SEMPRE O TEMPO

                       Laerte Antonio

 

Sempre o tempo a engolir o próprio tempo

pela cauda e cabeça e meio a um tempo —

a transformar a vida ( e bem a tempo!... )

de realidade atual em novo tempo.

 

Sempre o tempo que nunca teve tempo

de realizar o que devia há tempo...

E o semear, plantar fora do tempo

a tentar tolo e ingênuo ganhar tempo...

 

Sempre o tempo que engana: mata o tempo

julgando que assim morto, com o tempo,

há um tempo que resgata o perder tempo...

 

Sempre um tempo a gerar-se num atempo —

a vertebrar o ser: passeá-lo pelo tempo...

que o vai levando a um tempo de destempo...