TENHO AINDA...

               Laerte Antonio

 

 

                 Tenho Ainda...

 

Tenho ainda metade de uma taça

da nossa última conversa: o vinho

que vai tecendo e modelando o ninho

de um sonhar lá num tempo que não passa...

 

Sim: tesouro que o tempo nem a traça

hão de comer: guardado num cantinho

em alma-coração, lá no escaninho

de uma lembrança de alegria e graça...

 

Tenho ainda metade de uma taça

daquela madrugada em plena praça

em que tu musicavas um jardim...

 

Tenho ainda metade de uma taça

dos momentos de um sonho que, se passa, —

há de passar sem conhecer um fim.