FRASES 4

 

LAERTE ANTONIO

 

 

Deus-Pai,

o Senhor usa fios tão fortes!

Costuras tão inapelável

nosso caminho

entre o destino e a nossa vontade,

Deus-pai!

LA 05/02

 

Cheque sem fundo

é que nem camisinha,

só desenrola no pau —

dizia irmã Laurinda

sacudindo um pré sem prestígio.

LA 05/02

 

Não, as cartas não mentem jamais,

apenas enganam sempre.

Toda felicidade

está onde não a pusemos —

em dias que fingimos viver.

LA 05/02

 

Ser feliz ou não

depende mais de acreditar

num sim ou não

do que ser ou não ser.

LA 05/02

 

A água corre atrás de si mesma.

Quando a imitamos,

não temos tempo para outra coisa

que não seja ir virando a clepsidra

sobre a pedra que é tão dura

quanto a verdade que nos mentimos.

LA 05/02

 

Quando ardemos no centro

do nosso heroísmo,

então achamos que isto ou aquilo

vale a pena.

Quando a chama em nós desfalece,

aí entendemos que o anti-herói

é o irmão mais velho do auto-engano.

LA 05/02

 

 

 

Se você não se deixa explorar,

o mundo não lhe dá os seus prazeres.

Ainda assim,

ele mais quer do que dá.

O interesse está ligado

não só ao que se nega,

como ao real desinteresse.

LA 05/02

 

O Apocalipse fascina a muitos e muitos.

A escatologia tem o seu vinho

e as suas delícias.

O mistério tem uma mudez sedutora

e calmante.

E o homem mais ama

aquilo que menos entende.

Esperar diuturnamente o fim

é um modo talvez de ter forças

para recomeçar a cada dia.

LA 05/02

 

O modo mais inteligente de se fazer a guerra

é usar das armas que o inimigo

não sabe que possui.

LA 05/02

 

Amar além do que pode o amor

é o que fazem os apaixonados.

Lá um pouco de febre

ajuda a matar o vírus

da pequenez.

LA 05/02

 

Ri melhor quem come o bolo

e palita os dentes com o vinho.

LA 05/02

 

Apesar da abundância

de motéis,

aqui na beira do Espraiado

ainda coaxam

adoráveis pererecas.

LA 05/02

 

Deus te abençoe, meu inimigo,

e o Diabo te carregue!

LA 05/02

 

Tenho total confiança

em meus amigos —

sobretudo depois que passam

desta para melhor.

LA 05/02

 

Se amanhã não nascer,

a noite está muito boa.

As nossas preferências,

não raro, são bem tolinhas.

LA 05/02

 

Se ela não vier,

pouco me importa:

vou até ela.

LA 05/02

 

Dores de corno?

Só as tem

quem é curioso.

LA 05/02

 

Olho não viu,

nada existiu.

Pois pergunte ao tiziu,

que é mestre

em dar os seus pulinhos.

LA 05/02

 

Os normais

chamam os outros de loucos.

Os loucos

os chamam de anormais.

Até que enfim

chegaram a um consenso.

LA 05/02

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

... aí um dia as palavras

se estilhaçam,

sem mais nem menos

se estilhaçam —

e o amor cai

ferido de morte,

ou apenas ferido,

mas ferido: atingido —

para sempre atingido.

LA 05/02

 

Mágoas e mágoas e mágoas...

formando um rio no desfiladeiro...

Quem ousará passar?

Geralmente é mais fácil

se deixar afogar.

LA 05/02

 

Quem lançará,

não a primeira pedra,

mas a primeira

palavra de perdão?

Muito difícil, —

Ego não gosta disto não.

LA 05/02

 

Isto ou aquilo,

isto e aquilo,

isto-aquilo.

Haja setas de Páris

para tantos Aquiles!

LA 05/02

 

Não raro a sombra

assusta mais

que o corpo que a projeta.

Sim: temos muito medo

de assombrações,

se bem vivemos dizendo

que não existem.

LA 05/02

 

O amor

não pode ser de verdade.

Se for

vira mentira.

LA 05/02

 

Quando a bobeira é muita

vira coisa séria,

e... normal.

LA 05/02

 

Mulher boa e bonita

os amigos gostam,

os inimigos amam.

Possuí-las é bom,

tê-las —

só pra quem não liga...

LA 05/02

 

Por pouco, nos matamos.

Por muito, nem ligamos.

LA 05/02

 

Degustaste mesmo, Clódio,

o que César presumia

ser sua exclusividade?

LA 05/02

 

Quando chegou a sua hora

de se encontrar com Jesus,

o crente cê-dê-efe orou:

Senhor, Pai Santo, Único Rei,

Deus de Amor e Bondade,

muda, meu Pai,

o fuso...

muda o fuso desta hora!!!

LA 05/02

 

O rio corre atrás de si mesmo

pra avisar que ali adiante

tem

       uma

               ca...

                       cho...

                                ei...

                                      ra...

                                            e...

                                                 nor...

 

LA 05/02

 

 

Se nem César escapou, André,

por que pretendes só tua

“tua” buchinha de banhos?

LA 05/02

 

Quando demais,

o amor vira ódio.

LA 05/02

 

A honestidade, o compromisso

trazem, sim, felicidade.

LA 05/02

 

A mentira quando muita

vira verdade.

LA 05/02

 

O povo unido

sempre será vencido.

LA 05/02

 

Todo rio, por mais “esperto”,

mais gigantesco, mais terrível —

acaba por se afogar...

LA 05/02

 

O sofrimento, quando demais,

vira coragem.

LA 05/02

 

Se não desconfiarmos de nós,

teremos sempre razão.

LA 05/02

 

Mais velha que andar a pé,

a mentira convive bem

com as meias-verdades

que o mundo tem como verdade.

LA 05/02

 

Quem ri por último

ri por último.

LA 05/02

 

 

 

 

Quem madruga

agrada ao administrador —

que adora dormir mais devagar.

LA 05/02

 

Não fosse o riso,

qual seria o saldo

de tudo?

LA 05/02

 

Sem humor

não há amor,

nem relações humanas —

a não ser com muito cinismo.

LA 05/02

 

À medida que envelheço,

me dou melhor comigo,

e consigo ir me perdoando

              por esquecer tão devagar

o que me dói muito lembrar.

LA 05/02

 

Um dia trocarei

as lembranças que doem

pelo esquecimento

do esquecimento delas.

LA 05/02

 

O que mais dói no palhaço

é a consciência que ele tem

atrás do riso que lhe exigem.

LA 05/02

 

Você faz, desfaz, refaz...

depois se vê enrodilhado

pelos seus feitos.

LA 05/02

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na doença,

o primeiro passo

é ver-se doente.

O segundo

é buscar ajuda.

O terceiro

é topar a briga

para recuperar-se.

LA 05/02

 

Paris é sonho,

é pensamento.

Será sempre sonho —

não-obstante

um sonho re-sonhado.

Será sempre pensamento

um pensamento repensado

e a gestação

de sua transcendência.

Sim: Paris é um brilho,

um brilho mágico em nós.

LA 0/5 /02

 

Mas onde fica Deus

nessa religiosidade

lunático-priápica?

LA 05/02

 

O homem da esperança?

Um ser capaz de amor e caridade.

LA 0/5/02

 

Olha, pai: três aviões...

Será que vão jogar bombas

ou pacotes de comida?

LA 05/02

 

Os homens lutarão pela paz.

Quando pensarem que a têm nas mãos,

verão que não: era um míssil

que acabará com tudo.

LA 05/02

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A vida do outro

é sempre feliz para nós.

Por sua vez, o outro

nos inveja.

Não acreditarmos nisso

é o combustível

do desencontro

e toda a força

do auto-engano.

Se não formos em nós

o que buscamos,

por fora, não o seremos.

LA 05/02

 

    Feliz Ano Novo!

    Mas não estamos em abril?

    Sim: primeiro de abril.

      LA 05/02

 

A desonestidade

parece bom negócio.

Assim como levar a doce amada

( ou amado )

pra morar com a gente.

LA 05/02

 

Antes só que muito sozinho.

LA 05/02

 

Se um amante diz não é não,

uai!

E o vizinho ou a vizinha

gosta.

LA 05/02

 

O quanto perdi não sei.

O quanto ganhei não sei.

Mas entre perdas e ganhos

há um lucro:

saber que muita vez

cada um desses dois

viram os seus opostos.

LA 05/02

 

 

 

 

Não poucas vezes,

a vida dá translógica.

A razão dá lógica,

quando não senta com Deus

e arrazoa.

LA 05/02

 

O coração é um profeta,

mas o deserto

não é o seu melhor amigo...

A não ser quando come do seu mel

e dos seus gafanhotos —

e os metaboliza

em sua transcendência.

LA 05/02

 

Amor é como caqui.

Embora bem vermelho,

pode dar nó no paladar.

LA 05/02

 

Estou de mala pronta.

É só o trem chegar,

embarco.

LA 06/02

 

Um coaxar mambembe...

e não eram sapos.

LA 07/02

 

Nem só disso vive o homem,

mas daquilo e aquilo: a quilos.

LA 07/02

 

Histórias como esta

mamãe já me contava,

mas como bom neném

jamais lhe acreditava.

LA 07/02

 

 

 

 

Chega uma hora que é tarde,

e não adianta chorar,

que só será manhã

quando passar a noite.

LA 07/02

 

Xiranha chorosa

só vale meia.

LA 07/02

 

Sanduíche de mortadela

fê-lo prefeito,

governador

e presidente.

LA 07/02

 

No palanque,

quem fosse mais mambembe

ganhava a eleição.

LA 07/02

 

Tinha seis anos

quando fiquei pasmo

ao ver aquele homem

( de bigode de piaçava )

ser carregado e beijado

por todo aquele espaço,

que se chamava

Largo da Boa Morte.

LA 07/02

 

O homem desenvolveu

uma linguagem pernóstica

e cantante,

que fisgava

com os anzóis da mentira

peixes pequenos e grandes.

LA 07/02

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Viveur como quase todos, —

degustador de bons molhos,

de vinhos

e de fêmeas,

renunciou à Presidência

sem opor-lhe sequer um fio

de seu  chaplinesco bigode

ou mesmo de seu pentelho.

LA 07/02

 

Ela fingiu não me ver...

Claro que me senti envaidecido.

LA 07/02

 

Sempre o mesmo discurso:

mais impostos mais impostos

e o dinheiro sempre curto...

Fraude explica.

LA 07/02

 

Para intelectual dodói —

elogios.

Sara tão na hora,

que faz dó.

LA 07/02

 

Não, não faça ruídos!...

Seja feliz bem baixinho,

senão a inveja escuta.

LA 07/02

 

O ácool faz confessar

que a vida dói.

E a dor de todos

é sempre a mesma:

fome de afeto.

LA 07/02

 

Estrepou seus dezoito anos —

fez um nenê.

Tesão resolvida

em hora e lugar errados.

LA 07/02

 

A gente se detesta,

mas se ama.

LA 05/02

 

Existimos, nos movemos

e vivemos nos hábitos:

ingeridos pela cintura

e metabolizados

lá bem antes dos avoengos.

LA 05/02

 

Ver-se pouco

garante longa amizade.

LA 11/02

 

Flores — muito cheiradas —

murcham e morrem.

LA 11/02

 

Encabei minha enxada

e vendi meu violão.

O violão,

pra comprar um bem melhor.

A enxada,

pro meu vizinho

capinar-me o quintal.

LA 11/02

 

 

Mulher brava,

xiranha ácida.

LA 11/02

 

Desconfiar

é ( quase sempre )

ter certeza.

LA 11/02

 

O amor é um vírus

que não se deixa isolar.

LA 11/02

 

Fazia omeletes

com saltos-10.

LA 11/02

 

Manga e xandanga

têm que ter fiapos.

LA 11/02

 

Abrir a porta ao amigo

dá problema de DNA.

LA 11/02

 

Patroa temperamental,

xereca ressentida:

em geral como a lima —

aguada e de um pós-amargo.

LA 11/02

 

A esposa lhe faz lembrar

o canto do bem-te-vi —

que diz que viu,

mas viu nada.

Sim, André é assim:

diz que viu

mas depois é convencido

( pela própria esposa e sogra )

de que era o vento empurrando

para dentro e para fora —

a cortina...

LA 11/02

 

Quando morreu Antônio,

sua esposa sentiu tanto,

que seu psicólogo achou bom

ela se casasse o quanto antes.

Sem vacilar,

casou com esse tal psicólogo —

que por acaso era irmão

do seu finado marido.

LA 11/02

 

Sem sujeira não há fungos,

nem fungadas.

LA 11/02

 

Há amantes

que depois da trepada

querem levar a lenha

da árvore.

LA 11/02

 

 

 

 

 

Segurou cabra

( por mais de vinte anos )

para os amigos

fazerem doce de leite.

LA 11/02

 

Enquanto viveu,

a mãe de André lhe lembrava:

Deguste, coma, farte-se —

mas jamais leve

o que sobrar.

LA 111/02

 

 Engraçado...

A esposa lhe deu um beijo

que lhe lembrou o Baixinho —

o farmacêutico Lomônaco.

LA 11/02

 

Quando a mulher o alicatava

( após seu doutorado

em xiranhagem ) —

ele gritava tanto

para chover,

que o vizinho senil

( e cheio de aparelhos

pra respirar )

pedia para a enfermeira

que  — pelo amor de Deus —

o masturbasse.       

LA 11/02

 

As flores brancas

têm medo de se sujar...

Algumas pessoas lhes inculcaram

que são puras... que são...

Enfim, passam-lhes enfermidades

que trazem do avesso

em sua espiritualidade:

sim, chamam-se espirituais,

e às flores —

de puras.

LA 11/02

 

 

 

 

A mulher de André disse a Pedro

( amicíssimo do marido )

que aqueles cornos

apontando para cima,

como torres de igrejas...

não ornavam para ele —

pois era brevilíneo:

Caíra-lhe melhor

tê-los voltados para baixo...

 

Ao que lhe responde Pedro:

Sim, Clementina,

os meus eram assim:

para baixo... esses

eram do teu cônjuge André...

 

Pois é isso ( lhe diz Clementina )

que lhe tento explicar:

André é longelíneo —

pra ele vão muito bem

tais chifres finos

e em forma de antenas místicas...

tentando captar conversas de ETs.

Todo chifre, amigo Pedro,

é personal e identitário.

LA 11/02

 

Conheci espiritualistas

que nem tinham espírito.

LA 12/02

 

Conheci muitos gurus

que amavam mais a carniça

do mundo

que os próprios urubus.

LA 12/02

 

Um texano demonizado

vai rachar o mundo em quatro.

LA 12/02

 

A intimidade, quando muita,

vira ódio:

há um jogo de espelhos

não menos que terrível.

LA 12/02

 

A calúnia,

a maldade gratuita —

o homem as paga

na carne de seu corpo.

LA 12/02

 

Enquanto o combustível

for um processo químico,

o homem só terá asas

metafóricas.

Quando for químico-mental —

o homem será um viajor galáctico.

LA 12/02

 

“Natal sem fome”—

uma passada ( espero )

para “Ano sem fome”.

LA 12/02

 

Ser neutro neste mundo,

só no caluda (!) —

de bico bem fechado.

LA 12/02

 

A mudez do mundo

é culpa

exclusivamente nossa.

LA 01/03

 

Desce ao fundo de ti mesmo,

bem lá no fundo —

mas leva o fio de Ariadne...

que te trará de volta

tão-logo matares o Minotauro

que se alimenta de tua vida.

LA 01/03

 

Um rastro verde tagarela no ar —

verde-voando arisco sobre as matas:

as inquietas e gárrulas maitacas

são uma trincha verde no ar a garrular...

LA 01/03

 

Mandou crisântemos pra sogra, —

com as hastes bem compridas.

LA 01/03

 

O Diabo é o padrasto do universo:

dele muitos se têm valido

para justificar suas loucuras.

LA 01/03

 

O amor conjuga-se no subjuntivo,

e é transitivo.

Já o transar se dá no indicativo,

e em geral é intransitivo.

LA 01/03

 

Para que surja a pérola

é necessário que a vida

machuque quem a produz...

LA 01/03

 

Não pregues no deserto —

pregos não firmam nas areias.

              LA 01/03

 

Disse à filha que a mãe o traía...

Respondeu-lhe que já passa da hora

de toda a humanidade

aprender a repartir

suas infidelidades.

LA 01/03

 

Nossos fantasmas

devem ser identificados.

Assim podemos sofrê-los

com vocativos de intimidade

e mais naturalidade.

LA 01/03

 

Quando jogam

com o teu amor-próprio —

não deves tê-lo.

LA 01/03

 

O amor pelo singular,

o desdém pelo geral —

eis a polpa da ficção.

LA 01/03

 

Há que aprender

a brincar.

LA 01/03

 

Só leve a sério

quando o riso

for pra valer.

LA 01/03

 

Desaforo morrer magoado,

morrer com ódio.

Ninguém, nem nada

vale isso.

LA 01/03

 

Não discuta. Diga ao outro

que ele está certo.

LA 01/03

 

Perdoa sempre,

mesmo sem saber o que se passa...

LA 01/03

 

O homem ou a mulher?

A mulher, é claro.

LA 01/03

 

Azul ou vermelho?

Depende do ângulo.

L 01/03

 

Nunca mais!

Só amanhã.

LA 01/03

 

Jamais a pegaram

com a rolha na botija.

Mas de seus cinco filhos,

três tinham a cara de

dó-ré-mi-fá

do professor de piano...

Quando André ( o pai-padrasto ) estrilou,

Leônidas, o farmacêutico da esquina

( um meia-foda: um metro e meio de carne,

mas com vários andares de finório ),

lhe explicou: Isto, caro André,

um biocientista suíço,

chamado Yeux-Vifs,

descobriu e catalogou com o nome

de Genética da Contigüidade...

Isto prova, meu amigo,

que não somos apenas como os outros,

mas, sim: também os outros...

Além do que, lá nas hipocôndrias...

— Chega, seu Leônidas!

Se o senhor falou,

é porque é.

.............................................................................................

— Toma, André, toma uma do meu consumo:

o absinto adoça as farpas da vida...

LA 01/03

 

Sou feminista,

onanista

e machista-alpinista:

adoro escalar mulheres.

Sim: elas são o Himalaia

do nosso bendito tesão.

LA 01/03

 

Como dizia Maxito Pingolilim:

Xiranha é bom,

o duro é a dona dela.

LA 01/03

 

Seus seios —

duas morangas

saltando para as mãos

do príncipe, montado

em sua tropa —

uma Ferrari.

LA 02/03

 

Antes de voltar do exterior

( onde ficou por dois anos

cavucando pra família ),

fez uma plástica

no pingolim

pra retirar-lhe aquele ar,

fingido quanto cínico,

de “vaidade das vaidades”...

LA 02/03

 

 

 

 

 

Noite sim, noite não,

o escravo se alforriava,

e servia a sua dona

pelo secreto cavodá.

LA 02/03

 

Vinte anos mais moça,

queria ver-lhe a caveira

pra meter a mão na grana.

Mas o diabo do homem,

além dela,

ainda enterrou — legalmente —

mais duas.

LA 02/03

 

Dava só para o marido —

aos sábados.

LA 02/03

 

Sempre respeitou muito o cônjuge:

punha a aliança

bem lá no fundo da bolsa.

LA 02/03

 

Visitava o amigo

quando ele estava trabalhando.

Mas a esposa,

sabendo que o marido o detestava,

poupara-o de saber

por dezessete anos e três meses,

isto é: até que ele se fosse desta

para melhor.

LA 02/03

 

Citava sempre o ditado:

O que olhos não vêem....

Então o vizinho ( solteirão )

olhava-o bem olho no olho —

pra mostrar que

Quem não deve não teme.

LA 02/03

 

Se o amor fosse pra sempre,

perderia todo o charme

de ter orgasmos eternos.

LA 02/03

 

Gostava tanto de Graziela,

amava-a em tão altas escadarias,

tão altas quanto fluidas,

que não podia envilecê-la...

fazendo amor com ela.

Mas ela compreendia:

não ligava não.

Às segundas, quartas e sábados,

padre Inácio a confessava.

LA 02/03

 

Gostava tanto de Mário,

que ele nem lhe ligava.

Só quando ela se casou,

é que Mário começou

a ver-lhe os dotes, as prendas...

e o celestial de seus gemidos.

Aí a mãe envenenou Eurico,

de quem jamais gostou.

E Mário a jogou no rio,

por saber que ela o preferia.

Mas foram muito felizes —

não para sempre,

que casamento não é de ferro

nem madeira-de-lei.

LA 02/03

 

Quando Pedro a livrou

do estorvo da virgindade,

ficaram tão felizes,

que nunca mais fizeram sexo —

sempre com medo

de na próxima vez

não ser assim tão loucamente bom —

como conversas com a sogra.

LA 02/03

 

Disse à mulher que precisava

de uma bem urgentinha,

uma bem rapidinha:

tava que tava! —

ordenhando as pedras...

A consorte lhe disse

que isso não era problema —

acabara de contratar,

vinda do Sul,

uma china lindona

para fazer-lhe as vezes

( dela )

quando tivesse aquelas

malditas dores de cabeça...

Apresentou-lhe a china:

Aí, benzinho, hoje é com ela.

André gostou tanto,

que quando a esposa

lhe insinuava estar bem,

respondia:

Que esperança, amorzinho!

Não quero que aquela praga

da tua dor de cabeça

te volte, minha amiga,

nunca dos núncaras mais.

LA 02/03

 

As idéias desidratam

e, quase sempre, viram múmias.

LA 02/03

 

Da Vinci:

o antes e o depois

de si mesmo.

LA 02/03

 

Ela prensava uvas

fungando e rindo.

Noite sim, noite não,

a gente fazia vinho.

LA 02/03

 

Um sentimento gostoso

de fim de mundo

por vezes nos consola...

LA 02/03

 

Amava tanto a esposa,

que nem fazia amor com ela.

Chamava sempre um amigo —

e ficava olhando: pasmo,

chorando,

maravilhado.

LA 02/03

 

 

 

Mandaram-no procurar

um psicanalista.

Disse que ele e a esposa

o eram.

LA 02/03

 

A mãe lhe avisava:

Não case, André, não case.

Casar com mulher bonita

é segurar cabra, homem!

Casou.

LA 02/03

 

Encontraram-se

sessenta e dois anos depois.

Rolaram lágrimas,

floriram risos,

e mais.. mais risos...

só risos.

LA 02/03

 

Não se venda nunca, amiga.

Dá de graça,

que o cara dá gorjeta.

LA/02/03

 

Agarrou-se na bunda de Marina

e assim atravessou todo o oceano.

LA 02/03

 

Tem um sorriso tão bonito,

pernas tão aerodinâmicas,

seios tão ameaçadores,

glu...

e vejam como é a vida

( dizia seu vizinho ):

Teve a graça

de casar com um cientista

dos melhores:

vive na Antártida

( só vem de três em três anos ).

Estuda a cópula

do urso branco.

LA 02/03

 

 

 

Se gostas de exclusividade,

vais precisar de um analista.

LA 02/03

 

Xiranha com macarronada

e carne de carneiro

antigamente dava congestão.

LA 02/03

 

Pra não pegar paixão,

André usava camisinha

no coração.

LA 02/03

 

Mulher bonita dá problema.

Os amigos querem comer —

com pena e tudo.

LA 02/03

 

 

Mulher bonita é chifre

em cabeça de jegue.

LA 02/03

 

Se a bonita é coceira

por todo o couro cabeludo,

a feia

nem mexe com a careca.

LA 02/03

 

A bonita

tu a comes em consórcio.

A feia

tu a comes sozinho,

mas com a fome por tabela.

LA 02/03

 

Claro que sim:

Leite com manga mata,

se ingeridos com arsênico.

LA 02/03

 

Frei Inácio era hortelão,

mas só comia carne fresca.

LA 02/03

 

 

Quem sabe um dia

a gente até consegue

não querer conseguir.

LA 02/03

 

Bush é bem mais perigoso

para a paz mundial

do que Saddam Hussein.

LA 02/03

 

Pelo volume da bosta,

cor, consistência, odores...

Joarês distinguia

se era de homem ou de mulher.

LA 02/03

 

Gostava tanto da dela,

que precisava pensar nela

quando vestia outra peruca.

LA 02/03

 

Demorou oito dias

para esquecer o ex-cônjuge.

Mas esqueceu!

LA 02/03

 

Te vejo um dia,

me dizia Maria,

mas nunca via...

    Não via ou não queria?...

    Sei lá, deixa a Maria!

LA 02/03

 

Um dia eu e Glória

fizemos chover

numa aula de história.

( Não conte isso pra ninguém.

Glória taí, casada,

no seu sexto casamento.)

LA 02/03

 

 

 

 

 

 

 

Se você não come, não dá,

não fuma, não cheira, não bebe,

não pinta, não toca, não joga, não lê, não escreve,

não ama, não gosta, não odeia, não ora, não xinga,

não...

Entendo, cara, entendo a tua situação —

aí dentro deste túmulo sujo.

LA 02/03

 

Fez uma ampulheta

com as cinzas do cônjuge.

Quando ia fazer amor,

cronometrava a atividade

olhando com prazer

para aquele fluir funéreo

sobre o criado-mudo:

velhos orgasmos cinéreos...

E dizem que a trepante

multiplicava orgasmos

gorjeando além da morte

tal como a Fênix.

LA 02/03

 

Uma estrela caiu,

caiu tão alto,

que só Deus viu.

LA 02/03

 

Visitou-me ontem,

depois de duas décadas

sem nos vermos.

Um falava aramaico,

outro francês...

Ainda bem que ambos

sabíamos os dois idiomas.

Ainda assim, tempo e distância

fazem toda a diferença.

LA 02/03

 

Entre o Eu e o Tu

moram todos os problemas.

LA 02/03

 

 

 

 

 

Mr. Bush & Mr. Blair

subestimaram.

Subestimaram o discernimento

do ser humano de hoje.

 

O coração sabe o caminho.

LA 02/03

 

Respeitar as diferenças

faz toda a diferença.

LA 02/03

 

Seus seios —

meigos-selvagens,

dois preás...

farejando para cima...

LA 02/03

 

Às vezes não tem jeito,

mas você tenta

e ajuda tudo a desabar...

Parabéns! Teve coragem.

LA 02/03

 

Crianças, —

sabemos tudo.

Moços, —

sabemos e podemos.

Velhos, —

sabemos: nada podemos.

LA 02/03

 

A amada voltará.

Sem dúvida, voltará:

esqueceu o dinheiro do aluguel.

LA 02/03

 

Quanto mais conheço os homens

mais  me vejo igual a eles...

Sim: mesmo naquilo

que mais detesto neles.

LA 02/03

 

Não entendo as mulheres.

Se as entendesse,

talvez não as pudesse amar.

LA 02/03

 

Viver bem com o cônjuge

deve ser o maior tédio.

LA 02/03

 

A vida só não será tédio

quando for outra coisa

mais que isso-agora.

LA 02/03

 

Sem tesão,

tudo é morto.

Com tesão,

mesmo a morte

dá vontade de amar.

LA 02/03

 

Quer tentar, tenta.

Mas quando a coisa acaba,

acaba.

LA 02/03

 

Deixar morrer

o que já estava morto

( mas jantares ressuscitaram... )

é não adiar o inevitável.

LA 02/03

 

Se queres ir,

vai.

Mas vai agora,

que depois será

não fui.

LA 02/03

 

Mudar é bem difícil.

Muitos o desejam

porque outros

não gostam deles assim.

LA 02/03

 

Se mudar te é sacrifício,

agradece a Deus

por ter-te feito assim.

LA 02/03

 

 

Sem mulher, só depois

que a terra comer tudo.

LA 02/03

 

Sentir-me-ia um cretino

tivesse conhecido

só a “minha” mulher.

LA 02/03

 

Tenho uma queda por aqueles

que a sociedade exclui

com só chamá-los de loucos,

perto de cuja inteligência

há os que sentem mal-estar —

porque invejosos e pequenos.

LA 02/03

 

Gosto dos loucos,

gosto dos excluídos —

sem que eles saibam disso.

LA 02/03

 

 

Bem semelhante ao mar,

a gente marulha

e tem que andar

por sobre as próprias águas —

se não for homem

de fé pequena.

LA 02/03

 

Vão por aí?

Deus abençoe!

Eu? Fico.

Vou-me por dentro

do sonho em mim,

onde chegar

é não partir.

LA 02/03

 

A alegria é gratuita.

Sim: graça, dom de Deus —

não precisa de motivo,

por isso é força:

a alegria do Senhor

é a nossa força.

LA 02/03

 

Muitos amigos

acenderam ( charmosamente )

o seu charuto

nos restos dos meus incêndios.

LA 02/03

 

Contei-lhe quase todas as misérias

de minha vida,

e eu me deliciava em ver-lhe o gozo

de ouvi-las.

LA 0/03

 

Naqueles tempos

eu era muito só,

e tinha um amigo

que me visitava amiúde.

Só lhe contava os meus fracassos,

meus ridículos —

para que ele voltasse sempre.

LA 02/03

 

Gosto muito do corpo das mulheres.

LA 02/03

 

Um dia te escrevo a canção

em que as rosas terão

seus espinhos mais efêmeros

que suas pétalas.

LA 02/03

 

Lá vez por outra ele vinha,

vinha ver o amigo.

Almoçávamos ( era amigo de casa ),

e íamos para fora,

entre as árvores e a área...

A conversa?

Ele adorava escombros, ruínas,

restos de incêndios, cinzas...

Tinha um tesão danado

por tudo quanto fossem

exumações alheias,

sim: isso lhe esfregava

o ponto-gê da alma:

orgasmos disfarçados,

mas ululantes...

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