FRASES 5

 

LAERTE ANTONIO

 

Eu lhe estudava o gozo

pela dor dos outros,

o gozo em ângulos múltiplos...

Depois pregava-me

sua religião.

Elogiava-se demoradamente

a si mesmo,

sua esposa e filhos,

seu ânimo forte e “abençoado”

que o fizera vencer na vida....

E se ia, deixando um resíduo

muito sujo no ar, na gente...

LA 02/03

 

Não nos vermos

é como a nossa boca —

nossa maior miséria.

LA 02/03

 

Não gosto mais das pessoas,

somente as amo

para não me perder em humano.

LA 02/03

 

Fica com o diabo do teu deus:

com a tua religião.

E vai-te, vai-te sem botar fogo

naqueles das religiões com outros nomes.

LA 02/03

 

A arrogância bloqueia

vermo-nos a nós mesmos,

e nos cava

fossos de realidades....

LA 02/03

 

Bom mesmo seria

nem ser.

Mas já que somos,

já que somos, aprendamos

a não ser.

LA 02/03

 

 

 

 

 

O tempo é agora,

amanhã

ainda não tem substância,

a não ser nos sonhos

de sonhá-la

numa realidade paralela...

Sim, o tempo é agora

com o pé apoiado

no nunca.

LA 02/03

 

Escrevia tão bem,

tão belos os seus poemas —

um talento abominável.

LA 02/03

 

Me espremes três jabuticaba

por dez reais?...

Por quanto mais: por vinte?

Por dez a mais: por trinta?

Por quarenta, ou melhor: cinqüenta?

Por oitenta, está bem?

Por quanto? Quanto, minha prenda?

— Por cem, mas sem nenhuma pressa

e mais algumas jabuticabas...

em três birocas...

LA 02/03

 

O povo, carnavalizado,

uiva, ulula, faz sexo:

sua suas loucuras...

Meu Deus, que inveja,

que eu devia sentir!

LA 02/03

 

O Diabo tenta, tenta, tenta...

e o homem não agüenta.

Escuta esta:

Fez retiro as quatro noites

( no infernal Carnaval ),

e as quatro noites comeu

a mulher do pastor.

Meu vizinho achou normal:

“Até que foi frugal —

só deu uma por noite!...”

Como é que sabe?! —

perguntou-lhe a consorte.

E o vizinho, informado:

“O próprio pastor computou”.

LA 02/03

 

A passista sambava

atirando espinhos negros

nos olhos que fuzilavam

lá no ela estar sem calcinhas...

LA 02/03

 

A mulata, feito um tornado,

girava-gingava-matava...

e quase lhe desprendiam do corpo

os dois gomos, a ameixa,

as morangas,

os palmitos —

e a gente ficava esperando,

a boca aberta...

as mãos espalmadas...

.....................................................................

E a mulata sambava,

isto é: pisava

sobre a gente.

LA 02/03

 

A roda destravou a vida.

A mulher lhe ficou com a metáfora,

inventando o rebolado e os pinotes...

LA 02/03

 

Tempos atocaiados.

Porás grades em torno do teu medo.               

Não abrirás.

Não sairás.

Mas, por desvãos secretos,

poderás ver os bandidos

indo e vindo — romanticamente —

em seus carrões importados —

arrogantes, senhoris,

banqueteando nos calçadões ,

mandando ordens pelos celulares     

que o Estado cale a boca,

pois quem fala é o Terceiro Poder.

LA 02/03

 

 

 

Gosto de receber amigos,

mas adoro quando não vêm.

LA 03/03

 

Graças a Deus somos um povo

mui futebolizado

e não menos carnavalizado. 

LA 03/03

 

O bom do futebol

são os gols;

do carnaval,

as bundas.

LA 03/03

 

Por que a lapela, pai?

Pra dizer que o coração

é chegado

num sorriso vertical.

Coração, pai?!

LA 03/03

 

A vizinha era honesta, o marido

é que tinha a mania

de levar os amigos pra jantar.

LA 03/03

 

Cantou a vizinha

( o marido estava sentado

atrás do muro ),

a mulher se defendeu,

apontando para o cônjuge:

“Só se ele deixar!”

O homem olhou para o cantor, e:

“Pode levar, mas amanhã

quero-a aqui, antes do almoço!”

LA 03/03

 

Rezava todo dia:

              “Me dá uma nega, Pai, uma nega

              que não dê pra ninguém.”

E ficou amolando,

enchendo muito e sempre.

Não demorou,

encontrou uma loirinha,

que dava catecismo...

E, incrível: não olhava,

nem olhava pra homem...

Nem pra ele.

Vidrado, casou.

Primeira noite,

jeitoso,

foi buscar favas e favos...

Nada.

Segunda noite,

a mulher disse boa-noite,

virou pro canto, e dormiu.

Terceira noite,

perguntou-lhe

se estava com dor de cabeça...

“Não, André, nunca tive isto.”

Então — hoje — a gente pode,

Rosália?

“Pode o que, homem?!”

Ué, Rosália, fazer amor:

trepar, uai!

E, indignada:

“Pensa que casei com você

pra fazer essas bobagens?!

.......................................................................

Furioso, correu para a igreja,

indo direto a São Benedito:

Escuta aqui, meu Santo:

você é testemunha...

( e honestidade é bom —

conserva o ar beato

e os dotes do artesão!... )

Mas, André,

é preciso saber pedir...

E que foi que eu pedi, Negão?!

Você pediu, Andrezinho,

veja bem ( cabeça fria, homem! ),

você pediu uma mulher

que não desse pra ninguém,

sim: pra ninguém.

LA 03/03

 

Disse aos pais

que sentia muito frio,

um frio terrível.

Levaram-no para a cama,

e o foram cobrindo,

cobrindo,

cobrindo...

E nada: queixava-se de muito frio...

Chamaram o médico,

que, num relance,

diagnosticou aos pais:

O menino está louco...

“Louco, doutor?!”

Sim:

louco por ser amado

por vocês dois.

LA 03/03

 

Difícil, muito difícil

a gente não gostar dele,

principalmente porque sabia

não saber.

LA 03/03

 

O guru pregava sexo,

riqueza

e agressividade sem culpas.

Seu SPA

lançava gente pelo ladrão...

As reservas já se estendiam

lá pelos anos 2030 ou mais...

E só cobrava 5.000 dó... s

de entrada

e 1500 dó... s

por mês.

LA 03/03

 

Uma amiga me disse

que depois que dormiu com um guru,

apenas oito ou dez vezes,

nunca mais contou ( dormindo )

as suas sacanagens...

Como soube disso?

O marido nunca mais

lhe acusou de coisa alguma.

LA 03/03

 

Não bebia.

Só tomava diuréticos...

feitos de lêvedo e cevada.

LA 03/03

 

 

 

Nunca adulterara dormindo.

Isso, nunca.

LA 03/03

 

Grupo dos sem-terra

invadiu um navio.

A tripulação nem notou...

Era a hora da sexa,

isto é: da cesta.

LA 03/03

 

Minha amiga me disse

que não dá mais. Mas isto vale

só-apenas para o marido.

LA 03/03

 

Passou a noite inteira em pé:

deitado mas em pé —

sim, em estado priapesco.

O diabo da sogra

coçava as costas

no pau da barraca

de dez em dez segundos...

LA 03/03

 

... das Graças sabia machucar:

quando não joelhava,

fazia o cara mugir...

LA 03/03

 

Minha sogra me dissera

que tinha rezado muito

para a minha recuperação...

Todos riram, riram muito,

menos eu

porque nem sempre sou bobo.

LA 03/03

 

Meu pai era um cara bom,

bastava que a gente

não apostasse na sua bondade.

LA 03/03

 

Pagaram o taxi?

“”””” Não!”””””

Então eu pago.

LA 03/03

 

 

 

 

Namorou o filho até à véspera,

de o pai (dele) sair da cadeia:

amor à primeira olhada —

Glorinha e o pai do noivo

Casaram daí a uns dias,

e se trancaram num quarto

por nove semanas e meia.

LA 03/03

 

Minha amiga me disse que o marido

estava na fase-dobradiça...

E como você faz? — perguntei.

“Uso os dedos como tala...”

LA 03/03

 

A enfermeira foi cantada

por um cara na UTI.

Desligou os aparelhos,

o gajo a comeu,

e foi pra casa.

De lá mandou-lhe um mimo

com o bilhete:

Te espero às 7

pra gente dar a segunda.

Um beijo na tua pinta.

LA 03/03

 

    E como foi ontem?

    Broxei!

    Mas como?

    Broxar não tem como,

tem só broxar.

LA 03/03

 

Às segundas-feiras,

trabalhava na sala do patrão —

“para parecer terça...”

Também de quinta e sexta-feiras —

para lhe parecer

fim-de-semana na praia...

O homem era romântico

e, sobretudo, um viúvo

satisfeito da vida:

orelhas e quesito-alfa

( diziam as amigas ):

 tudo em pé.

LA 03/03

 

Pegou o amigo fazendo musse

com sua esposa na sua cama.

Fingira tão absolutamente

que nada vira,

que realmente não vira nada.

Ver — dizia ele —

não foi feito pra doer...

Se dói,

é só porque você deixou.

A mulher e os amigos

gostavam muito dele.

LA 03/03

 

Quando muito íntima,

a amizade vira outra coisa...

e vai pro beleléu.

LA 03/03

 

Muito chegada,

a amizade fica insuportável.

Os amigos viram espelhos

terrivelmente incômodos...

Aprende-se bastante,

sofre-se muito.

LA 03/03

 

O último obstáculo

será vencermos a nós mesmos:

desvestirmo-nos do Grande Engano —

até a derradeira máscara,

que era de Deus...

LA 03/03

 

O filósofo, num transe em aramaico,

fez questão de perder o navio.

E explicou:

Só agora percebi que os pontos

a que devemos chegar

estão todos em nosso ser profundo.

LA 03/03

 

 

 

 

Disse ao marido

que de segunda não;

de terça-feira só uma rapidinha

antes do almoço;

de quarta: impossível;

de quinta,

só depois de “Viva O Gordo”;

de sexta,

a mãe vinha sempre

e a deixava exausta...

de Sábado,

tinha de corrigir provas;

de domingo,

tinha escola dominical, cedo;

à tarde,

preparava os sermões da noite;

depois da igreja,

tinha de passar os uniformes

das crianças.

O marido concordou honestamente

com tudo o que ela argumentara.

E foi-se.

E fez-se arrebatar

pelo seu anjo da guarda.

LA 03/03

 

Beinhê!

Quanto tempo já faz que a gente

não prega prego nas paredes?

— Desde quando você, André,

você pegou aquele cara

com aquele prego enorme

ameaçando as nossas paredes...

— Puxa! amorzão,

já faz um montão de tempo!

    O meu gato tá querendo

dar umas marteladas hoje?

    Tô, sim, minha corsa, tô, sim...

    Então chama o barbeiro da esquina

pra ajudar:

ele tem prego de tamanho bom,

meu André.

LA 03/03

 

 

O silêncio às vezes grita.

E grita pelo nome.

LA 02/03

 

Nossa amizade murchou.

Todos os dois

esquecemos de regá-la.

LA 02/03

 

A amizade, André, é uma flor.

E há flores que cheiram mal.

LA 02/03

 

Muitas palavras olham para baixo,

e saltam.

Outras não, apenas olham

para baixo,

e suportam a realidade.

LA 02/03

 

Tive uma namorada que era assim:

só-apenas deixava ver...

LA 02/03

 

Adianta correr, amigo?

Adianta?

Não vamos todos

parar ali,

todos ali?

Espera sentado, pô!

.....................................................

Há uns bobos que correriam,

correriam de fasto,

se correr para trás

parasse o tempo.

LA 02/03

 

No País Do Futuro,

um navegar a seco

cuja tripulação

são esperanças ópios...

Os passageiros? Aflições, angústias.

E tudo em meio a vôos,

vôos de galinha gorda.

E muitos pios,

pios de anu.

LA 02/03

 

Ele? Tem lá seus tiques,

e tremeliques... Mas chiques.

LA 02/03

 

Tinha medo de perdê-la,

no tempo em que não sabia

que jamais a tivera.

LA 02/03

 

Dezenove graus. Chuva fina...

Meu reino por uma xiranha!

LA 02/03

 

Para ser suicida

é preciso ter acreditado.

Não é o nosso caso.

LA 02/03

 

O futuro a Deus pertence ...

Os homens têm cada uma!

Que é que Deus vai fazer com ele,

se nem pra nós o futuro presta —

porque angústia, aflições?

LA 02/03

 

Arre, que alívio!

O futuro a Deus pertence.

LA 02/03

 

Pergunta ao doente:

Se Deus não existisse,

será que esse tal seu amigo

viria visitá-lo?

LA 02/03

 

Sim: se Deus não existisse,

serias solidário?

A resposta

só servirá para ti.

LA 02/03

 

Não tinha papas

nem cardeais na língua.

Se tivesse, seria ao menos

eloqüente-reticente.

LA02/03

 

Só não botam os safados na cadeia

porque o mundo viraria um só presídio

sem ninguém pra cuidar dele.

LA 02/03

 

 

Geralmente falamos de safadezas,

e não nos incluímos.

LA 02/03

 

Tive um amigo tão canalha,

que ele se sentia mal

de ver-se em mim,

e eu idem nele.

LA 02/03

 

Quando ainda não sabemos,

tudo é maravilhoso.

LA 02/03

 

Eu lhe tinha admiração,

muita, demais da conta.

Depois, fiquei admirado,

muito, demais da conta.

LA 02/03

 

Ela prestava tanto quanto eu.

Mesmo assim não deu certo...

Hoje vejo que é bobagem

a gente querer as coisas

muito certas.

LA 02/03

 

Enfiam em nossa cabeça

coisas muito, muito loucas.

E nos mandam “vencer na vida”

com essas loucuras!

LA 02/03

 

 

 

 

 

 

 

 

O senhor Bush

não quer fazer uma guerra,

mas engolir todo um povo,

e defecá-lo

sentindo orgasmos olímpicos...

Complexo de jibóia

de Mr. Forty-Five.

LA 02/03

 

Em geopolítica,

a única verdade

é a mentira.

LA 02/03

 

Faz tempo que caçam na África.

Leões, elefantes, zê...?

Sim, mas — sobretudo — negros.

LA 02/03

 

Teodora disse ao maridão

que o deixaria

se ele não parasse

de fazer gentilezas com o rabo.

Ele lhe respondeu que ela não sabia,

sequer imaginava o que lhe pedia...

Podia considerar-se desquitada.

LA 02/03

 

Vivia nas pontes aéreas.

A sogra rezava que rezava,

mas nada... Há vinte e seis anos,

só turbulências

e dois urubus nas turbinas...

Um dia viajou com a mulher,

as filhas e a sogra.

Nesse dia, sim! o avião caiu.

Mas ninguém se machucou.

LA 02/03

 

Tá quente pra cachorro.

Por isso é que ela não veio...

Se péla de medo de raiva.

LA 03/03

 

 

 

 

Em geral o riso

salva quase tudo,

inclusive de nos perdermos.

LA 03/03

 

Se o saldo for o riso,

não terá sido tão pouco...

Restaram os lábios!

LA 03/03

 

Seus olhos faiscavam

quando ela os via.

Os via?!

Sim: flertava com todos...

mas aquele flerte

que põe no colo e leva para a cama.

LA 03/03

 

Os homens em geral não gostam

que suas mulheres se repartam.

Mas elas gostam...

e qual deles não lhes faz os gostos?

LA 03/03

 

Ciúmes?

Bobagens, bobagens.

Tê-los ou não

não é que impede nada.

LA 03/03

 

Tentar segurar a pedra

que rola da colina,

você sabe:

é suicídio puro.

Pôr-se-lhe de lado

pode até ser

um belo espetáculo...

LA 03/03

 

Faça a sua parte,

sem achar que terremotos

ou quedas de aviões

são coisas horripilantes —

se você não está lá,

nem ali.

LA 03/03

 

Sim: deixa Deus e os homens

cuidarem do mundo.

Você verá que eles têm jeito,

mesmo se não puder ajudá-los.

LA 03/03

 

Nem herói, nem bandido,

nem sábio, nem bobo.

Apenas gente,

gente com gente.

LA 03/03

 

O mais... e o futuro...

a Deus pertencem.

E isto há de ser um alívio.

LA 03/03

 

Os bobos da corte

usavam o talento,

e se mostravam pelo avesso,

um avesso

que fazia rir as pessoas

e se sentirem satisfeitas.

LA 03/03

 

Nada mais abominável

que uma grande inteligência.

LA 03/03

 

Entre o cínico e o invejoso,

o pérfido e o canalha —

escolhe não caminhar

com nenhum deles.

Apenas te apassiva, te aliena,

finge abulia: não saber ousar...

E sorri humilde,

sincera, assiduamente humilde —

mas sempre apassivado:

até quando te for preciso.

Depois, haverá uma brecha no depois....

e te vais... Vais ser tu mesmo,

longe, bem longe dos perversos:

os que te queriam comer

em prosa e verso.

LA 03/03

 

 

Só me deixava ver...

Como diria... uma agonia,

um subir no pau-de-sebo...

LA 03/03

 

Eram duas senhoras pernas,

mas tão senhoras,

que a gente caía lá embaixo.

LA 03/03

 

O marido segurava

os tijolos meio soltos,

e o vizinho a comia

lá em cima do muro.

LA 03/03

 

A prima segurava o muro

enquanto ele a esburacava toda.

LA 03/03

 

Gemia tanto,

que o vizinho gritava:

Vê se acaba logo, homem!

LA 03/03

 

Padre Teobaldo

tinha ejaculação precocíssima.

Só de pensar nas pétalas —

explodia.

Daí nunca ter honrado

moça nenhuma.

LA 03/03

 

A padre Inácio,

bastava ver as ondas —

e já se fulminava.

LA 03/03

 

Padre Libico

cascateava

ao compasso

de dois bons saltos...

LA 03/03

 

 

 

 

Seu coroinha,

sempre com a cara de boi sonso,

andava com a cabeça

lá no fundo do poço.

LA 03/03

 

Logo que a mulher o deixou,

comprou uma inflável,

e escreveu aos amigos:

Esta eu não reparto.

LA 03/03

 

Depois que a mulher o deixou,

nunca mais os amigos

o visitaram.

LA 03/03

 

Chamou o cônjuge de louco,

abandonou filhas e casa

e investiu na sua carne.

LA 03/03

 

A Ministra de Blair

mostrou que honestidade

existe-sim.

LA 03/03

 

Nem tudo está perdido:

ainda existe o abismo.

LA 03/03

 

Conserva a fé e o riso.

Vais precisar muito deles.

LA 03/03

 

Se não tivesses perdido,

como é que saberias

que aquilo que “perdeste”

nunca tinha sido teu?

LA 03/03

 

Xite, autodó! Xite, canalha!

Queres me bajular

até o ponto de me matares

com as minhas próprias mãos?

LA 03/03

 

Ah, meu cavalo! Meu cavalo

por uma Ferrari!

LA 03/03

 

Vinte, trinta... Quarenta reais!

Cinqüenta! Não dou mais...

por dez minutos de

pinxotação.

LA 03/03

 

Tony Blair, Tony Blair,

mamar na vaca preta

é o que você mais quer?

LA 03/03

 

Queres encher o bucho,

seu Bush,

de leite negro?

LA 03/03

 

Deixe de terrorismo, seu Bush!

Já vimos as suas armas —

um luxo!

Ri-ri-ri, sua bruxa velha!

Hi-tech, mui hi-tech

sua vassoura.

LA 03/03

 

Um, dois... e zás-Bush-bum!!!!!!...

E começou o mundo:

little-Bush-bang.

LA 03/03

 

Falta de vaginação

leva a querer fazer guerra.

Hoje tô que tô quase...

qua...se qua...se qua...se ...

Quá! num deu.

LA 03/03

 

A vida não é isso que o hospício

onde nos encontramos

vive a querer nos incutir.

LA 03/03

 

 

 

 

 

Estuda, pesquisa, busca

sempre o mais que puderes.

Triste coisa é ser refém

( dizia padre Amânsio )

do pensamento e sonho alheios.

LA 03/03

 

Despreza o homem

que busca percutir

aquelas notas sujas

do humano em ti —

este não é digno

do teu nojo —

disse o guru muito enfezado.

LA 03/03

 

Cuidado com o amigo:

Ele se infiltra mais facilmente

que o inimigo,

e pode derrubar-te a casa.

LA 03/03

 

Leia, caminhe com os grandes:

com os que conseguiram dar o salto...

O mais... jogue no lixo.

LA 03/03

 

Agrupe-se pra trabalhar,

orar

e solidarizar-se.

O mais seja

seu ousar, fazer, calar.

LA 03/03

 

Nossa língua acaba conosco —

sobretudo quando pensamos

que dominamos tal músculo.

LA 03/03

 

Abandonaram-te?

Parabéns!

Agora ainda tens força.

Joga o resto no chão,

e recomeça.

LA 03/03

 

O Diabo gosta

de quem não acredita nele.

LA 03/03

 

Quem nunca viu demônios

só tem um olho e uma perna.

LA 03/03

 

Com teus amigos e irmãos

e bem depois os estranhos:

é bom tomares cuidado.

LA 3/03

 

Conta até três e pula,

pula entre as pernas dela.

LA 03/03

 

Pra padre e pra maricas,

pra freira e mulher-macho —

todos tivemos uma queda.

LA 03/03

 

Melhor que um chifre só dois,

melhor que dois é nenhum.

LA 03/03

 

A Cultura semeia

fantasmas pingando merda

dentro da cabeça da gente.

E a putona ainda nos diz:

“Felicidades!”

LA 03/03

 

Tinha uma bunda gozosa.

Um bem indisfarçável,

posto que quase durável.

LA 02/03

 

As cartas não mentem nunca,

quem mente é a cartomante,

assim mesmo porque precisa

da profissão.

LA 02/03

 

 

 

Machado de Assis sabia

o que as mulheres pensam.

Mas sosseguem:

não contou a ninguém.

LA 02/03

 

Simonne de Beauvoir deixou escrito

que quando os homens lessem os seus livros —

não amariam  nunca mais as mulheres.

Tal não se deu, é claro,

mas não deixou de ser

uma contribuição.

LA 03/03

 

O homem adora

fazer o amor e a guerra.

De fato,

fazer nascer e matar

são farinha do mesmo saco.

LA 03/03

 

O português assoviava

( lá do sobrado )

e a namorada

voava pra casa dele.

( E dizem que o bicho é burro! )

Uma nega

de esmagar os desejos.

LA 03/03

 

A bandidagem tá mandando.

Que paranóia!

Que pânico!

......................................................

Só indo para o céu!

LA 03/03

 

Aqui a bandidagem,

lá longe Bush —

e a gente bem no meio!

LA 03/03

 

Bruxelas!

Praga!

Camberra!

Caracas!!

LA 03/03  

 

 

                            Dons Choravam...

 

Temperatura amena, chuva fina...

Uma vontade de comer goiaba...

Uma loucura pura, ou mais: divina

em meio a um velho sonho que desaba...

 

Uma paixão, prima do amor ( que sina! ),

uma lembrança que jamais se acaba...

uma cena agarrada na retina...

e o prensar de uva ou de jabuticaba...

 

E fresca feito a brisa e tão menina:

lembrança ao sol, molhada de piscina,

e o vento pelos crótons que choravam...

 

Choravam o princípio de um outono —

uma felicidade, um bem sem dono...

Dons choravam o amor que não amaram...

LA 03/03

 

 

Passará Bush sobre a ONU

para espoliar o Iraque

e construir ( daí ) um oleoduto

até a Casa Branca?

Bundões do céu!

Tá parecendo que sim!!

LA 03/03

 

Pior que uma mulher —

só mesmo duas.

Melhor que uma

é ter nenhuma.

LA 03/03

 

    Você tem mulher?

    Ter não tenho, seu padre,

mas sou casado e moro com uma.

LA 03/03

 

Mulher inteligente

só dá pra um.

Mas deita e rola!

LA 03/03

 

 

A cultura é uma maneira

de a sociedade funcionar

sobre as costas de todos.

Se tem que ser assim,

que assim seja!

LA 03/03

 

Se for bom pra você fingir,

finja:

finja que não foi,

que não é

senão feliz —

e saiba:

ninguém vai acreditar,

só vão fingir

que sim, que sim:

que você é o que finge

e inventa ser...

E que isto

só faz você parecer-se

com aquilo que é:

um ser humano

a vestir, desvestir

as suas máscaras,

e a personar-sonar-sonar

através delas.

LA 03/03

 

Quando a mulher o deixou,

ele uivou feito cão.

Uivou que uivou e uivou...

Mas foi providencial —

a vizinha veio acudi-lo,

e ficou.

LA 03/03

 

Deus escreve errado

de maneira certa.

LA 03/03

 

Bebi sua beleza e vomitei.

LA 03/03

 

 

 

 

 

              Ofélia era frágil,

era de água:

transparente...

Precisava de afeto,

honestidade,

palavra, confiança.

Amava o amor

do amor e para o amor.

Sim, era frágil como a água

que escorre por nossas mãos...

E foram essas mesmas águas

que lhe serviram de colchão

a carregá-la

por sob os ramos dos salgueiros...

O amor lhe faltou,

lhe faltou com a palavra...

Só lhe restava dormir —

esquecer que era Ofélia.

LA 03/03

 

Sim: beleza não se põe na mesa,

mas na cama.

LA 03/03

 

A melhor rima pra mulher

é penumbra.

LA 03/03

 

Beleza é como sorvete:

a gente tem que lamber logo.

LA 03/03

 

De Salomão invejo

não a sabedoria,

mas as mulheres.

LA 03/03

 

Mulher é como açude —

tem que ter um ladrão.

LA 03/03

 

 

 

 

 

A mulher ta perdendo

o jeito de ser mulher.

Tá cada vez ficando

bem mais interessante.

LA 03/03

 

A minha limusine

( se a tivera )

por tuas pernas!

Não as de agora,

mas aquelas...

que o tempo e eu

( mais não sei quem )

comemos.

LA 03/03

 

Comi-te,

sem celulite.

Esta, que a coma outro e o tempo,

que eu já não tenho com quê!

LA 03/03

 

Uma grande porcaria

a gente é:

agora tá comendo,

daqui a pouco tá comido.

LA 03/03

 

Cupim, amor, cupim

nos esburaca em torno

dos nossos nove orifícios,

até que tudo dê

num só buraco.

Mas nem por isso, amor,

desanimemos:

façamos!

Com charme e estilo.

LA 03/03

 

A penumbra cobria-lhe

rosas e vasos,

enquanto o floricultor

( com calma e competência )

ia irrigando pétala

por pétala.

LA 03/03

 

Pediu para a mulher raspar a coisa

e pôs seus pêlos na carteira.

Por que, amor? — pergunta-lhe vaidosa

a consorte.

    Para dar sorte,

ué!

LA 03/03

 

 

 

— Viu a Clarinha?!

    Vi, sim: um ragu!

    Gostei da rima.

LA 03/03

 

Se um urubu

pousar no seu telhado,

xite com ele!

E diga três vezes

no pensamento,

com três pulinhos:

É sorte!

É sorte!

É sorte!

Mas atenção:

isto só vale

se você for um “avião”

e estiver de biquíni.

LA 03/03

 

Maquino, logo preciso de azeite.

LA 03/03

 

Ela adorava o esposo.

Sempre que viajava,

chamava três amigas

para pousarem com ele.

LA 03/03

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ela era só favos,

isto é: quase só...

Ele vivia se lambendo todo...

Ferrões?

Deliciosíssimos:

tinham uma toxina

automático-orgasmática,

sempre antidogmática.

LA 03/03

 

Seu nome?

Débora.

Modéstia à parte.

LA 03/03

 

Pedia que a esposa ficasse

num ângulo bem erótico,

em pé sobre a areia:

assim... assim... Aí, aí... deu!

Então fazia amor com sua sombra.

LA 03/03

 

E então, Mr. Hardy,

o leão vindo, vindo...

o senhor com o fuzil...

E aí, Mr. Hardy, e aí???...

    Borrei quentinho,

quentinho...

LA 03/03

 

O tempo voa com as nossas penas.

E passa tão depressa

que nem dá tempo.

LA 03/03

 

Meu amigo chinês

sonha tão devagar,

sorri-pensa-faz

tão devagar,

que até parece

que vai viver 5000 anos.

LA 03/03

 

 

 

 

 

               Quando menino,

o afiador de facas passava.

Tocava um apito e gritava:

Amolo, tiro dentes, ponho cabos...

Se não gostar, leva uma nova.

Um dia lhe perguntei

onde estavam as tais novas...

Respondeu-me:

Menino, a gente precisa

confiar em si mesmo,

e essa confiança

faz fazer bem.

De modo que minto meia mentira:

como sei que faço bem,

peço a Deus que me perdoe

por esse fingir-mentira

ou mentira do avesso...

Sim: necessário confiança,

então fazemos bem.

LA 03/03

 

A gente passa azeite, e vai.

Serrote sem um oleozinho

emperra, a madeira o morde

.................................................

Serrote?!

Quem falava em serrote?

Serrote os diabos!

LA 03/03

 

Cachaça é bom:

passa borracha

na celulite.

E faz cobra

paraplégica

dar alguns botes...

LA 03/03

 

Há um inferninho

por fora,

e outro inferninho

por dentro.

E o que é que falta?

O diabo e a diaba?

Faltam não. Ei-los:

Ele-você, eu-ela.

LA 03/03

 

Pós-operado:

Meu reino por poder mijar!

LA 03/03

 

Quanto mais estudado,

mais inteligente.

Certo? Falso.

LA 03/03

 

A grama relinchava

quando eles, sobre ela,

se conheceram

sob os lençóis da noite.

LA 03/03

 

    Nem por isso?

    Nem por isso!

LA 03/03

 

Quando não mais interessam,

as coisas têm um interesse do avesso,

em seu final-começo.

LA 03/03

 

De Salomão invejo

não as mulheres,

mas o prazer que teve

com elas.

LA 03/03

 

Vaidade das vaidades!

Que orgasmos não orvalham

aquela frase!

LA 03/03

 

Vaidade das vaidades!

Que delícia, meu Deus,

tudo é vaidade!

LA 03/03

 

E agora?

Será que Laura esconde meu guarda-chuva!?

LA 03/03

 

 

 

 

 

Esta frase

é para ouvir, guardar

e não dizer pra ninguém:

“Mais vale um cachorro vivo

que um leão morto.”

LA 03/03

 

“Muita sabedoria é enfado”...

Muita burrice também.

Bom, minha nega, sempre foi:

nem lá, nem cá —

no meio.

LA 03/03

 

Quero uma nega

que dê pra quem ela quiser,

contanto

que não me deixe sem.

LA 03/03

 

Fungar é bom,

é muito bom.

Depois,

uma outra coisa boa

é cair fora.

LA 03/03

 

O amor é bom,

o que não presta

é levá-lo pra casa.

LA 03/03

 

Não deu certo o casamento?

Casa outra vez,

ué! —

nos diria um amigo.

LA 03/03

 

O que não tem solução

a gente considera são.

LA 03/03