UM POUCO DE MIM
Para algumas pessoas, falar de si é coisa tão dolorosa quanto esquisita. Sou um desses. Por isso peço ao leitor de “Um Pouco De Mim” me permita lavar as mãos dessa tarefa em troca de um texto que fiz em 1999 ( num tom acintosamente displicente ) e que se encontra num punhado de poemas intitulados A Caminho. Ei-lo:
Página De Areia
Laerte Antonio, um metro e setenta e poucos de esperança que — posta nas mãos de Deus — fica do tamanho do infinito.
Lecionou Português, Francês etc., suas Letras e Lixos. Foi seduzido ( e dominado ) lingüisticamente pelas principais filhas do Lácio, bem como por aquela de Shakespeare. Foi feito de bobo por línguas esquisitas, tendo inclusive filológicos orgasmos com algumas já defuntas.
Tem tido a graça de viver em paz com a Polícia. Aos fariseus — um sorriso ensaboado. Aos santos — respeito e longes acenos. Aos devassos — desprezo silencioso. Aos normais — tolerância e cautela. Aos loucos — nenhuma admiração. Aos grandes e pequenos — grato pelo ensino-aprendizagem. A si mesmo — um ver em revisões.
Crê na Amizade porque sabe que a vida é esse sermos por veredas de eus a caminho de Eu Sou.
Aprendeu a gostar de si em virtude do muito desamor do mundo. Pede continuamente ao Espírito Santo lhe ensine e ajude a amar a humanidade ( pelo crer de suas mãos ) por entender que a vida não dispõe de outros degraus. Sempre trocou as óperas e o brilho das festas ( a que teria acesso ) pelo coaxar sinfônico dos sapos em sua cantoria constelada e debochada.
Soube ( por um saber de lado ) que Deus nos é ( em cada criatura: elo entre o Pai e o Filho-Irmão ) — em cada criatura a caminhar lá por veredas de si mesma rumo à Casa de Deuspai.
Entre o mundo e o Evangelho optou pelo segundo. Vendeu o que tinha e comprou a Pérola de grande preço — na qual ( pelo processo Cristo-alquímico do viver ) espera e faz por se tornar.
Sente muitas saudades do futuro. O mais? Não tem mais não: seria pleonasmo. LA 99/09
Laerte Antônio, nascido em Casa Branca, SP.
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