POEMA BÊBADO

                           Laerte Antonio

 

Querer ser

é sublime.

Pensar que se é

é ridículo.

 

O equilíbrio do dramático

é o cômico.

A contenção do cômico

é o trágico.

 

Querer “iluminar-se”

é louvável.

Dizer-se um “iluminado”

é insano.

 

Ao lado de uma virtude

mora sempre uma fraqueza.

Ao lado de uma fraqueza

mora outra maior.

 

O amor é bom.

No verão, com cerveja

e parmesão.

No inverno,

com vinho e assados.

 

Levar a sério o momento

é andar de ré.

É comer o palito

e jogar fora o filé.

 

Melhor que uma mulher

é nenhuma...

Nenhuma que seja por demais...

 

A beleza

é a outra face da verdade?

Sim, porque é surda-muda.

 

Lavar as mãos evita germes

ou a verdade...

Quantas vezes não somos

Pilatos de nós mesmos!

 

Confiar?

Claro que sim.

Confiemos em Deus,

já que Ele não cobra nada.

 

O amor é pago em dólar,

liberdade

e minhocas culturais

( necessárias, é claro,

às funções do espetáculo

e manutenção do Circo ),

e é sempre assim que funciona —

pois do tamanho que somos.

 

Um poema-cachaça?

É aquele que se faz e bebe

para anestesiar-se da realidade

( não da Vida, mas daquela

construída pelos homens... ).

Um modo de estar bêbado

pra se lidar,

viver,

dançar

com as loucuras-marionetes

da vida nossa

de cada dia.

 

O mundo? Aquele poste

mijado de cachorros.

 

Mais vale um gambá

bebendo vinho

com penas de galinha...

que um leão sem dentes

para o banquete

nem tesão para urrar.

 

O fim do mundo nunca vem...

e a gente nem está cansado

da delícia de ele não vir.

 

Último trago.

Meu Deus,

me livra da cirrose

da poesia.