FRASE 8
LAERTE ANTONIO
Mulher minha não anda com saia curta —
ele dizia pro compadre...
mas a costela lhe responde da cozinha:
Anda sem saia, compadre!
LA 10/03
Ai! Se meu marido me trai! —
falava com Jorgina, a amante dele.
Beijava a mão da cigana,
dava-lhe dinheiro,
e lhe pedia que orasse por ela.
LA 10/03
O amigo espiritualista
vinha-lhe a casa duas vezes por dia:
fazia passe na mulher e filhos
e no sábado à tarde,
um “descarrego” geral...
E a prosperidade voltou àquela casa:
comida, assistências, etc.
O casal teve até a bênção de mais um filho,
que era a carinha do amigo,
sim: sem tirar nem pôr...
Vai entender
os mistérios da vida,
não é mesmo?
LA 10/03
O Espraiado está falando grosso,
como marido corno:
sempre após uma chuva...
ambos engrossam a voz.
LA 10/03
Eis o vento: pega-não-pega
os ramos,
enquanto ele passa...
os ramos que se abaixam...
Pega-não-pega...
abaixaram!...
Pegou?
Só folhas...
Só folhas... Só folhas...
os ramos se abaixaram...
..............................................................................................
Pito-pitô-pito-pitô!
Tchau, vento!
Tachaaaaaaaaaaaaaaauuuuu!......ventôoooooooooooo!...
LA 10/03
Sim, vamos reciclar:
metais, papéis ou plásticos.
Sim: reciclemos —
sobretudo o que pensa em nós.
LA 10/03
— Samurai, Samurai,
onde a bolsinha em que guardavas
a honra de minha filha?
— A bolsinha está aqui, majestade,
mas a honra nós a repartimos
e assumimos seu prazer:
fizemo-lo nosso bem.
Sim: só pedimos, senhor,
nos abencoe o nosso bem:
sermos um numa só carne,
um só espírito que quer.
................................................................
Foram abençoados
e felizes para sempre,
isto é: por tanto quanto durou
aquele tempo aberto em flor.
LA 10/03
A boa literatura
nunca teve o rabo preso.
LA 10/3
Masca chiclete, menina,
e ensina-me toda a verdade
que existe no seu mascar.
Quem é que disse isto
de um outro jeito?...
Lembro não.
LA 10/03
Melhor que um amor assim
só o não haver mais nada.
LA 10/03
Sou pastor de palavras.
Por elas dou minha vida
escrevivendo os meus dias.
Um lirismo derramado, não?
Sim, mas pastor lembra cabra,
cabra dá leite
e leite, descuidou, derrama.
LA 10/03
Ah, que saudade, meu Deus!
Que saudade de Ti!
Lá antes de mim queda,
minha ventura era me seres
na graça de eu não saber.
LA 10/03
Sou Teu filho, Babu.
Sim, não me negues,
não negues
esta sujeira humana.
LA 10/03
Todas as mulheres são iguais.
Mas prefiro você,
que é mais igual a você mesma.
LA 10/03
Ela tem um ninho fofozudo...
com dois coelhos
de focinho cor de amora —
olhando levemente,
levemente para cima...
Um ninho fofo,fofo,
fofozudo.
LA 10/03
Ela não é bonita,
é loucamente bela.
LA 10/03
Tem uma bunda que arrebenta qualquer brim,
qualquer brim ao lado dela.
LA 10/03
Umas pernas
de dar coriza.
LA 10/03
É mulher que qualquer coveiro
desejaria ter comido.
LA 10/03
Seu andar faz calo
no olho da gente.
LA 10/03
Quando vai confessar,
padre Ignácio lhe implora
( antes de ouvir-lhe uma só palavra ):
Pelo amor de Deus, minha filha, —
vai pra casa!!!...
LA 10/03
Mulher de quebrar a perna
daqueles bancos de bar...
LA 10/03
Mulher de matar eletrocutado.
LA 10/03
Mulher de dar nó na língua.
LA 10/03
Mulher de escorrer o nariz.
LA 10/03
Bom, vou parar...
que acabei.
LA 10/03
Os filósofos
preocupam-se com o mundo.
Mas eles morrem
e o mundo sempre vai bem.
LA 10/03
Os metafísicos
sentem dores no espírito
e cãibras na alma.
LA 10/03
Os poetas?
São loucos normais.
LA 10/03
Os romancistas, os escritores?
Têm fixação pela alma —
por aquilo que finge
não estar no fundo das pessoas.
LA 10/03
Os jogadores de golfe —
disse a esposa de uma fera deles:
trocaram de buraco
e se apaixonaram pelo taco...
As outras, em volta dela,
fizeram “sim” com a cabeça.
LA 10/03
Certa amiga ( psicóloga ) me disse
que as encaçapadas olímpicas
da sinuca
compensam a impotência...
e que tais jogadores
nem precisam mais fazer amor:
já chegam em casa
sadicamente saciados.
LA 10/03
Boas intenções, não raro,
geram frutos envenenados.
LA 10/03
O mundo? Sifu o mundo!
Sem demora, cocemo-nos! —
que logo-logo encontraremos
a nossa Walterloo.
LA 10/03
O mais? É só risada
coberta de poeira...
LA 10/03
A onda é o amor fast food —
foder e largar.
LA 10/03
Será que não atravessamos
a opacidade do mundo
pelo vê-lo do avesso?
LA 10/03
Entre intelectuais é bom saber ouvir:
há sempre o ciciar de guizos
por trás dos pensamentos.
LA 10/03
Quando o inconsciente faz poesia
a gente sonha.
LA 10/03
Quando meu pai lhe enfiava algum no bolso,
ele se abria num gesto
( ao menos por uns minutos )
filofamiliar.
LA 10/03
Tinha o ar constipado
de quem há muito
não tem orgasmos.
LA 10/03
A vida era agora esquálida
e estúpida:
um estacionamento
de esperanças.
LA 10/03
Tinha no olhar o brilho represado
de quem ia fazer amor...
mas... chegou visita.
LA 10/03
Melhor do que mulheres
só a poesia
que as inventou para sempre.
LA 10/03
O intelecto
é sempre serpentino.
LA 10/03
Não raro nossa astúcia
crê que sabe a verdade.
LA 10/03
Imaginamos...
e os outros que se cuidem!
LA 10/03
A pretensão
não nos deixa não saber.
LA 10/03
Aos domingos,
faziam musse de coco
a tarde inteira.
LA 10/03
Sempre que ela entrava apressadinha...
padre Honório abaixava os óculos
e lhe mostrava dois números com os dedos,
seguidos de AP ou PA, isto é:
tantas ave-marias
e tantos pais-nossos.
LA 10/03
Cidadela à beira-mar —
marujos, turistas...
mulheres, maridos malhados...
O padre não vencia
confessar a carne humana.
Que fez o cura Eustáquio?
Bolou vários símbolos ( explicados
ao pé do ouvido ), seguidos de tantos quilos
de tais ou quais alimentos
que deveriam ser mandados
para a creche da igreja.
Resultado: dispensa cheia.
LA 10/03
Só sou um cara
que não quer nada
que não seja tudo —
mas um tudo que caiba
em nós todos,
inclusive no nada
que com certeza é tudo.
LA 10/03
Ontem, hoje, a cada dia —
sempre um prego enferrujado
existencialmente enfiado
no pé da nossa alegria.
LA 10/03
A fruta sempre nos vem
mordida de outro.
Parece que a vida
precisa do conflito...
O ser precisa trabalhar-se.
Triunfar-se do mundo
e de si mesmo.
LA 10/03
Quando o sol é demais
a gente busca a sombra de um sorriso.
LA 10/03
Nossas paixões?
Rotações, translações —
e desaparições.
LA 11/03
Estendo a mão e colho,
Colho o seu “oi! ”
( lá da outra esquina ),
o seu “oi!”cor de amora.
LA 11/03
O mesmo tempo que se gasta
para amaldiçoar,
gasta-se pra abençoar —
e ainda se leva um naco
de coisa boa.
LA 11/03
O camundongo aproveitava
o sono do gato,
mas o gato entrou numa fase de insônia —
sem terapia nem remédio.
LA 11/03
Sua cintura gorjeava
macia e fina como um pintassilgo...
LA 11/03
As moças do quarteirão
viviam querendo matá-la —
era bonita demais.
LA 11/03
Sempre um peso, um mal-estar...
Era muito inteligente.
LA 11/03
Mais bela que Rosinha na missa,
só Rosinha tomando banho...
LA 11/03
Ela passava musicando o ar...
e a gente respirava em mi-fá-sol...
LA 11/03
Um rastro verde-verde,
tagarelando...
Eram as últimas maitacas
da tarde.
LA/11/03
Seu beijo zen
levava além...
LA 11/03
Partir seja sem rumo
quando o sentido é interior.
LA 11/03
Queria porque queria...
e estava quase,
estavam quase...
Aí tocou o telefone
e ceifou a orelha do instante.
LA 11/03
Deixa estar, jacaré!
Ainda te pego de baby-doll.
LA 11/03
Atravessou o rio
fervendo de piranhas...
Depois do banho, à noitinha,
muito desapontado,
contou para a mulher
e mostrou o lugar...
Tranqüila, ela o consola:
Tem nada não, meu bem,
as bichinhas só levaram
um capuz quase vazio...
LA 11/03
Era uma faca
de dois legumes —
e cortava
quiabo e vagem
quiabo e vagem
quiabo e vagem...
Até que um dia
foi encontrada
muito vermelha
muito vermelha
muito vermelha...
...................................................
Não, senhor. Nenhum crime.
Tinha cortado beterraba.
LA 11/03
Está triste
porque queria ser amado,
mas não o amaram?
Então comece certo:
comece por amar-se.
LA 11/03
Desejar obsessivamente algo
é duvidar que se possa tê-lo.
LA 11/03
Será que vamos nos assustar
quando nos virmos frente a frente com nós mesmos?
LA 11/03
Quando nos exaltamos a nós mesmos,
em geral, somos humilhados.
LA 11/03
Cuidado com a amizade:
ela nunca se exceda —
nem daqui pra lá,
nem de lá pra cá.
LA 11/03
Somos muito diferentes.
O que quiser que você se iguale a ele,
fuja dele!
LA 11/03
Por vezes nossa jornada
é tristemente solitária.
Nesses momentos
fora bem prudente
não tentarmos povoá-la
com os nossos enganos.
LA 11/03
Há muito tempo estás doente?
Saibas então que teus amigos
e tudo à tua volta
também estão.
LA 11/03
Acende uma luz em ti,
e os vampiros e fantasmas
fugirão todos...
Aí, por certo, irás cear
com teu Amigo.
LA 11/03
Quem vai lá pela vinha —
descalça,
nua como a brisa,
vestida pela luz da lua?
LA 11/03
Foi beber em seus seios,
e ele ficou de porre...
Subiu em sua torre
curtindo devaneios...
até ( que pena! ) sarar.
LA 11/03
O consultor econômico:
Deves saber o que fazer
com os seios,
com as pernas,
com a xota —
antes de investi-los
em terras.
LA 11/03
Não, não estraga, é de borracha
ou algo semelhante...
É só lavar, esperar dez minutos,
e usar,
usar sem ciúme:
tal como a dona o faz.
LA 11/03
Outros tempos,
novos temporais,
diferentes tempestades:
outros tiques e chiliques...
Porém, não menos saborosos.
LA 11/03
Os fracos,
os delicados,
os muito sensíveis —
pagam o pato
e o vinho que o acompanha.
LA 11/03
Melhor que chupar manga
é lambuzar-se em xandanga
fiapenta.
LA 11/03
Era de uma beleza
que musicava tudo em volta...
De uma beleza que eu tratava
de olhar,
de olhar com toda a pressa —
antes que viesse a tarde.
LA 11/03
Toda ave que se preza
tem o gavião como inimigo.
LA 11/03
Tinhas frases bonitas,
e respingadas de humor.
Reelegeu-se vereador
até que Deus o chamasse
para o acerto de contas.
LA 11/03
Muito favo e cacarejo
pra pouco mel e ovos.
LA 11/03
Aprendi mais de Deus
com os intelectuais ateus
do que com os religiosos
e espiritualistas.
LA 11/03
Tava com tudo em cima —
esticadinha como corda de viola...
Inclusive se confessava todo dia.
LA 11/03
O marido a adorava,
e o amigo sabia —
por isso a comia com respeito.
LA 11/03
Vaidade das vaidades,
santas vaidades!
Fazer o que sem tais vaidades?
LA 11/03
A vida?
Quanto mais bobinha melhor.
LA 11/03
O mundo?
Conforme a hora, cara,
só ficando de cócoras...
LA 11/03
Se bobeias,
te comem a mulher e o teu.
LA 11/03
A certa altura viu:
Ou repartia as carnes,
ou ficava sozinho.
LA 11/03
Cabra macho,
segurador de cabra.
A mãe lhe serrava os chifres
a cada três dias:
cauterizava-os com a espora em brasa.
LA 11/03
Ou comia no mesmo prato
com o doutor,
ou ia passar fome.
LA 11/03
Padre Ignácio se encheu tanto dela,
que lhe pediu nunca mais voltasse:
perdoava-lhe todas as futuras trepadas —
e pelos tempos dos tempos:
enquanto a sua xota respirasse.
LA 11/03
Não querendo repartir a xota,
ela o enxotou.
LA 11/03
Disse-lhe ao ouvido
que logo mais
ia rachá-la ao meio...
E ouviu:
“Home! Isso é pai-d’égua de bom...
O diacho é esse teu machado:
tá cortando nem mais água!...”
LA 11/03
Pegou-a pelos seios de cabaça,
jogou-a em cima da mesa quadrada,
ergueu-lhe as coxas de baobá —
e enfiou-lhe entre estalos
um quinto membro.
LA 11/03
Saracura trespotou cá perto, no brejo.
Tião acordô,
e percurô com a mão a coisa...
Nem a coisa nem a dona,
que tinha ido fazê café...
...................................................................
Foi buscá... e chafurdô!
LA 11/03
Disse à comadre que erguesse mais,
ficasse na ponta dos pés,
se não não dava...
Assim, comadre, assim: mais um pouco,
aí! Já deu!...
A vizinha, com pés de paina,
veio ver o que era... e viu:
A mulher tava na escada
dando telha pro homem lá no telhado...
LA 11/03
Há tempo de trepar
e tempo de ficar embaixo —
esperando a fruta madurar.
Há tempo de comer
e tempo de descomer
e, no entremeio, há um tempo
de muita fome.
Aí, pra vida continuar,
a gente vai pregar prego
em outras,
outras paredes.
LA 11/03
Mais vale o pio de uma pomba
que todo um cemitério
de notáveis.
LA 11/03
Quando ela vinha
trazer o rango,
por vezes ele nem tocava...
Mas pagava.
LA 11/03
Quando andava depressa,
parecia que seus peitos
estavam pescando...
e que algum diabinho
fazia-lhe embaixada
( por debaixo do vestido )
com duas bolas...
LA 11/03
Pegava fácil,
mas só no tranco —
e gemia gostoso...
LA 11/03
Seu traseiro era desses
de se pegar pelas orelhas...
LA 11/03
Seus peitos? Dava vontade
de pegá-los pelo focinho...
LA 11/03
Sua cintura,
quando a gente a abraçava,
trissava como andorinha...
LA 11/03
Sua beleza
quase matava a gente:
era um joelhaço...
LA 11/03
Quando dançava
saía toda furada...
LA 11/03
Quando ela chegava,
até os velhinhos
peidavam de tesão.
LA 11/03
Passando sobre aqueles saltos,
muitos homens se coçavam
sem perceber...
Levavam beliscões
e chutes no tornozelo
das sorridentes esposas.
LA 11/03
Seu olhar fazia um tempo
de que fazendeiro não gosta,
após ter semeado a lavoura.
LA 11/03
Seu riso
tilintava prata fina.
LA 11/03
Seu jeito de corsa,
pronta a ser abatida,
punha o sonho a latejar
fazendo calos no desejo.
LA 11/03
O Natal será sem fome,
os outros dias, não.
Por que não inverter a coisa?
LA 11/03
Esperei, e ela não veio.
Foi até bom... Fui ver Rosinha
com seus bolinhos divinos
e seu café que dá chiliques
entre a língua e o céu da boca.
LA 11/03
Ruim sem ela?
Pior com ela,
que já está longe
a reinventar venturas.
LA 11/03
Ela? Um tesão.
Disse o vizinho
que era um fodão.
LA 11/03
Olha, amorzão:
um dia desses
tomo um Viagra
e a gente cavuca a noite inteira.
LA 11/03
Melhor que uma trepada?
Só um uísque de primeira,
ou cachaça exportação —
acompanhados, é claro,
de uma quenga de pernas
celestiais.
LA 11/03
Escutei minha vizinha
gemer a noite inteira.
Sempre que o marido vem
ela quase morre
de dor de dente.
LA 11/03
O carteiro sempre toma
café com a vizinha:
dão risadas gostosas,
gritos dengosos,
gemidos de quem apanha...
São irmãos de fé,
da mesma religião —
diz minha avó, 97.
LA 11/03
Meu amigo me disse,
que ela, antes de casar,
pintou-bodou-costurou...
só não lavava e passava —
que, nesse caso, nem se usa.
LA 11/03
Minha avó também falava,
à meia-boca, a meio-tom, à meia-voz,
não pra mim, às mulheres ao lado,
que Zilpata recebia o padre
mulato, comprido e magro...
às terças-feiras, quando o marido
fazia as suas caminhadas...
Tinha uma senhora gorda
que chamava isso de sinais dos tempos...
Acho a frase engraçada, até hoje.
Talvez a necessidade
de um perfuminho místico...
LA 11/03
Uma noite ventou forte no Largo...
Poeiras papéis capins secos...
e um frio que beliscava a alma...
Aí, dona Fina
deu um gritinho fino e frio
e caiu desmaiada...
Acordada, disse que vira o padre,
aquele, morto havia duas décadas,
e pai da... casada com o ...
Vira o padre ( chapéu, batina,
sério, a passo largo em direção à casa da...
E sempre o mesmo desfecho: ao abrir
o portão do alpendre,
o padre desaparecia....
Delícia, pensei, existir fantasmas...
E eu acabara de ouvir alguém
que dissera ter visto um...
Que delícia haver fantasmas!...
LA 11/03
A solidão fecunda
mata de inveja tolos
e acadêmicos.
LA 11/03
Contar e recontar:
compreender e explicar,
explicar e compreender —
num sem fim (claro!) num sem fim.
LA 11/03
Em nome da humanidade,
se esquecem os seres humanos.
LA 11/03
Há os que entram para a infelicidade
como se entrassem para a glória.
LA 11/03
Há os que entram para o convento
como entrassem para o não-ser.
LA 11/03
Bom mesmo é coçar os mimos
e bocejar descontraído.
LA 11/03
Se queres beber, bebe!
Fumar, fuma!
Drogar-te, droga!
Delirar, delira!
Eu não preciso disso:
tenho-o na poesia.
LA 11/03
Melhor que uma mulher
fora nenhuma.
Mas... como diria um monge:
Só umazinha light,
light and fast food.
Urge ampliarmos a cada dia
os horizontes do saber
e da ignorância.
Vaidades das vaidades,
o que fazer sem elas?
LA 11/03
Ignorâncias das ignorâncias,
como conhecer sem elas?
LA 11/03
O tempo é bom conselheiro...
Claro que sim. Por isso o tempo
há de nos ensinar a fazer guerras,
não só as mais terríveis,
como as mais eficazes.
LA 11/03
Chorou duras lágrimas,
tão duras
que caíam como granizo
nos pés da filha...
Mas não: não conseguiu
o que veio buscar.
Era uma senhora bem vestida,
olhar de quem pôs fogo no mundo...
Uma pessoa arrogante:
olhou-nos fria e com nojo,
e saiu rindo,
um riso maligno.
LA 11/03
Se a soubesse com gene de piranha,
não pedia que fizesse felação...
LA 11/03
Disse que estava com saudades,
saudades da mulher,
muita saudade, muito apego...
Implorou-lhe. Nada.
Só veio
para receber a herança,
ela e as três filhas.
LA 11/03
Jogou uma pedra para cima —
que lhe caiu na cabeça.
Jogou outra,
caiu-lhe na cabeça.
Jogou mais uma,
maior e mais alto:
rachou-lhe a cabeça.
LA 11/03
Fez um vodu pra matar a mulher,
morreu (ele) no outro dia.
Ela foi gerir o motel do amante.
LA 11/03
A sogra, a mulher, as filhas
o roubaram e o enganaram
durante toda a vida.
Quando morreu
choraram como crianças.
LA 11/03
Mais Respeito, Mais Amor-Próprio, Caras!...
Quem decidiu pensar, sonhar por nós?
Criticar, escolher por nós?
Demos a alguém procuração?!
Universidades e seus pós-
também os temos, caras!
Temos, inclusive, aquelas e os do espírito...
.......................................................................
Não já seria hora de quem julga
deixar de ser bestão? Deixar a paranóia,
a neurose, a constipação?
Sim: medicar-se, sentir-se bem —
e só então dar-se ao trabalho?
Ou ( por que não? ) mudar de profissão?
E, importante: saber que suas fraudes,
que suas enfermidades-canalhices
nós as guardamos para sempre?
Sim: detestavelmente para sempre.
Abominavelmente para sempre.
É hora, caras, de descer das escadarias do céu...
De jogar fora o que não presta em vocês
e que, aliás, nem é seu...
Sim: é hora de se ter muito cuidado:
estudar
pesquisar
transler
viver
joeirar
garimpar
refazer
reinventar...
Sim: é hora
de vertebrar o talento
ou ir para os diabos!
Algo novo começa, caras!
Com ou sem vocês.
LA 11/03
Vaidade das vaidades!
Pobre de quem não as tiver.
LA 11/03
A treva é uma mentira
ante os lampejos
de um vaga-lume.
LA 11/03
Mãhê-ê-ê-ê!...
Olha o Paulinho aqui,
me passou a mão na bunda.
LA 11/03
A vizinha lhe telefonou,
mas ele não a esperou falar...
Correu lá ( pela entrada secreta ...)
e pegou (cara a cara)
o marido trepado nela.
LA 11/03
Quem é que não tem
seus assíduos reveses
bem a seus peses?
LA 11/03
Comeu-a
para avaliar-lhe o empréstimo
( feito em sigilo de amantes ),
que ambos não pagaram.
Coube ao marido tal honra.
LA 11/03
Seus peitos eram tão compridos,
que mataram sufocados
sete amantes,
todos alcoólatras:
engoliam-nos.
LA 11/03
O oxigênio dos cínicos
e dos pérfidos
é o perdão.
LA 11/03
Não sei por que ela, desde bem moça,
era tocada até às lágrimas
com aquela passagem
da adúltera Madalena.
Era patético vê-la
defender a mulher.
LA 11/03
Não deixe nada pra amanhã,
nada que não seja tudo.
Por que esse preconceito
com o amanhã?
Por que é que não se pode
fazer nada amanhã?
Sim: por que não se pode
ter preguiça amanhã?
Isto é, hoje e amanhã?
LA 11/03
O amor? Só uma derrapagem —
um curta-metragem.
LA 11/03
A técnica é fazer o pobre
pensar
que nada do mundo é bom...
LA 11/03
Hoje morreu um filisteu
do povoado:
homem paparicado,
muito amado (sem dúvida)
e honrado...
Fingi que nada aconteceu.
LA 11/03
Quanto menos vês o amigo
mais durará a amizade.
LA 11/03
Amor dos bons rima com cama
e com os pregos do faquir.
LA 11/03
Quanto mais bem fungado
mais se tem o cangote.
LA 1/03
O que os olhos não vêem
o coração percebe.
LA 11/03
Não se deixe ser bebido:
beba.
Não se deixe ser pensado...
Não se deixe ser sonhado...
Não se importe em ser amado:
ame.
LA 11/03
Boa! Boa demais da conta.
Com certeza,
espera investir bem.
LA 11/03
Tinha umas pernas,
que valiam um império.
Claro que nunca achou
quem lhe oferecesse essa troca.
LA 11/03
Melhor que rapadura
é não comê-la.
Mais bela que todas as rosas —
só você, minha Rosa.
LA 11/03
Tenho a maior gratidão por ela.
Ensinou-me não só a pregar
como, principalmente, a parafusar.
LA 11/03
Claro: há que se levar a sério
certas pessoas —
o suficiente para não odiá-las.
LA 11/03
Há certas bundas
que valem mais que suas caras.
LA 11/03
Sim: caras e bundas
nem sempre dão boa rima —
e isso sempre criou
um belo impasse.
Mas nada que não passe.
LA 11/03
Foi no tempo das ceroulas...
O bordel fazia fila...
O apelido dela
era Piorra.
LA 11/03
Com os patrões mimados de hoje
só conversando de cócoras.
LA 11/03
Beliscou-lhe um dos lados —
levou um tapa.
Beliscou o outro lado —
ela o beijou.
Alisou-lhe as duas partes —
aí ela exigiu que ele
lhe rachasse o )( da amei)(a.
LA 11/03
Ela lhe disse que não o amava mais.
Ele lhe respondeu
com a cara bem honesta:
Mas pra que amor, Glorinha?!...
LA 11/03
Quando ela se casou pela sétima vez
(aquela nave espacial pluridinâmica
e multimodal), o padre, pê-da-vida,
antes de benzer as alianças,
olhou pra São Benedito e:
Bobeei, meu Santo: essa máquina
deu rasantes sobre minha cabeça,
ofereceu-me carona para o céu
desde o primeiro esposo,
até na frente deste sétimo...
Sabe de uma coisa, Neguinho?
Então veja pra crer:
Tirou um trabuco da sacristia,
apontou para os da cerimônia,
e disse:
Você aceita casar comigo, Fulana?
R: Claro que sim, padre.
E você quer casar comigo, padre?
R: Sempre quis.
E engatilhando o revólver,
pergunta a todos:
Se alguém tem algo contra,
ou sabe de alguma coisa que impeça
esta união,
que diga logo.
Dentro de um silêncio celestial,
ele então finaliza:
olhando para Rosa
que ria até as orelhas:
Minha Rosa, declaro-nos casados!
.............................................................................
Já saindo, diz ao presentes
que precisa da chave de um carro
para a fuga e a lua-de-mel...
Jogaram-lhe umas quinze ou vinte...
Foram-se.
LA 11/03
A vida é um pau-de-sebo
com uma inscrição falsa
embaixo.
LA 11/03
A educação é servil.
A cultura, — repressiva.
A arte, — libertação.
LA 11/03
Ainda bem, amor,
que nunca fui
aquele que me querias.
LA 11/03
Viveu cavalgando muros.
LA 11/03
Era tão boa
que até o padre comia.
LA 11/03
Não leve a mal, amiga,
mas você bem que poderia
um dia...
uma hora...
ou agora...
LA 11/03
Não misturo amizade
com outras coisas...
Só com sexo.
LA 11/03
Não misturo manga
com leite.
Só com xandanga.
LA 11/03
Ah! Se me lembro
daquele mantô verde...
Quantas jabuticabas
estouradas!
LA 11/03
Na penumbra escura
do quarto
a gente pintava estrelas
quase que a noite inteira.
LA 11/03
Sua cintura
era um grito de ninfa.
La 11/03
Os seus beijos de língua
eram fálicos...
LA 11/03
Dava uns gemidozinhos roxos,
roxinhos...
E a gente derretia aos poucos...
LA 11/03
Quando ela vinha
jogávamos quedas e quedas
de bolinhas de gude —
e nunca precisamos
de luz acesa.
LA 11/03
A gente era criança de tudo,
mas me lembro que seu Paulo,
nosso vizinho,
falava que o bilboquê
era um jogo indecente...
Um dia criei coragem
e perguntei a ele
o que era indecente.
Respondeu que era coisa
que não se devia fazer...
Retruquei:
mas as meninas gostam,
sim, gostam de jogar.
Lembro que os olhos dele
viraram agulhas
elétricas...
Contei pra minha tia
e ela me disse
que eu não enfiasse o nariz
na conversa dos adultos...
LA 11/03
Certa vez o vizinho de baixo
derrubou o muro
do vizinho de cima...
Lembro que minha tia disse
que naquela noite
ele não soube pular...
LA 11/03
A pobre cozinhava, lavava, passava,
arrumava , servia...
e outros mil “avas” e “ias”...
Só não concordei com minha tia
( teria eu uns seis anos...)
que disse um dia à minha mãe:
Essa mulherzinha aí
pinta, borda e costura...
Boiei... Mas vi nos olhos delas
que não podia perguntar nada,
senão o mundo desabava...
LA 11/03
O padeiro entrava na casa
da “viuvona” Zeca
pra levar pão,
pra levar carne,
pra levar verduras,
pra...
Perguntei à minha mãe:
Padeiro vende tudo isso
ou só pão?..
Pegou-me pela orelha
e levou-me para dentro
com tanta força
que me arde até hoje.
LA 11/03
O padre só comia carne boa,
e nunca requentada,
isto é: sobras...
O bispo o transferiu pra longe.
Mudou de nome
e agora só comia frutas,
mas frescas.
LA 11/03
Tinha sorte com as mulheres,
mas não com seus maridos.
Tanto é que um deles
lhe comeu a macheza
com sal, pimenta e pinga com limão.
LA 11/03