HOJE É O QUE TEMOS
Laerte Antonio
Textos 01
Deus, por certo, é ateu
( claro: sem precisar nem sê-lo,
nem coisa alguma
gaguejada por homem )
e como tal
não tem religião.
Pensemos nisso com calma
( com humildade )
e quem sabe muita e muita coisa
não mudará lá em nós?
LA 05/006
Ela ( recém-casada )
aceitou que o marido
fosse sozinho para a Copa:
Imaginem!Tudo mais que natural —
ficou com seu cunhado e amigo,
o André.
LA 05/006
Cuidado! Não aponte para os outros,
que o dedo cai.
LA 05/006
Não!... Não pule da cadeira
( nesses dias de tantas doenças ),
não pule da cadeira,
que o coiso ou a coisa cai!
LA 05/006
Jamais passes por baixo
de escadas,
que ficarás livre
das deliciosas tolices.
LA 05/006
— Já viu onça pintada?
— Já, sim.
— Sujou?
— Não, foi na telinha.
LA 05/006
Nossos pais nem imaginavam
os bichinhos bonitos que seríamos —
ora fazendo o amor e a guerra,
ora a guerra e o amor —
muito mais requintados do que eles.
LA 05/006
Não fale mal de Fulano,
que o marido desconfia.
Sabe como são os homens —
uns panacas.
LA 07/006
Mandou blindar seu telhado,
bem como portas e janelas...
e ficou até chateado —
nenhumíssima brecha!
E nunca nem desconfiou
que seus amigos dispunham
de uma passagem secreta
( um duplo chip: só coçar... )
pra confortar ( rezas, novenas, jogos )
a sua bela Eleonora.
LA 05/006
“A riqueza valoriza o espírito,
que sabe que tudo é rico” —
palavras de um dos donos do petróleo.
LA 05/006
Falar é fácil,
difícil é o que falar.
LA 05/006
Deliciosas mulheres!
Reclamam que reclamam,
choram que choram —
mas sempre de xota cheia.
LA 05/006
Falam mal, muito mal,
mas só pra terem direitos
sobre os seus mal-amados,
que já nem ligam
para o seu desamor —
contanto que, depois,
virem para o outro lado
e durmam.
LA 05/006
Entre cônjuges,
falar mal um do outro
é afrodisíaco.
LA 05/006
O malandro só é malandro
em terra de bobos,
isto é, em sua casa.
LA 05/006
Enquanto a bobeira do bobo
não lhe doer o suficiente,
ele não parirá olhos de ver.
LA 05/006
Entre casais
falar mal um do outro
justifica traições.
LA 06/006
Quem ri por último,
ri por último,
e por vezes
nem dá tempo.
LA 05/006
Quem madruga,
se não tiver agasalho,
passa frio.
LA 05/006
Devagar nunca se vai muito longe.
Agora, não havendo outro jeito,
antes devagar, minha nega,
que parado.
LA 05/006
Beleza é bom, claro que é bom —
dá cada temporal!
LA 05/006
Passamos como as águas passam,
mas molhar —
só naquelas partes.
LA 05/006
Apresentaram-me Marilda.
Vidrei ( discreto ) e pensei:
Uma aeronave dessas
já deve ter a sua ponte aérea
com piloto, co-piloto
e outros marotos.
Mas não, tinha entrado em pane
num casamento recente
que foi de bico para o mar...
Salvou-se porque seu anjo
( isto, segundo uma amiga )
lhe fez a velha chantagem:
Ou me... ou te abandono...
Concordou com ele, é claro,
mas bem na horinha lhe disse:
Procuro um cara
de pé no chão
e coiso bem terráqueo.
Aí o penoso não teve pique,
sabe como são os machinhos...
...........................................................
Mas como estava dizendo,
ao ver Marilda,
fiquei todo entusiasmado!...
E sonhei, ensaiei, me preparei...
mas
veio o André
e a convidou primeiro
para um passeio
na garupa de sua moto.
LA 05/006
Josefina rezava
dia e noite pro seu anjo:
“Detesto nefelibatas
e fofuras celestiais...
Manda-me um homem cascudo,
tosco, bronco, sarado —
tipo que quebra a cama
com um peido,
fecha a garrafa de pressão
que ninguém mais toma café...
e quando bebe
derruba com o ombro
o pilar do portão.”
Daí a três dias um tratorista
( estavam asfaltando a rua )
entra-lhe em casa com Caterpillar e tudo...
Foi amor à primeira trombada!
LA 05/006
De tanto ir à fonte
o vaso encontra a sua rosa.
LA 05/006
Vaso trincado
nem sempre é vaso ruim,
tanto é que não se jogou fora.
LA 05/006
Vinha sempre.
O amigo sentia saudades
da comida de sua esposa.
LA 05/006
Admirava-a tanto,
que o marido ( bom italiano )
capiscou...
e a tempo
tomou as devidas pré-calções...
LA 05/006
Chovia tanto,
que ele não podia
absolutamente ir.
A sogra o pôs pra dormir com o marido
e foi deitar-se com a filha.
LA 05/006
A mulher ( uma indigente )
pediu-lhe dinheiro para um pão.
Ele a levou a um canto escuro,
comeu-a devagar
e lhe deu uma moeda.
LA 05/006
Esquentes não, —
viras vapor
e teus amigos
fazem chorar no apito
teu maquinão.
LA 05/006
— E aí, André?
— Nada, nada...
Nada que uma boa coçada,
um bom gole,
uma boa comida
não ponham tudo no lugar.
LA 05/006
— A vida é espeto!
— Imagine se fosse um martelo!
LA 05/006
— Viu como Glorinha
tá de não deixar espaço
pra se pegar mais nada?!
— As mãos, André,
variam muito de tamanho.
LA 05/006
— Viu que raaaaaaaabo?!...
— Minha irmã faz musculação.
LA 05/006
— Se ela lhe dissesse:
Tó: é sua!
Que é que você faria?
— Diria:
Olha, Fulana,
não é assim tão fácil —
vou ver se ainda tenho
um Viagra.
LA 05/006
— Paihêêê!
— Fala, Carlinhos.
— O que é Viagra?
— É a escada do Everest...
Isto é: *tt/&hjw%$#@+/-*,;:...zxsytpssssss...
Entendeu?
— Claro, pai! Mas
não dispensa a camisinha não, né?
LA 05/006
— Que vale mais Marilda:
um na mão
ou na bolsinha?
— Ah, minha amiga,
não dá para abrir mão,
nem bolsa
de nenhum deles!
LA 05/006
Um dia, amor, te conto um conto
tão bem contado,
que farás um desconto
em todos os futuros
recontos.
LA 05/006
Para haver sociedade,
esse bípede implume
é depenado
sem pena.
LA 05/006
O homem é tão canalha,
que tem a graça
de não se ver assim.
Sim: não se vê nos outros,
mas apenas os outros.
LA 05/006
Há coisas que nos fazem,
que são muito pesadas —
é preciso perdoá-las urgente,
senão seu peso nos esmaga.
LA 05/006
Ninguém nem nada poderá
roubar-te de ti mesmo.
Jamais desistas,
isto é, não te abandones
em nenhuma situação.
Nem tu, nem ninguém, nada
poderia jamais
te anular.
Terás sempre de prosseguir.
Sabendo disso,
e trabalhando para isso —
tua vida irá mudando
de insuportável
para algo bom e abençoado.
LA 05/006
Não temas,
entre um degrau e outro
há mesmo um desequilíbrio
causado pelo ousar.
LA 05/006
Não desista de si mesmo!
Iria se jogar
lá na vala comum
dos invejosos que o querem
mudado,
feito conforme os moldes deles —
sim, montado e domado para eles.
LA 05/006
Quem é o homem?!
Quando passei, gargalhava...
Ao voltar,
já não estava.
Sua arrogância
cantava no caminho,
descabelada e insana,
sim: não mais que um fantasma...
Quem é o homem,
que é tão sábio,
mas que não sabe
quanto azeite
tem na sua candeia?
LA 05/006
A filosofia
é lábia da alma —
saliva cristalina
lambendo brumas...
a deliciar-se de auto-engano.
LA 05/006
Se a filosofia
for mais que busca —
não me serve.
LA 05/006
Sim, gosto de colocá-la
( para mim ) no seu lugar:
amo a filosofia
por ser aquele ousar
que — no ar —
reconstrói escadas e patamares
e faz o homem
crescer em suas asas.
LA 05/006
Tive muitos amigos e amigas.
Muitos. Nos reuníamos
para explorar o Cosmos (!).
Minha casa
vivia cheia.
Todos homens, mulheres muito sérios.
Anos e anos de estudos...
Décadas.
Mas valeu —
com nossa seriedade
foi que aprendi a rir
e temperar as coisas com humor.
LA 05/006
Ah...Mais Um!...
Agora é o Código Da Vinci
a amarrar galhos no rabo do burro
dos ávidos intelectuais
que arrastam
os bárbaros ululantes,
iconoclastas inconscientes —
um poeirão danado...
Isto, em terra. No mar,
como bons flibusteiros
e piratas zarolhos,
provocarão tsunames...
Mas daqui a pouco,
daqui a pouco, quando vir
que o tesouro era apenas
uma caixa vazia
( mais por exaustão que perspicácia ) —
o mundo voltará sem graça
ao seu nada
sem graça,
e aqueles sôfregos senhores
já estarão ( é claro! )
com bolsos e cofres empanturrados.
Quanto ao molho místico
do livro,
seu condimento rançoso
dá um paladar hilariante —
aquele feito com materiais já passados
de esoterismos de esquinas
e ocultismos-nóias-adolescentes.
Dan Brown é uma mente luciferante:
portador da luz óbica,
a que cava no caos.
Pelos descambos de sua ficção,
dá pra ver que não traz em si
nem bruxuleios da luz ódica,
a que é o caminho.
Vender Jesus como um homem comum
no mercado permissivo
e medíocre dos homens
tem repletado bolsos e cofres,
além de capitalizar alguns nomes.
A classe média alta ( em sua maioria )
sempre comprou
essa idéia com fome e sede,
já que ela frui o mundo sardanapalescamente
e só tem os divãs de análise ( a maioria deles )
para lhe exorcizar a culpa —
portanto, tudo o que lhe venda o Sagrado
por mercadoria comum e ordinária
é obsessivamente comprado,
degustado e assimilado
por sua fome e sede de mundo-viver, repita-se: sem culpa —
querem apenas a primeira parte da frase do Apóstolo:
“Todas as coisas me são lícidas”... sim, só até aqui,
a segunda parte, que dá sentido ao todo:
“mas nem tudo me convém”, esta ela quer banir
por amor de seu hedonismo cínico-luxuriante.
Cada vez que isso ocorre, torço muito
para que o maior número possível de pessoas
vejam a peça ou filme ou leiam ( no caso ) o livro —
isto porque
vírus esparsos não causam epidemia:
não mostram a doença no maduro de suas causas,
para que a enfermidade seja diagnosticada
e então se lhe empreenda o contra-ataque,
e o tratamento.
Dan Brown e sua equipe,
mais a multidão de finórios ( e especialistas )
arrastando suas idéias e levantando muita poeira
( que eles talvez reputem como ouro do melhor
em suspensão... ),
esse herói e seus coadjuvantes
logo serão picados
por algo que serpenteia
entre as páginas dos seus próprios escritos —
O Sorriso De Mona Lisa.
Semelhantes atraem semelhantes,
afins geram afins e todos plugados
nada menos que na arrogância —
ávidos por lançar mão da Rocha das Eras (!)
a fim de convertê-La em paralelepípedos
para calçar a Rua da Permissão
e a Praça da Mediocridade.
Uma arrogância bípede e implume —
não sabe voar, isto é, não pode:
carece de asas interiores.
LA 05/006
Pensar nela
eram brisas relando asas
lá por dentro da gente.
Esfriava a tripa, compadre!
LA 06/006
Rosinha era tão boa
que lavava,
passava
e cozinhava —
mas só de mentirinha,
pro português da esquina.
LA 06/006
Tianinha era boa
de coração e de pernas —
corria do serviço
de casa
pra trabalhar pro padre.
LA 06/006
Joaninha era tão bela,
tão precocemente bela,
que aos 15 fugiu
com o ourives Elieser,
aos 18 ganhou-lhe a loja
e as vinte e duas propriedades.
Aos 20
casou-se com o filho dele,
que era alpinista —
coisa que ela detestava...
mas que lhe propiciou
viver com abundância
a sua horizontalidade.
LA 06/006
O tarado correu-lhe atrás
por mais de vinte minutos —
até que a pegou!
Arranca-lhe a saia, a blusa... e vê,
vê já sem pique:
Oi, Ofélia, é você,
minha vizinha!?....
— Que vizinha o quê, Moisés!
Depois de um trabalhão desse,
vê se capricha, cara!
LA 06/006
Quando o português cantava
aquele fado...
a baixinha sarada
corria lá.
E pensam que ele parava?
Nuncas!
Apenas estremecia o tom,
sim, o timbre tremulava —
agora entre fanhoso e abafado...
Aí dona Laura,
a da papelaria,
escandia entre os lábios
sempre a mesma frase:
“O hominho tá quase...
quase... quaaaaaa...se... Pronto: quasou!”
LA 06/006
Do Carmo
deixava a gente
com as mãos imaginando...
cheirosa, alegre, rechonchuda,
mas graciosa,
leve como uma folha —
deixava um rastro,
um chuvisco de fêmea
que lhe vinha de todo o ser.
LA 06/006
Emilinha era frágil,
deliciosamente frágil.
Quando a gente a abraçava,
ela crocava,
crocava como pão fresco...
E nem faltava a manteiga
e o cafezinho —
que vinham implícitos
em tanta guloseima.
LA 06/006
Certa vez veio um moço de longe.
Quando ele e Eulália se viram,
houve tremores, tsunames, incêndios...
Mas sua mãe sentenciou:
Namoro não. E não e não!
E já que não podiam namorar —
foram morar juntos.
LA 06/006
Enquanto a Zefa não vem,
aproveito para aprender
a viver em outras gamas —
aquelas além-corpo.
LA 06/006
Zefa, Zefa, não tenhas pressa,
que por aqui tá tudo bem.
Mas como um dia tens que vir,
vem, minha Zefa,
num jeito zen —
lá do futuro do pretérito
de termos sido felizes.
LA 06/006
Não tenhas medo, minha nega,
não tenhas medo do futuro —
quando ele vier
corremos atrás do hoje,
no último degrau
do passado —
dali o veremos
igual a todos os futuros:
algo em nós que não sabíamos.
LA 06/006
Não sei por que, Maria,
você me lembra
um punhal desembainhado
sobre o lençol.
LA 06/006
Não sei por que, Regina,
você me lembra
dedos sangrando,
e cobertos de pétalas.
LA 06/006
Não sei por que, Beatriz,
sempre que nos recordo
vejo um relógio parado
à meia-noite.
LA 06/006
Ah, Laurinha, Laurinha!
Uma saudade com coriza
em te lembrar.
LA 06/006
Ah, Glória, Glória,
nem precisavas
ser tanta!
LA 06/006
Débora, Débora,
que delícia que eram
tuas picadas!
LA 06/006
Sueli, Sueli
( ah, meu lírio! ),
quanto veneno
nessa tua corola!
LA 06/006
Beatriz, Beatriz,
por que é que a gente
se esqueceu, Beatriz,
de ser feliz?
LA 06/006
Luciana, Luciana,
faltou luz, minha cara,
e tropeçamos,
mesmo na graça!...
LA 06/006
Laura, Laura,
a quem darás, minha prenda,
teus tantos louros?
LA 06/006
Marli, Marli,
abaixa a saia,
que logo ali
se esconde um bem-te-vi.
LA 06/006
Rúbia, Rúbia,
pode me sujar a gola
de vermelho,
que não tenho patroa.
LA 06/006
Hortênsia, Hortênsia,
se não chovemos, meu amor,
te vais murchando...
LA 06/006
Rosa, Rosa,
antes ter alguns espinhos
do que nada nas mãos.
LA 06/006
Joana, Joana,
misericórdia, minha amiga,
só pode vir do Senhor.
LA 06/006
Zefa, Zefa,
o que o homem lhe tira,
sua fé faz aumentar.
LA 06/006
Bonilda, Bonilda,
és boa, muito boa,
mas de rabo.
LA 06/006
Ah, Maria, Maria,
amargura
faz mal pro coração.
LA 06/006
Lúcia, Lúcia,
muita luz não, minha cara, —
um pouquinho de sombra,
além do charme,
amacia a paisagem.
LA 06/006
Alba, Alba,
esta hora é magia pura
e orvalha mesmo os lençóis.
LA 06/006
Vera, Vera,
muita verdade
faz pensar em mentira.
LA 06/006
Alma, Alma,
nem tanto ao céu,
nem tanto ao chão.
LA 06/006
Raquel, Raquel,
balidos, sim,
mas berros, não!
LA 06/006
Daniela, Daniela,
os homens também julgam!
LA 06/006
Márcia, Márcia,
tudo à ponta de espada,
não dá.
LA 06/006
Aurora, Aurora,
a vida é mesmo
uma hora de ouro.
LA 06/006
Hortênsia, Hortênsia,
nem tudo são flores,
apesar das pétalas.
LA 06/006
Que cu-de-boi, senhores
( aliás, de dinossauro ),
defecou no Congresso ontem!?
Confundiram democracia
com cracia-do-demo.
Os tais “sem” estão mimados —
querem quebrar e levar tudo:
estão mimados.
Os sem-isso, os sem-aquilo...
logo logo os sem-mulheres
também vão reivindicar.
Os sem querendo virar com...
mas sem fazer o trivial —
trabalhar.
Bárbaros mimados.
Depredadores mimados.
Destruidores mimados.
Exigem para si
falácias prometidas
em eleições...
E invadem,
tomam.
Flagelam
matam
assolam
assassinam
desconstroem
destroem
quebram
atrasam
arrasam —
mimados,
vândalos mimados,
cínicos mimados —
não querem pagar o preço
de o sem chegar a com:
boa vontade,
trabalho,
dedicação,
disciplina,
escola,
respeito
( isto é bom,
tão bom que conserva os dentes,
a cara e a liberdade )...
Mimados fora da lei.
Premeditados.
Bandidos.
Acreditaram
nas promessas dos homens,
dos homens que, hoje, os matam.
LA 05/006
A vida? Mais ou menos
uma corrida de obstáculos.
Mister ultrapassá-los
e saber o que fazer
com cada ultrapassagem,
pois que se vai construindo
uma história de ser
e plasmando um destino.
LA 06/006
Há os que vivem os seus dias
e os que estão vivendo nos dias —
esta a diferença
entre ousar
e não ousar.
LA 06/006
Quem ousa
se arrisca e resvala
até firmar-se
noutro caminho:
um pulo
do sonho
para o sonhado.
Quem não ousa
está colado em si mesmo.
Sim, um projeto maior
traz grandes riscos
em tempo-espaço de ser.
LA 06/006
Os que estão à tua volta,
quando percebem
que podes ousar, —
jogam o laço
para ter-te tal como eles:
um bípede implume.
Bem por isso é que o ousar
deve vir junto com o calar.
LA 06/006
Se pretendes escrever,
primeiro, ocupa-te em viver.
LA 06/006
E o mais é contar e recontar
até que o conto transeja.
LA 06/006
Tive um ex-aluno
que me rodeou
porque queria que queria
escrever.
Cheio de arroubos e arrogância,
quando viu que primeiro
devia estudar e viver —
escafedeu-se
dizendo por aí
que não tinha dúvida:
eu era um cara louco.
Claro,
senti-me lisonjeado.
LA 06/006
O que é que um escritor
pretende ganhar do mundo
a não ser um pé atrás...
e muita solidão?
LA 06/006
Os que te matam
são:
1º. — os do teu sangue;
2º. — os amigos;
3º.— os vizinhos;
4º. — o mundo.
Prudência é mistura
pra qualquer prato.
LA 06/006
O vento bate na janela
como com medo do escuro
ou tentando fugir à chuva fina
que arrepia a madrugada.
No quarto
uma penumbra confortável.
Uma moldura perfeita
para um abraço de xiranha.
LA 06/006
Quem não sabe mentir,
ao menos
não é escravo da verdade.
LA 06/006
Tua verdade ajuda,
quando deixa teu ser movimentar-se
entre ela
e sua liberdade.
LA 06/006
Os grandes filósofos
nos ajudaram bastante
quando vimos em suas obras
que a razão tem um teto
em que todos eles
bateram forte a cabeça.
Para ir-se além
é mister intuir.
LA 06/006
Filosofar é buscar,
uma busca elegante,
sofisticada até,
mas busca.
LA 06/006
Filosofia e poesia
podem se dar muito bem:
ser almas gêmeas —
se quem as pratica
sabe o que são.
LA 06/006
O caminho da busca
é feito de esperança,
que persiste;
de fé,
que já vislumbra
o resultado;
de amor, que gesta
todo esse sonho.
LA 06/006
Dizia que me amava,
mas nunca acreditei.
Hoje vejo que devia...
Não teria custado
acreditar
no amor
em que eu não cria...
ou na felicidade
em que por certo
hoje-agora saberia
acreditar
e ajudar a inventar.
LA 06/006
Somos muito exigentes —
queremos dos outros
o que jamais teríamos pra dar.
LA 06/006
A gente é muito complicado.
Complica tanto,
que quando a coisa se explica
e simplifica,
já nem lembramos dela.
Preferimos o complexo —
amamos ser marionetes
entre seus dedos.
LA 06/006
O amor e a guerra se completam,
e tudo fica uma delícia —
fica faltando apenas
uma pitada
de religião.
LA 06/006
André tinha uma vontade,
mas uma baita de uma vontade
de beijar a filha da vizinha,
( por anos e anos e anos! ),
que quando um dia a beijou,
sentiu que fora bem melhor
jamais tê-lo feito.
— Mas por que isso, meu velho ? — perguntei.
— É que antes de beijá-la
havia o sonho... aquele sonho-mais —
sonho sem a herança
que o faz pobre mortal.
LA 06/006
Queria ser amado,
mas não foi ?
Então comece direito —
comece por se amar.
LA 06/006
André, André, seu babão,
entre ter sido amado ou não
é só uma questão
de opinião.
LA 06/006
André, André, seu sabichão,
entre ter sido amado ou não
é só uma rima em ão.
LA 06/006
Cada vez que se encontravam
era aquele porre de amor.
E foram tantos
que nem contaram.
Os que pensam que morreram
de cirrose amorosa
se enganam —
estão curtindo até hoje
suas ressacas.
LA 06/006
No outono-inverno fazíamos
o que ela chamava de
amor-capuccino —
bem encorpado e fumegante...
LA 06/006
Seguir sozinho
por vezes
é a melhor companhia.
LA 06/006
Verinha me ensinou
que o amor é uma mentira,
mas nem por isso menos verdadeira.
LA 06/006
Tinha um jeito de clara em neve,
casca de ovo de colibri —
tão frágil era.
Já o marido, um jequitibá —
lenha pra burro,
que ela olhava
com um desprezo sorridente...
LA 06/006
A vida é linda, Glorinha,
linda como você.
O que estraga, minha nega,
é que a vida não tem nádegas
pra umas boas chineladas.
LA 06/006
Você já foi a minha glória.
Hoje, nem isso, Glória.
LA 06/006
Nesta vida tão safada,
tão cínica de bonita,
que é que se há de fazer
senão amor, amor e amor,
enquanto outros fazem guerra?
LA 06/006
Não, Susana,
não chores mais por mim —
não vou mais pro Alabama...
e troquei meu bandolim
por uma brama
e um punhado de amendoim.
LA 06/006
Marilda, aquela ingrata,
me trocou pelo mecânico
só porque
ele tem cheiro de graxa
e os dedos todo oleados...
LA 06/006
Ela era uma fartura.
Escandalosamente boa.
Quem ousasse...
já sabia:
tinha que repartir as terras.
LA 06/006
Quantas vezes não segurei
em suas nádegas
pra viajar
fora do tempo e espaço!
LA 06/006
Tinha umas pernas
tão aerodinâmicas,
que só lhe faltava mesmo
levitar.
LA 06/006
— Que vale mais, Marilda:
um na mão ou dois avulsos?
— Nem na mão, nem avulsos,
mas um, um na bolsinha.
A hora urge,
minha amiga!
LA 01/006
Tinha um perfil afilado
e leve —
uma garça pensando
à beira da represa.
LA 06/006
Um olhar afastado
do mundo,
passadas largas
de pernas desfiando brumas...
Olhava mas não via.
A boca
como de quem sente nojo.
Uma mulher abraçada
com sua angústia.
LA 06/006
Somos tão diferentes,
uma pessoa da outra tão diferente,
que deveríamos ter
um espírito bem maior
de relevância uns com os outros.
LA 06/006
Um beija-flor acoplado
na corola do hibisco...
Será que o Infinito viu,
registrou esta cena?
Ou nada significa
um beija-flor acoplado
na corola de um hibisco?
LA 06/006
A dor por vezes é tanta,
que a criatura não sabê-la assim
é a própria graça de Deus nela.
Sim, é aí que não saber
vale mais que a sabedoria
de Salomão.
LA 06/006
Um pássaro piou lá longe.
Entre rugidos de motores
se fez ouvir.
E dissolveu-se em nada,
como em nada se dissolvem
os rugidos das máquinas.
Cada ser é sem querer
o seu próprio universo:
uma viagem
por muitas viagens.
LA 06/006
Nós dois lá numa quinta
século dezenove
em Portugal
seria apenas nós dois
lá numa quinta
século dezenove
em Portugal.
Ser e contingência
será sempre igual a ser.
LA 06/006
Em sua versipluralidade
jornadeia o universo:
por dentro, em seu sonho-mais;
por fora, em suas naves
de chegar-se.
LA 06/006
Todos teremos de vencer
a natureza
que nos veio da natureza.
O que nos cerca
e o que somos
só nos servem por enquanto.
Nosso destino é a luz —
não esta que nos ilumina,
mas a que nos é companhia
e rumo.
LA 06/006
A vida não se explica
porque, neste estágio,
tem de ser maquiavélica.
O ser é que lhe dá sentido,
mas o rumo interior
de seu fim-último
é ela que lhe dá.
Vale dizer:
o ser tem de chegar,
isto é: chegar-se.
LA 06/006
Só as nóicas e ressentidas
fazem monologar
suas vaginas.
As normais
preferem o velho diálogo
( aliás, sempre novo )
vagina/pênis —
um coaxar lá no brejo
da condição humana:
buscando a recompensa
que pode haver
entre homem/mulher.
Um coaxar a lembrar
vaga-lumes e juncos e taboas...
Um coaxar que unido
a outros coaxares
forma por todo o mundo
uma sinfonia aquosa —
um marulhar de infindo orgasmo.
Um pico e um vale
praticam um diálogo
interessante aos dois.
Já um monólogo
de qualquer um desses dois
seriam mágoas pernósticas
( masturbações agoniadas ),
traumas para divãs.
Seriam só arrogâncias
machófilas
ou feminófilas —
ressentidas, sim:
enfermas de ressentimentos.
LA 06/006
Por vezes se nos impõe
uma saída urgente
e apaziguadora —
masturbamos.
LA 06/006
Xiranha com manga?
Não, não faz mal.
É só não confundir os talheres.
LA 06/006
Tinha uma cara
de quem jamais
teve um orgasmo.
LA 06/006
Há os alpinistas
da vertical
e os da horizontal.
Mas tudo são Alpes,
isto é: alturas e vertigens.
LA 06/006
Há pessoas tão sérias,
que são uma graça.
LA 06/006
Tive um amigo tão sério,
que não ganhou nada com isso.
LA 06/006
Um pouco de ternura
não basta?
Isso de ser amado,
de querer ser amado
é a maior das molecagens.
Tendo o suficiente,
ô cara,
o resto a gente inventa.
Ou se esqueceu, meu velho,
de que ainda nem saímos
da porta da caverna?
LA 06/006
Amor é coisa rara,
meta a ser alcançada.
Nem se deve exigir
o que também não se tem.
Fiquemos com a idéia
e amemos o sucedâneo.
Sim, ensaiemos!
Para isso é que serve o teatro.
LA 06/006
A diferença entre um sexo e outro
é o que há de magnífico
entre um sexo e outro.
Essa dificuldade
de um lado e do outro
é que são os fogos
e a cachaça da festa.
Tudo isso é muito velho
porque tudo isso é sempre novo.
LA 06/006
Não confies, meu amigo,
não confies!
Não porque sejamos diferentes
daqueles em quem não devemos
confiar —
mas pela nossa geral
condição.
LA 06/006
O mundo conta anedotas
e quer que a gente ouça sério!
LA 06/006
Um certo presidente ( já faz tempo )
decretou que o adultério
( a partir daquele dia )
deixava de ser crime.
A gente entende que a intenção
foi a urgência em salvar vidas...
Mas mesmo assim fez rir —
pois como explicar isso
aos genes possessivos
de uma inculcação de milênios?!
LA 06/006
Desaprender
é o que a vida nos vai exigindo.
LA 06/006
Desaprender, mas de um tal jeito,
que a desaprendizagem
nos vá sendo aprender
por reciclagem do aprendido.
LA 06/006
Botamos a carroceria
à frente das próprias rodas
e não queremos ser atropelados!
LA 06/006
Há coisas que demandam mais que tempo —
sim, tempo-aprendizagem.
LA 06/006
Muitas vezes parece
que estamos num teatro programado,
se bem que o Autor da peça
nos deixa readaptá-la
bem à vontade...
LA 06/006
E é tudo tão rapidinho,
que nem dá tempo.
LA 06/006
A mão que você nega ao outro
vai lhe fazer muita falta.
LA 06/006
Chega um tempo em que não dá tempo.
LA 06/006
Melhor que ser bem-sucedido
é não atropelar os outros.
LA 06/006
Não respeito o que você “conseguiu”,
respeito o que você é.
LA 06/006
Por vezes a vida dá medo,
então nos inventamos enganos.
LA 06/006
Colhemos quase um milhão de toneladas
de grãos pra cada brasileiro...
e os fantasmas da subpobreza
estão sambando por aí —
com a sua cuíca e tudo!
A sociedade é ridícula
como os sons de uma cuíca.
LA 06/006
Quando um homem
dá medo ao outro,
a sociedade
está com um câncer danado.
LA 06/006
Quando a exceção dita normas,
dá-se o caos de sentido
e fim.
LA 06/006
Quem tá no poleiro de cima
tem que tomar cuidado
com as suas cagadas.
LA 06/006
Um homem não devia nunca
deixar outro homem
chegar à miséria humana.
LA 06/006
Balas seguram
enquanto a vida vale a pena.
LA 06/006
A consciência humana
precisa sempre
de novos odres.
LA 06/006
O bom estadista é o que sabe
quanta pressão suporta
as caldeiras que opera.
LA 06/006
Nações Unidas
acabam de noticiar:
Daqui a 14 anos
1 em 4 brasileiros
será morador de favelas.
A nossa sociedade
continua
repartindo a pobreza
e a miséria,
concentrando a riqueza
e o luxo.
LA 06/006
Por vezes bate um cansaço —
a gente tira umas férias
de acreditar no ser humano.
Azar nosso,
sem esperança
a vida dói demais.
LA 06/006
Plena Copa do Mundo.
Dá pra ver bem:
mais que anestésico,
futebol
é integração.
LA 06/006
Esses nossos dias —
a seco,
não dá.
Muita desgrama social...
Por isso nunca deixo
meus goles de escrever.
LA 06/006
Demais é como de menos —
faz mal.
Sim, nada precisa ser demais,
nem de menos
ou no ponto x, a, b...
Um tanto que seja suficiente —
agradável,
alegre,
feliz:
suficiente.
Muito não,
pouco não —
um tanto que baste.
LA 06/006
Seremos tão cheios de chiquês,
tão livre um,
tão livre o outro,
tão sem ninguém que pese
em nosso modo de viver,
tão sem nada que se exija
nem de um,
nem de outro —
seremos tão alternativos
em nosso jeito de ser
e tão sem dar satisfação
e a fazer o que der na telha
de um,
de outro —
que, minha amiga,
nem sequer pensaremos
em viver juntos,
nem separados
ou de outra maneira.
Seremos mais dois
que não querem pagar o preço:
muito caro e paranóico —
mamíferos de luxo
e bicudos,
tão bicudos
que não se beijam
jamais.
LA 06/006
Pra conservar a saúde
aprendi a rir da vida,
do mundo
e de mim mesmo.
LA 06/006
O que é que adianta?
Crocodilo é tão brabo,
mas bota ovo!
LA 06/006
A lei da semelhança:
Semeou cacos de vidro,
colheu pedaços de navalha.
LA 06/006
Mulher muito bonita,
terrivelmente prendada
de pígios-míjios,
é uma bênção a gente ter
olhos de vê-las
casadas
com outros.
LA 06/006
É bem difícil ser herói.
Ora lhe põem nas mãos
flambados ideais
para ir acendendo
pavios de sonhos.
Ora um vaso
com muita merda e urina
para levar a um certo cume —
sem derramar nadinha.
Ora lhe dão outro script
em que ser anti dá mais lucro.
E entre ser herói ou anti,
não se levar muito a sério
é a postura dos sensatos,
isto é: quase sensatos.
LA 06/006
Sim, se te levas muito a sério,
vais ter que driblar o riso alheio...
e nos momentos
de intuitiva lucidez
hás de sentir o cheiro de fossa
da depressão.
A sério —
só o riso comedido.
LA 06/006
Mal te botam no mundo,
e já te dizem:
“Vais ser grande na vida!
Precisas ser
o que não pude ser!...”
Que roubada hem, cara?!
LA 06/006
Ah, Zefa! Enquanto não vens,
vou vivendo direitinho
por entre a escrita
torta de Deus.
LA 06/006
Ah, Zefa! Diz à Suzana
que não chore por mim,
mas que venha
me ajudar a afinar o bandolim
e saborear paçocas
de gergelim.
LA 06/006
Diz à Zefa, Suzana,
que me molho de saudade
de seus choros fungados
de bichinho virtual.
LA 0/006
O Espraiado, Nega Zefa,
tá magrinho-magrinho —
sede de chuva.
Mas dá, ainda dá pra ouvir seu nome
em seus gagos gorgolejos...
LA 06/006
Já seu nome, Suzana,
o vento o sussurra
a cada instante
lá por entre os esqueletos
do outono.
LA 06/006
Manhã fria
como lembrar Maria
que se ia
que se ia
que se ia
e se esquecia
e se esquecia
que até sumia —
lâmina que se introduzia
na alegria,
lâmina fria,
muito fria,
fria-fria,
Maria.
LA 06/006
Obrigado, meu Pai,
por ter podido ser alegre
na desventura.
LA 06/006
Sinto saudades,
Deuspai,
da Tua Casa
que trago em mim.
Quando acabar o meu azeite
quero acordar, Senhor,
lá nas Tuas varandas.
LA 0/006
Tudo lhe foi muito difícil,
tanto, que, quando a vida
lhe abre hoje a mão, —
ele olha para o seu gesto
com certa desconfiança...
e desdém.
LA 06/006
Capricha, Inês, capricha!
Vê se te soltas, e capricha,
senão conto ao teu marido
que ultimamente
já não vales a pena
nem o vôo.
LA 06/006
Que alívio, minha Zefa,
os cientistas já dizem
que somos seres ‘moleculares’,
isto é, não é nossa vontade
que rege as coisas,
mas nossos genes, minha nega!
Puta merda, mas que alívio!
Já não existe mais culpa!!
Eta ciência boazinha!!!
— Quer dizer que não há mais culpa
mas também nem mais glória?
— Sim, acho que é por aí
que vão ajeitar os gumes da dialética...
Mas acho que não vão precisar
queimar os livros de religião,
nem os de teologia
ou de filosofia,
também não os...
( não, nenhum Farenheit ) —
porque aí, minha Zefa,
alguém explica pros homens
que existem igualmente
os genes psicológicos
e até aqueles espirituais,
e também os...
os do raio que os parta.
LA 06/006
O anel que tu me deste
estava largo de outros dedos,
o amor que me juraste
já tinhas feito e refeito.
Mas mesmo assim cirandamos,
cirandamos sobre os lençóis.
E o curioso de tudo
foi o que nunca foi
ter acabado.
LA 06/006
Se você aproveita
os cacos de seu último fracasso,
dá pra fazer
o alicerce de um novo sonho.
LA 06/006
Quem nunca se quebrou
não teve o privilégio
de reciclar seus erros
em sonhos bem mais robustos.
LA 06/006
Deixando as dores que para trás ficaram,
podemos investir no hoje
as melhores sementes
de uma colheita
que há de ser boa alegria.
LA 06/006
Só admiro os que seguem vivos
até o fim.
Sinto-me horrorizado
entre os que se deixaram
morrer antes da morte.
LA 06/006
A vida sem alegria,
sonho
e luta
é pecado.
LA 06/006
— É escrevendo sobre a areia
que aprendemos
a fazê-lo nas pedras
e no brilho das estrelas.
— Puxa, pai!
LA 06/006
Em geral você é desses
que precisa ver alguém na pior
pra agradecer a vida que tem?
Eu também.
LA 06/006
Havemos de vencer!
Principalmente —
vencer o medo de não vencer
ou de não saber o que isso é.
LA 06/006
Muita coisa mudou,
inclusive
o modo de mudar.
LA 06/006
Vinho é bom.
claro que sim,
desde que a você não faça mal.
LA 06/006
O amor é lindo.
Seu lado feio
ele só mostra
depois da festa.
LA 06/006
Ou dás umas filosofadas,
umas boas risadas,
ou morres de seriedade.
LA 06/006
Uma seriedade cínica
abunda.
LA 06/006
A bunda
quando abunda
desbunda.
LA 06/006
Amigo de mulher bonita
existe sim. Mesmo porque
amigo, amor, amar, amante
têm a mesma raiz.
LA 06/006
—... mas não me criaste,
não te ralaste por mim,
não me educaste?
— Sim, te adotamos, e daí?!
— Daí que só não me cuspiste
num cano escuro,
e correste...
deixando-me num ventre
que não pode correr...
Fostes ( tu e minha mãe )
duas vezes mais homem,
ou mais humano,
duas vezes mais mulher
ou mãe...
Sim, me deram a honra
de tê-los,
senti-los
e amá-los como pais:
serem meus pais!
LA 06/006
Cuba foi um sonho
de boné —
um sonho adultescente
cor de jerubeba
que mesmo muito madura
é bem amarga.
Muitos jovens usaram
aquele boné verde
respingado de marrom,
até verem que era só
um boné verde
respingado de marrom.
LA 06/006
Em Londres
os anos 60
foram uma revolução
de filhinhos de papai:
mamíferos de luxo —
bem escovados,
sedosas-longas comas,
algumas encaracoladas
feito donzelas
século dezenove.
Revolução dos sentidos:
disfarçados de missianismo...
Muitos cérebros de leite
e idéias de cueiros
capitalizaram seus nomes —
voltaram heróis
( hoje não se lembram de quê ).
Povão masturbava os olhos
ante seus deuses e heróis.
Até hoje
aquelas majestades
exercem sua hipnose.
Fazem rir.
Se bem que antes rir que chorar.
Deixemos os gajos,
que agora estão tão podres
quanto seus tiques revolucionários:
revolução
com a brancura leitosa dos “sapinhos”...
Mamíferos mimados
em seus aboios,
sim, aboios e aboios.
LA 06/006
Adoramos falar
de infinitos
estrelas
eternidades
deuses
e bilhões
de outros brilhos.
E olha que ( aqui focados )
somos meros
pingos de porra
que não sabem o que se passa
do outro lado da parede!
LA 06/006
Se agora Deus nos é,
nosso sonho é sermos Deus.
LA 06/006
Agora está um pouco melhor.
Já não se queimam os homens
que pensam de atravessado —
não por bondade,
mas pelos olhos do absurdo.
LA 06/006
Outono-inverno.
O ar que nem graveto —
seco
e quebradiço.
Uma secura danada,
muita poeira, minha Zefa.
Pó por fora e por dentro.
Tô te esperando, minha nega,
pra gente
fazer o nosso ritual —
rezar as rezas de fazer chover.
LA 06/006
Bem melhor que as sobremesas
foram as mesas
em cujos cantos
você sentava
com um pé em cada cadeira...
LA 06/006
Você fez doce, e isso foi bom —
vi que o meu leãozinho
era outro:
tinha a juba mais loira
e rugia as ternuras
que eu sempre procurei.
LA 06/006
O atraso
pode ser nosso amigo.
O não irmos —
preservação de nossa vida.
LA 06/006
Muita coisa concorre para o bem
dos que sabem se aquietar
e não ver nenhuma perda.
LA 06/006
Enquanto tivermos medo de ser,
evidente que seremos
o que dizem que somos.
LA 06/006
A fé é o trem de aterrissagem —
os que voam
precisam dela.
LA 06/006
De quando em quando
a bênção
de uma alegria de criança
( dessas que riem para dentro )
faz bem a todas as células.
LA 06/006
Só gostamos de quem nos dá lucro
( material ou promocional ) —
somos ridículos.
LA 06/006
Vermo-nos deveria ter
prerrogativa
sobre quanto pensamos ver.
LA 06/006
Abençoa, Senhor, os meus amigos,
só não permitas me aconteça
o que esses tais me desejam.
LA 06/006
Há que confiar
em que a confiança
carece de sensatez —
sempre que temos alternativa
de não precisar confiar.
LA 06/006
O que arrogas a ti,
sem ser ou ter,
vai contra ti.
LA 06/006
Um abraço de perdão
é a orquídea mais bela e rara —
faz brilhar e perfumar a vida.
LA 06/006
Ninguém é tão forte
que não precise de um braço amigo —
independente de situação e hora.
LA 06/006
Era tão falso
que jamais conseguiu
ser honesto consigo mesmo.
LA 06/006
Era a bunda mais bela que já vi.
Se fosse minha,
chamava-a de Doropígia.
LA 06/006
Ah, Lucélia, Lucélia,
bem que você podia
me iluminar
com essa luz do céu!
LA 06/006
Jogamos
e ( como sempre ) um dia
perdemos...
E perguntamos:
o amor é mesmo um jogo?
LA 06/006
Perguntaram ao filósofo:
Por que a vida é assim?...
Respondeu se coçando:
Apenas porque é assim.
LA 06/006
Dorme em paz, amor, dorme!
Ficarei de plantão
para que o bicho-papão
não te venha fazer mal.
LA 06/006
O sirial killer
matou muita, muita gente —
tantos quantos Rosinha
fez fungar na sua orelha.
E entre tiros e fungos
escolha o padre
o que é que vai melhor.
LA 06/006
O mais forte
nem sempre é o mais forte,
o mais fraco
ninguém sabe quem é.
LA 06/006
O mundo é do mais forte?
Imagine!
Só enquanto o mais forte
lhe interessar.
LA 06/006
Ela era tão demais da conta,
que o marido
precisou de alguns amigos
para dar conta
da excepcionalidade.
LA 06/006
Mulher bonita dá problemas
porque os homens apreciam sobremesa.
LA 06/006
Sempre dizia ao cunhado
( e perto do marido )
que ele tinha um jeito de galã
da novela das 8... Sempre perto
do marido.
Agora, longe do consorte,
aí, sim, com muito respeito,
fazia amor com o jovem.
LA 06/006
Respeitava tanto a esposa,
que quando fazia amor
com a empregada
usava tapa-olhos.
LA 06/006
Por vezes nos trovejam
fins de mundo,
apocalipses...
Então aproveitamos —
antes que o mundo acabe.
LA 06/006
Os que estão lá no cimo
defecam nos do meio.
Os do meio,
nos de lá embaixo.
Mas no fim, meu compadre,
fica tudo na merda —
porque daqueles lá do alto
cuidam os urubus.
LA 06/006
Um canalha
tem o encaixe exato
para outro canalha —
e se vão procriando.
LA 06/006
Um prodígio —
além de ser espiritualista
sem espírito,
é esportista
em que pese os seus mais
de cento e cinqüenta quilos.
LA 06/006
Quem sabe, amor,
a gente até consegue
não conseguir coisa nenhuma.
LA 06/006
Ele roncava tanto,
que a empregada
pediu separação.
LA 06/006
A cunhada e o cunhado
( sim, era um caso sério...)
não podiam se ver —
corriam para o motel.
LA 06/006
Pulou que pulou
e achou,
pegou o jeito de pular —
com classe e arte:
sem relar.
LA 06/06
O que passou passou,
chorá-lo nos faz bonecos de neve...
para ri-lo há de faltar muito lábio...
O que passou, fique lá.
Agora, nosso caminho é por cá.
LA 06/006
Se você vir minha tristeza
de botas
e alguns paninhos coloridos
naquelas partes nobres —
não era ela,
que não usa nada disso:
sim, vive peladona
e nunca nos demos bem.
LA 06/006
Já a minha alegria,
nuinha como a brisa,
esta você não verá —
pois está lá no meu íntimo,
e fazemos amor todo dia.
LA 06/006
Se vir minha mulher
com o André,
deixe-os namorar à vontade.
Só vou precisar dela às dez da noite.
LA 06/006
Por favor, diga à minha esposa
que o amante dela já chegou.
LA 06/006
Se alguém souber de alguma coisa
que impeça esta união,
que diga agora,
ou saboreie a lembrança
para sempre.
LA 06/006
Enquanto você não vem, minha Zefa,
vou transformando
o ontem em hoje,
o hoje em amanhã:
este, o ofício de ser.
LA 06/006
Entre sério e jocoso,
peça ao amigo
lhe empreste o cônjuge
para um fim de semana.
Se ele o olhar com espanto
e mudo,
pode levar,
que, aliás, segundo o povo,
o que cala consente.
LA 06/006
Rir às vezes é bom,
mas também cansa,
se bem que é bem melhor
que fazer rir.
LA 06/006
Imbecil é chorar a perda
de mão fechada a outros ganhos.
LA 06/006
Eis que o sol rompe a bruma!
Agora dá pra ver
que o que estava do outro lado
é azul e belo.
LA 06/006
Jamais esquentes conversa
com quem não é teu amigo.
LA 06/006
Não te deixes servir de agulha
para a linha do arrogante.
LA 07/006
Se deres muita linha,
adeus pipa.
LA 07/006
Fecha a porta ao invejoso.
É fácil reconhecê-lo —
sua alma é fraca,
seu talento é de chumbo.
LA 07/006
Não chores, minha nega,
que tens estado
de bocas cheias.
LA 07/006
E não se esqueça, filhote:
jamais use camisinha
pra masturbar-se.
LA 07/006
Se o inimigo é muito forte,
junta-te a ele,
que te mata na hora certa
e com classe.
LA 07/006
Sim, um dia tudo acaba...
Mas antes que acabe,
come a tua salada!
LA 07/006
Não deixe que o abacate
madure muito...
LA 07/006
Sim, conte até dez,
mas corra antes!
LA 07/006
Saíram heróis,
voltaram bandidos.
Calma, pessoal! Um dia o “hexa”
emplaca.
LA 03/07/006
Calma, pessoal!
Nem só de futebol
vive o brasileiro,
mas de mil outras bobagens.
Daqui a pouco
tem mais delícias ópios.
LA 07/006
“O Gordo”?
Foi nossa glória.
Faz jus ao codinome —
Fenômeno!
Só não passamos vergonha
da grossa
porque Ronaldo não deixou.
LA 07/006
O diabo do Zé Roberto
fez um bonito danado —
antológico: orquídea rara
para sempre nas páginas
da arte de Pelé.
LA 07/006
É... jogo é jogo!
Zidane não joga —
enfeitiça,
embruxa,
xamaniza —
e estufa!
LA 07/006
Zidane? Herói
e já bandido.
Fez lembrar Salomão:
Herói não é quem vence um exército,
mas quem domina a si mesmo.
Sim, todos aprendemos
com Zidane.
LA 07/006
Regina? Faz tempo...
A nossa feiúra
não soube ser bela.
LA 07/006
Ah! Mas logo surgiu Laura,
loira como uma lima.
Foi nos olharmos,
e já deu rima —
brotou na gente
( com um cheiro bom de aniz )
um saudade madurinha
de ser feliz.
LA 07/006
Rosinha e eu aprendemos
com muita espontaneidade
( e depois de pouco tempo ) —
aprendemos a ser felizes
em meio à infelicidade...
e ninguém conseguiu cortar
o pessegueiro em flor
do nosso sonho.
LA 07/006
O mundo é um diabo velho
sempre a querer sujar
de seu óleo pegajoso
nossos melhores companheiros —
a fé,
a esperança,
o amor.
LA 07/006
Nada roube de ti
aquela alegria
que te levava pela mão
na tua infância —
brilho do Pai em nós.
LA 07/006
Devagar chegamos lá —
tudo quanto buscamos
já mora em nós.
LA 07/006
Uma saudade cheirosa
gorjeia suave
lá em lembrar você.
Uma saudade razoável —
tranqüila de se ter.
LA 07/006
Esta manhã me lembra
as bromélias
de seu corpo cheiroso.
LA 07/006
Daria um milhão de estrelas
para tê-la ao meu lado
agora.
LA 07/006
Sua voz tilintava
as sinetas da alegria...
e algo bom em mim cantava
um canto que era
o momento a bastar-se.
LA 07/006
Por vezes noto que o hibisco
tem saudade de te passar
os dedos em flor
pelos cabelos...
LA 07/006
Quantas vezes sem querer
não te lembro
nas asas de um sorriso...
na leveza de uma pétala
que o vento faz girar...
LA 07/006
A mentira é só mentira —
trabalha com areia molhada:
em vindo a luz do meio-dia
desaba sobre si mesma.
LA 07/006
A mentira
quanto mais sem-vergonha,
tanto mais verdadeira,
quanto mais cínica,
mais crível.
LA 07/006
A mentira
é só virá-la do avesso:
e encontra-se outra maior.
LA 07/006
A verdade se fala,
a mentira se engendra:
é esculpida com o material
daquele a quem se mente.
LA 07/006
Sim, aquele a quem se mente
quase sempre nos ajuda
a moldar em barro ou cera
aveludadas máscaras.
LA 07/006
A mentira constrói pódios
de vaidades —
sensações de poder
e as tramas-nóias
das águas de Narciso.
LA 07/006
A mentira
busca enganar o espelho
e os olhos...
e ( claro! ) quem a pratica.
LA 07/006
Aos poucos a mentira
vai se tornando
as delícias da fala.
LA 07/006
Aos poucos a honestidade
vai se tornando hábito.
LA 07/006
De quanta bobagem
a gente não precisa
pra depois ver
que nem era preciso
tanta, tanta bobagem!
LA 07/006
Quem souber transformar suas simplezas
em alegria de viver
terá redescoberto a sua infância
em bom proveito e hora.
LA 07/006
Trabalhar
( sem se matar ).
Atualizar-se
( com humor e calma ).
Saber comer.
Saber dormir.
Exercitar-se
( todos os dias ).
Namorar
( pelo menos )
dois dias por semana.
Rir.
Praticar humor
bem como um robby.
Coçar o saco
( ou a cesta ).
Manter as emoções
indo e vindo tranqüilas.
Meditar
( ou orar ).
Cantar-ouvir
hinos: louvar,
ler a palavra
que se professa.
Conversar bem de leve
( sem levar nada muito a sério ).
Estimar-se.
Viver em paz
com Deus e o mundo.
Crer que o ser humano
tem jeito —
dar-lhe e aceitar-lhe a mão.
Saber-se alguém
que está mudando
e precisa mudar.
Ver-se a andar e transitar
por dentro e fora de si —
pois que há o chegar e o chegar-se.
Saber que o medo é um vilão
que não paga aluguel
e ainda estraga a casa.
Fazer o que urge ser feito
e colocar o resto
nas mãos que devem sustê-lo.
Criar o hábito
de se sentir abençoado
e habitado
pela alegria.
E entre os magoados,
os revoltados
ou mesmo os desgraçados —
não ter vergonha
de ser feliz.
E o mais,
o mais seja o que for —
fica para amanhã
que há de cuidar de si mesma.
LA 07/006
Temos sobrevivido
às tocaias da vida
e dos homens —
venceremos:
Nele já somos vencedores.
LA 07/006
Uma paixão lírico-épica,
depois, épica,
um tsuname em suas águas.
Três anos, quatro filhos.
Uma paixão furibunda.
LA 07/006
Miavam,
fungavam,
latiam,
grunhiam,
derrubavam tijolos
lá de cima do muro...
Os vizinhos fizeram novena
para eles se casar...
Casaram.
Dizem que derrubaram,
literalmente,
derrubaram um bangalô...
Uma paixão Caterpillar.
LA 07/006
Tive um amigo que vendia
uma imagem de tão sério,
que nunca soube o que fazer
com tanta seriedade.
Não o vi mais,
mas deve ter tropeçado
em seu cenho severo,
em seu desleixo calculado.
Espero tenha sobrevivido
a si mesmo
e aprendido a pelo menos
rir.
LA 07/006
... mas em compensação,
tive uma amiga
tão lindamente tranqüila,
um semblante tão plácido,
tão risonho,
tão orvalhadamente em paz
que parecia ( em quaisquer situações )
ter acabado de dar duas.
LA 07/006
Quando a mulher
lhe dava ração de menos,
o pobre assoviava tão alto,
mas tão alto
tangos e fados
que a vizinha ( sensitiva )
corria lá —
a orar,
fazer-lhe passes
até acalmá-lo.
LA 07/006
Quando ela falava
com um gerente de banco
ou com um possível avalista
seus sorrisos, olhos, gestos
e chiquês
lhes forneciam tal doçura
que eles ( mexendo-se em seus assentos )
sentiam aquela coriza
quente.
LA 07/006
O lindo,
o delicioso mistério
numa mulher
é o que o homem inventa
nela
de lindo
e de mistério.
LA 07/006
O próprio vento,
o vento beijava a vidraça
quando ela lia
à luz de velas...
LA 07/006
Havia um grilo no jardim
que tinha um canto cor de estrelas,
sim, um timbre de prata polida...
e que ajudava muito a gente
no compasso de colher amoras
na penumbra do quarto...
( em noites de chuva fina ) —
você se lembra, minha nega?
LA 07/006
O momento de fazer
é sempre aquele em que você
sente
que é o momento
de fazer —
e atreve-se.
LA 07/006
O ousar sincronizado
com a intuição
sobre o momento —
eis o tempo de fazer.
LA 07/006
Saber parar é fundamental —
parar para começar
uma outra atividade —
mas que o exercê-la
não nos seja pecado,
mas ao contrário:
traga em si muita alegria.
LA 07/006
Caboclo meteu a tarrafa
e tirou d’água duas ninfas
( daquelas camonianas! ).
Não vendo ninguém do Green-Peace
nem do IBAMA, —
comeu-as.
LA 07/006
Muitas vezes me digo a mim:
Não te exaspere a desonestidade.
Ela parece maior hoje
porque é mais fácil desentocá-la.
O luxo
sempre viveu de muito roubar.
Há quem não rouba
por não poder.
Se podes fazê-lo e não fazes —
então, sim, já caíste fora
da ciranda universal.
E o que ganhas com isso?
Mas precisas ganhar alguma coisa
por não fazer uma outra coisa?!
Se não fazemos isto ou aquilo
é porque não temos lá em nós
o vírus de fazê-lo.
Qualquer honra e louvor, no caso,
é uma bela prova em contrário:
o não fazer pelas palmas.
E isto é tão antigo
quanto ser individual a salvação.
LA 07/006
A paródia não é irreverência
mas apenas o outro lado da coisa,
que é a coisa
a emprestar-lhe sentido
e nexo.
LA 07/006
Vivo com morto
dá velório.
Morto com morto
dá cemitério.
Vivo com vivo
dá vida.
LA 07/006
É coisa boa a outra parte —
desde que quando falte
a gente não se mate,
isto é: saiba que é tempo e hora
de buscar outra.
LA 07/006
Não tendo uvas, minha Rosa,
não tendo uvas,
a gente degusta amoras,
e faz de conta.
LA 07/006
De enólogo, nem um golo.
Só bebo o vinho do teu charme,
minha Ênea,
mas bem devagarinho.
LA 07/006
Em geral o pensador
vai se tornando enfermo
do seu pensar —
sim, vai acreditando
que o mundo, a vida, o ser
sejam mesmo
como ele os pensa.
LA 07/006
Pensar constrói
uma realidade à parte —
nem melhor, nem pior,
apenas um lugar por onde podemos
incursionar
e passar férias
das nossas dores diárias
e mesquinhas.
LA 07/006
Por fim teremos
de nos livrar
de nós mesmos.
LA 07/006
Saudades, meu Deus,
saudades
de quando eu não era!
LA 07/006
Cada momento canta em seu tom,
trazendo em si um dom
lá em seu modular
as suas diferenças —
eternamente diferentes.
LA 07/006
O que és
homem não rouba
nem traça come,
se bem que procuram embaçar
e anular pela palavra.
Já o que tens de bom
e bonito
os amigos querem carregar
ou esporrar bem lá no fundo.
LA 07/006
O mundo é um velho marceneiro
a pregar os seus pregos
com a cabeça dos outros.
LA 07/006
Se levas os amigos
para dentro de casa —
vais ter problemas.
LA 07/006
Uma pessoa vivida e honesta
não pede para ninguém
confiar nela.
LA 07/006
As coisas materiais
se desgastam.
A inteligência e a vontade
se revigoram —
e refletem num sorriso
que é força e paciência.
LA 07/006
Se o que é bom já não presta,
imagine, compadre,
o resto.
LA 07/006
Melhor passar vontade,
compadre,
que ser refém
da dona que faz vontade.
LA 07/006
Se enfeito muito o mundo que me cerca,
me esqueço
de que sou tão-apenas
um transeunte.
LA 07/006
Porco gordo se ferra.
LA 07/006
Se a inteligência humana
trouxesse em si cinco por cento
de amor incondicional
a vida sobre a terra seria
cinqüenta por cento melhor.
LA 07/006
Há um descompasso abissal
entre inteligência
e amor:
um fosso que divide
o humano do humano.
LA 07/006
A inteligência ofídica do planeta
faz dos povos marionetes —
enfraquecendo-os pelas guerras,
pelas doutrinas,
pelos costumes
e pelas drogas.
Apóiam um povo e o armam
para ir aniquilando
seus vizinhos...
Por fim, tal povo é abandonado
à sua sorte
já desde sempre
profetizada.
LA 07/006
Se perdermos de vista
aqueles companheiros:
a fé,
o amor,
a esperança —
estaremos sozinhos,
sozinhos em nós e no mundo.
LA 07/006
Trabalha.
Estuda.
Organiza-te.
Estende a mão,
sê solidário
e companheiro.
O mais?
Confia na Vida.
LA 07/006
Na mocidade
busca-se a beleza.
Na maturidade,
a honestidade.
Na velhice,
a companhia.
LA 07/006
De que nos vale o mundo,
sem um coração
que nos escute,
uns braços que nos esperem,
uma voz cujo timbre
nos sejam brisas por nós dentro?
LA 07/006
Pobre fausto do mundo!
Luzes, fulgores
por fora,
mas frio escuro,
por dentro.
LA 07/006
Felicidade não acontece,
nós a inventamos.
LA 07/006
Não Te entendo, meu Pai!
Não Te entendo... mas é bom
sentir-Te em mim
e eu em Ti.
LA 07/006
— E o André, Glorinha?
— Ah, menina!...nem te conto:
um pinto de salão...
mas que com o charme dele —
vira uma festa.
LA 07/006
Logo acima da boca
tinha aquela andorinha
engolida pela metade —
sim, um bigode
aerodinâmico.
LA 07/006
Casa de ferreiro,
espeto de pau.
Mulher bonita quem come
é o lobo mau.
LA 07/006
— E a Marli, Hortênsia?
— Namorou o dentista
até ficar com o riso
de exibir os molares...
logo depois casou
com o primeiro médico
de plantão.
LA 07/006
— E Josefina, Eulália?
— Andou incendiada
por mais de quinze anos...
foi quando veio um caminhoneiro
lá do Pará —
que a sossegou de vez.
Hoje, dá até aulas de catecismo.
LA 07/006
— E o Bernadino da farmácia?
— Continua comendo.
— Puxa, há quanto tempo!
— Sim, faltam poucas...
LA 07/006
— E o Bento, o doutor do Posto?
— Esse a vida levou
pra estudar seus minérios.
Por certo quer que eu lhe diga
sobre a sua viuvona,
não é?
Essa sempre teve os que cuidavam dela...
mas quem ela botou pra dentro
foi o agrônomo, o manquitola,
lembra?
LA 07/006
— E Clarinha,
continua enfermeira?
— Enfermeira e enferma por Cláudio,
o Dr. Cláudio,
que já casou terceira vez.
LA 07/006
— Padre Fernando já morreu?
— Fugiu há um mês com um garoto.
LA 07/006
— E a Chica, que era explicitamente encantada
pelo padre Hilário?
— Continua fazendo romarias com ele.
LA 07/006
— E o Bordélio, filho da Zica doceira,
continua pulando janelas
com a roupa na mão?
— Não, agora elas vão lá.
— Que cacife!
— Põe cacete nisso!
LA 07/006
— E aquele casal pego várias vezes
fazendo amor no campanário?
— Agora fabricam sinos.
LA 07/006
— Diabo de cidade que não cresce!
Entram anos, varam anos... e
só lagartos ao sol...
— Muita bosta, cara,
acaba por arder o nariz.
O melhor dos crescimentos
é o que se faz por dentro,
por dentro da criatura.
LA 07/006
— E o Nonoca da Júlia,
sempre comprando terras,
criando gado
e comendo todas?
— Já virou torrão,
duro como bosta de vaca ao sol.
LA 07/006
— E o André da Beloca?
— Só foi criativo na mocidade.
Agora é um negociante trombudo.
Mas o Andrezinho foi fera, lembra?
— Claro que sim! Aquilo
fazia-se de bobo
pra comer bornal cheio.
Dizia para as amigas que era virgem...
e acabou criando uma fila invisível —
todas elas ( uma por uma ) tinham
a deliciosa,
doce-dolente sensação
de desprepuciá-lo!...
Ah, o cara foi um gênio!
O maior provador de perucas
do seu tempo.
LA 08/006
Com quem pode não se brinca.
Se brincar,
perde todas as bolinhas,
piões
e pipas...
ou as bonecas,
pulseirinhas
e brincos —
se for fêmea.
LA 08/006
— Paiê!
Pra que servem as experiências?
— Pra nada,
as situações são sempre novas...
— Mas a professora falou...
— Ela está certa:
a experiência serve
para o improviso
e para somar dúvidas.
— Só isso, pai?
— Não, mais mil e uma coisas
inúteis.
Experiências e intenções
todos as temos,
boas e muitas.
LA 08/006
Nas urnas
é que de tempos em tempos
enterram o país —
com hino e pompa.
LA 08/006
O danado
estava com um ar indolor,
tranqüilamente aninhado
em seu belo caixão.
Todos diziam
que parecia sorrir...
André acrescentou:
Tá com uma expressão
de quem comeu o cu da morte,
coçou o saco e dormiu.
LA 08/006
De fato, já não tinha
aquela certeza terrível
dos que ainda não morreram —
ostentava um desprezo
vitrificado
por tudo
e por nada...
Um silêncio sem beiradas.
LA 08/006
De camisinha
xiranha não gorjeia.
LA 08/006
Uma Beleza...
Bonita. Mas não tem borogodó —
aquele plá ou treco que ferroa
e dá coriza... e a gente até assoa,
mas não adianta: flui com mais xodó...
Uma beleza assim: lavrada a enxó
e sem acabamento... e até caçoa
de levezas e manha: uma canoa
de tronco bem ao jeito pataxó...
Uma beleza assim em conivência
com a feiúra a proclamar-se bela,
mas sem mumunha nem molemolência...
Uma beleza assim sem a ternura
de pernas a construir a passarela
que lhe torna passável a feiúra.
LA 08/006
Por mais que os tempos sejam outros,
ninguém gosta de repartir
sua escova de dentes
nem a buchinha de banhos —
principalmente quando não é
de escova nem de bucha que se fala.
LA 08/006
Plutão já Éris.
Cientistas cassam
e rebatizam o cassado
já travestido de fêmea —
Éris.
Sim, Plutão Éris.
LA 14/09/006
A justiça dos homens
é como o vento —
se faz quando se faz,
vai para onde quer...
e ora é brisa,
ora é vento ou ventania,
por vezes vendaval
ou furacão.
LA 09/006
Aquilo que não vira posse
há de merecer do amor
tão urgente desamor?
LA 09/006
A misericórdia de Deus
está em tudo estar mudando.
LA 09/006
A fé
é o DNA de Deus
em nós.
LA 10/006
Era Macia A Idéia...
Era macia a idéia de abraçá-la
com os dedos já em flor só de pensar...
E, assim, num sentimento cor de opala,
opalesci em sonhos de soar
a nota gêmea dela, que trescala
momentos raros sempre a musicar
aquele charme em luminosa sala
onde a beleza é nua e o verbo é amar.
Amar, amar bem transitivamente,
ora na voz passiva, ora na ativa,
contanto seja amar gente com gente.
Amar, amar: soprar a brasa viva
de uma saudade sempre rubra e pronta
a jamais estar pronta no que conta.
LA 09/006
Minha amiga me disse
que assim não dá mais —
só querem fiado.
LA 10/006
No palato do gozo
estalava-lhe a nudez
como jabuticabas.
LA 10/006
Gostava de desfolhá-la
nos feriados depois das duas
da tarde...
e o lençol,
todo o lençol se cobria
com as pétalas de Rosa.
LA 10/006
A poesia é um modo
de não se estar sozinho.
LA 10/006
Escrever livrou-o
de matar-se.
LA 11/006
Quando por vezes perco o rumo
recobro-o na poesia.
LA 10/006
Procuro-me na arte
e sempre volto
de mãos dadas comigo.
LA 10/006
Sempre a mesma história
contada diferente
é um modo de refazer
o que foi feito
até que o refazimento
seja a verdade
sem razão de ser.
LA 10/006
Quanto a mim, Beatriz,
tenho as minhas razões
para não querer tê-las —
quando elas me atrapalhem
ser feliz com você.
LA 10/006
O sal
um pouco acima do ponto
já é bastante
para confundir os vários sabores
numa só massa medíocre.
LA 10/006
Sempre uma linha microscópica
entre o amor
e o desamor.
LA 10/006
Longe dos braços
o amor nunca morre.
Entre os braços,
definha e acaba.
LA 10/006
Gilberto Moffa,
é poesia da boa, declamador dos melhores
que já ouvi. Inventor de um tipo de acróstico
que já cristalizou milhares de conterrâneos,
vivos e mortos, da terra da jabuticaba. Grande orador:
fala da vida e da morte com a mesma beleza e profundidade.
Filho da Poetisa Priscila Moffa, herdou de sua mãe
a possessão verbal, a força de dizer
e a paixão por tudo o que é casa-branquense.
Suas crônicas imortalizam muitas pessoas
e muito da História de Casa Branca.
Sua poesia Tacho de Cobre é muito bonita.
LA 01/007
Dirce Ortolani e suas saborosas
crônicas, nascidas
de uma necessidade-ternura de dizer —
passar a limpo a poesia de seu intenso viver
entre a família
e seu relacionamento social. Suas frases
foram-se aos poucos se iluminando por dentro,
de sorte que seu dizer foi-se tornando
graça e luz com as rendas do enlevo
de suas sensações repletas de olhos e imagens —
olhos e imagens
de uma realidade transubstanciada
pelo seu fazer-criar. Suas crônicas são jóias
de uma sensibilidade rara que captam as cores
dos sonhos que orvalham de beleza suas idéias-frases,
fazendo do conjunto de sua obra
a harmonia toda olhos de um pé de manacá
frente àquela hora mágica de uma tarde que se finda...
LA 01/007
Percival é brilho e canto,
para sempre brilho e canto
na alma de nossa terra.
LA 10/006
Sólon é poeta antigo,
mas é delicioso ler
os seus pecados de amor.
LA 11/006
Moacir é bom no contar,
no pintar e musicar...
Dentro dele há um moleque
que adora andar descalço
na chuva...
e estar entre meninos
depenando seus sabiás...
Seu boné virado pra trás,
seu bermudão, suas sandálias
ficarão para sempre impressas
na memória de nossas pedras.
Cá pra nós, Moacir:
você morreu de verdade
ou virou um pinheiro lá no Horto?
LA 11/006
Rosinha é como jabuticaba —
a gente não quer parar.
LA 10/006
Meu desejo de escrever
está ligado a ver a mim e os outros
por novos ângulos,
alturas e profundidades.
LA 10/006
Tive ao lado um homem que não podia
ser meu pai pelo tanto
e quanto me batia,
mas era, era meu pai.
LA 10/006
Quando um dia perdi meu grande amor,
então achei em mim
alguém muito forte —
amigo e fiel companheiro.
LA 10/006
Se a morte vem vindo aí...
Amemo-nos bem devagar,
sim: devagar e sempre.
LA 10/006
Aos primeiros sintomas,
procure uma china.
LA 12/006
Enquanto a Zefa não vem,
amemo-nos bem devagar,
terrivelmente devagar
como os vulcões adormidos...
LA 10/006
Só trepava na cama.
No beliche, jamais.
LA 10/006
Não queria mais roubar santos
pra não ter que repartir
o dinheiro da venda com o padre.
LA 10/006
Melhor um estrepe no pé
que um espinho na garganta.
LA 10/006
Se você se baseia no que vê,
terá sempre razões
para dar graças a Deus.
LA 10/006
Quando ela vinha
com panos só naqueles pontos —
despojada como o 14-Bis,
eu sentia gelo e brasas
nas tripas
e meus dedos floresciam.
LA 10/006
Tive um amigo tão sério,
que quando ria
me lembrava portões de cemitério.
LA 10/006
Depois de quinze anos
ela lhe disse que o amava,
e a partir desse dia
ele não mais voltou para casa.
LA 10/006
As mulheres sempre nos enterram.
Que delícia!
LA 10/006
O buraco na armadura de um homem
será sempre o seu pinto.
LA 10/006
Esse viver lá em lugar nenhum,
sim: em nenhum lugar,
faz suportar a vida.
LA 10/006
Se quiseres andar, correr nas nuvens,
não passes vontade não:
viver com os pés no chão
é história pra boi dormir —
só faz sujar a sola dos sapatos.
LA 10/006
Leva a sério o teu cônjuge,
trata-o bem —
pois qual outra pessoa
teria coragem de te aturar?
LA 10/006
Bípede no poleiro de cima
deve tomar cuidado
com os implumes logo abaixo.
LA 10/006
Empanturrados de nós mesmos,
é claro que nem relamos na idéia
de que o outro
também é um outro como nós.
LA 10/006
Depois de um tempo idôneo,
disse a ela que procurava por uma companheira,
e ela lhe respondeu:
Só isso, Fulano, que você quer?!...
LA 10/006
Se querer fosse poder,
meu sonso
seria um sedutor.
LA 10/006
Melhor dezenas de escorpiões
na cama do inimigo
que um só em nosso quintal.
LA 10/006
Sabe o que é que a perereca
disse ao pingolim?
— Entra, amor, entra,
que eu coaxo de alegria
até engasgar e afogar-nos.
LA 10/006
A amizade entre um homem
e uma mulher
acaba sempre enterrada.
LA 10/006
Tinha uma cara,
uma cara
de alguém que em meio ao orgasmo
o forro lhe desaba
sobre as costas.
LA 10/006
Uma guerra nunca tem fim.
Aliás, o seu fim
é um engano do vencedor.
LA 10/006
Melhor que uma mulher
só um celular,
que te mantém ligado
com muitas, muitas delas.
LA 10/006
Amanhã te mando rosas,
te ligo,
te envio um poema por e-mail,
tomo ( como de costume )
café contigo em teu terraço —
tudo antes
de teu marido acordar.
LA 10/006
Um galo se esgoelou,
várias vezes se esgoelou...
Não sei por que, já que por aqui
ninguém se chama Pedro.
LA 10/006
A fé faz o cérebro lançar
no sangue
substâncias paraenzimáticas
que transformam o sonho
em real palpável.
LA 10/006
Sim: a fé é uma droga
terrivelmente eficaz.
LA 10/006
Investe alguns minutos
em esportes —
terás uma poupança
por toda a vida.
LA 10/006
Não se gabe,
nada de arroubos.
O vento lasca as grandes árvores
e cobre a relva de areia.
LA 10/006
Mãe agredida,
filhos enfermos.
LA 10/006
Ao contrário do que se pensa,
os bons livros são escritos
em meio à intranqüilidade.
LA 10/006
Há um bom negócio:
não depender
da transformação
do outro.
LA 10/006
Eu? Fiquei-me aqui,
entre a palavra e a solidão:
bem entre mim e ti.
LA 10/006
O que tinhas para dar
era tão pouco,
que nunca me fez mal.
LA 10/006
Não sabias
que o que esperavas de mim
dependia de ti.
LA 10/006
Chorar é bom: concentra.
Rir é bom: distrai.
LA 10/006
Nesta altura das eliminatórias,
cada minuto
me é pura graça.
LA 10/006
Quando a Zefa me tiver vindo
já não terei o peso
de meus dias serem meus.
LA 10/006
Machado nos pôs todos no hospício.
Mas... tudo bem,
ele também ficou lá.
LA 10/006
Gostamos de Machado
só até quando não notamos
que as suas personagens
somos nós mesmos.
LA 10/006
Sem Machado,
seríamos bem mais pobres.
LA 10/006
Tudo, tudo são muletas
que nos ajudam ( ? )
a atravessar a ponte.
LA 10/006
Um vício
vai se tornando uma entidade
que se vai fortificando
até em geral despejar
seu hospedeiro
de si mesmo.
LA 10/006
Lembro-me que as pombas voavam cedo
enquanto a manhã lhes arrulhava
as suas sementes douradas...
Só voltavam no fim do dia
trazendo a noite
para os beirais dos casarões
do Largo.
LA 10/006
As belas que me perdoem,
mas funcionalidade:
traquejo-desempenho
é que é fundamental
e necessário —
já dizia frei Bento
para a bonita camponesa
a quem fora adestrando.
LA 10/006
A vida é a organização do ser
para a expressão de si mesmo.
Viver é estar chegando-se.
LA 10/006
O homem cria para organizar-se
e superar-se.
Sim: criar é reconstruir-se.
LA 10/006
A palavra separa-nos da coisa
que ela nomeia —
até que verbalizá-la
vai lhe dando corpo,
corpo de realidade.
LA 10/006
Há os que têm a possessão do Verbo —
dom que lhes foi dado
por Logos
que lhes galvaniza a vontade
e o fazer-criar.
LA 10/006
Sabemos.
Só precisamos recordar.
LA 10/006
Queremos e ousamos,
enquanto calamos.
Vibramos leve e alegre
com nossa fé no resultado.
LA 10/006
Não sei quando a Zefa virá,
mas que venha mansa
e eu nem esteja cá.
LA 10/006
Bela como nem precisar
de olhos que a vejam,
a tarde desce...
O vento diz coisas para a rosa,
coisas que a fazem chorar-se,
chorar-se toda sobre a grama.
Pombas arrulham coisas penas
já entre as sombras
do dia —
hibisco
que se fecha.
LA 10/006
O infinito mais um
é só o infinito mais um...
ou um mais o infinito?
LA 10/006
Um canto fino,
estrídulo
ficou
como a sombra de um vôo...
LA 10/006
Cachorro que joga fora
o osso que tem na boca
pode morrer de fome.
LA 10/006
A condição de cachorro
nem sempre é ofensiva —
sobretudo quando a gente sabe
na pele
que mais vale um cachorro vivo
que um leão morto.
LA 10/006
Entre um amigo cachorro
e um cachorro amigo —
fico com o que tiver
dentes menores.
LA 10/006
Melhor que um vitupério
é um elogio,
desde que não nos cobrem muito por ele.
LA 10/006
Antes morder a cobra
que ser mordido por ela.
Portanto, nada de escrúpulos.
LA 10/006
Tinha tantas ricas sinapses
na cabecinha linda,
que o marido a tombou
( era prefeito )
como patrimônio
de artes raras do Município...
Então o povo gritou:
Tomba, tomba, sim,
mas só a cabecinha não,
que só ela é pecado!...
As feministas
ficaram pês-da-vida.
Uma delas até cortou os pulsos
do marido
( que não morreu ).
LA 10/006
A maioria dos homens
tem o destino
que seu pinto lhes traça.
LA 10/006
O malandro quer seu ombro
para chorar
e assoar-se nele.
LA 10/006
Não busque nunca o amigo
para desabafar —
ele não é seu amigo.
LA 10/006
Aos primeiros sintomas
procure um profissional.
LA 10/006
Aprenda a ter paciência
consigo mesmo.
Veja-se com simpatia.
Ame-se e ajude-se:
busque socorro com calma
e serenidade.
Busque ajuda
com quem do ramo.
LA 10/006
Muitas vezes
ou cobrimos as costas,
ou as pernas.
A vida é assim —
mesmo para quem tem
uma fábrica de cobertores.
LA 12/006
Você tem os frutos
e seus bichos.
Ou os frutos e o veneno
que impede os bichos.
A vida corta dos dois lados.
LA 10/006
O suicídio é uma saída
para lado nenhum —
uma porta falsa,
mas uma porta.
LA 10/006
Conte até dez. Só depois
não se mate.
Tome um mate,
leia um vate,
beba pinga, chocolate,
ouça o cachorro que late,
vá pro raio que o parte —
mas não se mate.
LA 10/006
Solta a franga, cara!
Solta a franga.
Ninguém come canja
de urubu.
LA 12/006
É preciso inventar
jeitos e tempos
de ser feliz.
LA 10/006
Lá vezenquando
deixe sua alma
molhar os pés
num chafariz.
LA 10/006
Se o cara se leva a sério
o tempo todo —
não caminhe com ele.
LA 10/006
Os costureiros vestem
mulheres de bambu —
exigem que sejam de bambu
para os panos que carregam
caírem bem.
Tais costureiros
matam-nas de fome
que, neste caso,
leva outro nome:
anorexia.
LA 10/006
O prazer de viver
é garantia
de uma vida
que não tem medo do tempo.
LA 10/006
Se espontâneo,
quase inconsciente,
o prazer de viver
é irmão da pedra
filosofal
e do elixir...
— Pedra?!
Elixir?!
— Sim, cara:
pense nisso,
e esquece!
LA 10/006
Na vida,
você foi —
você acha!
O astuto sabe
que não precisa ir.
LA 10/006
Quando era moço,
sabia quase tudo.
Agora pouco sei.
Mas nem por isso
sou mais,
nem menos.
LA 10/006
Motobói, motobói,
o amor é uma pizza
fria.
Mas mesmo assim
nos tem matado a fome.
LA 10/006
O amor, minha nega, é um modo
de pretender que o outro
preencha
nossa falta de ser.
LA 10/006
Sim, o amor é uma bosta,
mas das melhores.
LA 10/006
Pior que um chute
nele
é ter que agüentar sério
uma conversa séria.
LA 10/006
A beleza é como a água —
passa,
mas deixa o coração verdinho.
LA 12/006
Trocou tudo o que tinha
por um pedaço de giz —
e com ele escreveu:
sosseguem —
não fui feliz.
LA 12/006
“A vida é boa”, — diz Machado morrendo,
com um câncer desse tamanho.
O mestre da ironia
estaria com febre,
ou fazia a sua última?
LA 12/006
João de barro caiu na risada.
Bem-te-vi,
na deduração.
A pomba,
no choro anfórico.
O urutau,
na gargalhada.
A maitaca,
na caçoada.
O sabiá,
no galanteio.
Já Rosinha
caiu na farra.
LA 12/006
Madrugar
será sempre louvável —
enriquece o patrão.
LA 12/006
A sociedade está podre,
mas a consciência coletiva
está hoje bem mais vígil —
bem mais ciente.
LA 12/006
Os malandros que se cuidem —
já não andam em terra de cegos.
LA 12/006
Muitas vezes o amor
vira fórum-dirimir.
LA 12/006
Quando a política vira imbróglio,
a gente vê bem claro:
mentiroso que se preza
acredita no que mente.
LA 12/006
Nos momentos de muito caos
a consciência
em geral ganha alguns quilates.
LA 12/006
Há sempre um clima de apocalipse
para xamanizar os tempos,
aguçar a consciência
e ajudar os que mais sofrem
a suportar a vida.
LA 12/006
Mal saímos
à porta da caverna...
Tenhamos paciência
e sejamos menos arrogantes.
LA 12/006
Deus nem sabe
que matamos em Seu nome.
LA 12/006
O problema entre Deus e os homens
é que para Ele
nenhum problema existe.
LA 12/006
Matar em nome de Deus
é confessar
que Ele jamais esteve em nós.
LA 12/006
Permitir que a subpobreza,
e a miséria aumentem
desabona o humano
nas pessoas.
LA 12/006
Nada vezes nada
é igual a um nadão,
amada.
Sim: um nadão-nadérrimo —
um nada tudo.
LA 12/006
O medo da coisa
já é a orelha da coisa.
LA 12/006
O nosso medo
é sempre bom para alguém.
LA 12/006
A língua é um laço
que pega o dono pelo pé.
LA 12/006
O amor tem suas brisas,
seus laços
e seus nós cegos.
LA 12/006
Melhor um elefante voando
do que sentado no seu pé.
LA 12/006
Entre as pétalas e os espinhos
aprendemos a conversar com a vida.
LA 12/006
Vivemos que vivemos
e em geral
nunca aprendemos a viver.
Azar da vida!
Que não foi tão boa mestra assim.
LA 12/006
Nunca regues demais,
que matas os bem-me-queres.
LA 12/006
Entre o eu e o tu,
o mim e o ti
mora Deus e o Universo.
LA 12/006
Em nossas sensações
já vimos o que sonhamos,
além de termos conversado
com Deus.
LA 12/006
Deus permite o que sonhamos,
torna Seu nosso querer
e assim se molda
nosso fazer.
LA 12/006
Sim: querer tem seus enzimas;
mentar constrói o tempo;
ousar metaboliza
a sinergia;
calar a incuba —
e o sonho nasce.
LA 12/006
Os grandes sobem
nos ombros uns dos outros
para fazer a sua obra.
Até aí, tudo bem...
O que irrita é a tentativa
de minimizar
ou mesmo apagar
tais rastros.
LA 12/006
Tudo está a caminho
fora-dentro
de algum lugar.
LA 12/006
Quando a estrada está escura,
ou você a ilumina com seus sonhos
ou espera que amanheça
aquela manhã de Deus.
LA 12/006
De nada nos valerá
forçar ou arrombar as portas
dos nossos sonhos.
Devemos esperar
que certa mão sincronizada
com os tempos de Deus
no-las abra.
LA 12/006
O amor cultiva minhocas
para o coração pescar, —
pescar peixes que não há
e aqueles que há.
E ( quase sempre ) amor acaba
ferrado pelo anzol
que se esconde
em suas próprias minhocas.
LA 12/006
Você é daquelas pessoas
que não acreditam no amor?
Azar seu! Que não vai degustar
seus deliciosos enganos,
suas ditosas desventuras.
LA 12/006
Quando o amor não existe,
você o inventa.
Desaforo e pecado
é ficar
sem seus méis e ferrões.
LA 12/006
Na mesma corda bamba
( e de mãos dadas )
andam amor e desamor —
quanto mais juntos,
mais se equilibram:
amor e desamor.
LA 12/006
Chet, chet, seu Pino!
Já vai tarde.
De augusto
não teve nada.
Chet! Chet!
Seu Pino
morreu.
De augusto
não teve nada.
Chet!
Pinochet.
Já vai tarde.
Trop tard!
LA 10/12/006
Mocidade não é vida,
velhice não é morte,
gordura não é saúde.
LA 12/006
O nosso espaço aéreo
tem muito que aprender
com os abutres
e urubus —
que não se chocam
nem têm problemas
de aterrissagem.
LA 12/006
Sua lembrança
virou uma canção
( só audível
lá no fundo de mim )
com o sonho e o perfume
dos lírios brancos.
LA 12/006
Desejo-me um feliz 2007:
saúde,
paz
com muito fazer nada
e abraços,
efusivos abraços
de xoxedas.
LA 12/006
Sejamos e façamos
o que devemos ser
ou fazer —
desde que isso nos seja bom
e prejudique a ninguém.
LA 12/006
Deixei o ontem
para os apocalipses,
o hoje
para viver sem medo,
o amanhã
para as certezas.
LA 12/006
Sempre invejei a força
do que não sabe
que vai morrer.
LA 12/006
O tempo passa por nós dentro
e vai virando tudo do avesso,
avesso
que nos vai assustando
apesar das gentilezas...
LA 12/006
Errar é humano,
persistir no erro é humaníssimo.
LA 12/006
Quem cala
consente.
Já quem consente
não cala.
LA 12/006
Casa de ferreiro,
espeto de pau.
Casa de marceneiro —
nem tem espeto.
LA 12/006
Quem planta ventos colhe tempestade,
e quem a colhe dê graças a Deus
quando vir afogadas
apenas as suas mágoas.
LA 12/006
Macaco que muito pula
quer chumbo,
mas hoje o IBAMA
não deixa mais matar o bicho.
LA 12/006
Quem ama o feio
bonito lhe parece.
E amar o que parece
não é feio.
LA 12/006
Dize-me com quem andas,
e te direi quanto pagas.
LA 12/006
Nada como um dia atrás do outro!
No fim, temos um mês, um ano, um...
LA 12/006
Amanhã será um outro dia...
e a nossa esperança —
amanhecida.
LA 12/006
O mundo dá muitas voltas...
e nem ficamos tontos.
LA 12/006
Filho de peixe
tubarão come.
LA 12/006
Quem foi rei...
em geral fez muita bobagem.
LA 12/006
Quem espera...
fica mesmo esperando.
LA 12/006
Beleza não se põe na mesa,
mas na cama ou no sofá.
LA 12/006
Quem canta
seus males encanta.
E tanto,
que se transformam em bem.
LA 12/006
O que os olhos não vêem
o coração percebe.
LA 12/006
Água em pedra dura
tanto bate,
que dá delegacia.
LA 12/006
De tanto ir à fonte
o vaso toma um porre.
LA 12/006
Para a frente!
Que atrás vem o tarado.
LA 12/006
Não há mal que tenha cabo,
nem panela sem tampa.
LA 12/006
Não há mal que não se cure,
nem bem que não adoeça.
LA 12/006
Quem foi rei
sempre será dedado pela História.
LA 12/006
Quem tem pressa
não come frango,
mas urubu.
LA 12/006
Em boca fechada
não entra garfo nem colher,
nem...
LA 12/006
A vida é um presente
grego.
Mas mesmo assim,
não dá pra reclamar.
Pois já sabemos
o que é o tal presente.
LA 12/006
Deus dá o frio
mesmo pra quem não tem cobertor.
LA 12/006
Deus escreve torto
por linhas certas.
LA 12/006
Quem fez,
fez.
Quem não fez
não se cansou.
LA 12/006
Quem fez,
fez.
quem não fez
passou vontade.
LA 12/006
Quanto maior a árvore,
tanto mais lenha.
LA 12/006
Sim: dinheiro
não traz felicidade
a ninguém que não o tenha.
LA 12/006
Quem corre cansa,
quem não corre
descansa.
LA 12/006
Quem vai devagar vai longe,
quem vai depressa já chegou.
LA 12/006
Quem parte leva saudade,
quem fica nem isso tem.
LA 12/006
Quem muito quer
tem o que seria dos outros.
LA 12/006
Yo no credo en brujas,
solo en mujeres.
LA 12/006
Quem semeia ventos
despenteia as amadas
e faz chorar as rosas.
LA 12/006
Quem foi a Portugal,
nem por isso viu Cabral.
LA 12/006
Quem madruga
abre a empresa,
a escola,
o hospital.
LA 12/006
O preguiçoso
ensina a relaxar.
LA 12/006
Quem vê cara
adivinha a intenção.
LA 12/006
Quem vê cara
sabe que não é coração.
LA 12/006
Quem tem um olho em terra de cegos
só vê de um lado.
LA 12/006
Mais vale um pássaro voando
do que bicando os teus dedos.
LA 12/006
Português que se preza
não tapa o sol com a peneira —
desce a vidraça.
LA 12/006
Uma andorinha só não faz verão.
Um urubu
faz.
LA 12/006
A razão tem desrazões
que o coração conhece.
LA 12/006
A mentira tem pernas curtas,
mas atléticas.
LA 12/006
Quem não tem cão,
sossegue —
o homem de hoje já não caça.
LA 12/006
Jamais cacei com cão,
nem com gato.
Mas se o fizesse
haveria de ser com rato.
LA 12/006
Quem espera se cansa,
quem corre até alcança.
LA 12/006
De grão em grão
a galinha esvazia o saco.
LA 12/006
A doença vem de avião
e volta de motocicleta.
Mas a pé? A pé não —
doença não é atleta.
LA 12/006
Contra a força não há argumento,
mas contra-ataque.
LA 12/006
Cão que ladra não morde,
contanto que você não pule o muro.
LA 12/006
A pressa é inimiga da perfeição —
isto quando você se alardeia
um perfeccionista.
LA 12/006
Quem não ajunta espalha,
se bem que muita coisa
deve ser espalhada.
LA 12/006
Quem foi preso por roubar galinha
não pode ouvir falar em peteca.
Mas em xereca —
pode,
e gosta.
LA 12/006
Gato escaldado
adora água fria.
LA 12/006
Quem desdenha
pensa na ordenha,
na manteiga
e nos queijos.
Comprar não —
que outro compre!
LA 12/006
A finitude é um descanso.
Pobre infinito!
LA 12/006
A beleza da rosa
é a rosa
ou a eternidade
dela?
LA 12/006
Podia cuspir pra cima —
não tinha cara,
ou melhor:
só lhe molhava a máscara.
LA 12/006
Nascera para dez réis —
não tinha méis
nem chegou a ninguém
com vintém.
LA 12/006
O crime deixa
a situação pensa —
não compensa.
LA 12/006
O silêncio é de ouro,
mas de um ouro falso.
A palavra é de prata,
que rima com lata.
LA 12/006
Tristeza só paga dívidas
quando vendida no teatro
( ou no cinema ),
com humor.
LA 12/006
A união faz a força
dispersar.
LA 12/006
Mandou fazer o telhado
de vidro inquebrável...
Toda a cidade copiou,
mas não adiantou —
começaram
a catapultar as paredes.
LA 12/006
Quando o sapato aperta,
use sandálias.
LA 12/006
É dando que se dá,
amando que se ama,
recebendo que se recebe —
sem nenhuma barganha chantagista.
LA 12/006
O homem põe, Deus dispõe —
mas respeita o malposto.
LA 12/006
Quem brinca com fogo
não é bom cozinheiro.
LA 12/006
O bem e o mal
e o sonho-mais —
o ir além de si
e das coisas —
seja o dever de quem se preza.
LA 12/006
Tempo e distância
nos fornecem novos ângulos
de ver —
um ver em revisões.
LA 12/006
Natal.
Que esse abrandamento
de coração
dure até o próximo Noel!
E se nesses dias a fome
a sociedade aplaca —
seja aplacada também
durante todo o ano.
Sim, sem nenhum favor,
a Humanidade precisa
pôr isto na cabeça.
LA 12/006
Ladrão que rouba ladrão
tem cem anos de perdão?
E o que rouba o ladrão do ladrão
do ladrão do ladrão?...
Deverá ter mais dignidade
que aquele que jamais roubou?
LA 12/006
Ao vencedor —
as cascas.
As cascas?!
Sim: enquanto ele lutava,
outros comeram a polpa.
LA 12/006
O bom político
é aquele que acredita
no que mente.
LA 12/006
Os homens gostam de mulheres
novas
e bonitas.
Por elas doam os olhos,
o nariz
e muitas vezes o pescoço.
LA 12/006
O Romantismo requintou
e sublimou o amor.
Uma aquisição humana,
em que pese a outros ângulos
de outras coisas-amor.
LA 12/006
Mais uma vez Natal
a cutucar o bem e o mal —
a convidar para o mais além.
LA 12/006
Sem poesia,
não há oráculo.
LA 01/007
Sem amor é pecado.
LA 12/006
Emoção equilibrada é bom —
filtra o ser.
LA 12/006
Sem poesia
a vida anda manca.
LA 12/006
Ele era machudo
e ela femeúda.
Mas deu certo: eram amicíssimos
de Paulo e Marina,
seus vizinhos —
sexoliberais
LA 12/006
Ela arrancava minhocas
para o marido pescar
e convidava o vizinho
para comer o peixe.
LA 12/006
Fazer amor com ela era chato
como chupar macaúva —
havia sempre o perigo
de se engasgar com o caroço...
LA 12/006
Cada vez que chupava sua manga
( adorava manga-espada ),
a boca lhe ficava
que era só fiapos.
LA 12/006
Cada caneta
tem que ter o seu estojo —
disse ao filho.
E ouviu:
Tenho visto estojo
com várias.
LA 12/006
Morreu porque misturou
xandanga com manga:
engoliu os fiapos daquela
com o caroço desta.
LA 12/006
Gostava do sabiá preso.
Já a patroa
apreciava a pomba solta.
LA 12/006
Joyce virou uma videira
de uvas brancas.
Já Pessoa,
um pé de uvas pretas.
LA 12/006
Numa relação estável
há um egoísta
e um generoso.
Tudo irá bem até o dia
em que o generoso se cansa.
LA 12/006
Se viver com alguém
não ajudá-lo a transcender-se,
não se tem uma relação —
mas um pecado.
LA 12/006
Se alguém que te quer tem algo que amas,
que isto seja suficiente para que saibas
que já tens o que uma pessoa sensata
sonha e precisa.
LA 12/006
Em geral não encontramos
o que nos falta
porque exigimos mais
do que tem a criatura humana.
LA 12/006
O egoísmo nos impede
de ver o outro —
e de tal modo
que não podemos nos ver.
LA 12/006
Entre o bem e o mal
há que haver o mais além
de transcendermos
esses dois pólos que criamos
e que aprisiona
não só os tolos,
mas sobretudo os que se têm por sábios.
LA 12/006
Muitas vezes dançamos
tangos terríveis
sem termos ensaiado.
LA 12/006
O silêncio sobre algo
( ou alguém )
é uma maneira elegante de matá-lo.
LA 12/006