Fizemos transar nossas neuroses
até nos detestarmos.
LA 09/03
Amorosamente,
nos acusávamos de ser
o que éramos.
LA 09/03
Naquela época
éramos deliciosamente infelizes.
LA 09/03
Chuva mansa.
Noite fria.
Bom pra ir pra cama,
e não dormir.
LA 09/03
O marido lhe dissera
que não a amava mais.
Ela riu tanto, mas tanto,
que teve um enfarte
fulminante.
LA 09/03
Desquitou da sogra
e, depois, da mulher.
Casou com a vizinha,
e dizia pra todo mundo
que era feliz.
LA 09/03
Chegava em casa
sempre horas depois
do término do trabalho.
O marido, preocupado:
Onde estava, querida?
Ela:
Com os amigos, ué!...
E ele agradecia a Deus —
pelo menos
estava bem acompanhada.
LA 09/03
Dorotéia era bela,
bela e gostosa: o corpo
sempre cheirando a pão assando...
Tão bela e carinhosa,
que lhe dava ( ao marido )
calo nos dedos
de tanto assinar cheques.
LA 09/03
A sogra encomendou-lhe um vodu
pra gozar com a filha
o que ele acumulara.
O tal vodu falhou.
Comprou um veneno fulminante
e um Champanhe caríssimo
para brindar-lhe o aniversário
( o mordomo fora instruído
no que fazer.... )
Após o brinde,
caíram mortos a sogra
e o marido de sua filha...
...................................................................
O mordomo e Dulcinéia ( a filha )
casaram-se em Veneza,
numa gôndola chiquérrima,
engrolando um pedacinho
não sei de que ópera...
LA 09/03
Cantou a mulher do padre,
e foi excomungado.
Ela ficou comovida
e encantada: Excomungado?!
O que era isso?
Quando soube o que era,
casou com ele.
Quanto ao padre,
ficou mais aliviado:
Já não dava para cuidar
de três mulheres exigentes.
LA 09/03
Rosinha era o máximo.
Fazia a festa,
soltava os fogos
e corria atrás do eco...
Tinha um jeito
que inventava felicidades.
LA 09/03
Gostava de apanhar.
Exigia do marido
que ao menos uma vez por mês
a pegasse sem dó...
Ele então lhe tirava as roupas,
lhe pregava o cacete,
as unhas, os dentes...
até a vizinha gritar:
Não chega, não, cambada?!
LA 09/03
Ele a tirou da Zona,
deu-lhe casa, conforto...
e se casou com ela.
A mulherada “direita”
ficava com ciúme e inveja
do amor e zelo
com que ele a tratava.
Dariam tudo...
Sim: elas dariam tudo...
Com licença, o telefone
tá tocando...
LA 09/03
Cônjuge muito bonito
não vale a pena:
os amigos e até estranhos
querem comê-lo
e levar pra ver cometas...
E o gosto pela coisa aflora:
aí então quem nem saía
tem que aprender a dançar seus tangos...
LA 09/03
Tinha um jeito robótico:
andar de dobradiça despencando...
Mas suas pernas.... davam cãibras
no nervo óptico.
LA 09/03
Amor dos bons é romântico,
e quântico.
LA 09/03
— Ele é um vanguardeiro!
— Está à frente de quê...
mesmo?...
LA 09/03
— Então, a sra. o matou?
— Sim e não, doutor...
É tudo tão relativo...
LA 09/03
Não, o amor não é cego.
Só precisa de óculos —
ora, para ver longe,
ora, para ver perto.
LA 09/03
Não podemos exigir dos outros
o que não temos para dar.
LA 09/03
Só pode dar o que não tem
quem nada tem para dar.
LA 09/03
Mais vale ter um amigo preso
do que sabê-lo endossando um empréstimo
para a nossa mulher...
LA 09/03
Só tem medo de cachorro
quem conhece mal o amigo.
LA 09/03
Só tem medo de chifres
quem não sabe que os tem.
LA 09/03
Ser corno é o normal.
Não sê-lo é exigir privilégios.
LA 09/03
Só tenho um medo —
de um dia perder o medo
de você, minha gata.
LA 09/03
Adoro ser enganado
por mulheres que também me enganam.
LA 09/03
Quem nos abandona
deixa-nos livres.
E isso só nos será ruim
se não soubermos
o que fazer de nós.
LA 09/03
Foi-me bom ter conhecido
outras e outras mulheres —
assim pude ver que são
diferentemente iguais.
LA 09/03
Se um dia o abandonarem,
seja uma boa companhia
para você mesmo:
e saiba que isso é bom —
pois lhe dá muitas opções.
LA 09/03
Acredito em tudo,
principalmente
naquele nada
que existe em tudo.
LA 09/03
Quem nos trai na amizade
mostra que a idéia que temos de nós
deve ser revista.
LA 09/03
Venceste?
Então leva as batatas.
Só não vás querer tirá-las
da chapa
com a mão dos amigos...
Usa a do povo,
não é a praxe?
LA 10/03
Meu neto me perguntou
se existiam fantasmas.
Disse ao Saulo que , sem eles,
a vida ficaria
muito mais pobre
e o ser humano nem existiria...
LA 10/03
Disse ao padre que o marido
iria se ausentar
por mais de uma semana...
E ouviu, numa voz conhecida:
“Filha, não sou o padre,
mas o que ia viajar —
o seu cônjuge,
o diácono Josias,
a quem agora mesmo, há meia hora,
debaixo de sua barriga,
você jurou amar para sempre...
........................................................................
Pois bem, agora vá pra casa,
tome um banho caprichado
e me espere peladona
sobre o alvo, o fofo, o penumbroso
dos nossos ávidos lençóis...
LA 10/03
Muitas vezes topava com o patrão,
sem botas e sem camisa,
tomando aquele cafezinho,
vindo das mãos de sua Mariinha, —
de pé, servindo-o ao lado,
riso solto, esgarço,
e com os peitos ainda desarranjados...
“Tarde, sô Jerônimo!
Sastifação vê o patrão aqui...”
“Satisfação é toda minha, André.”
Mariinha lhe punha as botas,
e André a camisa.
E ele se ia
cofiando as asas cinzentas
do bigode-albatroz...
e equilibrando sobre os saltos
aquela melancia no abdômen...
LA 10/03
“Te amo, Maurício, te amo!...”
O marido acendeu a luz,
acordou a consorte
e perguntou:
“Meu bem, quem é Maurício?”
“Mas que Maurício, Amadeu?”
“O que você mencionou dormindo!”
“E eu sou responsável
pelo que digo dormindo, homem?!
Ó céus! Ó falos jurássicos!”
Pôs-se de pé num rataplam!...
Deu ao homem uma coberta,
o travesseiro
e o mandou dormir no sofá.
LA 10/03
“Mulher minha só dá pra mim!”—
disse olhando para o amigo que descia
a escada ( de sua casa )
enquanto ele a subia...
O gajo empalideceu,
bambeou na base, tropeçou na alma,
já ia pedir clemência...
quando André lhe explicou:
Imagine, Escobar, o que acabamos
de ouvir de Manuel,
o português do bar da esquina:
“Mulher minha só dá pra mim!...”
.................................................................................
E completou enquanto se distanciavam,
um para cima,
o outro para baixo
da grande escada:
“Que machismo, meu Deus, que machismo!...”
LA 10/03
“A vida é boa”—
diz Machado morrendo
com um câncer desse tamanho
roendo-lhe a carne.
De fato, Machado lavou-se todo
nos deliciosos recônditos,
nos saborosos segredos
e mistérios femininos.
Sim: a vida foi boa
para quem penetrou fundo
os refolhos da carne
e da alma e labirintos
da mulher —
e guardou quase tudo
para si.
LA 10/03
Higgs, e o bóson?
Bosona mesmo?
Mas o encontro de dois
gerando outro —
não é coisa bem antiga?
LA 10/03
Tanto fodeu que se fodeu.
LA 10/03
Putas e putos,
fodei!,
enquanto o tempo vos come
em todos os poros.
LA 10/03
Sábio guru,
os meus respeitos,
e... aquela rima em “u”.
LA 10/03
Melhor que o amor
só o desamor
desse amor.
LA 10/03
Melhor que uma mulher
em sua casa
só nenhuma.
LA 10/03
Melhor que uma trepada
só outra,
com outra pessoa.
LA 10/03
Os cientistas
acabam de afirmar
que o universo é finito.
Tem a forma de um pentágono...
cujas partes
se multiplicam em espelhos...
Iniciou-se no ponto-espaço Big Bang...
portanto seu espaço é finito.
......................................................................
A tais crianças,
aquela do filósofo japonês:
Papulan, filhinhos, papulan!
Papá peguinbacho... Papulan!.
Molecada pulou,
zoinho tirou o corpo —
e foi aquele tombo...
Aí o herói lhes explica:
nem na sua papá.
Amizade à parte,
confirmou-se:
foi mesmo o amigo
que lhe fugiu com a mulher.
Ainda bem!
Meses depois
mandou um presente considerável
ao amigo que lhe roubara o cônjuge.
Mesmas mãos que o levaram
trouxeram-no de volta.
Motivo:
o tal casal já não morava ali,
nem mais viviam juntos. LA 10/03
“Dorotéia”!
O pai pensava que o nome bastasse...
LA 04/02
Os propinodutos da Receita
sempre estiveram com os registros
bem abertos ( e quebrados ).
LA 10/03
Lá bem longe, no horizonte,
numa terrível agonia,
o sol borda iluminuras
no glúteo das colinas...
LA 10/03
Esperei, e ela não veio,
mas foi como se viesse...
Mesmo ela estando comigo,
a solidão não me esquece.
LA
Eu, medo? De modo algum.
Juro: não tenho medo.
Só corro de barata...
e tenho medo de ter medo.
LA 10/03
A vida é um grande brinquedo
que foi dado a nós crianças.
O brincar desse brinquedo
são as nossas esperanças.
LA
Acho bom pôr no seguro
esse traseiro, meu bem.
Quem não pensa no futuro,
amolece... sem vintém.
LA 10/03
Não falta bode que berre,
nem luluzinho que ladre.
Gaveta que não emperre
ou quem queira dar pro padre.
LA 10/03
Amava-a bem mais que o diabo:
jamais lhe pediu retorno...
Contanto plantasse o nabo,
nem lhe importava ser corno.
LA 10/03
Há gorjeios no lá longe
enquanto o dia arrefece...
Boceja a tarde, como monge —
mais no outro mundo que nesse.
LA 10/03
Menina-moça de olho escuro,
como de jabuticaba,
quero um beijo de goiaba...
e com sabor de futuro.
LA 10/03
Minha vizinha é uma naja:
bela como não sei quê.
Quando o marido viaja
ela redobra o chiquê.
LA 10/03
Um filezinho ambulante,
num jeito de samambaia...
Em passo levitandante,
as pernas bordam-lhe a saia...
LA 10/03
Jura que teria coragem
de tirar o prazer de alguém
em “ser” ateu?
LA 10/03
Jura que teria coragem
de filosofar com a fé
de alguém?
LA 10/03
Tive um amigo inesquecível...
Especializou-se
em “levantar” cacófatos
nos grandes textos.
Dizia-me ele:
“Não há — em nossa Língua —
texto ou período sem cacófato(s)”.
Meu bom, meu exigente amigo!
Chamava-se Jacinto.
Jacinto Filho.
LA 10/03
Os temíveis cachorrões
já foram cachorrinhos da mamãe.
LA 10/03
Ah, o padre Chagas!...
Fazia as mocinhas
( e algumas casadas! )
saírem da missa vermelhas
( de raiva )...
Também, usavam mangas-japonesa!
LA 10/03
Depois das 9 da noite,
minhas tias ficavam olhando
para a esquina do largo...
( com meia testa )
pra fora do portão.
Quando a gente ( criança )
tentava ver o que era,
levava beliscões no braço
e éramos postos para dentro.
Vez ou outra, chamavam
nossa mãe pra espiar...
Todos nós ( crianças ) sabíamos,
é claro, do que se tratava...
Só não sabíamos que a televisão
ia um dia ser inventada.
LA 10/03
Chantagem sádico-familiar:
Nada, nada!
Esquece, esquece!...
LA 10/03
A vida é dura.
Terrívelmente dura.
Por isso detestamos a morte.
LA 10/03
O relacionamento amoroso
sempre machuca.
Por isso o adoramos.
LA 10/03
Mulher é foda!
Consegue tudo o que quer.
Isto é, quase todas são foda.
LA 10/03
Amemos o outro pólo.
Sem ele,
como acender a lâmpada?
LA 10/03
Sim, amemos o outro pólo.
Sem ele,
é uma mão
de-obra.
LA 10/03
O maior paradoxo do amor
é ele nem precisar ser.
LA 10/03
FMI:
Forma de Matar Indigentes.
LA 10/03
Cúmulo da chantagem:
Quem não gosta de política
não gosta de si mesmo.
LA 10/03
Saiu-se mal no amor.
Segundo um bom amigo,
faltou-lhe material didático...
LA 10/03
No começo,
pensou que a mulher o traía...
Depois, verificou ( ajudado pelo cura da aldeia )
que ele
é que traía a esposa com seu ciúme —
levando-a a resvalar...
LA 10/03
— Amor ou ódio?...
— Os dois.
Uma questão
de semântica quântica.
LA 10/03
Um dia ela voltou,
mas o reencontrou casado.
Não teve jeito:
teve que ser a secretária.
LA 10/03
Enfartou a sogra dizendo-lhe
que não mais a queria como amante...
Engraçado é que a esposa
jamais lhe disse que sabia disso.
LA 10/03
Já sessentão conheceu Zoláspida —
um nome terrível
com pernas lindas
incendiando um andar de plumas...
LA 10/03
Quando a viu peladona,
perguntou ao anjo da guarda:
Que faço com tanta areia?!
E ouviu:
Vai carregando aos poucos
e com todas as ferramentas...
LA 10/03
O pai lhe avisara
que ela não era mulher só para ele...
Perguntou-lhe ríspido:
E por que não, meu velho?!
Escutou:
Os outros eu não sei... mas eu
não abro mão de continuar
encontrando-a uma vez por semana.
LA 10/03
Disse-lhe que não o amava mais.
Ele perplexo,
calmo e perplexo quis saber:
Amar?! O que é que é isso?
De fato, nem um nem outro
sabiam o que era “isso”.
LA 10/03
— Amor,
de quem é a calcinha
com rendas nordestinas,
filigranas francesas
e um rubi em forma de dois gomos
de mexerica fedidinha —
no fundo falso de sua maleta?
— Aquela maleta ali?
— E qual mais, amorzão?
— Aquela estou vendo agora.
— Mas em cima de sua mesa?!
Nisto, o pai da que pergunta,
administrador da Firma,
cumprimenta a todos, pega a tal mala
e se vai a passos largos...
......................................................................
Após o mal-estar e a confusão,
o marido da acusadora,
“ o amorzão” , vai ao banheiro,
e pelo celular agradece ao sogro,
que mais uma vez o salvara
de assuntos tão delicados...
LA 10/03
Sim: todos os homens morrem.
O que fazemos antes de morrer
é o que faz a diferença.
LA 10/03
Deus se re-sonha
para manter o sonhado.
LA 10/03
Estes dois bichos:
homem/mulher
ou ( para não fazer diferença ):
mulher/homem
nunca se entenderam.
Se um dia conseguissem —
seria o fim da vertigem.
LA 10/03
Sim, o melhor do amor
é o desentendimento.
LA 10/03
Tive mestres terríveis,
e excelentes professores.
LA 10/03
A maldade dá a volta,
bate no alvo,
dá a volta —
e o pega: pega o maléfico,
em geral, já esquecido...
LA 10/03
“O fazer que gargalha
traz em si o receber
que chora,
o gemer que uiva...”
Credo, André!
Vai lavar os pratos, vai!
LA 10/03
Era tão canalha,
que nem sabia disso.
LA 10/03
Era tão narcisista,
que, não raro, via o Diabo —
sem saber que a fonte
era o seu interior.
LA 10/03
O amigo lhe vinha à própria casa,
por vezes, quatro noites por mês.
Adorava a torta de espinafre
que sua esposa fazia.
LA 10/03
Na sala dos “eletros” ,
o cardiologista
e presidente da Câmara
punha entre “ASPAS”
a cabeça do professor
dando aula
em outra cidade...
Outras vezes a internava
e cuidava dela
nas camas do hospital.
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Um esforço dos diabos
pra continuar sendo humano!
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A Economia é quem dita
os mantras do momento,
as homilias do dia.
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A sociedade de hoje é muito boa —
até porque não há outra.
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A vida é uma coberta curta —
ou você cobre os ombros,
ou os pés.
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Já que o suicídio é uma tolice,
morrer lutando é uma delícia.
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Mostrengou, e voltou pra casa,
saciada de mundo.
O marido a acolheu com todos os membros,
e lhe diz:
“Um fóton do teu amor
faz rebrotar a vida...”
Era físico-teórico.
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Foi a Nova Iorque
e mandou custonizar
em calcinhas e sutiãs
as cuecas e bermudas
do maridão.
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Nos intervalos da felicidade
ela se apaixonou por Engano,
simpatizou com Desventura —
de sorte que, quando voltava,
sentia-se feliz-desenganada
numa infeliz aventurança.
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Tinha uma cara inconsolável
de bem-aventurada.
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Amava tanto o marido,
que lhe fingia
perenes dores de cabeça —
pra ele dormir com a empregada,
que era jovem e bem-disposta.
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Disse à esposa
que não a amava mais...
Ela riu a tarde inteira
e toda a manhã do outro dia.
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Na dança geopolítica,
os Demônios de terno cinza
vão derrubando as nações —
transformando suas dívidas
em efeito-dominó interno.
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Sustentava o marido
fazendo bicos fora.
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Amava tanto a esposa,
que, uma vez por semana,
tratava com o vizinho
( que ela tanto admirava )
para dormir com ela.
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Deixou claro ao marido:
Depois que ela tomasse banho,
só conversava de camisinha.
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O padre lhe pediu
que — encarecidamente —
ela anotasse num caderno
“quantas” e “com quem”,
e só no fim da semana
se confessasse.
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O prefeito mandou erguer
um obelisco tão atrevido,
que mais de uma dúzia de senhoras
procuraram, indignadas, o padre —
tamanha a semelhança.
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— Você só pensa naquilo?!
— Naquilo, quando longe;
nisso, quando perto,
e nisto, quando dentro.
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Do lado de dentro
ela é bem mais interessante.
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Beleza não se põe na mesa,
mas que enche barriga, enche.
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Se não questionarmos as premissas,
só chegaremos à petrificação.
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Eliminai as bobagens do mundo,
e vos sobrará bem pouco.
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Coisa boa e séria
é desconfiarmos da seriedade,
nossa e alheia.
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Se o teu caminho
é o da “lógica” do mundo —
vais te ferrar e andar de quatro.
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Confia no próximo,
e ele te come o melhor do prato.
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Só dizia “sim”
pra quem não fosse o marido.
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Cuidado, se não teu couro
vira carteira de banqueiro.
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Confiar no cônjuge
não há de fazer mal aos viúvos.
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Confiar no amigo, muitas vezes,
é melhor que no inimigo.
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“Olho no olho”
é a maior das traições.
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O forte... não desespera nunca —
espera sem esperança.
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O bravo vai na frente,
o covarde vive para contar.
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O melhor que se faz,
muitas vezes, é não fazer.
LA 10/03
Quem corre atrás de palavras lustrosas
escorrega no próprio brilho delas.
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A dialética
é uma delícia de masturbação:
com vibrador e tudo.
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