QUE DIACHO!

                    Laerte Antonio

 

 

Você fez doce

e o sonho criou bicho.

Chiques chiliques,

fofuras,

mimos amanhecidos —

a vida ficou de tarde:

o tempo foi empedrando.

 

Suores frios

com arrepios

e calafrios que queimavam.

Você sabia

que eu subia em fios d’água,

trepava em postes,

escalava penhascos,

rodava como cachorro

tentando pegar o rabo...

 

Você fez doce —

fez muito doce.

Apurou demais suas doçuras:

agora o sonho é tarde —

o dia já não arde.

 

( Em nossos arroubos,

parece que a vida é muita...

Mas não: a vida é demais pouca —

e quase sempre não dá tempo... )

 

Você fez doce,

e a vida ficou tarde.

Sim: apurou demais o doce e...

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Cadê a colher?

— Fogo queimou.

Cadê o tacho?

— Tempo raspou-lambeu.

Cadê o tempo?

— O pêndulo jogou-o longe.

Nem doce-colher-nem-tacho.

Que diacho!