SILÊNCIO DE TAÇAS
Laerte Antonio
Cerrando as pálpebras do medo,
vemos nossos fantasmas.
Abrindo-as para a luz,
já os vemos tragados por si mesmos.
Nesse pedaço de caminho
nossas mãos já não seguram...
As estações já não desfilam
por nossas almas preocupadas
em tecer as suas vestes...
As estações já não dão frutos
de apaixonadas esperanças.
Muito silêncio pela estrada
que passa dentre nossos medos
lá pelas sombras da tarde
a caminho da noite.
Não uma noite qualquer,
mas aquela da fusão
do ser com ele mesmo —
na angústia-renascer
de sua própria consciência.
Um silêncio de taças
vazias, sujas de vinho.
Todos se foram deitar...
inclusive os anfitriões.
Só um vento pelos corredores
e varandas e calçadas,
gemendo pedaços de um poema —
fiapos de vozes que se agarram
aos arbustos do tempo.