MONÓLOGO DO SILÊNCIO

                    Laerte Antonio

 

 

 

 

Nada é. Tudo está passando.

Estás triste? Alegra-te com isso. É uma bênção:

a tristeza é o outro lado da alegria,

ou ( se quiseres ) vice-versa.

Não houvesse nuvens negras,

por que haverias tu de amar o céu azul?

 

O que julgas infortúnio

tem lá seu quê de belo: dura pouco...

Foste injuriado, detratado, odiado, invejado?

Parabéns! És um homem que faz.

Quem iria injuriar, ou detratar, ou odiar, ou invejar

um mendigo de albergue, um sem-vontade?

 

Contenta-te com isto:

tudo cheira a morte, e na verdade tudo é vida.

Tudo sabe a pó, e na verdade a Essência é eterna.

Há coisas importantes porque assim as julgamos

e não porque o são deveras.

Rir é bom: distrai. Chorar concentra.

Ri vendo o mundo, e chora concentrado.

 

Se o dia que passou te foi nefasto,

lembra-te que esse mesmo dia foi propício para outros!

O Bem e o Mal transcendem nosso egoísmo.

Se assistes a umas núpcias e logo após a um enterro,

não te percas em filosofias vãs:

é preciso existir o oposto das coisas

para a compreensão das mesmas.

 

O errado está certo como está:

o homem não soluciona, — modifica.

Damos muita importância ao estado das coisas,

desejando que este sempre fosse outro

e fazemos desse outro o pedestal mitológico

da nossa felicidade.

 

Pensa, sente e vê, só depois aceita, — duvidando.

Não temas. A instabilidade do infortúnio

compensará o teu sorriso instável.

Todos os ventos são bons e favoráveis:

há moinhos em todas as direções

e a ânsia de movimento é eterna.

 

Não exageres na importância das coisas:

tudo são metamorfoses...

Deseja sempre o menos que puderes —

assim irás te libertando...

Queiras apenas isto: amar os homens e as coisas.

O mais...

             O mais é pó, e ao pó somente o Amor sobrevive.