FRASES 6
LAERTE ANTONIO
Mário sociologizou
ou embrionou uma profecia
auto-realizadora?
Se embrionou,
há esperança:
Vamos lá, gente, acorda:
desconstruamos
nossa falta de caráter!
Tê-lo não é tão mau —
nos diria um humorista ( ? ).
LA 03/03
O senhor Bush e o senhor Blair
fazem o que o Diabo não faria
( não saberia )
para tornar verdade a mentira
que os levará a devastar o Iraque
e desencadear misérias e loucuras
que nem o pai-comum desses senhores
ousaria prever.
LA 03/03
Melhor que um é nenhum,
quando esse um não presta.
LA 03/03
Tempos maus.
Mas nem por isso:
tempo é que nem água...
Turvos? Sujos?
Logo limpa.
LA 03/03
Por vezes chorar é bom.
Encosta a cabeça
no colo dela, e chora.
Até que ela te diga
que há um modo bem melhor
de se desidratar.
LA 03/03
O sapo, lembra?
— Sai, pedra, que te racho!....
LA 03/03
Sim, no meu tempo, filho,
era o amor bem diferente...
Você comia a fruta,
mas tinha que levar a caixa.
Credo, pai! É por isso
que vovô e tio Paulo
nem podem ver abacate
e abacaxi?
LA 03/03
Comi-te,
antes da celulite,
das varizes
e das minhas brochites.
Dias felizes.
LA 03/03
O tempo, amor,
te martelou a carne
( pra ficar mais macia? ).
LA 03/03
O tempo, amor,
te martelou a carne
e destroncou-me a ave
de arribação.
LA 03/03
O tempo, amor,
sifu o tempo!,
que nós fizemos
a tempo.
LA 03/03
Ela fingiu
que não me viu.
O tempo passa.
LA 03/03
O tempo passa.
Nós já não somos,
a não ser teimosia.
LA 03/03
Vamos tirando do jamais
recordações
com as quais reciclamos
nossa mortalha.
LA 03/03
Aqui jaz
Perpétua.
LA 03/03
Teresa,
uma rosa em botão,
um jasmineiro entreaberto.
LA 03/03
Tardos, sempre tardos
em aprender.
LA 03/03
Paciente,
como animal atado
à porta de boteco.
LA 03/03
Adeus...!...
Adeus!
LA 03/03
Aprendizagem exige
— diuturnamente —
o afeto convivido
entre aluno/professor:
ânimos favoráveis.
Claro que o resto,
não é resto.
LA 03/03
O homem é um animal afetivo,
principalmente
quando demonstra o contrário.
LA 03/03
Por esta estrada,
eternamente breve,
encontramos com nós mesmos
não poucas vezes.
LA 03/03
As Instituições Fechadas:
Hospitais,
Presídios,
Escolas
cumpririam mais precisamente
suas finalidades —
se elas — lealmente — se abrissem
à avaliação da comunidade
a que servem
e de que dependem.
Sem esse “olho-exterior-imparcial”,
não há como evitar as muitas prepotências.
LA 03/03
Este vento, esta chuva,
esta noite, esse grilo...
Só falta uma xiranha.
LA 03/03
Melhor que quebrar pedra,
sem dúvida é jogar bolinhas
nas birocas do lençol.
LA 03/03
Quando ela lhe telefonava
ele escorria pelo fio do telefone
e lhe caía entre as pernas.
LA 03/03
Os parapsicólogos enrolaram,
enrolaram,
mas nenhum deles explicou
como André fez um filho
num buraco da parede!...
Sem contar que as feministas
ficaram pê da vida.
LA 03/03
Pregou seus pregos,
parafusou seus parafusos...
Na tábua-de-passar?
Não, não! Nas paredes de Maria.
LA 03/03
— Já comeu minha senhora?
— Não, nunca tive esta honra.
LA 03/03
O cara era tão canalha,
que humilhava a seus iguais.
LA 03/03
— Teu amigo não veio?
— Ficou em minha casa:
tinha que acertar não sei o quê
com minha esposa.
LA 03/03
O cardiologista
foi muito bom para mim.
Chegou até a endossar empréstimos
para minha mulher —
e nem me falaram nada
para não me preocupar...
Só me chamou lá
pra eu pagar o calote
do tal empréstimo. Paguei.
Costumo orar três vezes ao dia por ele.
Um amigo assim vale por dez ou quinze,
por isso eu o ponho nas mãos
do Deus Vivo:
tenha com ele a mesma misericórdia
que tantas vezes teve comigo
e que o faça feliz como me fez —
prodigamente.
Amém.
LA 03/03
Era patético ver
como ele amava a esposa.
Os amigos freqüentavam sua casa,
quando ele estava na farmácia.
Sua mãe por várias vezes lhe dissera:
Olha, Fulano, acontece isso assim, assim...
Ele lhe respondia:
Se eu mostrar que sei, minha mãe,
ela me deixa, me abandona...
E que é que eu ganho, mãe?
Perco os amigos e ela.
Não, não quero assim.
Desejo fingir
que tenho bons amigos
e uma bela, carinhosa mulher...
E assim tem sido, minha mãe:
tenho bons amigos
e uma adorável esposa.
.................................................................
Mais engraçado que isso, minha mãe,
é a vida,
que tudo isso permite e faz conjuminar.
LA 03/03
— Amor,
tens mais cócegas nas congoxas
ou nas coxas?
— Quase nada, meu André,
cócegas mesmo
só na xandanga.
LA 03/03
A mulher lhe telefonou da pensão
e lhe disse que não mais o admirava,
não mais gostava dele.
— Nenhum problema, amorzão.
Chumbo trocado não dói...
Também eu nunca tive tais chiliques...
Nunca pensei em gostar ou admirar você...
O de que gosto mesmo
é de me ver no brejo
segurando em teus cabelos...
e ouvir você fingindo seus orgasmos múltiplos...
e suas fungadinhas de bichinho virtual...
O mais... Pra que mais?!
LA 03/03
Bush e seus asseclas
estão ultimando
aquela zona morta da lei
( ‘estado de exceção’ )
para massacrar o Iraque.
Sem dúvida,
a Dialética do Cinismo
mais uma vez — sem convencer —
vai vencer.
LA 17/03/03
A tradição dos oprimidos
( o velho drama
assistido com pipocas,
refrigerantes e o nobre etílico
lá das europas ),
o velho drama
dos miseráveis
é só um modo de a Sociedade
ir-se lavando as mãos
( em lavabo todo em ouro e pedras...
cuja sujeira vai rolando
para o mar da Exclusão... ) —
fingindo que esse câncer
não lhe está inserto na carne:
que esse mal
de jeito algum lhe pertence.
LA 03/03
Às 22h de hoje:
19/03/03,
horário de Brasília,
Bush e seus anjos
começam
a desgraçar o Iraque.
É a vontade dos homens
de costas para o Providência:
a vontade dos homens
construindo o Destino...
Mr. Forty-five
pediu que o deus deles
os continue ajudando.
Pisaram sobre a ONU,
o veto da Rússia, da Alemanha,
da China ( a França, na última hora,
fez-se ambígua...
depois, voltou a ... ),
gente do povo ( muitos ),
por todo o Mundo,
repudiaram a ação criminosa.
PS:
À uma e meia da madruga,
Bush-Blair começaram a semear
o que trazem de viés nas intenções:
bombas bombas bombas bombas bombas...
— Mas ciudado! — diriam eles —
cuidado para não acertar
os poços de petróleo!
LA 03/03
A montanha rugiu,
e deu à luz um camundongo.
Dit. chinês.
Aquilo que nos devemos
a nós mesmos
é coisa
que fora bom pagar.
Precisamos estar bem
com nós mesmos:
aí, sim, os outros nos verão
outras pessoas —
aqueles a quem amamos.
LA 03/03
Nunca mais
não é muito tempo não.
Aliás, um tempo ideal:
tem o nunca...
e, depois, tem o mais.
LA 03/03
—
— Bemhêêê!
— Fala, amorzão!
— Você já viu onça?
— Várias vezes.
— Borrou todas as vezes?
— Não: vi pela televisão.
— Ah, bommm...!
LA 03/03
— Bemhêêê!
— Fala, bochechunda!
— Vamos trepar?
— Acabo de descer da escada.
— Estava trocando lâmpada?
— Não: conversava com Amélia...
— Lá em cima da escada!?!
— Sim!
— E pra quê?
— Pra ver se a gente conseguia...
— Conseguia o quê!!??!
— Tirar a teia de aranha do bocal...
— E conseguiram?
— Até que sim, amorzão,
até que sim...
LA 03/03
Esquecerei de te lembrar
até que o esquecimento
seja o esquecido a esquecer-se.
LA 03/03
Bela gente,
belas canções,
belas tamareiras
você tem, Iraque.
Saúde e paz, Iraque.
Saúde, paz e reconstrução,
Iraque.
Dá volta por cima,
sacode a areia
dentro da consciência
de Bush-Blair,
Iraque!
LA 03/03
Em qualquer disputa,
a primeira vítima
é sempre a verdade.
Imaginem na guerra!
03/03
Só as almas turvas,
as consciências perversas
é que podem aceitar
o massacre anglo-americano
contra,
sobre o Iraque.
LA 03/03
Os Direitos Humanos
aguardam ( como diríamos? )
no limbo...
Sim: no limbo jurídico.
LA 03/03
Não há negar:
A consciência humana ( como um todo )
tem caminhado irredutível
( não há bem só bem,
nem mal só mal )
em todos os tempos e épocas.
Há um desígno-finalidade
que a impele,
não obstante as nóias da leprose
que tentam anulá-la
pela estrada do tempo.
LA 03/03
Guerra é guerra! —
disse a velhinha.
Guerra é meio de vida:
pensou ( não muito em segredo... )
Mr. Bush.
LA 03/03
Não deixou pedra sobre pedra —
caíram todas
em cima dele.
LA 03/03
Fez um vodu
para a esposa morrer.
O feiticeiro foi-lhe módico:
18 cheques-pré
com a bagatela
( a voduzanda
fedia de tanto rica )
de dois salários mínimos
cada um.
Ao quarto mês,
morreu o bruxo.
Ao sexto,
a que ia desencarnar
fugiu
com seu ginecologista.
Dizem que foram felizes
até os últimos mil dólares.
LA 03/03
O amor de Ronsalda
não era
para as suas papilas.
Casou-se com Teresa
e era o administrador
( de confiança ) da fazenda
do marido de Ronsalda.
LA 03/03
Dera uma rosa para a vizinha
e recebeu um tiro na cara.
Não do vizinho, mas do amante
da adorável senhora.
LA 03/03
Guerra não fosse coisa boa,
Blair-Bush
inventavam outro treco
pra azeitar sua salada.
LA 03/03
Mulher de nego rico
não pula —
voa.
Vai dar em outros climas.
LA 03/03
Alma ia a Veneza
quatro vezes por ano.
Adorava gôndolas
e candongas
ao lado daquelas águas
que lhe lembravam
( não sabia porquê ),
lhe lembravam bidês
com torneiras luxuosas
e ralos de porcelana...
que o irmão do seu marido
enchia com suas cuecas.
LA 03/03
Cavou um abismo
dentro de si
e caiu
lá
no
sem
fun...............................................do
Veio o amigo
e despenhou a voz:
Fu
la
n
ô
ô
ô
ô
ô
ô!...
Grita fulano! Grita
pra gente localizar
( como Bush faria... ),
pra gente localizar onde
( bem cirurgicamente-onde ),
bem onde você está...
Dizem que André
uivou,
mugiu,
baliu,
pulou,
cantou
feito
tiziu... até que os dois
( sua mulher e o amigo )
computadorizaram
( cirúrgicamente como Bush )
o alvo...
Logo em seguida
( como os meninos de Bush ) —
jogaram, bombas não,
mas
mil
e
mil
pa
ra
le
le
pí
pe
do
s
s
s
s
s
s
s
s
ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssss
Dizem que então
não ouviram mais nada.
Dias depois plantaram,
dizem que plantaram
um pé de álamo
( sei que é frescura:
um pé de álamo!... )
Mas era, pô! Era um pé de álamo,
e pasmem
ou dêem uma
de chinês impassível:
plantaram um álamo adulto.
E dizem que todo o ano,
no outono,
davam uma festa sob a fronde desse gigante
e dançavam aquela dança
“dos pulinhos de lado”...
sobre as folhas outonais-hiemais,
não do jamais,
mas dos sempres-primaverais
dos jovens casais
normais.
LA 03/03
Florinda?
Muita carne pro meu trole.
Minha idade demanda
alguém mais alma:
uma trepada mais light.
LA 03/03
— Não sabia que Glória
era sua mulher.
— Pois nunca foi... Aliás,
é tão minha
quanto meu barbeiro é “meu”.
LA 03/03
— Então, você está sugerindo...
— Estou.
— E não toma uma atitude?
— Não tomo.
— Mas não se importa em...
— Repartir?
— Você reparte assim tranqüilo?
— Eu, não! Ela.
— Sou apenas uma formiga obreira
que entra e sai, trabalhando
num mesmo formigueiro.
— Mas tudo assim tão frio?!
— Nem tanto,
são quase 37 graus.
LA 03/03
Dava pra ouvir
sua carne cantar:
A mini-saia bordada
pelas pernas e pígios...
Andar de quem pisa em brasas...
Tostadinha de sol e cremes...
Crocável-crocante —
pronta pra ser consumida.
LA 03/03
Tinha um olhar tão sem-vergonha,
uma boca tão lábio-lingual,
que o porteiro, ao conversar com ela,
de sete a quinze segundos,
a pouco mais de três palmos —
fazia canoagem
perna abaixo...
E ela saía segurando os lábios —
massageada de lisonjas.
LA 03/03
Compassados pelo andar,
seus pígios latejavam —
direita/esquerda, direita/esquerda, direi...
LA 03/03
Seus seios pareciam
duas cabaças
penduradas no arreio:
ploque-ploque-ploque-ploque...
LA 03/03
“Ai, André! Racha, racha-me ao meio!”
Rá!... Rá! ráaaaaaaaaaaaaaaa.... —
era o que ouvia dona Elvira
naquela parede-meia
toda santa noite...
A pobre tinha calafrios,
palpitações, coceiras na garganta,
no couro cabeludo,
cãimbras na perna esquerda...
temores e tremores, sim: tremores
que faziam tinir
o enorme copo de cristal
que ela comprimia
entre o ouvido e a parede...
LA 03/03
As duas irmãs davam tanto,
que não paravam de pé.
LA 03/03
E a pobre da minha prima (?!),
que teve de desquitar
porque o marido não a deixava
vestir a roupa.
LA 03/03
Causo Antigo
Meu bisavô contava
que o coronel e a mulher
faziam filhos ( tiveram dezenove )
de madrugada, sem lua,
troteando (os dois frente a frente):
peladinhos como duas rãs sem a pele...
sobre a mula,
sobre a mula —
em torno do casarão...
em torno do casarão...
do casarão... do casarão...
do casarão... do casa...hahhhhhhhhh!...
E ai de quem risse, ou tossisse,
ou se deixasse ver
ali: atrás das moitas
ou das palmeiras,
ou dos pilares!...
............................................................
Diz que caboclo Jurêncio
mais sua Moreninha
tentaram imitar
( quando os patrões viajaram ).
Mas Vixe Santa!
A mula disparou
e aconteceu aquela entalação
canina
que torna pé e botina
uma só chave inglesa...
.......................................................
E ai-ai-ai!...
Até que o pé fique menor
que o sapato...
pagou-se o pato,
pagou-se o pato
e os pecados de roubar
direitos autorais.
LA 03/03
Pagou o pato!
Mas o comeu quase inteiro,
inclusive a farofa...
Depois viu:
não era pato nada,
mas urubu...
Que é que se vai fazer?
Come-se imaginando
que o que se come é faisão,
do bom:
mas não se paga...
LA 03/03
Gostava mesmo
era de mel de xiranha —
extraído
com a ponta da colher-de-pau
de cabra macho, pai d’égua —
ia buscá-lo
lá no fundo da colmeia
entre favos e ferrões...
Voltava sempre-sempre
com a cara muito inchada,
mas “sastifeita”.
LA 03/03
Relativamente fiel,
passava como.
O marido sabia:
se quisesse conservar o ninho
com os gravetos no lugar,
tinha que ostentar aquele halo
de quem não desconfiava
nem jamais desconfiou.
E o fazia tão bem,
que muitos lhe aproveitavam a fórmula.
LA 03/03
Ao vitupério
prefere-se o elogio.
LA 03/03
Quem faz um elogio
espera três.
Somos carentes.
Carentes-dependentes.
LA 03/03
Ainda que insensato,
melhor o elogio
que seu contrário.
LA 03/03
“Eles são um casal encantador.
Já dormi com os dois”
( Um Dos convidados ).
Tinha o cônjuge, o amante
e também dava em avulso.
LA 03/03
Levava muito a sério
o que dizia o cônjuge,
isto é:
sabia que seu “não”
era “sim”
e que seu “sim”
podia ser os “dois”.
LA 03/03
Disse à amiga que casara
para poder pular cerca
com maestria
e ardores requintados.
LA 03/03
O marido a viu
comendo goiabas
em cima do velho muro
com o vizinho.
Ficou muito preocupado,
pois o muro,
além de muito velho,
era bem alto.
LA 03/03
Botou silicone em cima
e embaixo:
parecia que tava soprando incêndio...
O marido ficou envaidecido:
“Mas tudo isso, Eulália?!”
“Claro, seu bobo, claro!
E pra vocêêêêê...”
Pediu que a mulher desse uma volta
longa, longa... assim... assim.. e:
“Vivi do céu!
Você tá parecendo um B-52
de Tony Blair:
cheiinha de bombas terríveis!...”
Rogou-lhe que se pusesse no sofá:
de costas,
de bruços,
de lado,
de...
.................................................................
E exclamava baixo,
entre baixo e nervoso —
Fantástico: peitunda!..
Fantástico: bochechunda!...
Fantástico: coxózima!
Fantástico: bocelhuda!
.........................................................................
Pôs os dedos das mãos juntos,
somou mais três,
tirou não sei quanto,
e concluiu:
“Diabo! Nada mesmo é perfeito:
por trás, Vivi, por trás não dá mais!...”
LA 03/03
A vizinha de cima
emprestou o marido
pra vizinha de baixo.
Razões:
Trocar-lhe o trinco do quarto.
Repregar-lhe o espaçoso estrado
de sua deliciosa cama,
todinha em jacarandá
( jacarandá da Bahia! )
com lavores em prata.
Montar-lhe o kit de calcinhas,
que ganhara da esposa
do pastor Décio
em gratidão à cobertura
que ela dera ao marido
enquanto a dita do cujando
fora se desestressar
( por quarenta e oito dias )
nas águas massageadoras do Caribe.
..............................................................................
Passados vinte e dois dias,
a vizinha de cima
lembrou que seu marido
tinha sido emprestado
para vizinha de baixo...
Telefonou pra lá.
Espanto: ninguém sabia
do que Cacilda ( chamava-se
assim a vizinha de cima )
falava.
Calma,
Cacilda era sempre calma,
armou-se de sua empregada,
e marcharam para lá.
De fato: até o prédio era outro —
outra fachada, outra cor...
Os donos, um casal de javaneses,
as receberam sorridentes...
Tinham comprado o sobrado
pela Internet
havia já dezoito dias.
LA 03/03
Na vitória ou na derrota,
é sempre a população
que perde todas as guerras —
sempre naquela posição
de Napoleão.
LA 03/03
Atirei um Real pra cima,
e quando bateu no chão
valia menos alguns cents.
LA 03/03
O que é que não faço, amor,
pra manter-me assíduo hóspede
de tua casinhola?
LA 03/03
Pelos seios da mãe Joana,
que alimentaram uma aldeia,
onde ponho, amor, teus peitos
que me estão atrapalhando?
LA 03/03
Não espanta ele não, Rosinha!
Pra cada vez que o safado
arrastar asas pro teu lado
faço dois galos cantarem
no centro de sua calva.
LA 03/03
Se o patrão te cantar, amor,
dá pra ele, dá pra ele —
um sorriso de donzela
e um joelhaço
de china velha de guerra.
LA 03/03
Depois das nove, no cortiço,
pererecas coaxavam
sem o incômodo
de nenhum vagalume.
LA 03/03
A Cia. Bush & Blair
quer petróleo —
do bom e do tomado.
LA 04/03
Vamos lá, meu amor:
arregacemos as mangas,
e vamos trabalhar.
LA 04/04
Amavam-se perdidamente.
Hoje, amam odiar-se.
LA 04/04
Assim, Teresa, assim...
Ergue mais,
mais pra direita,
ergue só mais um pouco...
Assim, assim... entrou!
Um quadro na parede
precisa estar no prumo.
LA 04/04
Ali, depois da esquina,
talvez a gente encontre
o que nunca buscou,
e sossegue —
sossegue no desassossego,
que é a vida vista
com riso e maturidade —
mas não necessariamente
muito maduramente.
LA 04/04
Não é lá essas coisas
como marido...
Mas tem uma qualidade
que recompensa tudo:
sabe não ver.
LA 04/04
Saddam é mau,
Bush é mau.
Nós? Só confiamos em Alá
( De um sacerdote iraquiano ).
O homem é um animal
— principalmente — tolo.
LA 04/04
Para se estar seguro —
só indo para o céu...
Se bem que, morrer por morrer,
a gente até prefere cá estar.
LA 04/04
Machado nos ensinou
só um terço do que sabia
sobre as mulheres.
Não nos seria bom
sabermos os três terços —
que ele fingiu
não dizer nas entrelinhas.
LA 04/04
Pobres mulheres!
Machado lhes tirava
a camisola da alma...
e a alma
de sua carne musculosa.
LA 04/04
Era belo
de arrepiar
ver-lhe cair a camisola...
LA 04/04
Dava-lhe uma coriza farta
quando ela se ajoelhava nua,
a rezar de mãos postas
ao dele pelado
esperando pelas bênçãos.
LA 04/04
Mais uma vez outono.
Cai a folha, cai a vida...
Só não cai
esta vontade de te amar.
LA 04/04
Outono, a chuva fina...
O vinho, o pão,
a sopa fumegando...
Daqui a pouco, amor,
vamos prensar as uvas.
LA 04/04
Outono-inverno.
A cama grossa de cobertas...
As lembranças se somando
aos prazeres vindimados,
aos sonhos ordenhados...
Sim: leite e mel... É farta,
a terra do amor é farta.
LA 04/04
Chuva oblíqua na vidraça...
O amor ulula em surdina
na morna sala...
O desejo crepita
e reverbera...
Cheias as taças...
LA 04/04
Prensa as tuas uvas,
faze o teu vinho.
Quando a tarde vier
fria e sozinha —
chama as lembranças
pra te aquecer.
LA 04/04
Nada é mais belo,
nem mais eterno
que a carne em flor
das raparigas.
Colhe-as com as tuas mãos
feitas de agora —
antes que o vento
seque o suor
da sua pele.
LA 04/04
Bem me quer,
mal me quer,
bem me...
mal me... contanto
que me queira.
LA 04/04
Se o vento, amor, lhe erguer a saia,
conte para o seu pai
que foi o vento que fez isso.
Mas se não for,
não for o vento —
não conte nada não,
amor.
LA 04/04
Se mal não te pergunte,
pra te sentires melhor
precisas ver alguém pior?
LA 04/04
Era uma mulher das muito brabas.
Vivia derrubando a casa.
O farmacêutico dizia
que tinha a xiranha tão ácida,
que cortava camisinhas
e quem por lá andasse.
LA 04/04
Cantem os galos
onde quiserem —
contanto que seu canto
não ecoe na nossa testa.
LA 04/04
Era um cara tão sem graça,
tão sem graça
que a esposa nem mais lembrava
ter se casado com ele.
LA 04/04
A esperança é um pau de sebo
em que temos de subir.
LA 04/04
Por favor, não bata a porta, —
nosso pobrezinho amor
tá dodói.
LA 04/04
Morrem. As coisas morrem
muitas vezes
antes de se finarem.
LA 04/04
O beijo fê-la pôr-se
estendida sobre a cama.
O mais
foi mais que fácil.
E bom, muito bom —
apesar de fácil.
LA 04/04
Os excluídos são eliminados
desde bem antes de nascerem.
LA 04/04
Às vezes um peixe plebeu
consegue passar pela rede...
Mas é raro.
LA 04/04
Amo os homens,
mas não gosto deles.
LA 04/04
Santidade é covardia,
quando alardeada
entre os não-atletas da alma.
LA 04/04
O homem é um animal
— principalmente — arrogante.
LA 04/04
Não deixes o mal entrar
em tua casa
disfarçado de teus amigos.
LA 04/04
Se te é bom
e ruim para ninguém,
vai em frente.
LA 04/04
Tem uma hora
que a vida cobra:
aí temos de pagar.
LA 04/04
Bom é não dever
para a vida.
LA 04/04
Fazemos e esquecemos,
um dia a vida nos lembra.
LA 04/04
A pneumonia asiática
dá o tapa na bunda
do século 21.
LA 04/04
Bons tempos!
Quebrava a lâmpada do poste
pra namorar em paz.
LA 04/04
Bons tempos!
A “televisão” de casa
era o namoro de Ritinha
com o Toninho mecânico,
moço engenhoso,
criativo como o Saci:
fazia do portão
um vaivém de gemidos.
LA 04/04
Bons tempos!
Duas vezes por semana,
aquele padre magrelo
vinha tomar café
com o casal mais elegante
( diziam minhas tias )
da cidade —
o marido saía
a passos lentos-lentos
para ir buscar o pão
na padaria lá, bem lá de cima —
cujo pão era especial.
LA 04/04
Bons tempos!
Quando meu pai
“entrava de madrugada”
( era ferroviário ),
vinha o “chamador”:
quando ouvia:
Tá bom-m-m-m-m!... Já tô acordado...
Bons tempos!
Joaninha tomava banho
( das 4-e-15 às broncas da mãe:
Vem pra dentro, menina,
senão cê morre!
Menina era afetivo:
já tinha as coisas,
todas as coisas de mulher! ) —
nuinha nuinha,
ensaboando-se,
gingando, chelicando,
abaixando-se com as pernas esticadas...
ou dobradas, mas abertas... fingindo,
fingindo não ser vista:
no tanque de lavar roupas.
E nós ali, dois ou três moleques —
atrás da cerca de bambu:
suando frio e com febre —
com a mão muito ocupada.
LA 04/04
Bons tempos!
Seu Apolinário,
um pedacinho de gente,
pegou de uma pequeníssima garrucha
e foi matar o seu enorme porco:
E pá! na testa do bicho.
O bitelo olhou-o com desprezo,
e continuou comendo.
O hominho pregou-lhe outra 22:
desta vez bala longa!
E o bichão nem tchum!
Continuou bem calmo mastigando
legumes, cereais numa sopa grossa...
Sua mulher disse um palavrão
e veio lá da cozinha
com um facãozinho que tirava o couro do ar...
Segurou a lâmina entre os dentes,
pulou pra dentro do chiqueiro,
pegou o gigante pelas orelhas
e com uma das pernas desequilibrou-o
jogando-o ao chão
já com o ponto “x” do pescoço
cortado.
O bichinho entregou as carnes
sem frescuras e sem um pio.
A vizinhança toda comeu carne.
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Bons tempos!
do que sonhou Mário Lago.
E as Amélias eram tudo:
principalmente fiéis.
LA 04/04
Bons tempos!
Amarravam-se cachorros com lingüiça,
e o bicho ficava ali:
faminto e preso.
Meu vizinho de baixo
( ouvi um dia pelos vãos dos dentes
de minha mãe pra minha tia
que meu vizinho era um cachorro assim... )
era, sim, um au-au assim.
Passei a olhá-lo demoradamente:
assoviando a Valsa Vienense
como moleque...
mas de olho nele como um espião.
Só tive dó dele
porque me imaginei em seu lugar.
LA 04/04
Bons tempos!
Rubuão segurava cabra
para os amigos ordenharem.
E do leite que sobrava,
ele fazia doce
e a esposa
mandava para eles
com o bilhete:
comam o que sobrou... Agora,
de maneira virtual.
LA 04/04
Bons tempos!
A sogra veio vê-los,
e viram, pela televisão,
que a casa dela desabara!
Ficou morando com eles.
E quando a filha dela
passou desta para melhor,
se casaram ( ela e o ex-genro ) —
e ela, traquejada, o ensinou
a ser feliz
na infelicidade.
Sim: na infelicidade
eram felizes pra burro.
LA 04/04
Bons tempos!
Quando disseram que o mundo ia acabar,
Habib
comprou oito terrenos pelo preço de um
e uma igreja em meio a eles
com dizimistas generosos —
comprou-os de um pastor
que sonhara o fim do mundo
para dali a três dias...
Como não se cumpriram
as profecias,
o pastor os comprou de volta
por cinco vezes mais.
Riram bastante,
mas nenhum dos dois senhores
se sentiu envergonhado,
claro que não.
LA 04/0
Bons tempos!
A gente trabalhava
quase apenas na cama.
Uma atividade pai-d’égua
e de muita fungação.
LA 04/04
Só fazemos ironia
em relação ao que supomos
não ser irônico a nós.
LA 04/04