OUTONO, A VIDA A LIMPO Laerte Antonio
(capítulo 1)
No outono de 1999 escrevi este livrinho. Era alguém que precisava ruminar o que a vida lhe dera para digerir em mais um pedaço de caminho . Sim, sempre que possível, precisamos refletir e conversar muito com nós mesmos. Daí que tais textos são remoalhos ( bocados ) que tive de remastigar e metabolizar pelo entendimento e consciência de mim mesmo e do mundo. E entre máscaras, espelhos, risos e lágrimas, ridículos, fantasmas e farpas de realidades — o saldo me foi positivo: saí fortalecido e com outros estratos de ver(-me). Somos muito diferentes naquilo em que sobejamos e muito semelhantes naquilo que nos falta, ou melhor: pelas nossas experiências e vivenciações ( não raramente ) podemos nos ajudar. Quem tiver forças de não ficar só pelas bordas, haverá de gostar de ver-se nesses fantasmas e entrelinhas... e no reflexo dessas muitas águas. Um abraço, e esteja à vontade. Deliciosamente à vontade.
Laerte Antonio
Gene Supressor
Dor de amor é bom, amada — coisa nobre, chique até: com a dor-consolação dos paradoxos e a angústia das antíteses.
Já quando amor vai passando de bichinho amador — catador de piolhos, coçador daqueles pontos aonde não chega a mão...
Já quando alguém vai passando de herói para bandido, de honesto para safado, de bicho companheiro para bicho displicente, de amigo para impostor, de leal para traidor, de inventor-criador para destruidor — aí-então, amada, não se iluda mais não: o negócio é inocular no amor ( que se hospeda em nós lá dentro ) aquele gene supressor que — de forma toda indolor — livra-nos desse bicho, e de seus íntimos carrapatos. LA 99/03
A Vítima Era O Réu
Cortou-lhe a esposa a coisa e a colocou no freezer. Indignado, o promotor rasgou o verbo e, cheio de furor, à mão decepadora condenou.
A acusação também não alisou: partiu da tese de que o pênis é o bem-mor de um homem e, emproada, navegou falicamente nesse tom de honor...
A defesa não diz, só desembrulha aquela coisa que — sozinha — entulha parte da mesa onde — nodosa — hiberna...
Chegou o júri à conclusão ruidosa de que a vítima fora sempre a esposa — pois só amputara uma terceira perna. LA 99/03
Bibliotecário
A luz perpassando a vidraça lhe aquecia as mãos e a mesa, e o papel e a pena algaraviando coisas de lembrar sem chorar, sorrir em alma, prantear a seco — sobre as açucenas que lhe cresciam em torno a toda a mesa, e os astros e as galáxias que orbitavam sobre a sua cabeça enquanto ele escrevia, olhando de soslaio os elegantes volumes de que era o bibliotecário — escrevia um poema sobre a rosa. Sobre o tempo, a rosa e o sempre desfolhar de um amor entre a mesa, as mãos que insistiam em sentir ao sol a ilusão de não ser só — enquanto existir o pó, os ácaros e a gripe e as alergias e quem escreva e leia-escreva entre o narrar e o tempo que semeia. LA 99/03
Os Quatro Temas
De política e de tempo, futebol e religião — todos nós entendemos bem e acertamos sempre mal.
Mas agradeçamos a Deus por nos ter dado essas coisas que nos preenchem tão bem aqueles tristes desvãos da nossa infelicidade de não termos o que ser em nosso pobre dizer.
E pé na tábua, que vem chuva! Votem no Boi — e terão bifes. Bola pra frente! Aleluia! Amém, irmãos?!? Amém! LA 99/03
Excalibur
Todos nós temos a nossa Excalibur — com ela exorcizamos os nossos demos, e alheios. Excalibur é feita do aço do mental com que cortamos as pedras de tropeço que impedem nossos pés de abrir aquela trilha de nós ao outro e do outro para Casa.
Excalibur é lâmina que relampeja entre o nosso pedir e as mãos dos anjos. LA 99/03 Tenho O Menino
Eu fiquei com o Menino, deixei-o, sol dourado, instalar-se lá em mim — e era um sonho tão real quanto Deus ser a nossa aventura. Depois que se fundiu em mim, nunca mais estive sozinho. Ele é a alegria que dá força. A esperança que fortifica. O amor que alimenta e nos livra da dívida com o outro. A fé que nos ilumina ( por um jogo interior de espelhos — os pés e a estrada. O Menino era belo como ter pai e mãe que com o seu testemunho dizem ''não'' à infelicidade. O Menino é de ouro — não o ouro dos garimpeiros, mas aquele refinado, três vezes refinado pelo fogo do amor de Deus. Tenho o Menino no colo do meu coração. LA 99/03
União
O caminho será sempre o da superação dos dualismos — unidade e integridade. O viver pilotado por uma vontade lúcida. Um espírito decidido levará o ser humano de volta para aquela luz ( nele ) que lhe é caminho-verdade-e-vida. LA 99/03
Chega-Se A Deus Pelo Amor De Deus
Rei Arthur, Rei Arthur, vos devolvi ( em sonho ) a vossa Excalibur ( ireis precisar dela tão-logo as vossas fadas vos liberarem de Avallon ) — tirei-lhe a medida e o encanto, e mandei fundir em Ur ( na terra de Abraão ) uma gêmea Excalibur. Quem comigo se puser, ó Rei, agora pode ‘sifur’... Mas como bom francês, vou brandi-la avec amour — ao estilo de Ben-Hur. Sossegai, pois, meu Rei, que convosco me iniciei: bebi do Santo Graal — longe de mim o mal, iluminei-me e vi-me em Deus que estava em Casa ( em mim ). LA 99/03
Dois-Um
Crianças, falávamos como crianças. Crescidos, deveríamos falar como crescidos — conservando da infância a confiança na vida e a beleza do mistério. LA 99/03
Anúncio Em Chaveiro
Passando por Trepália, não deixe de visitar-nos. Para você, senhor, senhora, jovem, adolescente ou púbere — temos a mercadoria que se encaixa direitinho.
Spa de trepadoria, Trepália espera por você. Fodófilos e fodófilas, aqui vocês viverão amazônicos orgasmos. LA 99/03
De Uma Tela De Fodornet
Na praça do mercado, caiada de luar e mordiscada de uivos de cães mendigos — Rosinha segura às costas um muro enorme, enquanto Tião Cara de Bagre ( pedreiro desde os onze ) — num capricho de mestre, vai alisando alisando e tapando buracos. LA 99/03
Cabos De Vassoura
— Ela pula cerca sem relar no arame. — Verdade, babu? — Para crer, veja o tamanho de suas pernas... — E vale a pena, babu? — Pra ela, sim. Pro namorado ( de certo modo ) também: dizem que tem muitas vassouras sem cabos... — Que quis dizer com isso, babu? — Que vai chover chuva de prata e estragar todas as rosas. LA 99/03
Riso Extraviado
Melhor que nenhum amigo fora livrar-se de fazer inimigos. Melhor que um amigo, só a inconsciência de seus defeitos — que nos faz acreditar na amizade e praticar o seu riso extraviado. LA 99/03
Caminho De Arame
De Messalina à Irmã Dulce, de Nero a São Francisco — cada criatura capitaliza o que tem. E a humanidade só prossegue porque os opostos a contrabalanceiam em seu caminho de arame. LA 99/03
Plasmas-Sonhos
Os sonhos se realizaram. E você agradece a Deus, à vida, ao seu coração que intermediou a força de transformar o informe(-lá ) em formas(-cá ). E em vez de satisfeito — já se põe a sonhar novas possibilidades — outras transfigurações: humanas transcendências. LA 99/03
Cultura Atual
Joaninha sempre foi mais que demais. Trazia em si, com vigoroso charme, o turbilhão dos temporais. Tanto é que muito antes de seus vinte, já tinha seu — com máximo requinte — um lupanar dos mais fatais. Dizem que ela plantou seus vendavais e colheu tempestades por acinte... Joaninha era um pitel e uma dos que colaboraram com a atual e avassalante cultura de bordel. LA 99/03
Sonhótipo
Disse à Joaninha que mulher tem que ser pernuda. Seios de pera-d'água com bicos de amora. Glúteo de cuia serrada ao meio e um molejo de carruagem imperial. Olhos de céu de maio ( de manhã ou de noite ). Lábios de goiaba em compota. Mãos de beija-flor em adejos. Cabelos de trigal ao vento. Gestos de muita flor à brisa. Suavidade de dois nativos fazendo amor em águas claras. Pés de pássaro alçan... do. Cintura-trilo de siriri. Sensualidade de canto longo longo de canário. Beijo de tomate com sal. Sorriso de pétala caída no lago... Jeito de rosa conversando com a manhã. Coração de criança correndo pela praia... Perfume de ousadia resvalando na carne. Orgasmo engolindo céu.
— E onde achar isso-mulher? — pergunta-lhe Joaninha. — Dentro de cada uma delas ( quando estiverem distraídas... ). LA 99/03
Poema Pagão
Há os que adoram terem sido traídos por cônjuges já defuntos. Quando se lembram da traição sentem aqueles orgasmos que lhes foram roubados.
Viúvas e herdeiros choram gostosas saudades. Só perguntam aos céus ( lá no seu coração ) por que é que não tiveram a graça de o terem tido no mínimo dez anos antes.
Melhor que não ter um cônjuge é ter se livrado de dois. Delicioso ter sido abandonado quando quem nos abandonou nem de longe nos lembra a pessoa que ora morde a ponta da nossa orelha.
E é grato saber que aquele que nos foi falsa testemunha e nos prejudicou muito no que tínhamos de mais precioso — sim, é muito grato saber que a esse tal um ventozinho qualquer o levou. Mas sosseguem: que o levou desta para melhor. LA 99/03
Daqui A Pouco
Daqui a pouco a luz há de cantar com sua voz de ousar a canção de uma outra vez.
Daqui a pouco a rosa vai olhar para a vida com sorriso de quem não sabe...
Daqui a pouco a vida vai ser outra — tão outra que ninguém vai notar a diferença.
Daqui a pouco esse momento pouco ( e louco ) será o sorriso da rosa pisado pelo tempo.
Daqui a pouco resgataremos o sonho das mãos onívoras do nunca mais.
Daqui a pouco o amor há de saber que é, sim, maior que a vida — sobretudo porque a vida não satisfaz o Ser.
Daqui a pouco, mais uma vez, a luz aspira a noite e expira os olhos da vida. E tudo daqui a pouco, não mais que daqui a pouco — de um modo lucidamente louco. LA 99/03
Mais Que Dom
Entre o espinho e a rosa — o prístino caminho.
Dolorosa é a vida a caminho da rosa.
Mais que dom, é a vida — a Rosa de Sarom. LA 99/03
Sopro
Soprado do Teu amor, Senhor, que bem não devo esperar? Que mal devo temer?
Soprado da Tua graça, que é que me falta que já não o tenho em mim?
Soprado do Teu Espírito, que é que me impede de ter os pés na estrada do Teu reino?
Soprado, Senhor, de Ti, é loucura, meu Pai, sentir que Tu me és? LA 99/03
Dom Maior
Tu sempre podes, se és verdadeiro — tu podes sempre.
Quantos maios em agosto, quantas flamas sobre o gelo. Quantas manhãs ao sol-posto, quanto espinho tornado velo.
Tu sempre podes — és dom maior a recriar o homem. Tu podes sempre. O mundo só ainda existe porque nas tuas atitudes vives a dizer ''não'' a tudo o que desumaniza. Vives — pacientemente — a dizer ''não'' à humana infelicidade.
As tuas mãos de céu encarnadas na argila a dizer sempre aos homens que a criatura é uma ponte lá para os lados de si mesma.
Benditas, sejam benditas, Amor, as tuas mãos — água fresca na jornada, pão com cheiro de Casa. LA 99/03
Canção De Casa
Minha terra, Dolores, tem estratégias anestésicas: um ritmo futebolizado, um jeito carnavalizado ( com quaresma subentendida ) e enterros e ressurreições de ufanismos. Também tem muitos UFOs pra distrair toda gente que vive aos ''ufas!''
Tem mamíferos de luxo: os ''donos,'' os ''notáveis''. Tem camelos. Muitos. Muitos ( chamados de vagabundos ). Tem cachorros grã-finos e cães uivando de rabugens.
Minha terra, Dolores, só ficou com as palmeiras... O pau-brasil e outros paus — levaram tudinho embora.
Minha terra, Dolores, perdeu o jeito heróico, o tom de decassílabo e a elegância rimada na lepidez tagarela das redondilhas. Quebraram a asa do canto da minha terra. Mais uma vez, quebraram.
A gente da minha terra tem trabalhos forçados ( emprego vitalício ) com o FMI
Chorar pra quem, Dolores, se só restou o pasmo do bem-te-vi? ....................................................... ( Mas sossega, Dolores, que lá no coração já ouço um coro de máquinas — bem, ali, naquela curva... onde a estrada se adivinha e o sonho a reinventa.) LA 99/03
Crise
Cresce-se com crise, sim. Desde que a crise não crie clima acrítico ou tão cáustico-hipócrita que creste seu crescer. LA 99/03
Os Que Ficam
De todos os poemas hão de ficar aqueles que falam do ser e seu destino. Os que falam do gesto da mão a mitigar a dor. Os que ensinam o caminho entre os espinhos e a rosa. Os que não abriram mão da fé, da esperança, do amor. Os que sabem o que é o bem, o que é o mal. Os que dizem não à desventura. Os que intuíram um sentido, um rumo, um nexo, uma finalidade por entre a negação e a insistência de não havê-los. Os que sabem no coração o que é a verdade, o que são meias-verdades, hipóteses e inverdades. Os que se deixam alentar pelo sopro do Espírito. Os que conseguem expressar conflitos e bloqueios tornando a doença realização e liberdade. Os que reúnem num só ser o adulto, o jovem, a criança e permitem-se fluir num ponto-centro microscópico do círculo — onde chegar é chegar-se. Os que sabem ser humanos e, claro, não ficam por aí — mas ensinam o salto... LA 99/03
Mais Uma Vez
Que bom: carnaval vem vindo aí, Teresa. Mas uma vez vamos cuspir todo o fel engolido — todo o vinagre que ano após ano nos preparam. Que delícia, Teresa, mais uma vez aquela sensação afrodisíaca de pura liberdade. As nossas fantasias com o desejo alucinado — atingindo os seus orgasmos só de tocar em pensamentos...
Que bom: mais uma vez ( livres de tempo-espaço ) vivemos a sensação de que a vida também é nossa. LA 99/03
Olhos Feridos
Pobre poesia. Tua riqueza é não calares — não aceitares a humana pobreza.
Pobre poesia. Tua força interior, tua fraqueza sublime, tua beleza de sonho recostado na pedra — serão sempre uma maneira de — com os olhos feridos — dizeres não à dor e a tudo quanto impede o sonho-mais da vida. LA 99/03
Questão De Enfoque
Não estás vendo? Afasta um pouco, e verás.
Não sabes? Espera um pouco, e saberás.
Não estás bem? Só um pouquinho, e tudo muda.
Não é por isso que a vida é bela e nós a amamos? LA 99/03
Gulatria
A gula de pregar. De ser o melhor, o maior. A gula de “salvar”. A gula dos “salvos”. A gula de ser mais, e mais. A gula do dízimo, e outras ofertas. A gula material. A gula espiritual. A gula de preencher-se, de realizar-se. A gula dos carismas. A gula de fazer-se ouvir em heróicos testemunhos. A gula de iluminar-se, levitar, santificar-se. A gula de orar, criar. A gula de ter o Espírito — uma poção dobrada d'Ele. A gula de ter os dons. A gula de dizer ao monte: .........................................................................., e a gulosa frustração que vem após... A gula de ser puro. A gula de ser diferente. A gula de não ter gula. A gula que é gulatria de uma gula que se diz não ter. A gula que finge não morar no coração do justo... Do justo... LA 99/03
A Caminho
O poeta, o profeta, o andarilho, o menestrel — claro que andam por nós dentro, morrem e ressuscitam do pó das gerações.
Vibrai, cordas inquietas do humano coração. Convertei vossa inquietude numa canção de paz.
Estamos todos a caminho da rosa... ( A caminho do quê?! ) A caminho da Rosa. LA 99/03
Canção Carnal
Dança um lundum pra mim, minha nega, — peladona e sensual, e me sossega, me sossega do meu mal.
Parafusa o teu corpo, minha nega, no meu sonho carnal, e me sossega, me sossega do meu mal.
Uiva, ulula, suspira, minha nega, em tremelique espiral — e me sossega, me sossega do meu mal. LA 99/03
Vade Retro, Flumen!
Não perdi tempo nenhum, seu Proust. Sai de mim. Põe teu romance num caminhão, indeniza-me por tê-lo lido — e vê se me somes.
Pros diabos com teu rio-dizer! Vida é síntese, o contrário estoura a paciência. Na juventude falava que gostava de ti porque achavam bonito falar que gostava de ti entre aqueles que fingiam te ter lido e te julgavam um mamífero especial.
Cai fora, senão chamo o velho Borges, cujo desprezo de mestre faz doer.
Longus és. Patientia mea brevis. Scrotus meus amat synthesem. Vade retro, flumen dictionis!
Meu tempo não perdi porque aprendi que meu é só um modo de chamar algo que na verdade nunca tive: algo por que passei — apenas uma estrada que percorri e em que deixei minhas pegadas. O tempo só se vence pela consciência em contrário. LA 99/03
Chicle-de-Bola
A dor mascada, amada, de te perder faz a alma ruminar estrelas e cuspir os caroços daquelas uvas carnosas de Cânticos dos Cânticos.
A dor de te perder, amada, faz mascar tua lembrança nas horas enfermas de alma e coração resvalado em suas sozinhidões.
Chicle-de-bola, amada — tua saudade. LA 99/03
Nuanças De Sério
Levei-te a sério, sim, amor. Quando rias eu chorava. Quando choravas eu ria. Chorava pra não competir... Ria pra te animar. Levei-te a sério, sim.
Levei-te tão a sério, que jamais lhe pude ser sério. ( Se bem que isto já é uma outra coisa .) Sinceridade não correspondida, amor, deve rimar com sinceridade não correspondida — aí dá rima charmosa ( aquela dos filhos da... ), caso contrário é uma pobreza de diabo velho, amor. LA 99/03
Sim-Não
Capitu comete ou não? Quando-onde? De modo topo-carnal ou apenas psicotópico? Parece que Machado faz questão de nos dizer: Se descobrirem, me digam — que eu fiz de tudo para que a graça do livro fosse essa. Há coisas belas porque não as sabemos nunca. E há desafios que não merecem o nosso atrevimento.
Sentimos o adultério no romance e respiramos essa atmosfera — apenas porque trazemos tudo isso em nós. A sugestão no caso (: é não é, foi não foi ) transforma-se ou não na coisa — já que o plasma mental é nosso.
O não-ver é o requinte de ver — a desaguar na questão shakespeariana que se abre em labirinto lá em ser ou não ser. LA 99/03
Dica
Pela atenção plena, mantemos a prevalência do espírito sobre a mente. Assim nos podemos ver agindo ( de modo neutro, ou ao lado de nós ): vermos a nós e como agimos. Aí fica, talvez, mais fácil sermos o cocheiro da carruagem. LA 99/03
Boa Teresa
Gostava de Teresa por me deixar sempre claro que o que queria comigo não passava daquilo, e por me dar sempre a entender que eu era um imaturo de um panaca... mas que, com o tempo e muita vontade, eu haveria de aprender a não dar importância ao que nunca teve.
Boa Teresa. A jovem extraía mel até das pedras. Morreu de AIDs. Mas nem por isso esboçou algum sentimento de autopiedade. LA 99/03
Querem Fazer, Façam
Façam o amor ou a guerra — ambos têm dado muita satisfação a muita e muita gente, além de semear idéias de que a sua prática em muito ajuda o crescimento e ao gênio criativo humano ( sic ).
Façam o amor, façam a guerra. Só me façam o favor de não me encher o saco nem sujar no meu sofá.
Façam o amor, façam a guerra. Se não puderem fazer nem um nem outro, vejam os outros fazerem — e morram de vontade ( ou de inveja ) de seus heróis. Um dia, talvez, tenham coragem ou condições de fazer o amor e/ou a guerra. Então, meus caros, — não passem vontade não. Só não me encham o saco nem me esporrem no sofá. LA 99/03
O Mais Velho Dos Temas
O amor ganha espaço — não no coração, mas na necessidade de amar.
O amor ganha espaço e vindima os seus cantos — fazendo o vinho de sonhar e a beleza de não ter idade.
O amor é o sedativo natural dessa realidade que temos o dever de mudar — e que a vida quer outra em todas as nossas células.
O amor é um mago porque vive das delícias que aprendeu a extrair das pedras do caminho.
O amor não morre nunca porque sabe transformar-se naquilo que ama. LA 99/03
Rosinha E Ego
Rosinha era bela como um pisão em caranguejo. Bonita de tudo. Casou com Ego, seu conhecido desde sempre. Ego a sabia bela de fazê-lo tresloucar. Tão bela quanto o seu amá-la. E descobriu que, amando-a, era a si mesmo que amava. Eram o espelho e o lago. A flor e o fecundá-la. O fruto e o degustá-lo. LA 99/04
Técnicas
Como é que pode mulher casada transar mais que o marido? Poder não pode, mas entende-se o mecanismo.
E o homem, não faz o mesmo? Fazer faz, mas sem charme... Como assim? A mulher ( em casos especiais ) trama ritualisticamente cópulas digníssimas — suando sensibilidades. Seriedade de psicoterapeutas... Sorriso além do bem e do mal, jeito e agrados de poesia concreta. Silêncios filosóficos, masturbações metafísicas e sensações transconscienciais — orgasmos de levitar as pedras.
E uma técnica final que leva o cônjuge a ficar com a consciência pesada e sentir-se um cachorro — pedindo-lhe ( à mulher ) perdão por lhe ter ( ela ) sido infiel. LA 99/04
Em Movimento
Quem sentou para pensar se valeria a pena... não pôde mais se levantar — nem prosseguir.
Os que — em movimento — sopesaram a vida — tais conseguiram corrigir a rota e prosseguir.
Quando a razão despreza a intuição, em vez de ter o seu impulso — fica mancando de uma perna. LA 99/04
Vinho E Carnes
O vizinho chamou sua vizinha para tomar um vinho lá com ele, enquanto seu marido tinha ido levar o carro para revisão.
Ela trouxera um guisado ( recém-tirado do microondas ) para acompanhar o vinho.
Naquela noite não tocaram nas iguarias. As duas longas velas ( que alumiavam a mesa ) queimaram até o fim.
No outro dia ( manhã, tarde e noite ) também não tocaram em comida.
No terceiro dia o esposo ( o homem do carro ) trouxera mais um assado e os três fizeram uma ceia em que se regalaram, falaram de política, futebol, carnaval... e riram, gargalharam por um tempo enfiado em destempo.
O homem do carro se despede. Sua mulher lhe pede permissão par ''ficar mais esta noite''... Ele concorda e lhe lembra, com infinita delicadeza, de que a filha já está perguntando por ela... de modo que, se ela não se importasse, fosse vê-la no dia seguinte... Disse que sim e o beija no rosto. LA 99/04
Quando Achares
Quando achares, apenas diz: Achei isto, para mim. E humildemente, vê o que os outros têm achado: compara com o teu — e verás a diversidade na unidade. Já então terá visto uma só fome, uma só sede no coração humano. E só com vê-las — buscarás desse pão, buscarás dessa água de jamais teres a mesma fome e sede.
Quando achares saberás: tudo vira um só caminho. E as pedras já não são coisas mudas. LA 99/04
Por Um Surto
Se não ousamos o mistério, como é que poderemos ir tirando os seus véus?
Se não nos aventuramos ao sempre desconhecido, como extrairmos de nós o conhecimento dele e o de nós mesmos?
Nossas conquistas são nós mesmos através de conquistá-las.
Nossas crenças nos ajudam, não pelo que refletem, mas pela força que nelas insuflamos.
Caminhos prontos só levam até aonde fingem levar. Para chegarmos temos de construir a estrada como que por um surto de atrevimento.
Buscar é a nossa liberdade. Ir achando é um processo de transformar nossas derrotas em vitórias. LA 99/04
Escrivaninha De Vento
Ninguém se desanime: hoje a poesia se faz apoiando-se no ar — mas nem por isso deixará de caminhar com o destino dos homens.
Ninguém se desanime: já não há uma direção histórica para a poesia. Temos de trabalhar sobre a hora — fazer de sua ferrugem modelos novos.
Ninguém se desanime: guardando-se o rumo interior será preservada a liberdade e a tirania não terá mãos.
Ninguém se desanime: o Sonho será tão realidade que as coisas velhas do mundo chorarão lágrimas de uma nova consciência. Lágrimas que o sol tornará em água viva de uma sede para sempre extinta. LA 99/04
''Vem Conosco!''
Se te chamarem: ''Ei, vem conosco, não é bom estar só''... Ajeita bem a voz, e sem magoar: ''Não posso. Estou arrancando minhocas. Vou pescar bagres no sítio da finada Filosofia.''
Se insistirem: "Ah, vem conosco, nós vamos a um churrasco na cobertura de Teologia''... Arranja bem o tom e: ''Já ouvi a voz dessa senhora — lembro-me bem de suas brisas, de seu semblante azul e sua voz de cocote... Outro dia, quem sabe... Hoje estou indo catar marolos lá nos campos da enforcada Poesia.''
Se ainda insistirem: ''Ei, vamos... etc. Então vai. Quem sabe essa insistência toda não é instrumentalização de Deus?... Quem sabe... Vai, que a cara é tua. LA 99/04
O Outro Ângulo
Uma sagacidade no efêmero da rosa. Um riso disfarçado de pura felicidade no seu gozo fugaz a transferir para nós a sua autopiedade enferma de beleza.
No fundo, lá no fundo é o tempo da rosa bem maior que o da pedra — pois essa criatura, a rosa, nasce, vive e morre num só suspiro de silencioso orgasmo. LA 99/04
De Volta Ao Tema
O não durar de tudo é talvez a mais nobre beleza de tudo — ainda mais quando se tem a doce inconsciência disso.
No que respeita àqueles homens que ''já não dormem'', parece que o tempo lhes funciona como um mordomo — não contratado por eles, mas pela vida.
Igualmente parece que o tempo é um filão cósmico ( uma condição plástico-dinâmica ) de que se pode extrair meios de refazer(-se)...
Quando o homem souber o que é o tempo terá conhecido o caminho que não precisa de caminho. LA 99/04
( Outra Vez ) Tempo E Ser
Sem o tempo o Ser seria congelado. A existência, sem o testemunho da criatura — seria a Bela Adormecida sem o Príncipe para acordá-la.
O tempo tem a sua alquimia. O ser precisa dela para tornar-se outros — em plurigamas, multicanais e várias confluências: de si para múltiplos tempos e inúmeras moradas.
O tempo fornece o plasma e a dinâmica interdimensionais em que se expande por si mesma a criatura — num movimento que elabora a consciência. LA 99/04
Uma Tecla
Você poderia encontrar aquilo com que sonhou a sua vida toda — se pressionasse apenas uma tecla...
Mas... tem um mais: ao pressioná-la, poderia esquecer-se de que era bom seu sonho: que esse sonho era o que você queria.
Pressionar ou não, esse seria o seu dilema: sonho realizado, sonho esquecido ou sonho não ousado.
Todos nós já tivemos ( lembremo-nos ou não ) frente aos olhos e o dedo ao menos uma tecla dessas. LA 99/04
Arte
A arte é vida — sem ser imitação. A vida não é arte — a vida é vida.
A arte reflete sobre algo-vida — do particular para o geral.
A arte sempre vem suja de vida e humano. Relação humana com o mundo, reflete esteticamente sobre um dado universo em que o objeto isolado, de forma sempre estranha, espelha sempre o todo.
Arte é o caminho estético, sem cobertura de vidro — do ''eu'' para o ''nós''.
Ser em trânsito, a arte inclui. Seu fim é sempre outro começo.
Fazê-la é liberar-se de casa para o mundo. Fazê-la é trabalharmos o que somos. LA 99/04
Sempre Amigos
Disse ao meu coração que não — que não explodisse. Que explodir, certamente, não lhe valia as flores...
Disse ao meu coração que o humor, o riso, a ironia e outros assemelhados, em geral, são bons remédios. Ensinei-o a rir e até, em alguns casos, a gargalhar. Ele gostou, se deu bem: tanto, que aprendeu a se coçar, a bocejar e a cantar pelo nariz... Entendeu mais ( eu acho ) as chamadas ''coisas da vida''. E hoje somos amigos. Nem sempre de bem com a vida, mas sempre amigos. LA 99/04
Em Trânsito
Com o amanhecer de consciência as coisas se superam, desde que lhe demos um impulso para saírem (de nós) outras.
Consciência é saber-com-o-outro ( que também está em nós ) as coisas que trabalhamos no mundo e em nós.
Consciência é o estado atualizado e provisório de ser — capaz de vir à tona e trazer aquelas ostras contendo pérolas de grande preço.
De consciência em consciência vamos tirando de nós dentro ( da nossa arca em trânsito ) aquelas coisas novas e velhas que nos ajudarão no entre percursos do nosso caminho em várias gamas — mas todos afluentes do nosso ser. LA 99/04
Tempo-Des
No tempo da desmorália: Desbunde-Desfalque-Despudor. Desbundália, meu amor.
Tempo de quá-quá-quá, modulado em rá-rá-rá. — Despudorália? — Despudorália, amada. — Desfalcália, darling? — Para trepálias, amorzão, — em dólar e esterlino: eurofodas, meu tigrão.
— Em tempo-des, que fazer, linda Inês, a não ser vaginação em rotação e translação? LA 99/04
Fodotecnia
Mandei construir um aparelho trans-ultracopulativo-fodológico de altas trepadorias — para extrairmos, amada, sem cansaços nem estresses nossos inúmeros diamantes. — E quando vem, amor? — Bem, chinês... sabe como é... — essa raça não tem pressa. Disseram que no máximo em três décadas estaremos copulando a laser. — E até lá, meu querido? — Até lá fornicaremos como nos tempos bíblicos. LA 99/04
Tempo-Ser
Toda vez que em ti penso, Ofélia, penso-te diferente. E quando o faço reiteradamente, chego a chamar-te de Amélia... mas Amélia conota, minha Hélia, feministicamente mal — então já te finjo Adélia com uma dicção de Lélia e um certo jeito de Cornélia. Até mais, minha Célia. LA 99/04
Didática Filial
— Trepar é perigoso, pai? — Depende da árvore, meu filho. — E é bom, meu pai? — Depende da árvore. — Dizem que relaxa, realiza... — Depende da árvore, filho. — Falam que até prolonga a vida... — Dependendo da árvore, sim.
— E você, tem trepado muito, Pedrinho? — Só na passiva, meu pai... assim mesmo dependendo da carranca que vem na frente do barco... Sim, pai, eu relincho com a boca no travesseiro. — Mas, Pedrinho!... — Relaxe, meu pai. Trepar ou ser trepado é só uma questão de trepar ou ser trepado. LA 99/04
A Ciência
Pelo que se vê, a ciência ainda não tem meios de fazer os homens se amarem. Não tem pílulas de solidariedade, nem drágeas para a felicidade. A ciência tem salvo 1 coração e baleado 100. O homem pobre edifica, ela — através do homem rico — incendeia, esfarinha. A ciência tem dado uma no prego e quatro no dedo. A ciência é uma rainha — dá uma de boazinha para os áulicos e ó ...! ó e ó ! no povo.
La science n'a pas de patrie... Claro que não, — só tem banqueiros, ou quem paga mais. É hora de tirar-lhe a máscara. O mundo precisa vê-la pistoleira dos Estados e dos Dominantes que em nome da 'liberdade' e da 'dignidade humana' — dizimam aqueles que não querem se alfabetizar e orar pelos seus livretos feitos de hemácias. Sim: a ciência será julgada pela razão. LA 99/04
E Mais
A palavra? Taco-bola-caçapa. Só jogo não, bem mais. Só brincadeira não, bem mais. Ludofazer metafísico. E mais. E mais, além de taco-bola-caçapa, pé-bola-rede. E mais. Sei lá que mais. Mais tudo. Tudo o que foi puxado ( por ela ) para ser. LA 99/04
Dentro Desse Frio
Um frio ( não lá fora ). Um frio muito frio — o reflexo de um rio lavando o sangue da aurora.
Escuro ( não lá fora ). Nenhuma voz ou carinho que ilumine o caminho de quem se vai embora.
Um vento ( não lá fora ). Um vento espanta, uivando, esperanças em bando... Na varanda alguém chora.
Vazio ( não lá fora ). Um vazio tão ermo... Um esperar enfermo de alguém que se demora.
Frio-escuro-vento-vazio ( não lá fora, não lá fora ) — mas tudo como se fora aqui dentro desse frio. LA 99/04
História Antiga
Um príncipe ( lá da casa do Egito ) faraozava hebréias no ápice da Pirâmide — toda vez que a luz da lua formava com seu desejo um ângulo obtuso tumidamente escuso... Sua alma então nadava, não no Nilo nem no Vermelho Mar — mas em orgasmos esfíngicos que encabulavam Anúbis e atormentavam as múmias. LA 99/04
Nem Por Isso
— Será que nos amamos, amor? — Decerto, mais que decerto. — Então por que o deserto, tão perto? — É que isso-amar não exclui as areias. — Bonito e épico. — Nem por isso, amor. LA 99/04
Indústria De Panquecas
O príncipe negro disse ao príncipe de semblante azul que ia fabricar panquecas com gosto de mulata para vender à Europa loira.
O de semblante azul lhe deu a sugestão de acrescentar às tais uns pigmentos de lua e aurora para torná-las comida universal. LA 99/04
Reclamos
A palavra, ferida, falida, reclama novos tratos — outros tatos, menos vaias de alfaias, nem mais cobaias: ratos do mato ou patos em vôos sem a memória da história de chumbo...
A palavra, de asas pensadas — volta a ser azul. LA 99/04
Velhas Mãos
Olhei para as minhas mãos: estavam velhas e sozinhas. Tinham passado por elas multidões de dias e noites. Finas e frágeis, a pele flácida e pintada — tinham lidado com a vida e dado feição aos seus próprios dias. Conheciam o bem e o mal e haviam aprendido a discernir entre os dois. Agradeci no coração pela bênção desse discernimento.
Narravam tudo de mim. Ninguém mais do que elas conhecia meus pensamentos, sabia meus sentimentos e captava as entranhas do meu ser físico e moral: eram meu ser inteiro — antenas e canais, superfícies e funduras, alegrias e tristezas, planuras e mistérios — sabiam de meu bem, sabiam de meu mal.
Olhei-as: velhas e sozinhas. Haviam crido. Haviam desacreditado, sem descrer. Haviam se enganado. E entre tantos feitos e negligências e omissões — construído-desconstruído-reconstruído. Haviam segurado golpes, desfechado outros. Haviam assinado, endossado, pactuado — segurado esperanças. E agasalhado sonhos e acariciado utopias. Haviam segurado o mundo. Haviam retido nada. Pensado que podiam tudo, depois, visto, aliviadas, que não detinham nada — a não ser terem efetivamente nada. E ficaram sabendo por si mesmas que o seu fazer é toda a sua alegria e toda a sua tristeza. E que não é porque as ações começam em outros ''departamentos'' que elas não sejam tais ações: entre fazer e quem faz a distância é nenhuma.
Olhei-as: cansadas e vazias. Estavam bambas, mas não medrosas. Feias, mas não envergonhadas: sempre que se soubessem arrogantes — curvavam-se em oração. Mãos que riam e choravam, fizeram e se alegraram, fizeram e se arrependeram — e arrependidas buscavam transcender-se, batendo às portas de Deus. .............................................................................. Mãos a quem foi dado aprender terem uma só coisa de especial: serem iguais a todas as mãos do mundo. Mãos a quem foi dado aprender que a maior plenitude que pudessem aparar para si mesmas era estarem vazias — jamais tentarem reter em si o que existe para fluir.
Olhei-as: velhas e vazias. E agradeci a Deus pela leveza, não de nada terem, mas de já não segurar. LA 99/04
Nossos Agradecimentos
Agradeçamos àqueles que não perseguem senão seus sonhos. Que não ferem senão as cordas de pensamentos de paz. Que não matam senão a fome dos miseráveis. Que não batem senão palmas à solidariedade. Que não falam a não ser para facilitar. Que não odeiam senão odiar. Que não roubam senão um tempo para cooperar. Enfim, a todos os que não fazem senão fazerem aos outros o que desejam que lhes façam. LA 99/04
Ar muito seco, fumaça. Estio em alma. Rosas sacrificadas e as intenções que nelas poderiam dizer-tecer o sonho. LA 99/04
Folhas
Fogo no bosque. As folhas de Verlaine! As folhas... elas devem arder na alma, no sonho do poeta — pois nem tinham ainda se vestido de longo... sim, de seu amarelo longo.
Fogo no bosque. As crianças que brincavam mergulharam na fonte. Coragem, que o fogo passa, o fogo passa. Os bichinhos que cantavam e tinham asas ou tinham pés velozes foram-se, foram-se para longe... mas muitos, muitos que não são espertos, esses, meu Deus, esses...!
As folhas mortas são as que caem naturalmente a-ma-re-le-ci-das... São as folhas de Verlaine. Já as folhas matadas são as que as mãos de homens fazem arder com o fogo. São as folhas de mãos que não pensam nem sentem.
As folhas mortas, as de Verlaine, são aquelas que ainda sonham, sonham até o seu último bailado com o vento... e que ao tacar o solo já se ofertam sorrindo ao futuro de luz e cores da primavera. LA 99/04
Tarde. Horizonte de uvas. O mosto escorre em taça onde a alma bebe e sonha o que haveria além do que se vê. LA 99/04
A noite, pura luxúria, cobre o seu corpo de jóias que palpebram — e acende na carne dos homens o antigo jogo das recompensas. LA 99/04
Afluentes
Lembrar sonhar amar interagir e tudo o que oxigena e faz fluir as nossas águas de nós para as dos outros e as dos outros para nós — afluentes de um mesmo rio a caminho de Casa. LA 99/04
Cocô-Tur
Cocô gosta de viajar — Cavalga corgo, rio em cabeças de banhistas e ‘despingola’ no mar. Cuidado, não vá se banhar, que o mar tá puro cocô. Cocô viaja mais que qualquer navegador. Homem, não dá pra competir — cocô viaja mais. Tragam o Guiness pra cocô assinar. E vivam os cocôs, — esses novos Ulisses da interação universal. Senhoras e senhores — o mar tá pra cocô. LA 99/04
Previsão
Meus ossos transarão com os vossos num esplendor de fungo e pó. Nossas caveiras num beijo sepulcral ( de invejar o poeta Augusto ) hão de sentir saudades de suas línguas e seus furos e saliências dependurados no esqueleto. LA 99/04
Um dia ( não demora ) nossos ais se abraçarão bem ali onde Khayyam construiu o seu harém de vento. LA 99/04
Dança, dança e canta, Hafiz. Espanta essa dor que é tanta. Faz minha sombra feliz. LA 99/04
Água Morta
Aos olhos que não choram a beleza usa véu, e não a vê nem ouve o coração — a quem a vida se torna ressequida e a palavra não mais lhe flui — água morta. LA 99/04
Maturação
Um intelectual só madura quando consegue superar sua intelectualidade. Quando seu refletir vai além do seu reflexo: momento em que seu coração começa a pensar. Seu sentimento a ter visões. Sua esperança a gerar sonhos. O seu imaginar a plasmar utopias. E suas utopias a arrebatarem-no até o terceiro céu da terra dele mesmo. LA 99/04
Intenções
O que fazemos vem sujo das nossas intenções. O nosso egoísmo as vê boas sempre. Estamos muito longe de superar a intencionalidade das nossas intenções. LA 99/04
Velhas Delícias
O amor e a guerra são as delícias mais antigas da humanidade. Não sejam bobos: façam os dois. LA 99/04
Serviços
Há serviços profissionais que exigem certa soma. E pronto.
Há serviços amadores que nos exigem a vida. E sempre.
A diferença é grande, claro. Tão grande quanto o preço. E a escolha é nossa. LA 99/04
Tarefa
Virou a amada de bruço e com a exata perícia de um cata-laser, pôs-se a catar-lhe ( era um domingo sem ponteiros ) carrapatinho por carrapatinho — escondidinhos-escondidinhos... Só sei dizer que catando frente e verso — deu quase meio litro. LA 99/04
Chalim Explica
Calmo, o pai de Chalim vem dizer-lhe que Beliz, sua esposa, fugira com seu irmão Tagira.
Calmo, Chalim sorriu com tanta felicidade ( sempre gostara de Chiling — esposa do irmão traidor...) que seu pai, na verdade, não entendeu o que viu.
— Por que Chalim se riu, se lhe roubaram Beliz? — pergunta-lhe o pai com zanga e fúrias de urso panda.
Chalim lhe explica em tom rouco: "Beliz, meu pai, é um robô que de um lado faz amor e do outro rala coco.'' E os dois sorriram chinesmente.... LA 99/04
Festa
Fiéis, só os enganos. O mais é vento-veleidade com saudade das canções que não dançou e daquilo-amor que não foi.
A realidade é um boi. Se a quisermos andorinha — demora só um pouco. Se a sonharmos liberdade — isso só lá em alma. Se a ambicionarmos maior — já é um trabalho de consciência. Constantes, só os que nos detestam e se esquecem “clicados” em seu ódio charmoso.
Não é que o mundo é leviano — seu peso é que se sente mal e quer rolar e voar.
E olho vivo ( já dizia Ibraim, hoje dos anjos... ): Jacaré que morde o próprio rabo nunca foi jacaré, mas cachorro. ................................................................ E o homem tem sido o cachorro de suas próprias mordidas.
Mais que fiéis, só mesmo os desenganos — irmãos mais novos dos enganos. E o mais é festa ( de debutantes ). LA 99/04
Roda
O homem é o escravo do homem. O orgulho de nem pensarmos nisso é que nos dá a força para continuarmos a nos fazer mutuamente escravos nesse teatro fingidor em que há livres e cativos.
Todos escravos. E escravos alegres porque inconscientes do processo de fazer-e-ser-feito.
Como escapar à roda do tempo ( esta, sim, é escravidão ) — senão direcionando nossas ações para o caminho-do-meio do que chamamos bem e mal? LA 99/04
Relações
''Não me exporei para não precisar usar deformadoras máscaras'' — disse-lhe o coração. Estava habituado a viver à sombra da luz e tinha acesso a outros departamentos da realidade — dizia. Afinal, a vida é o dentro e o fora de alguma coisa que nem precisa ser exterior e interior. ( O bocejar da rosa não lhe revela tédio — a não ser que estejamos entediados.)
A ''falta'' de relação ( não raramente) é um bom relacionamento. LA 99/04
Sinais
O povo que não for capaz de ir além de si próprio e caminhar com o mundo — terá perdido o trem de si mesmo.
Por mais que, talvez, doa, doravante a história do mundo será a história de cada pessoa.
Consciência universal a fluir entre o nacional e o pessoal ( feita um só rio, uma só água ) — são estes os sinais de outros tempos. A vida é hoje aldeolita.
E isto não é capricho — mas Homem E Destino. LA 99/04
Longe/Perto
Lá em pensar em você brilha um jardim de onde colho as flores que lhe mando e que você ( por vezes ) acha tão lindas.
Só não lhe digo de onde as colho pra você não ficar convencida demais. Mas se ficar lhe digo que ( não sei por quê ) lá em pensar em você às vezes é mais bonito do que estar com você. Se ficar brava, argumento que isto também se dá com relação ao misterioso deserto, às fantásticas geleiras, aos altíssimos picos — ao grandioso, enfim. ............................................................... E por falar em flores, tome mais estas... Estas colhi atrás do inverno. LA 99/04
Amar-Te É Amar-Te
Amar-te é um luxo Pistaches, desejos-passa Sedas chinesas na penumbra crispada de mais, só mais um pouco Além de um porto, que é vinho e cais, onde partir-chegar é loja e sonhos de especiarias
Amar-te é um luxo que já me dei com cerejas e papoulas E céus de maio se desdobrando em flores e fofo, despudorado azul
Amar-te é um luxo — mãos num concerto de pétalas e lingerie — com brisas lá em alma
Amar-te é um luxo com jardins e repuxos em fim sem fins
Amar-te é amar-te. O mais e em tudo é sempre tão pobre a arte! LA 99/04
Via Vias
A verdade é trivial: extremo, meio, extremo. Tão trivial, que, por usar três máscaras, só lhe resta, afinal, por identificação, o timbre ( o personal ) — o Verbo que se faz carne e a torna univial. LA 99/04
Escola
O dedo jovem mata esmaga mói metralha explode
Tem alarmado o mundo o dedo infante, o dedo adolescente, o dedo jovem.
Com quem terá aprendido a matar tão friamente, a assassinar tão calculadamente o dedo jovem?
Invadir explodir metralhar queimar povos pobres — em nome da liberdade ( hoje em nome da liberdade ), não é uma ''bela'' escola ao olhar do aprendiz, ávido de imitar, — de mostrar que também ''pode''?
Fazer de gentes ratos, micróbios, lixo, esgoto — em nome de qualquer coisa, não é dizer ao mundo que um ''ismo'', um ''ia'', uma idéia, um pensar valem bem mais que a vida?
Quando as ''crianças'' mostram que foram bons alunos, que assimilaram as lições e metabolizaram bem o aprendizado — dá para não saber por que é que estão assassinando? LA 99/04
Who'S Next?
Muito difícil caminhar com uma corda atada na cintura. Correr, então, — nem pensar. O Governo Universal ( aqueles países que chacinam e queimam os pobres dos povos pobres ) vai ter de repensar seu Sistema de Agiotagem ( capetalismo vídeo-financeiro ) sobre a garganta dos pobres dos chamados países pobres.
Tais senhores de ternos cinza dominam por terra, água e ar, e em nome de seus deuses matam à fome, à bala, a míssil aquelas pessoas tornadas pobres pelas raposas coniventes dos apelidados países pobres.
Tais senhores, disfarçados de anjos de luz, deitam e rolam no mundo. Soprados do antiCristo, matam e queimam e, em seguida, fabricam letras voadoras com suas esquadrilhas e vôos grafando no ar o símbolo da SUÁSTICA, com o desafio terrorista — Who'S Next? LA 99/04
Ao Pé Do Fogo
Aprendemos tanto, e não fomos felizes. Quem sabe pelo desaprendizado não o seremos? LA 99/04
Ficava cismando no infinito até trazer à tona algumas sementinhas... LA 99/04
Sem perceber, fez amor com a morte, virou pro canto, — e dormiu. LA 99/04
Nosso mal é sabermos demais e sermos felizes de menos. LA 99/04
Ela fingiu não me ver. Fiquei envaidecido. LA 99/04
Ah, Os Sapatos...
Os sapatos do palhaço diziam coisas sem fim. E as crianças riam e riam das coisas que lhes contavam os sapatos do arlequim.
Eles podiam lhes falar de coisas sonhos tão lindas que sapatos nenhuns sequer jamais as lembraram. E riam, como elas riam desses sapatos.
E pelo mundo que dá muitas voltas apenas umas poucas dessas crianças não foram amordaçadas pela adultez e continuaram a amar os sapatos do arlequim. LA 99/04
Melhor Só...
Um amor que passou pelo vinil, peloK-7, pelo CD e agora, sabe Deus por que outras diabruras internáuticas — um amor desses é coisa chique, amada: por nada se bota fora — vinho da aurora bebido na corola de um sonho... que eis aflora com gosto tinto de amora entre manhãs de domingo, domingo zonzo de lembrar...
Melhor que um amor assim só paçoca de gergelim. Mais belo? Só os sapatos do arlequim. LA 99/04
Quem Sabe
Aprendemos. Fizemos tudo direitinho. Deu tudo certo. Só não fomos felizes.
Quando a neve derreter, voltaremos para casa. Iremos pelo caminho do coração.
Quem sabe encontraremos, não mais aqueles velhos sonhos: a varanda ciciada de folhas secas com pedaços de vozes contando-se coisas que se tecem no ar, no vento — e , de um triste amarelo, aquelas frágeis flores da infância e adolescência sorrindo em pequenos cacos de louça...
Sim: não mais os enfermos sonhos, mas o riso de nossos pais brilhando, farfalhando em cada folha a nos dizer: “Não tenham medo das quedas... Quedas e ascensões são quase sempre dois belos impostores... Passem ao largo. Sim: passem pelos dois, enquanto seus pés constroem novo caminho entre o destino e a vontade.” ...........................................................................
Quem sabe a graça nos enxergue, e o caminho de casa já não seja tão frio... LA 99/04
Auto-Explicação
Escrevo pela urgência de dizer-me que nada é ''assim'', mas que ''assim'' pode ser o suporte de reinventar as minhas invençoes.
Escrevo, ou melhor: reescrevo porque não me atrevo a deixar que o silêncio diga por mim.
Escrevo, enfim, para dizer-me que fica o dito pelo não dito — enquanto eu não me chamar Benedito. LA 99/04
Camélia
Camélia — corpo da amada no desejo dos amantes. Camélia, — carme da carne. LA 99/04
Seu Dadá
Seu levantar às 11h30 ( quinze antes do almoço ), sua política de esquina ( que o mantém vereador ), seu carro muito pobre, a casa sempre por terminar. O seu jeito de otário, seus ditos de arlequim, seus pedaços de obras-primas, seu sorriso de Mona Lisa, seus acenos espichados, seus tapinhas nas costas, seus trovões e só respingos, suas meias coloridas, seu não ligar, a não ser para ela ( a cobrar ) — que delícia ver que tais artimanhas dão certo ainda. LA 99/04
Bom Proveito
Que pouco é tudo ( você pensa ): não só mereço o todo total de tudo como aquilo que o contém. E empilhando seus teres ( que já não cabem ) — você remete pilhas para quinhentas partes desse mundo que pensa seu, mas que na realidade não é só seu: tem também outros donos como você. Bom proveito. LA 99/04
Sesmeiros
As ilhas, que outrora habitamos, foram povoadas por nossos chiliques e piripaques.
Tais ilhas, que agora recriamos, guardam disfarces e marcas de nossos atuais tremeliques.
As ilhas cujo suplantá-las fez penínsulas e o conhecê-las terra nossa — tais ilhas se nos tornaram em autoconhecimento.
Essa terra ( outrora ilha ) agora são nossas sesmarias e é preciso trabalhá-las — que a nossa parte nelas é só o nosso transformá-las. LA 99/04
Lembrança
Quando vinham temporais, minha avó, com muito medo, dava-me muitas palhas bentas, pegava uma lamparina e se punha a rezar enquanto as palhas queimavam.
E o tempo descarregava a sua formidável fúria em relâmpagos, trovões, raios, coriscos, estalos, chuva grossa, grosso vento e carrancas de céu negro.
Em seguida, a outra face: a calma se recompunha com um sorriso arrependido. Minha avó, então, me olhava, pálida ainda, e me dizia: “Tá vendo, caro? É só rezar...” LA 99/04
Sempre Estás
És inerente ao ser, és inerente à vida — vejamos-te ou não, tu sempre estás.
Quanto mais os homens pensam que já não cabes — mais te vejo que fluis como o ar, como a luz: só precisamos saber-Te— então abrimos a janela e toda a casa se ilumina. LA 99/04
Clones Mentais
— Psiu, Rosinha: pra onde vai este caminho? — Pra parte alguma, como todos os caminhos. — Não leva para Maria, a que me diz amar com gesto de girassóis? — Metáforas só, meu amigo. Tal Maria não existe. Existe aquela que você fez pensar coisas bonitas e que por sua vez mediunizou a tal Maria que lhe anda jurando amor. Essa Maria é um clone do teu sonho — existe enquanto a energiza como a mulher ideal. Quando já não tiver forças-sonho para alimentá-la, então ela se vai como muitas se vão — desencantadas: sem a seiva do sonho, os sais daquela utopia que lhe davam motivo e vida. Quando ( essas ) se descobrem clones então se vão para qualquer caminho... Quando já não se tem um rumo, qualquer caminho serve pra nos levar a parte alguma. Só o sábio mantém acesa a chama — porque ele sabe pô-la nas mãos de Deus. LA 99/04
Passas, Ou Passas?
Aceitas, amada, umas passas, ou passas? Se passas, então vem cá, — me dá um beijo com gosto de arrebol. Um abraço com cheiro de jasmim. Um sorriso sujo de manga. Um olhar com um jeito bem sem-vergonha. O mais, amada, a gente faz entre lembranças passas... Ou passas? LA 99/04
Amar Com Amor
Amor disse que já não pescava — a lagoa tinha secado. — E o rio? — lhe perguntaram. — O rio só dá piranhas. — E não dá pra comer? — Que dá, dá, mas o bicho é fera. — E o mar? — O mar se abriu para Moisés. — Mas já fechou sobre Faraó. — E isso espantou os peixes. — Pescar onde, então, amor? — Pescar mulher no banho. — Mas isto é estupro! — Não porque encarno no parceiro dela e a isso ( com muito chique ) se chama amar com amor. LA 99/04
Um Outro Clima
Os sinos. Os sinos lá em nós. Natal canta cor de estrela no coração da gente. O Verbo Santo nos abençoe, insufle em nós a sua natureza e nos transforme segundo o sonho do Pai e o ministério do Espírito.
Ouro, incenso e mirra agora fluem por nossas vidas Nele.
Nos quebrantamos: quebramos as nozes dos nossos corações. Sem suas duras cascas nos veremos uns nos outros como Um visto em muitos: nossas nozes tornam-se nós... e nós, — um só entendimento. (Quem não tem noz a encontrará em nós.)
Repicam sinos cor de alegria. Alegria que é a força do Senhor em nós. E todos sentem que nesses dias paz e unidade têm seu espaço: táteis, palpáveis — a vida fica abraçável. Um outro clima. A esperança tem gosto e cheiro — e fortalece. As promessas do reino se fazem de carne e osso. Que nos tornemos ‘noses’ — sem casca. LA /99/04
Quando Não For Isso
Quantas vezes não busquei recompensa ao sul de amar-te. Repuxos, chafarizes, ramos e brisas lá em pensarmos ser felizes. Viadutos e pontes, metrôs de chegarmos à conclusão de que o amor só vale a pena quando é algo-recíproco especial. Quando não for isso, amor é um diabo velho gemendo a frustração de ter caído do céu e hoje bebendo cachaça nos bordéis cheirando a cloacas. LA 99/04
Marginal
Marginal, claro que sim, e sempre.
Marginal porque sim ao diferente, porque sim ao jamais-isto.
Marginal porque não à dor gratuita, causada pelos lobos: os donos do que é de todos.
Marginal, porque, da margem, se vê com olhos que sentem, enquanto que, do centro, se vê o que a vista alcança.
Marginal, porque para a margem é que empurram com os pés os que incomodam — os que dificilmente se omitem: e fazem cair as máscaras, as alvas peles de ovelhas, as drogas e moedas falsas dos fariseus no meio-dia das ruas.
Marginal, porque não aos senhores de ternos cinza, mediunizados pelas trevas.
Marginal, porque sim ao novo sol que reponta dentro da consciência planetária. LA 99/04
Além Da Inculcação
Não seremos os últimos. Sempre haverá o que dizer numa linguagem que vá além da inculcação.
Um modo de dizer, uma via transversa à da civilização.
Uma voz sensitiva caminhando entre os homens e seu destino.
Um coração que saiba não saber — e que, por isso mesmo, complemente a razão.
Um ver que busque repensar a realidade vista em visões e revisões.
Voz alerta em denunciar, e transcender e esperar-se lá na frente.
Pés que caminhem por fora e dentro da realidade.
Um jeito de sonhar e transonhar — sempre senhor dos próprios sonhos.
Um modo de emprenhar o escuro com a luz do coração para se proteger na lucidez do dia.
Não seremos os últimos. Haverá sempre o que dizer numa linguagem que vá além da inculcação. LA 99/04
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