Escrevivendo
Laerte Antonio
Não seja a tua franqueza
uma arma dada a alguém
que possa te alvejar.
LA 05/007
Escrever é tão bom
quanto não escrever nada.
O diabo é o espaço em branco
sempre puxando conversa.
LA 05/007
Sabiá está cantando...
bonito de ouvir-sonhar.
Ah! Se eu fosse um sabiá
te fazia chover notas
macias e aperoladas.
Se bem que, não tendo penas,
te invento a minha poesia.
LA 05/007
Pensar em minha nega
é melhor que estar com ela...
Se bem que nem sempre isso é verdade.
LA 05/007
A vida é boa de pernas —
vive a nos dar rasteiras.
LA 05/007
Penso,
lá vem Descartes.
LA 05/007
Pensar não distingue,
o que distingue é repensar.
LA 05/007
Os homens são produtos,
ativa ou passivamente,
do seu sentir-pensar.
LA 05/007
Há os que sonham e os que são sonhados.
LA 05/007
No mundo ou se é bola, ou se é taco.
LA 06/007
A ciência, a moral, a ética,
o sentimento de humanidade,
de justiça e verdade,
de identidade universal
e solidariedade,
além do zelo ambiental —
isto são requisitos mínimos
para o ser humano
continuar sobre a Terra
cumprindo com a tarefa
que tem consigo mesmo,
com os seus semelhantes
e o todo
em diuturno ser-não-ser.
LA 05/007
A cada dia o seu mal,
a cada noite o seu bem.
LA 05/007
Prudente é perder com classe
e ganhar com desdém.
LA 05/007
Os grandes amigos
se visitam quase nunca.
Mas vivem de prontidão.
LA 05/007
O amor é como o sal, é como o açúcar —
a dose certa é sua longa vida.
LA 05/007
As mulheres não são para entender,
mas para compreender e amar.
Daqui a pouco elas estarão governando
em massa —
e mostrarão à História
que são da mesma laia:
seres humanos —
mais ou menos perigosos
quanto mais ou menos ressentidos.
LA 05/007
Melhor que fazer nada
não sei se existe,
já que não fazer nada,
pra muita e muita gente,
é a mais charmosa ocupação.
LA 05/007
Somos tão diferentes uns dos outros,
que nessas diferenças
podemos até encontrar
aquela tal que a gente
nunca soube que existia...
e então ficar
bobo de encanto.
LA 05/007
Manca, sim. O amor manca.
Mas a gente nem vê.
LA 05/007
Marilda era daquele tipo —
maravilhava os homens
e enraivecia as mulheres.
LA 05/007
Marilda sabia dar um sorriso
em conivência com um tal olhar,
que a gente até se sentia
fazendo amor com ela.
LA 05/007
O amor é como as joias —
quanto mais falso
mais brilha.
LA 05/007
Há amores... e amores.
Como há orquídeas e flores.
LA 05/007
Como a erva que pouco dura,
o falso amor fenece.
Aliás, já nasce feno.
Já o amor de verdade
não morre nunca —
o tempo, ao contrário do que faz
com as coisas perecíveis,
nutre-o:
quanto mais os anos passam,
mais perenemente verdadeiro
é esse amor.
Esse amor não conhece a morte —
faz parte do nosso eu-consciência.
LA 05/007
Podermos mudar
é prova de que a bondade existe.
LA 05/007
Não conseguir o que sonhamos
é, sim, um problema.
Agora, quando a gente consegue,
o problema é diferente.
LA 05/007
Nossas coceiras e unhas
quase sempre se entendem.
LA 05/007
Ah! Quantas vezes, princesa,
tive vontade
do seu pão com manteiga,
seus purês e cuscuz.
Mas você nunca,
nunca abaixou a ponte.
LA 05/007
Satisfação humana é como o horizonte —
recua ao passo que se avança.
LA 05/007
Ah, cuida, nega, cuida bem das uvas,
e a gente faz vinho dos bons.
LA 05/007
Sim, eu também não tenho medo
de ter medo.
LA 05/007
Quanto mais distante, mais perto de você,
já que a distância faz pensar.
LA 05/007
Você mora nesta saudade
em que eu faço cafuné.
Sim, ficou uma saudade
gostosa de acarinhar.
LA 05/007
A fé
é o DNA de Deus em nós.
LA 05/007
LA 05/007
O amor são as nossas sinapses
a urdir de luz os sonhos.
A esperança é a fruição
do que ainda não se tem na mão.
LA 05/007
O belo da beleza
é saber que ela existe
porque a sentimos
e a vemos bela.
LA 05/007
Já fugiu de fantasmas?
Nem eu. Como fugir
do que está dentro de nós?!
LA 05/007
Sim, saiba tropeçar
e cair
quando estiver fugindo
de belas tentações.
LA 05/007
Lembra da sua meninice?
Também me lembro da minha.
A gente se lambuzava
de vontade de chupar manga...
e nunca que era tempo delas!
Está lembrada?
LA 05/007
A vida não lhe pede nada,
apenas que você entenda o impossível.
LA 05/007
O amor não lhe exige nada,
nada que não seja tudo.
LA 05/007
Existir é engraçado,
porque não há outra maneira.
Quem faz o existir divertido
achou sua melhor porção.
LA 05/007
A solitude
é a musa da oficina
que trazemos em nós.
A solidão
é um andar perdido
lá em si mesmo.
LA 05/007
Quando moço dava graças a Deus
por minha vida ser difícil.
Hoje, acho engraçado
ter pensado daquele jeito —
tanto que Deus me perdoou
e agora a minha vida é fácil,
gostosamente fácil.
Mas entendo: quando a luta é braba,
precisamos inalar ares de super-homem,
senão não conseguimos
nosso pedaço do mamute.
LA 05/007
O rico? Não raro é odiado.
O pobre, desprezado.
O médio, invejoso
em relação ao primeiro,
e arrogante com o segundo.
LA 05/007
Não jogue fora seus neurônios —
esqueça os que não gostam de você.
LA 05/007
Não comamos o fruto
da árvore da ciência
(daquela que está além do humano) —
este fruto é de ódio.
LA 05/007
Entre uma coisa e outra,
fiquemos com a que dá prazer
e só nos cobra o riso.
LA 05/007
Hoje nos visita
Sua Santidade
o Papa Bento XVI.
Muito carinho do povo,
que o recebe com amor
e muita fome de espírito.
Emociona
ver tanta fome,
não de justiça humana, —
fome de salvação.
Lembra a Bíblia:
“... Abraão creu em Deus
e isto lhe foi imputado
para justiça.”
Sim, emociona ver
como ainda é espinhoso
o sentimento do mundo
nos corações
ao lusco-fusco da verdade.
Como as pessoas necessitam
de que alguém lhes faça marulhar
as águas da fé,
do amor
e da esperança.
LA 05/007
Tudo tem um sentido relativo
e um sentido maior —
este cabe a cada um descobrir.
LA 05/007
Dia da Consciência Humana —
31 de dezembro.
( Deve ser esse o dia,
já que está tão refugada.)
LA 05/007
A arte é uma maneira de musicar
a beleza e a verdade.
LA 05/007
Um dia o dia da Consciência Humana
haverá de ser todo dia.
LA 05/007
As raças haverão de se calar —
deixarem-se tragar pelos tempos
e renascerem Humanidade.
Sim: o homem velho deve morrer
para nascer o novo.
LA 05/007
Tiremos nosso espírito da masmorra
pelo simples lembrar
que estamos numa marcha evolutiva
que deve se tornar (em tudo
e a todo o tempo) consciente.
LA 05/007
Nem herói nem bandido,
apenas gente com gente,
mas nem por isso displicente.
LA 05/007
Se você sabe que pode —
começou bem sua obra.
LA 05/007
Se você conhece um pouco de tudo
e quase nada de você —
seu conhecimento é subtrativo.
LA 05/007
Por fora,
vivemos todos
em liberdade
condicional.
Por dentro,
a liberdade
é do tamanho
do nosso ser-consciência.
LA 05/007
Sem o caos,
como teríamos renovação?
Sim, por dentro e por fora,
em nós e no universo
o caos é pai do recriar.
LA 05/007
Os deuses são da mesma natureza
dos homens,
que os pariram
de seus pânicos e temores,
suas angústias e necessidades.
Sim, em seus pavores e medos,
os homens
precisavam de protetores
terríveis e poderosos
a quem recorrer
para enfrentar seus monstros e rivais,
para matar, vingar, vencer as guerras
e serem protegidos e abençoados.
Sangue em sacrifício é o que pediam
tais entidades criadas pelos homens,
portanto, à imagem e semelhança do homem —
sem que se desconfiasse do processo-personas...
E assim os homens
trocaram sua condição de pais
para a de filhos humilhados e subservientes
de geração em geração
que, burilando o seu autoengano,
vão descobrindo o Espírito Criador —
que era antes de tudo, e é hoje e no futuro,
sem imagem, sem corpo ou entidade:
Espírito e Verdade, Alguém Pessoal,
Interpessoal, Universal,
Consciência Cósmica Onipresente:
Amor.
Deuspai, não visto, mas sentido e intuído,
dom-graça-inspiração,
alegria constante e força companheira,
presença em flor nas sensações dos que O aprenderam
a amar e a viver com Ele no seu coração:
sim, amá-Lo em espírito e verdade —
bondade e paciência sem fim,
deixando ao ser humano o seu mais pleno arbítrio
e as Suas leis a reger da gota d’água às galáxias,
da ameba ao homem.
Deuspai, o Sonho-Quem
que no homem soprou Suas virtudes —
passando-lhe a imagem-semelhança:
e o trabalhar unidos: Deus e o homem —
de Deus é o Sim,
do homem, a ousadia e a obra.
LA 05/007
A verdade é sempre do tamanho
que o homem pode suportar.
LA 05/007
O mesmo homem que mede a distância dos astros,
que faz cálculos da luz a atravessar os tempos,
que constrói aparelhos para computadorizar
seus estudos sobre o macro e o micro —
este mesmo homem não desenvolveu lá em si mesmo
aparelhagem alguma, nem sentidos nenhuns
para ver em si mesmo uma consciência a viajar-se
acasalada com o tempo que a enriquece e que a sublima,
nem muito menos desenvolveu olhos de ver
Deuspai em suas sensações e alegrias
ou sabe que a viagem que mais importa
é a interior: realizada lá no seu ser-consciência
enquanto Deus o é e o está ensinando
a conceber a luz e parir-se no sonho
que, acordando,
o traz de volta para Casa.
LA 05/007
Em vez de procurar entender a si mesmas
( em primeiro lugar ),
as pessoas querem entender
a vida, Deus, o universo,
os buracos de vermes do tempo...
LA 05/007
Sim, o caminho do meio
é sempre o mais seguro
e o do amor, o mais curto.
LA 05/007
O humor é como a humildade —
ajuda a abrir caminho.
LA 05/007
Com o tempo você sobe ou desce
com a mesma naturalidade,
até porque subir ou descer
só depende do ponto em que você está.
O mesmo vale para cair e levantar.
Sim, com o tempo, cair e levantar
já não faz rir nem chorar —
lhe serão coisas da vida.
Se você sobe, ganha o prêmio:
palmas, elogios (até dos inimigos).
Se dá com os burros n’água, recebe as vaias
e o desprezo, mas sereno e já sabendo
que o maior dom da vida
é justamente as suas situações
durarem sempre pouco.
LA 05/007
A uma certa altura,
viver é bem divertido.
LA 05/007
Há brisas de alegria
num coração que sabe ser criança.
LA 05/007
O macaco? Se eu fosse evolucionista,
acharia uma honra
descender de bicho tão simpático.
Se fosse criacionista,
eu o acharia muito parecido
com muitos de nossos atos.
LA 05/007
Se não crês no amor,
azar teu,
que podias fingir que ele existe
e saboreá-lo gostosamente,
como o faz
a maioria das pessoas.
LA 05/007
O mundo só pode nos engolir
quando a gente o engole antes.
LA 05/007
Veja o que fazem os homens:
Na palavra honorários
está o termo honra: honor —
para dar a impressão
de que aquilo que recebem
é de um fazer mais digno.
Bem sintomático, não?
Claro:
a interdependência vital,
que une os homens e as coisas,
não pode ser sentida
por quem ainda não tem
aparelhagem de senti-la.
LA 05/007
Sem consciência de humanidade,
viver é uma bobagem.
LA 05/007
Também os filhos de clãs e feudos
não se aposentam —
emeretizam-se:
emérito cabedal
que continua a vender as luzes
( e a força e o brilho )
de suas neuronoias.
LA 05/007
Quem tem valor
deve mostrá-lo em obras —
e não em conivências.
LA 05/007
Sim, há os que não fazem
e não deixam fazer,
não entram
nem deixam entrar.
LA 05/007
Para os que se refugiam nos fins dos tempos,
viver já é estar enterrado.
LA 05/007
Confesso que já me acostumei com a vida,
por isso aprendi a não ter pressa.
Ou como diria um bom romano:
“Festina lente”(apressa-te devagar).
LA 05/007
Pra duas coisas
não se deve ter pressa —
para morrer
e para pinxotar.
LA 05/007
Entre você e o mundo,
seja como o navio —
que vive e singra nas águas,
mas sem deixá-las entrar.
LA 05/007
Muita efusão
torna a amizade tóxica.
LA 05/007
No que se refere à vida,
chegamos sempre depois
e saímos sempre antes.
LA 05/007
Se a vida é dura,
a morte é o quê?
LA 05/007
Se não crês em Deus,
azar teu,
que não tens com quem falar
nas tuas longas noites brancas.
LA 05/007
O rato roeu a roupa do rei,
o tempo roeu o rei.
Tempo-rato, rato-tempo...
a nossa vida é vento —
mas um vento gostoso
de que, sensatos, extrairemos
muito aprendizado e gozo.
LA 05/007
Mariana lembrava
aquele doce de leite
en-ca-ro-ça-di-nho...
de se saborear
com colherinha niquelada.
LA 05/007
Ninguém precisa, Hafiz,
entender de bissetriz
nem chamar-se Beatriz
pra ser feliz.
LA 05/007
Para quem arde em fome
um pirulito é um banquete.
LA 05/007
As pessoas não se importam conosco,
nós é que fazemos um juízo errado.
LA 05/007
Quanto menos visitas os amigos
tanto mais a amizade se prolonga.
LA 05/007
A indiscrição torna quase impossível
viver com as pessoas.
LA 05/007
É bom não confiar em amigos,
não porque sejam maus,
mas pela própria natureza humana.
LA 05/007
Sem a música
teríamos bem menos companhia.
LA 05/007
A nossa natureza
é bem semelhante à dos nossos amigos —
portanto,
não exijamos muito de ninguém.
LA 05/007
Nosso tempo nos ordena:
Porás grades sobre muros altos
e sobre elas
pontas multifarpadas
e sobre estas
arames eletrificados.
Blindarás carros, portas e janelas.
Farás um esconderijo eletrônico subterrâneo:
ciber-esconderijo
dentro da tua casa.
Implantarás no corpo chips dígito-verbais
de interpassagem
do macro ao micro
e vice-versa: qual neutrino.
Só não colocarás câmeras e alarmes
naqueles lugares íntimos
de sair e de entrar.
Terás tantos seguranças quantos forem
teus cães carrascos,
teus tigres matadores,
teus lobos carniceiros.
Usarás colete blindado
sobre colante-corpo-inteiro,
também blindado.
Trabalharás, transitarás
e te comunicarás
tão-somente via Web.
E por último, meu filho:
nada de pânico —
já vai surgir aí a pílula
de invisibilidade idiossincrásica:
cada qual se fará invisível
segundo a sua natureza.
LA 05/007
Vá toureando seus bichos.
Alguma chifrada é normal.
LA 05/007
Organiza, decide a tua vida.
O que fizeres
seja bom para ti
e ruim para ninguém.
Um coração decidido,
um espírito reto.
O mais... o mais é viver
do modo que quiseres —
estando bom pra ti
está bom para Deus.
LA 05/007
A vida é um filme
que você faz para você
e a que assistirá sozinho —
lá em você-consciência.
LA 05/007
Você só pode sacar
o que investiu.
LA 05/007
Nosso primeiro erro na vida
é nos preocuparmos
demasiadamente em errar.
LA 05/007
Um de nossos problemas
é sempre querermos ensinar.
LA 05/007
Aconselhamos paciência,
mas temos pressa.
LA 05/007
Os que nos mandam aprender a viver
será que eles já aprenderam?
LA 05/007
Se você precisa de rotinas
para achar sentido nas coisas —
então já sabe o que é bom para você.
LA 05/007
Se precisa do novo em aventuras
para aplacar-lhe o desassossego —
então já sabe o que é bom para você.
LA 05/007
Se precisa tão-só do suficiente
para viver-crescer-organizar-se —
então já sabe o que é bom para você.
LA 05/007
A vida é bem maluca.
Talvez, por isso, o hospício
sempre fez parte dela.
LA 05/007
Sendo cego, o amor
nem atina com seus rivais
andando pela casa —
desde que usem tênis macio.
LA 05/007
Se um dia o amor se cansar,
ponha-o num spa, que logo, logo
volta-lhe a força e o tesão —
aí vocês se divorciam.
LA 05/007
Triste não é mudar o amor,
mas não se ter amor para mudar.
LA 05/007
O amor? Esse cara anda estressado —
nunca tirou férias.
LA 05/007
Há a guerra dos sexos
porque os dois lados se amam muito:
um não vive sem o outro —
e tudo gira saborosamente
em torno dessas charmosas loucuras.
LA 05/007
Machismo e feminismo
nasceram siameses.
Ninguém arrisca separá-los
porque qualquer desses dois bobos
faria muita falta.
LA 05/007
Incendiados de libido,
o amor é um desarranjo em nós.
Saborosas doidices.
Enganos de chocolate.
Logros com gosto de pistache.
Mentiras perfumadas,
celulares entrecortando
conversas aveludadas.
Temos que madurar pra ver
que essas loucuras foram o que houve
de mais delicioso em nossas vidas.
LA 005/007
O amor é bem capaz
de passar pelo fundo de uma agulha
e desprezar as delícias do céu.
LA 05/007
A distância entre a amizade e o amor
é uma bela história
que foi preciso se inventar.
LA 05/007
Enquanto o amor reza,
ofegante,
os cães ladram.
LA 05/007
O amor pode fazer sapatos
andarem nas mãos do dono.
LA 05/007
O amor é uma cabana
construída dentro de um castelo.
LA 05/007
Amor prudente
não traz o guardachuva.
LA 05/007
O tal primeiro amor
é só o primeiro quadro que pintamos —
sim: de modo algum o mais belo.
LA 05/007
O amor é aquela casa
que se constrói no coração
e em que se teima em ser feliz.
LA 05/007
Enquanto o amor faz estalar o estrado
os gatos miam arranhando a noite.
LA 05/007
Se não podemos mudar as coisas,
pelo menos fruamos gostosamente
os seus intervalos.
LA 05/007
Os homens não odeiam
os pequenos e fracos.
LA 05/007
Quem lhe confia segredos,
angústias, sonhos, traições
não é por certo seu amigo —
mas alguém que o confunde
com um padre ou psicólogo.
LA 05/007
O amor é especialista
em nos mostrar as coisas
como elas não são.
LA 05/007
Sim, o amor vê gente
em roupas no varal...
e vê fantasmas nus,
de carne e osso.
LA 05/007
O amor faz diamantes virar vidros
e faz de vidros belos diamantes.
LA 05/007
Se a vida é uma vela,
que ela queime
sem pingar em nossas mãos.
LA 05/007
Se não te acho com meus olhos,
te procuro com a memória.
Lembrar-te é bom
como dizer à infância em nós
que sua mãe já está chegando...
foi comprar doces, comida, coisas bonitas...
e eis que já está voltando...
Sim, lembrar-te é bom
como sentir o sol pela manhã...
Bonito como o céu de maio
todo florido em azul...
Lindo como colher flores silvestres
com duas pernas a correr na frente...
Excitante como a brisa no inverno...
Fascinante como os namorados
que fazem suas saudades
transarem por e-mails.
E belo, eternamente belo
como a beleza de te amar.
LA 05/007
Saber fazer durar nossos empenhos —
isto é que mostra de quem eles procedem.
LA 05/007
Devemos lutar nas adversidades
e nas diversidades.
Naquelas,
para sobreviver.
Nestas,
pra não morrer.
LA 05/007
Herdamos o medo de nossos pais
e dos que nos queriam castrar a infância.
LA 05/007
Sosseguemos!
Os negros fiquem sossegados —
todos os brancos
vão virar negros.
Os brancos que sosseguem —
todos os negros
vão virar brancos.
Tal só não se dará
com nossas mães —
para que cuidem de nós
com amor,
com muito amor,
e nos ensinem coisas
que vivam aqui e além
do arco-íris.
LA 05/007
A vida não é brinquedo,
não é uma bobagem —
a vida é muito mais que cor da pele,
tamanho, formas, chiliques.
Cada um nela tem
o que lhe é bom ter.
Cada qual nela está
em busca do que lhe falta.
A vida é muito mais
do que o nosso mesquinho não-saber.
LA 50/007
A pessoa ressentida
é sempre alguém pequeno.
LA 05/007
Perdoar é superar-se.
LA 05/007
Não perdoar é estar amarrado.
LA 05/007
E veio o medo
( bilhões no mundo o cultivam ),
um medo quase escudo,
um medo quase dom,
diria até — delicioso:
um medo que alivia
os sonhos e os cansaços —
medo misericordioso
de apocalipse,
de fim de mundo:
sim, medo,
medo catarse,
mesclado nas delícias
de fim extremo
( é assim que o cultiva o mundo ).
LA 05/007
Os muito pobres vão pegando
um mal-estar do ser humano.
LA 05/007
Se buscamos um sentido,
ele precisa ter sentido.
LA 05/007
Não se esqueça:
Ria sempre,
e bastante —
não só dos outros.
LA 05/007
Sempre emprestava a Deus
em suas caridades.
LA 05/007
Amar demais o trabalho,
refugiar-se nele
é estar nos braços
de alguma coisa terminada em “ia”.
LA 05/007
Quem não sabe ser feliz com o suficiente,
por certo a vida não lhe será agradável.
LA 05/007
Estava André a afogar o bípede,
quando eis que mão intempestiva,
estranha quanto infeliz,
lá da rua,
lhe torpedeia a porta!
Olhou pro belo lago,
e este lhe diz,
já bem a marulhar:
Acaba de matá-lo! Acaba,
acaba... Com esse bicho
não tem oito,
sim, não tem oito —
só oitenta.
Obedeceu sem hesitar:
e foi estrangulando-o,
devagar, devagarinho —
até tê-lo estiradamente
morto-minguante,
minguante.
LA 05/007
Um dia pensarão que estou caído
na estrada, na rua, no parque... Mas não —
era só minha capa.
LA 05/007
Onde há muita pompa e luxo,
ao lado ou dentro
existe muita miséria e doença.
LA 05/007
Vamos vendo nos outros
exatamente aquilo,
aquilo que queremos ver.
LA 05/007
Um dia pensarão que morri,
mas não —
só troquei de morada.
LA 05/007
— Se todas fossem, minha nega, iguais
a você,
ah, minha nossa, que tédio!
— Acha mesmo, amorzão?
— Sim, como é que eu poderia
fazer amor só com você,
mas cada vez mais variado —
toda vez mais diferente
e original —
a ponto de algumas vezes
trocar-lhe o nome?
A diferença é linda:
faz de uma coisa
punhados,
variedades dela.
E isso não custa nada, nega, —
só se usa a imaginação,
que não custa nem dói.
Ah, se pudéssemos todos
e todas,
minha nega,
se pudéssemos todos
ser um —
como a consciência de cardume!
Aí nem se precisava
extraviar-se em pensamentos.
Até os moralmistas
iam gostar.
LA 05/007
Ah, aquela Marilda!
Marilda colecionava.
Sabia, conhecia,
e como conhecia!
Conhecia e se fartava.
Saudade
do seu sorriso hormonal,
do seu olhar guloso.
É bem provável
que já tenha mudado
de sua fase de móbile
para aquela tal imóvel.
LA 05/007
Sim, o tempo a enterrou, mas bem depois
de ela ter enterrado
devagar e de-li-ci-o-sa-men-te,
com líricas fungadas,
os homens “interessantes”
de seu romântico rincão.
LA 05/007
O que a boca diz sinceramente
os olhos sabem que é mentira.
LA 05/007
Em geral “exigimos” que nos digam
exatamente só aquilo
que queremos ouvir.
LA 05/007
Ferido o orgulho,
a vaidade se rebela.
LA 05/007
Os amantes que se visitam
fingem ser bem mais felizes.
LA 05/007
O fato de nunca termos feito,
minha amiga,
é que gerou essa delícia
eterna
lá num raro teria-sido.
LA 05/007
Sim, o tempo guardou as delícias
da musse que não fizemos —
de sorte que fazê-la hoje
seria até pecado.
LA 05/007
O vento passa louquinho
com as suas orelhas
de abanar fogo.
É já que vai chover,
comadre.
Sim, vai chover, minha comadre,
vai chover. Entra pra dentro,
vamos tomar um cafezinho
enquanto Alzira, a minha nega,
não vem.
LA 50/007
Ah! Era bom quando ela vinha.
A gente parecia ponte pênsil.
LA 05/007
A embaixatriz matou-se
com um bilhete alfinetado à blusa:
Cansei de ser expletivo
da vaidade humana.
LA 05/007
Sorri aos que te odeiam,
finge-te forte aos inimigos
e ( de porta fechada )
chora perante Deus.
LA 05/007
A mais bela maturidade
de uma pessoa
é aquela verdinha
de sua infância.
LA 05/007
Em grupo,
a loucura é mais visível.
LA 05/007
— Que diabo, Rosa!...
— Que foi, padre?
— Ainda tenho meio copo de vinho,
mas seu marido já vem vindo...
Se ele me vir saindo,
diga-lhe que sou um empresário
bem sucedido —
fabrico berrantes.
LA 05/007
Lembra, nega, quando passávamos
um longo tempo sem nos vermos?!
A gente parecia um chafariz.
LA 05/008
Amantes rimam
com diamantes,
mas tudo pode acabar
em bijuterias.
LA 05/007
Tuas mãos deixam bonito
o esmalte de suas unhas.
LA 05/007
Mandei-lhe pensamentos passeriformes
cantar, hoje, à sua janela.
Você pode não tê-los visto,
mas eles estiveram aí.
Você pode não tê-los ouvido,
mas eles cantaram para você.
Feliz aniversário!
LA 05/007
O cara se sente tão mal
que marca data pro fim do mundo.
LA 06/007
Quando eu for pro beleléu,
te espero, nega, no céu —
a menos que não vás pra lá.
LA 06/007
Eram mãos que abrilhantavam
quaisquer anéis,
e pernas que adornavam
quaisquer saias.
LA 06/007
Quem vê cara
vê coração e tripa.
LA 06/007
Marido bom é o que volta pra casa.
Esposa boa é a que não entende,
mas compreende.
Tenho orado a Santo Antônio
por uma mulher assim.
Sim, para estas,
tem-se que entrar na fila —
não existem à pronta entrega.
LA 06/007
Quando ele trocava de carro,
corria ver o amigo —
sim, só para falar um “oi!”
LA 06/007
Ela atravessava a rua,
bela como saber-se assim.
Nossos olhares se roçaram...
mas foi o suficiente —
beijafloramo-nos no ar
LA 06/007
Você deixou esta saia
a mais bonita que já vi.
LA 06/007
Frederico, o Fredinho,
visitava o amigão do peito
e sua linda esposa
ao menos três vezes por semana.
Uma amizade assim,
diziam os vizinhos,
é coisa rara.
LA 06/007
Um cônjuge que foge não abandona —
deixa o outro livre dele.
LA 06/007
Sem alegria, viver é pecado.
LA 06/007
A alegria somos nós
de bem com a vida
e libertos das nossas miudezas.
LA 06/007
Em geral, querem nos mudar...
Mas não sabem que, se o conseguissem,
serviríamos ainda menos
para o que querem de nós.
LA 06/007
Nossos limites são para serem ultrapassados
e não para construirmos um pódio sobre eles.
LA 06/007
Um minuto para somar a consciência
à Consciência Humana —
todos os dias
das onze e cinquenta e nove
ao meio-dia.
LA 06/007
A adversidade nos dá força
para construirmos degraus e patamares
por fora e por dentro de nós.
LA 06/007
Procuro ser melhor do que a mim mesmo
sem desfazer do que fui e do que sou.
LA 06/007
Triste, terrível:
hoje a violência se tornou gozo
entre todas as classes sociais.
A violência tem uma forte libido.
LA 07/007
A impiedade vai matando a alma.
LA 06/007
Afins geram afins —
aqui e além.
LA 06/007
O homem é o que ele tem no coração.
LA 06/007
Quem adotou a mentira
dificilmente criará a verdade.
LA 06/007
Há uma mão no final do seu braço
com que você deverá contar.
LA 06/007
Se você sabe do que é capaz,
o mundo pode falar o que quiser.
LA 07/007
Se a chinela não lhe serve,
lembre que por aí
anda muito pé descalço.
LA 07/007
O amor é como o fogo —
haja lenha!
LA 07/007
Frase ecologicamente incorreta:
Haja lenha!
LA 07/007
Se as belas pernas
não são a alma do circo,
ao menos são seu corpo.
LA 07/007
Palavras ensaboadas
com o tempo descoram de sentido.
E quem as pronuncia
fica vazio,
deliciosamente vazio.
LA 07/007
O mundo late, berra, ruge, mia
sob a batuta da economia
a executar a sinfonia
dos coniventes dominós.
LA 07/007
Não esqueçamos:
hoje é o dia
da Consciência Humana.
LA 07/007
Era um cara bem profundo.
Escrevia, pensava tão profundo,
cada vez mais profundo,
profundamente profundo,
profundo...
até que um dia —
não veio mais à tona.
LA 07/007
Meu amigo Sofósio ponderou:
Se Deus criasse Adão e três mulheres,
o nosso pai primeiro nem pecava —
enquanto as três se arrancavam as melenas,
painho Adão dormiria
gostosamente preguiçoso
que nem Macunaíma.
LA 07/007
Os grandes intelectuais
têm uma bunda de ferro.
LA 07/007
Devagar, pega leve,
cara.
Bravatas e bazófias
pra quê?!
Vem a vida, te dá um chapéu...
e passa a bola
para quem ela quer.
LA 08/007
Uma das delícias do amor
é ser ele cego
do olho que lhe convém.
LA 08/007
Há os “vim-fiz-sumi” —
vêm, fazem e somem
rápido-rapidinho,
mas deixam um belo rastro.
LA 08007
Nossa maior decepção,
aliás, ruína,
seria podermos ler
na mente das pessoas.
LA 08/007
— Que horas são?
— Agora é hora
da Consciência Humana.
LA 08/007
Claro que a realidade
é como a vemos.
Assim não fosse, nega,
que graça que teria
a estupidez geral?
LA 08/007
Muitos se preocupam em ter amigos.
Nunca vi ninguém preocupado
em ser amigo.
LA 08/007
Nossos sonhos e alvo,
sendo o que nos apraz,
nos dão alegria e força,
de sorte que assim nos livramos
do que o mundo nos quer impingir.
LA 80/007
Quem disse que seria boa
a oportunidade perdida?
LA 08/007
O lado mais belo do amor
é ele se reinventar a cada dia.
LA 08/007
Em alguns casos,
temos mais dó do cachorro
do que do cego.
LA 09/007
Sabendo que posso me matar,
sinto-me mais à vontade
para zelar por minha vida
e vivê-la com um sentimento
de ungida preciosidade.
LA 09/007
Fazer-se de desentendido
faz tropeçar a arrogância.
LA 09/007
Trabalho é bom, mas o descanso
é ainda pra lá de bom.
LA 09/007
Repouse, coce os mimos
e goze o dia que o Senhor lhe deu.
LA 09/007
Mal acabamos de escrever,
o texto voa de nós para sempre.
LA 09/007
Lembremos: cada momento
é momento de Consciência Humana.
LA 09/007
O amor comum é isolamento,
exigido dos dois lados.
LA 09/007
Claro, pode ser feia...
mas tem que ter no charme
aquele pizz-pulsão.
LA 10/007
Se você tranca o amor,
ele escapa quando quer.
Se você o deixa livre,
então já está livre.
LA 10/007
A beleza da vida nos é dada
em seus noventa e nove por cento
pelo nosso beato não saber.
LA 10/007
Chorar para as pessoas enfraquece,
mas chorar para Deus nos fortalece.
LA 10/007
Doces mentiras,
saboreadas com competência,
viram verdades.
LA 10/007
Muitas vezes trocamos
bom senso por loucura
e provamos para nós mesmos
que isso foi muito bom.
LA 10/007
Mente-se tanto
que se acaba acreditando
no que se mente.
LA 10/007
Mente-se tanto
que se morre pela mentira
aos sons de capciosos hinos.
LA 10/007
Uma jabuticabeira
ainda moça
com colares e colares
de esferas lustrosas e negras.
LA 10/007
Entre sonhá-la e querê-la
vai o amor pisando as uvas
do seu capitoso vinho.
LA 10/007
Todo ano, entre outras coisas,
é ano da Consciência Humana.
LA 10/007
Nem precisamos mais de vaca.
Várias empresas
de laticínio
estão fazendo leite
pra nóis.
Fórmula:
água (óxido de diidrogênio),
soda (hidróxido de sódio)
e água oxigenada (peróxido de hidrogênio).
Nem Deus sabe há quanto tempo
a gente vem comprando e consumindo
essa coisa branca laboratorizada
que pagamos caro, muito caro
e ingerimos como leite.
O senhor ministro,
branquinho como ricota,
disse que ficássemos sossegados —
temos um dos melhores leites
do mundo.
LA 20/10/007
Enxergamos e compreendemos
o que mais nos convém.
LA 10/007
Nosso amparo espiritual
é do tamanho
que acreditamos ter.
LA 11/007
Amor anda muito caro.
Mas dizem que o genérico
está tão bom
que o outro nem faz falta.
LA 11/007
Adoro mulheres brabas.
Gosto de vê-las
quebrando a cara
dos amigos e vizinhos.
LA 11/007
A cara do ministro
parecia uma fatia
bem grossa
de marmelada.
LA 11/007
Seu clitóris era lindo —
parecia uma careta
de cajuzinho do campo.
LA 11/007
Pescando traíra e bagre
Sofósio explica ao André:
Perereca, seu moço,
tem um coaxo engasgado.
Tanto canta na vala
quanto canta no pau.
LA 11/007
Minha amiga tinha mais anéis que dedos,
por isso carregava alguns
numa correntinha ao pescoço.
Seus psicólogos
( sim: tinha vários ),
como Galileu,
olhavam-na em elipses.
LA 11/007
Todo mês é mês
da Consciência Humana.
LA 11/007
Só sabendo o que em nós não é bom
é que podemos alcançar o melhor.
LA 11/007
Quando a teoria
já não para de pé,
muda-se um poucochinho
o ângulo da dialética —
e prossegue-se.
LA 11/007
Amor à primeira vista não quer dizer
que dure até a vigésima olhada.
LA 11/007
Coisa dura é ter que rir
para agradar —
já que o riso ensaboado
conserva as aparências.
LA 11/007
A fertilização in vitro é romântica,
já que o mundo tem gente
vazando pelo ladrão.
LA 11/007
O inútil e o fútil
são um mesmo e só tesão —
o fútil e o inútil,
só muda a posição.
LA 11/007
Era tão boa,
tão bela,
tão perfeitamente feminina,
que o padre nem a deixava ir à igreja —
ia lá.
LA 11/007
O primeiro amor é o primeiro quadro
de qualquer galeria.
LA 11/007
Tudo caminha bem,
mesmo quando
nos parece o contrário.
LA 11/007
Por bom que tenha sido,
o passado
é café requentado.
LA 11/007
Penteamos os cabelos,
pingamos colírio,
passamos filtro solar,
lustramos os sapatos...
O coração, coitado! nem ligamos
com o que sente ou pensa na vida.
LA 11/007
O amor é um gênio —
finge ser o que finge.
LA 11/007
O segredo
é irmos nos adaptando
e aprendendo sempre —
assim sobrevivemos
a quaisquer meios e tempos.
O que somos realmente
só nós e Deus sabemos.
LA 11/007
Em geral, pregam-nos mudanças
porque do jeito que somos
já não está servindo
ao que querem de nós.
LA 11/007
Quem gosta de mandar
deve saber obedecer.
LA 11/007
O homem não soluciona —
modifica.
LA 11/007
Todas as teorias
estão doentes de incertezas.
Portanto, muito cuidado —
deixe que o tempo
mastigue-as bem,
depois você engole.
LA 11/007
Uma teoria
é apenas uma picada
na borda de uma floresta infinda.
Para chegar-se ao ponto,
muitos enganos,
desenganos,
lutas e sagas —
muita aventura.
LA 11/007
Teorizar é ousar.
Sem essa base-força,
não há começo.
LA 11/007
O bom discípulo
fareja o aprendizado —
sábios e tolos,
situações favoráveis e contrárias,
tudo pode ensinar
a quem está conscientemente disposto
a aprender e organizar-se.
LA 11/007
Quando há obsessivo apego no amor,
ele começa a desamar.
LA 11/007
Falando-se nas entrelinhas,
geram-se as linhas
e a tinta
que vai pintando a boca das palavras.
LA 11/007
Morrer de pé
é igualmente morrer.
LA 11/07
Será que alguém já viveu sem medo?
LA 11/007
Se o homem abusar
da bondade de Deus,
por certo se prejudicará.
A paciência divina é infinita,
mas há leis que fazem cumprir
os desígnios da Vida.
LA 11/007
Quem sabe um dia
alcançamos viver o que somos.
LA 11/007
Somos ingênuos na infância
e desvão seguinte.
Somos tolos na adolescência.
Petulantes na mocidade.
Insensatos na meia-idade.
Passamos por prudentes
( melhor fora: tímidos )
na idade branca.
E nunca,
nunca dá tempo
de aprendermos a viver.
LA 11/007
Tanto nas convicções como nas mentiras
vejo a verdade correndo perigo.
LA 11/007
Os pobres sempre pagam
o pato ( que não comem )
e o vinho ( que não bebem ).
LA 11/007
Se tu me amas, fá-lo
bem devagar —
ninguém venha a escutar
um só estalo —
sussurrava-lhe Marilda
naquela frágil caminha
no quarto enorme
(com pessoas ressonando) —
tudo escuro como tiziu.
LA 12/007
O amor que nunca saboreou loucuras
não sabe degustar
as deliciosas doidices da razão.
LA 12/007
Viver é um tesão,
mesmo porque a vida
está sempre com aquela
sainha-abajur —
pedindo que se lhe troque a lâmpada.
LA 12/007
Reze contra as tentações do amor,
seus amavios e trapaças,
seus jogos e seduções.
Porém, não reze tanto,
senão tais males
jamais lhe vão acontecer.
LA 12/007
Coberto até o pescoço,
lá da cama saboreei:
Um sabiá acordava
a aurora
com infinito,
aperolado carinho.
LA 12/007
O homem só começa a crescer em humano
quando deixa abrir lá em si
a consciência
da Consciência Humana.
LA 12/007
Ah, imagina, nega! Apenas
quebramos o galho.
Mas se houver uma lima
pra amolar o machado —
derrubamos a árvore.
LA 12/007
O humor,
o riso,
a ironia,
o trocadilho,
a brincadeira,
o ridículo —
são para os saudáveis.
LA 12/007
Niemeyer
escreveu com concreto
sua mitopoesia.
Mostrou que o cimento
pode também viver
sua utopia —
sem precisar descrer
do deus das formas.
Niemeyer
recriou em cimento
a sua mitoinfância —
nume a mediunizar
o homem genial
que é.
Seus mitopoemas
são declamados
pelo tempo.
Honesto consigo mesmo,
os anos foram depurando
sua pessoa
até aquele ponto humano
em que o homem sente em si
a humanidade inteira
e se transcende sorrindo,
solvendo-se em calma e luz.
Deus abençoe, senhor Niemeyer,
seus cem aninhos de cimento armado.
LA 12/007
Quase sempre as pessoas,
quando vivem muitos, muitos anos,
despregam-se dentro de si mesmas
(como o caroço de algumas frutas)
e brotam para o outro lado das coisas —
transcendem-se:
já vivem além de si mesmas —
lótus que vem da noite à luz,
nascido com o pé no lodo
e a corola a transbordar
do sorriso de Deus.
LA 12/007
Três cheiros bem domésticos:
o café sendo coado,
a goiaba sendo apurada
e o pão assando.
LA 12/007
Pois é.
Tem dia que de noite é assim.
Feliz Natal,
cambada!
E um 2008
com muito amor no bolso.
LA 12/007
A Marilda?
Me disse que só se ajunta
com homem de P maiúsculo
e bolso RECHONCHUDO.
LA 12/007
Um partido
só se lembra do seu credo
quatro minutos após ser eleito
o dono do trono
pelo qual fez o diabo.
Exagero? Pode ser que sim.
Quem quiser
acrescente uns segundos
aos tais quatro minutos.
LA 12/007
No amor tudo é maior,
inclusive nossa burrice.
LA 12/007
Na estrada para o fim
nos lembramos muito de nossos pais
e daquela casa que eles nos emprestaram.
Tudo ganha um sabor de pão da infância,
um cheiro daquela goiabada
feita em tacho de cobre.
Temos lastro bastante
para conversarmos com eles frente a frente
e sabermos que não sabemos.
Isto é, vemos que eles estavam certos,
mas que fizemos muito bem
em não concordar com eles.
Gostamos deles, os amamos,
mas nos sentimos outra gente,
tal como são outros os nossos filhos,
outros os nossos netos.
Na estrada para o fim
percebemos que o tempo
são portas que se abrem e fecham
na casa em que Deus nos pôs
e que ficou dentro e fora dela...
e que nos sendo ( Deus nos sendo ),
também estamos,
sim estamos dentro e fora de tudo
e que, como Ele, também somos tudo.
Na estrada para o fim
caminhamos sempre para um começo —
um fininício cruelmente belo.
LA 01/008
Solenidade,
formalismo,
academismo,
cenho duro —
coisas para os enfermos.
LA 01/008
Quem sabe
só sabe
não saber.
Agora
quem faz a hora
é o relógio —
que, tendo pilha,
a faz acontecer.
LA 01/008
Hoje é dia da Consciência Humana.
LA 01/008
André, ontem, bebeu umas
e desabafou:
Tive uma amiga gostosa,
inteligente e bonita.
Uma mulher metida —
ativa e depoentemente
metida.
Metida em todos os sentidos —
metida.
Só não o fez comigo.
De mim queria
lhe segurasse a cabra —
pra ter uma referência,
um porto
e então poder singrar
por mares nunca dantes...
Dessas que gostam de variar —
a unidade na diversidade.
Recebia em sua casa intercrural
seus nobres vaginícolas.
O engraçado
é que jurava a si mesma
que eu a aceitaria assim
sem hesitar
e agradecidamente.
Ah, essas metidas!...
LA 01/008
O Josildo?
Tentou malandrear Cacilda(!)
e levou um bem maior
do que podia aguentar.
LA 01/008
Sempre que padre Ignácio
advertia as mulheres:
Cuidado, muito cuidado
com essas linguiiiiiinhas!,
o sacristão pensava:
Sim, uma pena
empregar mal as coisas.
LA 01/008
Caberemos nós todos
no dia constelado
da poesia.
Mas quando chegar a noite
cada um vai dormir
com o que fez.
LA 02/008
Excelentíssimo senhor:
Também quero um Cartão
Corporativo —
preciso viajar,
tomar sorvetes,
comer tapioca
e ( ninguém é de ferro! )
me divertir em Las Vegas.
LA 02/008
Cresce a consciência
da Consciência Humana.
LA 02/008
Não sei se compro sapatos
com um número maior
ou corto as unhas.
Talvez não faça
nem uma coisa nem outra —
ando descalço.
LA 02/008
Mamãe disse a nós duas
que de mocinhos
o que se pode esperar
é um pouco mais de dureza —
mas só isso.
LA 02/008
Bem mais que o vinho,
fermenta a Consciência Humana.
LA 03/008
Sim, não há odre que aguente
o expandir da Consciência Humana.
LA 04/008
Amarra-se o corpo,
jamais a Consciência Humana.
LA 05/008
Mata-se o homem,
jamais sua consciência
dentro da Consciência Humana.
LA 06/008
Subiu tanto na vida,
que quando caiu
não sobrou nada.
LA 07/008
Era tão bela e doce,
que o marido morreu de diabetes
aos trinta e dois.
LA 07/008
As grandes marcas dos tempos
são os teores da Consciência Humana.
LA 07/008
Quanto à mulher,
o problema seria não havê-la —
pois que ela não só faz viver
como dá sentido à estrela.
Sem a mulher, meu filho,
não haveria quem aguentasse.
LA 08/008
O melhor de um relacionamento
é quando ele termina.
Seu punhado de lembranças boas
compensam ter acabado.
LA 08/008
O orador falou quatro horas e dez minutos.
Depois de oitenta minutos,
a platéia de quando em quando
o aplaudia de pé,
demoradamente de pé —
para descansar a bunda.
Nestas alturas, o palestrante
se derretia em ares
de serafim...
e com as mãos cruzadas,
um sorriso beato,
parecia dizer a todas
e todos:
Imaginem!... Imaginem!...
Bondade, bondade sua,
minhas senhoras...
minhas boas senhoras...
e senhores.
E logo voltava,
bem compassado,
poético,
num tom afetado e musical.
LA 08/008
Voar muito alto nos torna invisíveis
para os que ainda não têm asas —
dizia o paraninfo
sorrindo inteligente
para os seus afilhados.
LA 08/008
Trabalho, Nega, É Bom...
Trabalho, nega, é bom, mas há que haver
a sua honoris pausa: a maciota —
esse gêmeo palrar into com ota
e tudo mais que seja não fazer,
ou, por outra, que seja refazer
o tal não feito: descalçar a bota
antes de pô-la, a descascar lorota.
Sim, fazer muito nada a nadescer.
Trabalho, nega, é bom e dignifica,
se bem que isso não é pra gente rica —
a tal já coleciona honoris causa.
Trabalho de bacana é até folguedo.
E quanto mais folguedo e mais brinquedo
tanto mais merecida a honoris pausa.
LA 08/008
Os Amplos Céus...
Os amplos céus coalhados de gaviões
e as gaiolas repletas de pardais.
É até bonito ver tantos ladrões
unindo os céus e os ares federais.
Sim, federais, universais: normais
como exercer com charme o além-funções
de suas mãos tão mágico-geniais
a engavetar formais acusações.
É patético ver que mãos mortais
pilhem e empilhem lá nos seus porões
como vivessem vidas eternais.
Aonde será que foi o sonho-mais
sob estes céus coalhados de gaviões
e gaiolas repletas de pardais?
LA 08/008
Aprendi muito com você.
Inclusive que o depois
(nunca havido)
foi bem melhor que o antes,
que também jamais houve.
LA 08/008
Se soubéssemos calar,
tornaríamos possível
até a convivência.
LA 08/008
Um dia você me disse
que eu tinha chegado “depois”.
Não demorou, você mesma,
você mesma se viu chegada
depois do meu depois.
LA 08/008
O universo, seus enigmas,
seus buracos. Buracos.
Cientistas e cosmólogos
têm cosmogônicas obsessões
por tais sorvedouros.
E vivem se encantando com os tais.
Aqui na Terra
nunca foi diferente —
existe até a metáfora
para expressar engano ou dificuldade:
‘O buraco é mais embaixo’.
Para acabar de vez com a dúvida,
fui à cabana de Sofósio
e joguei-lhe a dúvida:
Afinal, meu bom caboclo,
o tal buraco
é mais embaixo ou mais em cima?!
Ele bodoqueou:
Depende, gente boa, depende...
De costas, é mais em cima.
De frente, é mais embaixo.
LA 08/008
Aprendi a ironia,
o humor,
o riso,
a gargalhada —
e assim pude sobreviver-me,
a mim e ao mundo.
LA 08/008
O tempo proclamou
a barba de Karl Marx
bem mais gloriosa
do que as suas ideias.
LA 08/008
As correntes se partem
com o martelo
da Consciência Humana.
LA 08/008
Olha, compadre,
é como já dizia
meu saudoso Teodoro:
Esse negócio de razão e gosto —
é cada um ca sua
e cada um cu seu.
LA 08/008
Pato Lógico
Se juntarmos o meu pathos com a tua pathas, amorzão, por certo teremos penas para muitos travesseiros. LA 08/008
Nossos cabelos brancos a Imédia já deu um jeito. Quanto às nossas fraquezas sabemos disfarçá-las. LA 09/008
Amanhecimentos
Sim, sorte tua: vives num momento em que podes pensar, principalmente porque já está morto o pensamento — morto, sepulto lá dentro da gente.
Por sorte tua, com algum talento, podes também sentir, bem friamente, que está anestesiado o sentimento — em coma: em nosso coração e mente.
Sonhar já nem se sonha: se é sonhado. Esperar, hoje, é pão embolorado — um esperar cansado e amanhecido.
E as promessas em nosso ter vivido? Algo que se negou e está passado — e até já cheira mal: sabe a vencido. LA 09/008
“ Quem parte leva saudade, quem fica” ‘não vai no trem’. Dinheiro e maturidade não fazem mal a ninguém. LA 09/008
Sim, claro, nega, — tudo vale a pena se a alma não se depena. LA 09/008
Olhando para trás, se entende. Para a frente, se vive. LA 09/008
Com o farol de ré da experiência e o farol de avante da perspicácia e analogia temos o ver da Consciência Humana. LA 09/008
Sou apenas um “velhinho” esbordoado latino-americano sem dinheiro e sem bolso nem coisa alguma na bolsa pagando taxas e impostos num antigo sobreviver. Lutei feito um danado mas sempre vence o mercado com seu poder de safado, com seu tesão desbragado. LA 09/008
Chorar só pra desabafar, logo em seguida — rir, calma e gostosamente rir e ver a vida passar de minissaia. LA 09/008
O que os pais escondem os filhos contam e descontam em cheques. LA 09/008
Quem espera passa a hora, fica até escurecer. Já quem virá pode até se esquecer. LA 09/008
Os homens são títeres, não do destino, mas das bolsas da deusa economia. Os homens são marionetes da ganância pessoal casada com a universal — e assim constroem uma coisa triste, muito perversa e patética, que chamam de realidade. LA 09/008
Escrevivendo, aprendo-entendo — organizo a mim, os enganos, as loucuras da vida, as amargas delícias, as venturosas desventuras, os martírios dos céus, os manjares da terra e os raios (que não nos partam!), já que não faltam. LA 09/008
Você planta, o vento arranca, a chuva manca, o crédito se tranca... E aí? Aí ou você chora ou ri. LA 09/008
O amor? Não se preocupe — enquanto você pagar o ingresso, haverá espetáculo. LA 09/008
Só nos preocupamos com os outros quando atacam a nossa vaidade. LA 09/008
Se o amor é bom de rabo, dura mais um pouquinho. LA 09/008
O que temos ou somos não nos agrada. Adoramos o que não temos ou somos. LA 09/008
Quando a vontade é fraca os sonhos não têm força para romper a casca da esperança e ganhar asas. LA 09/008
Muitos ajuntam dinheiro a vida inteira e querem que os respeitemos por isso. LA 09/008
Quando você entende a logística do amor é porque ele acabou. LA 09/008
Sim, a vida é uma sombra que passa... e o seu significado é a luz que faz haver essa sombra. LA 09/008
Livrar-se das armadilhas do mundo e dos logros de si mesmo é a maior riqueza de um homem. LA 09/008
Se a rosa tivesse o nome de hortênsia, então diríamos que a hortênsia era a mais bela das flores. E seus espinhos continuariam sendo o segredo do seu charme — a delícia dos opostos. LA 09/008
Não raro, o mentiroso é tão ingênuo que a gente acha uma pena que o que diz não seja verdade. LA 09/008
Nossos hábitos ( e vícios ) se tornam como que entidades exigentes dentro de nós a nos desafiar a razão e a consciência. LA 09/008
Nossos pensamentos são pedaços de nós. Sim, formam coisas que são nossas. LA 09/008
A vida é uma equação que foi montada por nós e por nós deve ser resolvida. LA 09/008
O ressentimento baralha a realidade mudando a chave do destino. LA 09/008
Perdoar é desfazer a parelha entre ofendido/ofensor — é um livrar/livrar-se. LA 09/008
O homem se arrasta pela felicidade, essa vilã dos tempos. LA 09/008
Muitos fazem da verdade algo tão alto que não podem jamais alcançá-la. LA 09/008
A alegria é dom gratuito — não precisa de motivo. É graça que resplandece plena de infância e orvalho: sorriso de Deuspai em nós — por isso nos é força. LA 09/008
Já a felicidade pede motivos: precisa-se disso ou daquilo para tê-la. LA 09/008
Perdoar fica sempre bem mais barato. LA 09/008
Vingar-se é continuar na roda. LA 09/008
Um palácio é um palácio quando quem lá mora é a corte. Se invadido por muitos e dividido em espeluncas — então será um cortiço. LA 09/008
Se o cair da chuva, o canto das aves, as cores do verão, um olhar sorridente não lhe tocarem a alma — você está doente de mundo adulto. LA 09/008
Só os mendigos sabem verdadeiramente abençoar o pão ao parti-lo. LA 09/008
Nossos sonhos trazem em sua natureza muito do nosso meio e do nosso DNA. São do tamanho da nossa dedicação em ousar. LA 09/008
Os sonhos são a nossa alma inventando. LA 09/008
Para o que gostamos de fazer levantamo-nos de madrugada. Para o que nos é enfadonho — muito justamente perdemos a hora e o trem. LA 09/008
Não acreditem no amigo, principalmente se vocês forem ricos ou tiverem cônjuge muito bonito. LA 09/008
O coração ama a vida e a vida é a rosa na mão do arlequim. LA 09/008
Quem jura mente, principalmente se apaixonado. LA 10/008
Tira as máscaras que o mundo te moldou, ainda deves ter uma face. LA 10/008
O tempo nos opera da miopia e vai nos dando a visão madura da Consciência Integral Humana. LA 10/008
Não direi a ninguém que tudo aquilo que mais aparentas não ser tu o és bastante. LA 10/008
Sentimos e vemos o mundo de acordo com o que estamos sendo em alma-coração. LA 10/008
Primavera poderá ser inverno e vice-versa, se assim os sinto lá em mim. LA 10/008
O sentido das coisas, ou sua falta de sentido, somos nós. La 10/008
O ser e o tempo emprestam à vida sentido e movimento. LA 10/008
Pela vontade remoldamos e recriamos a nós e as coisas. LA 10/008
Sem uma obstinada vontade de vencer não se rompe a barreira da mediocridade. LA 10/008
A ira, o ódio, a mágoa embaçam nosso ver e sentir a vida e o mundo. LA 10/008
A rosa é bela quando estamos belos por dentro. LA 10/008
Saber é fácil, difícil é fazer. LA 10/008
Ser pedra é bem tranquilo, o duro é bater nela. LA 10/008
Ter belas idéias não é difícil. Difícil é fecundá-las, incubá-las — dar-lhes corpo de realidade. LA 10/008
Em geral as pessoas vivem como fantasmas entre o passado e o futuro, longe, bem longe do hoje — que é onde se pode fazer e refazer, criar e recriar, moldar e remoldar: viver e ajudar a viver. LA 10/008
Os pensamentos das pessoas podem se tornar seus fantasmas persecutórios a vagarem por labirintos tresloucados de sua leviana mente. LA 10/008
Internet é bom, amor. Tão bom que dá mania — por ela a gente reinventa o mundo e nem percebe que nunca foi nem é amado. LA 10/008
É patético ver inúmeras pessoas renunciarem ao que são e se agarrarem ao que sonham ser. LA 10/008
Quando vem a inspiração — ou a esboçamos enquanto nos queima, ou nunca mais o faremos. LA 10/008
Sem um firme propósito e uma inteira dedicação — nossa mão não alcança. LA 10/008
Nosso corpo é o que fizemos de nossos anos. LA 10/008
A imaginação só é profícua quando a tornamos cavalgável. LA 10/008
Muito pecado pode acabar purificando. Muita virtude, depravando. LA 10/008
O amor tem coragem pra tudo, até para não ser amor. LA 10/008
O mal que se pratica vai se tornando fantasmas de mãos geladas. LA 10/008
Por ser o próximo mais próximo, a gente se enxerga pouco. LA 10/008
As paixões cegam, por isso o amor vai precisar de transplante de córnea. LA 10/008
O elogio é a ruína da vaidade, já que ela não admite a crítica. LA 10/008
Ao adversário, ao invejoso, ao competidor desonesto — é prudente deixá-los no banho-maria da dúvida. LA 10/008
A humildade, a passividade calculada, o sorriso cabisbaixo são atalhos que nos livram do prepotente. LA 10/008
Se acha que deve adiar, adie — muitas vezes não fazer é lucro. LA 10/008
Quem não achou um sentido e se sentiu indignado é porque tem sentido que buscar um sentido tem, sim, muito sentido. LA 10/008
Elogiar a morte na guerra há de ir se tornando injusto, cada vez mais injusto — porque nenhuma guerra é justa e o homem vive para mudar a si e as coisas — mas a começar de si mesmo. LA 10/008
A morte é a hora covarde. LA 10/008
A vida pode se tornar uma rede ou um tobogã, uma prisão ou passaporte — segundo o modo de vivê-la. LA 10/008
Quem muito dá muito quer. Quem muito exige em geral não se doa. LA 10/008
Não seja egoísta demais. O amor não pode girar em torno de você, a não ser que bebesse muito. LA 10/008
Oferecem aos pobres uma justiça póstuma. LA 10/008
Ouvimos o canto, jamais vemos o grilo, que sabe ser feliz sem olhos que o vejam nem mãos que lhe batam palmas. LA 10/008
Têm aumentado aqueles mendigos ricos e os tais ricos paupérrimos. LA 10/008
Há duas coisas infinitas: o precioso ridículo dos homens e o amor, que é o sublime do ridículo. LA 10/008
Tratemos bem o amigo e não nos recriminemos por não poder confiar nele. LA 10/008
Acreditar é cafona, duvidar é chique, mas a vida é muito mais que modismos. LA 10/008
Cagarregras, normas e estilos. Parasitas nepotizados dos feudos e clãs: marotos encastelados, metidos a ditar leis lá das escadarias do céu — descansai em suspicaz chão: naquele podre limbo de vossa chã criatividade! Vossas críticas sáfaras (tendenciosas e coniventes), as conhecemos: levam do nada ao nada. As vossas obras não vimos. Onde estão elas, ó eméritos? Ah, egrégios de egrégios! Vós sois os que não fazem e não deixam fazer. Os que não entram e não deixam entrar. Houve até um entre vós que chegou a escrever um livro (está por aí nas bancas) “revelando” as manhas e mumunhas a serem adotadas por aquele que deseja passar vivo pelo corredor-polonês dos vossos deuses e escorregar para o sucesso... (Sucesso!... Quaquaquá.) Os tempos são bem outros, ó conspícuos, ó ilustres, são bem outros — vivemos num país continente e temos acesso diuturno ao mundo. E o mais importante — a Arte já não tem dono. Ficai em paz, ó preciosíssimos das doutorices coniventes e incorporadas a pingues salários (ou melhor: honorários). No vosso trono de nada, cacarejai em paz. A Arte nem sabe que vossas deidades existem. LA 10/008
O que nos dá prazer é fácil de fazer, por isso muitos não conseguem realizá-lo. LA 10/008
Se avalias, pagas por outrem e de lambuja arranjas inimizade. LA 10/008
O último dos males será a esperança. LA 10/008
Calar nos faz fortes, contar nos enfraquece. Sobretudo quando falar rompe a casca onde é feliz nosso silêncio: onde se emplumam os nossos sonhos. LA 10/008
Sofrer no presente evocando o passado cria o não raro gosto de lastimar-se, o hábito de se apiedar de si — e se sentir um belo desgraçado. LA 10/008
Lutar por um grande amor, esfalfar-se para tê-lo, é bom, é legítimo — mas tudo isso numa ajeitada cama. LA 10/008
Sim, o amor é uma loucura e uma merda — mas a melhor de cada uma delas. LA 10/008
No tique-taque do coração o tempo chora como o vento, como o vento que só sabe ir. LA 10/008
Um rebolado impetuoso, falando “ois!” dos dois lados — com saltos-10 perfurantes... LA 10/008
Saber, todos sabemos. Difícil é não saber na hora certa. LA 10/008
Sim, ensinar a pescar! Mas onde há rio e peixe e não seja proibido pescar. LA 10/008
Sim, ensinar a pescar! Bela desculpa pra não se dar esmola, não se ajudar a ninguém. LA 10/008
O orgulho vai ilhando o orgulhoso, até ele se sentir sozinho e odiado, inclusive por si mesmo. LA 10/008
Não pude escolher meus irmãos, mas posso escolher amá-los. LA 10/008
Agradeço a Deus por ninguém ser perfeito, assim tenho com quem barganhar imperfeições. LA 10/008
As oportunidades não acontecem duas vezes, pois seria enfadonho perder sempre as mesmas. LA 10/008
O amor é cego, mas só de um lado — que ele não diz qual é. LA 10/008
Aprendi que as coisas não importam tanto quanto pensamos que elas importam. LA 10/008
Tempo-ser-consciência — eis o tripé lá por degraus no homem. LA 10/008
Costumo me lembrar mais de uma vez por dia de que estou numa jornada por veredas de mim mesmo e pelo mundo — cujo destino-finalidade é superar-me e transcender-me pelo tempo que me é oferto: psicodinamizado pela consciente vontade de alçar-me mais e mais liberto numa espiral (e na Espiral) de aguda consciência e luz. LA 10/008
Não dê ouvidos ao que falam de você, mas ao que não falam. LA 10/008
O silêncio pode não ser de ouro, mas às vezes vale uma nota. LA 10/008
Há cidadãos que nos provocam a indiscrição, e se regalam com nossas confissões e destemperos. A eles o que merecem! O que é mesmo que merecem? LA 10/008
Se a pergunta era indiscreta, André mandava: Um outro dia a gente senta, fatia a melancia e lhe tira semente por semente. LA 10/008
Não daria meu perdão a quem não fez nada de bom nem nada de mau. LA 10/008
A adversidade em criança e na adolescência pode nos livrar da mediocridade. LA 10/008
Por vezes somos um abismo de dar arrepios. Sim, um abismo despenhando dentro de nós. LA 10/008
Pedimos aos céus tantas coisas que se fôssemos sempre ouvidos estaríamos cheios de tranqueiras. LA 10/008
Aprendi que o aprender caminha na mesma medida em que vamos desaprendendo. LA 10/008
Cada qual merece os amigos que tem. LA 10/008
Uns gostam do mel, outros dos ferrões, e as abelhas estão aí para dar a cada um segundo as suas preferências. LA 10/008
A vida não tem pressa. Nós é que devíamos nos apressar em aprendermos a livrar as costas de sua vara verde. LA 10/008
A consciência é tempo em movimento no ser. LA 10/008
Quando vamos madurando, acabamos. LA 10/008
O tempo nunca dá tempo. LA 10/008
Os corações covardes não saboreiam os pratos finos do amor. LA 10/008
Se você faz do coração oráculo, pode quebrar sua cara — um coração apaixonado oscila sempre entre o herói e o bandido. LA 10/008
O amor é sempre adolescente, mas nem por isso deixa de ter cãs. LA 10/008
O amor é um luxo, mas vale pagar pra ver. LA 10/008
Mais vale uma no dedo do que mil delas desfilando. LA 10/008
Os ciumentos inventam as delícias do seu ciúme. LA 10/008
Beijos não tiram pedaços. Nem massagens deformam formas. Sem contar que hoje o amor nasce sem o hímen. LA 10/008
O amor é a única loucura que vale o hospício e o único hospício agradável. LA 10/008
Quem deseja esquecer um afeto é porque tem fome e pressa de viver outros e outros. LA 10/008
Entre nós e o que será de nós está o delicioso não sabermos — pelo que muitos se ralam em desvendar. LA 10/008
O que olhos não vêem as tripas sentem e comentam lá em seus borborigmos. LA 10/008
Quem tem mais culpa, nega, você ou meu desejo? LA 10/008
Sim, já enverguei belas perucas. LA 10/008
Se amas com os olhos, estás com a pessoa errada. Se amas com o coração, então esta é a pessoa. LA 10/008
Dou graças por não ter muito. LA 10/008
Sem a alegria dentro de si a percutir uma bela e curiosa canção, o homem será sempre um fraco — um diabo velho e magoado. LA 10/008
Reconhecer-se no filho é ter se dedicado bastante a ele. LA 10/008
Sim, nada é tão terrível, desde que não aconteça conosco. LA 10/008
Sim, concordo: dez, quinze, vinte anos mais velho, isso não é nada — principalmente para a pessoa mais nova. LA 10/008
Por vezes são tantos os dementes, que nem nós escapamos. LA 10/008
Era uma fera de beleza: loirosa inteligente, cargo invejável, carisma a dar e vender, família honesta e simpática — aerodinâmica monroe, labaredas de cabocla esperando o seu Tião que lhe escreve de São Paulo... Uma prenda do sul que meu amigo André me roubou e minha mãe desabafou: Dê graças pelo roubo, filho meu... Eu, de minha parte, dei graças, fiz caridades, dei glória a Deus pelo rapto da sabina, ou melhor: da sabida. De fato, após três meses, por excesso de felicidade, André fez voar seus miolos. Mas sosseguem, que isso só foi sonho após eu ter comido vatapá e ter bebido pinga com gengibre. LA 10/008
Quase sempre nos esquecemos que a mais bela das artes é sermos felizes baixinho em meio à desventura. LA 10/008
Sim, em geral, em sociedade, pimenta é bom refresco... e dá até bom sorvete. LA 10/008
Não fossem as dúvidas as meias-verdades não existiriam e a verdade perderia o charme de mandona. LA 10/008
O humano se humaniza pela consciência da humanidade. LA 10/008
Mulher quanto mais bela, mais alto investe, o diabo são as quedas da bolsa. LA 10/008
Esquecê-la seria bom, desde que o esquecimento do esquecido também viesse de lambuja. LA 10/008
... se eu cheguei depois, que terias para oferecer?! Os restos de muitas festas? LA 10/008
Chorar refresca a alma e deixa meigos os olhos. Mas o riso... eu prefiro o riso, mesmo que ele incomode os funestamente sérios. LA 10/008
Quanto mais rejeitada mais a pessoa se apaixona. LA 10/008
Ouça os conselhos dos amigos e amigas, mas siga a voz interior. LA 10/008
Se você não sente a recíproca, não deixe o seu coração cair de joelho. Confia, que o que é seu vem vindo aí. LA 10/008
O amor tem seus brinquedos, e é vital saber brincar. LA 10/008
A grandeza do amor nem o maior sábio atina. A sua beleza cósmica é uma terra de leite e mel — o pré-sabor das delícias da casa de Deuspai. LA 10/008
Quando fala o amor o tal ressentimento, a mágoa, a mesquinhez não comparecem. LA 10/008
Num casamento há um que é generoso, outro que se farta. Acaba, se o primeiro se cansa. Continua, se o segundo sabe eternamente fingir que está mudando. É um campo fértil. Amplo. O amor é belo e terrível. LA 10/008
O homem amaria se houvesse uma bola de cristal para lhe revelar o que vai ser. Como não tem, faz de conta que isso não tem importância. E esta é sua força: não saber. LA 10/008
Se a covardia faz parte de seu esquema, deguste-a com colherinha niquelada e bem do jeito seu. Sim, jamais faça o que o cínico espera de você. LA 10/008
Use quantas máscaras possa precisar — o mundo não é um palco e não lhe exigem nele atuar? Agora, o melhor para você será sempre amar a criatura. LA 10/008
Quando te chegar a hora, morre, morre direitinho, tão direitinho que nem estejas lá, mas vendo um filme de Woody Allen. LA 10/008
Concordo em que Deus não joga dados. Se jogasse xadrez, metade da humanidade haveria de achar que podia ganhar Dele. Mas, cá pra nós: acho que não seria tão bobo ou medíocre a ponto de jogar xadrez. LA 10/008
O meu amigo André está num ser ou não ser danado: Não sabe se a Norfa é ou não é... faz ou não faz... E como não lhe ousa perguntar, fica por aí, com a mão cheia: é ou não é... faz ou não faz... É que ele nunca leu Kierkegaard: “Ousar é perder momentaneamente o equilíbrio, não ousar é perder-se.” Pois é. Deus abençoe o André, e a nós também! LA 10/008
Claro que você sabe que este mundo é um maravilhoso hospício. LA 10/008
As palavras são boas de rabo, como algumas mulheres e as nédias vitelas — dão um ensopado de se comer de joelhos. LA 10/008
É comum alguém trocar o que é bom pelo que não lhe serve. E muita gente o faz só porque vê fazer. LA 10/008
Prefiro ficar com minha dor a buscar outras que nem conheço. O mesmo vale para meu modo de ser. Mas sou alguém que degusta tanto a dor como a alegria. Sem essas duas, como buscar algo além-nós? LA 10/008
Contar com a consciência humana é saber-se com as potencialidades desde o primeiro até o ser humano de hoje. LA 10/008
A solidão nos induz a outras gamas de ser. Precisamos tanto dela como dos outros pra degustarmos a vida em sua efígie e multiverso. LA 10/008
É um péssimo contador de histórias o que não sabe mentir nem fingir que não sabe quando a história termina. LA 10/008
Os poetas são intérpretes da realidade, por isso a pecha de impudicos ou de solenes não os atinge. LA 10/008
Padre Mário nunca xingou — jamais teve uma dor de dentes. LA 10/008
Sim, padre João, o perdão é a maior fábrica de pecados. LA 10/008
O modo, o jeito de dizer faz com que possas dizer tranquilamente tudo o que quiseres e o que nem querias. LA 10/008
A consciência são os atritos do tempo. LA 10/008
Para o banquete temos os amigos. Para as nossas grandes angústias não temos ninguém. LA 10/008
Nossa amizade com Deus transforma os espinhos em pétalas nas horas de aprendizado e sofrimento. LA 10/008
Saibamos tourear nossas angústias, sendo uma boa companhia para nós mesmos e nos amando tal como deveríamos amar a todos. LA 10/008
Olhando daqui a coragem que tive em certas etapas da vida, é que vejo que nunca estive sozinho. LA 10/008
Aos meus tombos — seguem-se risos. Aos degraus que subo — o desprezo invejoso. Mas o silêncio que me envolve é música interior e conforto. LA 10/008
A gula une os miseráveis de espírito, amantes de salões e filigranas. Já o altruísmo une raios de luz. LA 10/008
O caráter é aquele cara que sempre lhe acena solidário nas situações difíceis. LA 10/008
O ser passa por si mesmo nascendo, morrendo e renascendo por várias gamas de vida. LA 10/008
Os sonhos são bem mais que importantes — são a coisa em seu além-ser. LA 10/008
Muito bem nos teria acontecido, se tivéssemos deixado que seus dons se aproximassem. LA 10/008
Não ousar muitas vezes é perder. Outras vezes é ganhar — sem esforço. Ousar ou não ousar: aqui entra a intuição. LA 10/008
Quando você lembrar uma dor lá no passado, sinta o gozo de ela estar no passado e só poder atingi-lo se você permitir. LA 10/008
Não deixe que ninguém lhe diga: “Ouse!” Antes, apenas ouse quando sentir o instante-sim de ousar. Aí sim: ouse ou não ouse. Errarmos pelos outros dói bem mais que errarmos por nós mesmos. LA 10/008
Ninguém está deveras preocupado quanto a vencermos ou fracassarmos — apenas são espectadores, ávidos de entretenimento. LA 10/008
Aprenda a perdoar-se como tem perdoado. E quando aquela vozinha azucrinante vier lá do passado alfinetá-lo, diga-lhe que Deus já perdoou a você, e o ama, o ama desde sempre. LA 10/008
O sentimento gratuito de culpa nos apequena e aprisiona. LA 10/008
Nobres ressentimentos, mimadas mágoas, tal como Lázaro — já vão cheirando mal. Não há o que fazer, senão chamá-los para fora ( do sepulcro lá em nós ) — e já ressuscitá-los em amor pelo perdão. LA 10/008
O medo vem mais do que não existe do que realmente há. Há várias gamas de uma coisa ser, já que ser ou não ser são os rastros da dúvida. LA 10/008
Tudo, todas as coisas têm o seu correspondente fantasma. Uma questão de vibração. LA 10/008
De nossos sonhos e medos nós parimos os deuses. Sobretudo de nossos medos. Sim, os deuses são nossos órfãos a quem chamamos de pais, de mães e outras narconoias que nossas crenças manipulam. Sim, de pais passamos a filhos, filhos e títeres. LA 10/008
O bem e o mal foram paridos de nós. Portanto, existem sim. Libertário é vivermos com um sentimento que suplante esses dois — que lhes vá além, sem nunca os subestimar. LA 10/008
Racionalmente, o homem rearranja as coisas na memória. No coração, elas ficam no mesmo lugar. LA 10/008
A dúvida nos impede, mas impedindo também pode nos livrar. A dúvida é a preparação do salto entre a sombra e a luz. O risco é o preço entre os degraus de ser. LA 10/008
Os obstáculos aumentam a força de quem sabe o que quer. LA 10/008
Não realizar um sonho é pior que não tê-lo. LA 10/008
Ninguém é insubstituível, exceto para o apaixonado. LA 10/008
O que não tem solução já é impropriamente a própria. LA 10/008
Quem faz um elogio leva três, porque elogios liberam serotonina — uma espécie de gozo-colibri. LA 10/008
Dedicação e força de vontade — eis o que vai decidir na questão entre o possível e o impossível. LA 10/008
Uns matam para se exaltar, outros se esfalfam em caridades silenciosas. Os opostos se explicam e nos ensinam. LA 10/008
Há os que venceram pelos seus crimes e os que preferiram fracassar pelos seus princípios. LA 10/008
As palavras estão cheias do que o homem tem no seu coração. LA 10/008
O amor que sabe que ama não é amor. Quem ama não precisa saber — tem a luz do seu amor. LA 10/008
O amor é como o junco — resiste ao sol, à chuva, ao frio, à tempestade. Verga-se até o chão, e ei-lo: já de pé. LA 10/008
O hoje é o ponto neutro: o poder-ir para trás ou para a frente. Cada vez que olhamos para trás, mexemos nos arquivos, portanto: manipulamo-los. Sempre que operamos no hoje construímos algo que já cai na esteira a caminho do passado e algo que projetamos aonde ainda não chegamos. Sim: quando nos projetamos, enfeixando querer e pensamento, criamos ninhos-sonhos no futuro que rolam pela esteira incubadora entre o porvir e um hoje abstrato: uma espécie de bica de colheita daqueles sonhos arremessados num espaço interior: lugar-zero de inseminação e incubação — o tempo nos devolvendo coisas ainda orvalhadas de nossos sonhos materializados. E eis que o tempo é a consciência em estações. LA 10/008
Entre o sábio e o tolo está o que tem luz própria e o que tem uma vela ao vento. LA 10/008
Todos poderiam fazer uma tal difícil coisa — depois que alguém a fez. LA 10/008
O homem precisa ser mais, precisa ser bem mais — para alcançar-se no sonho de Deus nele. LA 10/008
A arte e a filosofia são bengalas e corrimãos dentro do imprevisível castelo nem sempre claro da vida. LA 10/008
Escrever me é um modo de contar-me coisas que nem sabia que sabia. LA 10/008
Aprendemos sempre tarde. Assim a vida evita que usemos de covardia com aqueles que julgamos menores que nós. LA 10/008
Perdoamos o passado, mas sabemos que ele não está morto. LA 10/008
Aprendizado é assimilação de contatos com vivos e mortos — crescemos às custas de quem teve ou tem pra dar. LA 10/008
Ninguém é tão grande que não possa ser um canalha. LA 10/008
Há muitas gamas de realidade, de manifestações de vida — mas todas permeadas dos degraus da Consciência que serpenteia por toda a Criação. LA 10/008
Fracasso e sucesso são dois belos impostores. Um quer nos levar à comiseração, o outro à exaltação de nós mesmos. Melhor fora tratá-los, a um e a outro, com toda a maturidade possível. LA 10/008
No silêncio você se escuda, nas palavras se desnuda. LA 10/008
Muita vez a mentira presta mais que a verdade. LA 10/008
A consciência humana faz das dúvidas suas verdades provisórias. LA 10/008
Certezas servem para virarem incertezas que se vão revestindo de certezas. LA 10/008
Em geral a beleza se vende, investe-se na bolsa do mundo: atola-se sem nenhum amor-próprio. LA 10/008
O que não tem conserto compra-se novo. Não existindo, a gente incuba o ovo da fênix. LA 10/008
Não direi que Marli tinha gosto de sapoti, mas que era bela como a mentira, linda como joia falsa e vivia fugindo do bem-te-vi. LA 10/008
Quem um dia já plantou um jardim ouvirá sempre e sentirá a canção e o perfume daquelas a quem mandava belas flores. LA 10/008
Chorar pelo que perdemos afugenta novos ganhos. LA 10/008
O tempo é o hoje que se vai travestindo de passado até um amanhã que é o futuro de um pretérito quase amanhecido e sendo feito novamente hoje. LA 10/008
A nossa mente concebe um tempo linear — leda ilusão. O tempo é infinita espiral. Ontem-hoje-amanhã são apenas balizas-símbolos para não nos perdermos em nós. Ser e tempo, tempo e ser são uma só coisa eterna — eterno movimento em espiral: a consciência em estações. LA 10/008
Vez por outra é bom perder amigos — faz renovar o estoque. LA 10/008
Há palavras que são cobras, já outras que são ratos, coelhos ou pavões, tigres, escorpiões, colibris, vespas, ouriços, borboletas... O bom é ouvi-las sem deixá-las entrar. LA 10/008
Tinha um cenho nublado, um tom escatológico... E perorava mais ou menos assim: Tu és água e às nuvens voltarás — bebido pelo sol. Chuva, retornarás ao húmus dos rios e oceanos — a tua origem. E novamente subirás aos céus e outra vez descerás à terra — num sobe e desce eterno por entre a sombra e a luz. A maioria gostava de ouvir — era uma voz que ecoava lá dentro do que sentiam: um misto de tragédia sonhando sua catarse vinda de um fim final. LA 10/008
Pra cada mal seu remédio, pro sem remédio basta o mal. LA 10/008
Para pegar um belo peixe o pescador o engana. E é fácil de assimilar a tática do pescador. LA 10/008
Aprendemos com as quedas, desde que a altura não seja muita. LA 10/008
O amor anda por aí. Abaixe a ponte e lhe sorria, ao menos. LA 10/008
Os conselhos não ouvimos, mas nos babamos pelos elogios. LA 10/008
Vá devagar ou depressa, mas cuidado, senão tropeça. LA 10/008
Quem não sabe calar vai ter que se explicar. LA 10/008
As promessas são boas e necessárias para suster nossos deliciosos enganos e as mentiras que amamos e tanto nos ajudam. LA 10/008
Uma das coisas que mais me comoveram foi conhecer pessoas que gastaram o seu tempo estudando os profetas de fim de mundo. Era patético vê-las escavando textos, “intuindo” mensagens, adivinhando datas do fim-final. Hermeneutas do destino! Muitos e muitos já se foram sem terem tido a graça de ao menos sentir sob os pés um, um só pequeno terremoto. LA 10/008
O mundo está tão articulado pelo dinheiro, que quando um de seus grandões perde a carteira todos ficam roubados — principalmente os pobres. “Ismo” nenhum dá certo, “ia” nenhuma é suficiente para o mundo conviver ao menos com uma sofrível honestidade. LA 10/008
Com o endereço errado, encontrou outra pessoa... Mas certa, para ele, certa. LA 10/008
Escrevia no ar pra que ninguém lesse os poemas que fazia para a vizinha. LA 10/008
Minha amiga me disse que investiu farta e gostosamente — até a queda ( irremediável ) da bolsa. LA 10/008
É sempre uma pré-satisfação uma bela mulher. LA 10/008
O passado é um inseto sempre zumbindo ao nosso ouvido. LA 10/008
Ela estava linda,
linda e cheirosa — LA 10/008
Muito obrigado não, senhora! Vai tiran... LA 10/008
O sexo é sempre o prólogo de um posfácio. LA 10/008
Não sei o que, sussurrando, dizem as abelhas às belas, cheirosas jabuticabeiras — quando se vestem de branco. LA 10/008
A vida é enfadonha, mas ai de você, se acreditar que a vida é enfadonha. LA 10/008
Até as mais raras joias o tempo e o uso fazem perder o encanto. LA 10/008
O tempo é a poção que o ser bebeu para poder sonhar e viajar por si mesmo. La 10/008
Quem não se acerca dos grandes livros, dos mestres, dos buscadores, dos divinos loucos — como poderá crescer? LA 10/008
O perdão deve ser a natural barganha dos imperfeitos. LA 10/008
Ter muito medo de errar não é bom... O diabo é que muitas vezes erramos às custas dos outros. E aí? Pedimos perdão e pronto?! Não. Não é tão simples assim. Não podemos ser cínicos: errar implica o outro, não se erra sozinho. Por isso, o medo de errar existe. Que este medo não anule o fazer! LA 10/008
Guarde a sua força e com ela se eleve, eleve a si e aos outros, que o verão elevar-se. LA 10/008
O Capeta não sabia o que fazia quando criou essa palavra em “ia” que criou uma outra em “ismo”... Mas já era tarde: estava feito. E logo o homem loquaz de terno e gravata suplantou o tinhoso: tornou-o tão pequeno e insignificante que nem se falou mais nele — sumiu envolto em silêncio e desmemória. Então o Faustiano (com ajuda do Demo) criou Democracia e Capetalismo: súditos da Deusa Economia — úbiqua Miss Bancos do Planeta Terra. Tal Deusa, fecundada por Deus Pecúnia, pariu os Gulatras, e, com a Gulatria, o Bolo esfarinha: cresce e esfarinha, cresce e esfarinha, cresce e ... Esfarinha. LA 10/008
Para as formigas, os farelinhos da mesa. LA 10/008
Por um pão, prisão. Por milhão ou bilhão, nada não. LA 10/008
Para os gaviões, — os amplos céus. Para os pardais, — as exíguas gaiolas. LA 10/008
Toda arrogância tem sua hora de leão morto. LA 10/008
Toda empáfia tem sua hora de sapo despencando do céu: “Sai, pedra, que eu te racho!” LA 10/008
O único jeito pro sem-jeito é viver, viver, viver... O tempo sempre dá um jeito. LA 10/008
A fé, a esperança, o amor são bons companheiros. LA 10/008
Ser e tempo, tempo e ser, enquanto nos houver o tempo a esperança nos bajula. LA 10/008
Nos tempos maus nos lembraremos dos dias tranquilos, até que a vida novamente nos sorria calma por dentro. LA 10/008
Sim, tudo o que é demais morre do próprio excesso. LA 10/008
O amor ouve com os olhos e pensa com o sentimento. LA 10/008
O poder é o medo instituído. LA 10/008
Quando ela finge que não me vê, fico lisonjeado — sei que à noite me telefona. LA 10/008
O amor é bom jogador, mas fraco da cabeça. Se soubesse empatar, continuaria amor. LA 10/008
Passado atrai fantasmas, futuro é delícias não vividas. Hoje é o tempo que podemos moldar e inseminar. LA 10/008
Um dos lados belos da vida é o mistério, que traz em si todas as provisões. A maneira de dar umas passadas pelo seu território é pela unção-devoção. LA 10/008
O dedo de Deus nos escreve nas areias da alma suas belezas imortais que nos constroem o caminho de Sua casa-em-nós. LA 10/008
Ler, reler, transler a vida e o mundo e assimilar em reciclada aprendizagem — em que a vida seja o mestre e o viver o discípulo. LA 10/008
Viver de tal maneira que morrer seja um belo complemento. LA 10/008
Fazer o que é bom pra si e ruim para ninguém — este o caminho do que sabe que a vida é sempre muito mais. LA 10/008
O caminho do meio dispensa heroísmos e covardias. LA 10/008
A consciência humana diz às semiverdades que tenham calma — à medida que o homem se suplanta elas vão se tornando outras verdades. LA 10/008
Orar é bom. Bom como rir, fazer amor, passear, comprar, falar bobagem. LA 10/008
Se eu fosse um jardim me envergonhava quando você passasse. LA 10/008
Tuas sandálias sabem a canção dos céus. LA 10/008
Xingamos pelo pouco, esquecendo-nos do muito. LA 10/008
O dinheiro constrói os caminhos entre as pessoas, caminhos que renteiam precipícios. LA 10/008
Não poucas vezes as palavras são máscaras — ecoando promessas e mentiras. Semântica de eleições. Sintaxe politiqueira. Sim: as palavras são máscaras. LA 10/008
Há pessoas tão desonestas que fazem da desonestidade um modo de passar por geniais. LA 10/008
Os tempos são a consciência superando-se. LA 10/008
A Economia e as manhas que a regem, tudo virou um belo caso de psiquiatria. No Planeta das Bananas a macacada pula em galhos secos. LA 10/008
O momento está prenhe de recessão (ou depressão?) É patético ver as nações agrilhoadas por uma estratégica corrente, numa queda de dominó — das maiores para as menores. Uma cena psiquiátrica do capetalismo financeiro. LA 10/008
Entre o míssil e o sorriso balança o entendimento. LA 10/008
O amor muda o ângulo de ver as coisas. LA 10/008
O ódio transforma todas as cores em vermelho-graxo. LA 10/008
Sim, meu caro, uma postura de passividade, ou mesmo de alienação, em geral é antídoto contra a arrogância agressiva. E o que é surpreendente: os donos e os grandões passam a requisitá-lo e a “gostar de você”. LA 10/088
Quem é que não ama o humilde, o escravo, o franco, o honesto, o bobo manso e serviçal? LA 10/008
Não faça num dia o que combinou fazer em três — assim você não avilta o seu fazer. LA 10/008
O muito não presta, nem sendo bom, nem sendo mau. O suficiente basta. LA 10/008
Amar alguém é estar preso a ele. LA 10/008
Apaixonar-se por alguém é prestar-lhe vassalagem. LA 10/008
Em geral, nos amamos no outro e não o outro. LA 10/008
Os solteiros ricos precisam de uma cama reforçada. LA 10/008
A primeira vez que tive uma mulher, desfrutei-a sabendo que seria bem melhor se pudesse fazê-lo sem receio e com mais experiência. De fato, daí a algum tempo, estava tão maravilhosamente outra, que pensei (eu era bem moço) que ela tivesse trocado (sim: transplantado) o epicentro. LA 10/008
Ás vezes o casamento acaba — sobe no telhado e não desce mais. LA 10/008
A vida é uma esplêndida rosa, divinamente vermelha, num vaso (verde com bolinhas pretas...) em forma de um risonho sapato, sapato de arlequim. LA 10/008
Sempre tive o cuidado de me distanciar do santo e do devasso. LA 10/008
Ela ( Marilda ) era uma banheira cheia de pétalas com perfumes e espumas... E me lembro que a gente molhava tudo em volta, tudo em volta, tudo em... LA 10/008
Nosso castelo está sempre prestes a ser saqueado e incendiado pelos bárbaros que como o vento ninguém sabe de onde vêm nem para onde vão. LA 10/008
O amor adora andar à beira de precipícios abraçando-se com as nuvens. As pessoas de negócio, as que se orgulham de ter os pés no chão, acham um despropósito o amor viver assim. É que não sabem que também os seus negócios são construídos nas nuvens e têm tanta segurança quanto o riso do arlequim. LA 10/008
O amor adora pescar peixes que há e os que não há. LA 10/008
Sim, o amor, antes e depois de tudo, é pescador. LA 10/008
Os vermes da cova rasa conversam com aqueles do sepulcro de granito e bronze: — E aí, caras? — Comida não nos falta, mas o diabo é o cardápio — sempre o mesmo: A tal carne bem passada com salada colorida. O coveiro, que ouvira tudo, responde-lhes num tom irado: Dá graças a Deus, corja ingrata! Aqui do lado tem carneiros e tem covas que nem inquilinos ainda têm. LA 10/008
O texto acima tem uma boa pitada de sadismo. Faz lembrar os poetas larvais. LA 10/008
A morte é uma viagem que faremos, mas de maneira nenhuma a última — uma viagem dentro de outras viagens. LA 10/008
A vida não é do lado dos fracos, dos delicados, dos melindrosos. LA 10/008
Vulcano, que era manco, era casado nada mais, nada menos com a deusa Vênus que o traía nada mais, nada menos com todos os deuses. LA 10/008
Há um cemitério num país aqui perto, onde estão sepultados os que lavaram sua honra com sangue. É patético ver tanta gente... Quanta gente!... Honra. A cultura, o sentimento inculcado, a posse erótica nas dobras dos milênios. Honra................................. ........................................... A exclusividade (que nunca tiveram) lhes custou o preço máximo. LA 10/008
Devagar, cara, devagar — a coisa não vale tanto. LA 10/008
O pensamento usa as duas pernas, o sentimento arrasta uma. A emoção não dispõe de nenhuma. Vamos muito, muito devagar: sempre. LA 10/008
E viva a vida, que não dá satisfação de onde veio, por que está nem para onde vai. LA 10/008
Quem quiser saber, que tenha paciência, coce os mimos e invente as respostas! LA 10/008
Invejo o não-saber plácido das rosas sonhando com a vida que as fez tão loucamente belas para durar eternamente nada. Sim, a vida não é para entender, mas para ser vivida e amada. LA 10/008
Só os amantes cometem invejáveis loucuras. LA 10/008
O que importa é a embalagem, já que o produto a gente come na penumbra. LA 10/008
A paixão? Começa no coiso, ou coisa, passa pela cabeça e hospeda-se no coração. LA 10/008
Sim, nos vimos por acaso, mas transamos por acinte. LA 10/008
Não sou ninguém, mas meu Pai é o dono dessa porcaria toda. LA 10/008
Que importaria saber se ela me amou ou não, já que nos demos tão fartamente? LA 10/008
Os verdadeiros amigos são aqueles que imaginávamos ter. LA 10/008
Sabedoria e ignorância moram ao lado. Todos sofremos das duas. LA 10/008
O tempo fabrica o vinho de uma consciência sempre nova. LA 10/008
Castigo vinha a cavalo, depois de trem, de avião, de e-mail e pensamento... Hoje, o maior castigo é recebê-lo bem antes de esperá-lo. LA 10/008
Chorar é tentar arrancar a dor gota a gota. LA 10/008
O amor é bom pescador — fascina, fisga e frita. LA 10/008
O mensageiro oral transforma água em vinho, salame em jabuticaba. LA 10/008
Mente-se tanto e tão por coisa alguma, que a mentira se torna a única verdade social. LA 10/008
A consciência é a luz que aclara a estrada sempre outra do ser humano. LA 10/008
Em geral trocamos o que temos pelo sonho de ter mais. Quando vamos vivê-lo vemos que esse mais tão sonhado eram apenas levianos acenos de felicidade. LA 10/008
Para sonhar sem nos tornarmos marionetes dos próprios sonhos, necessitamos beber vários açudes. LA 10/088
Tentaram difamá-lo? Parabéns! Quem o faria com um tolo, um sem vontade, um vai-com-os-outros? Continue a dar seus frutos tranquila e fartamente enquanto os invejosos se engasgam com seus caroços. LA 10/008
O mundo? Sifu o mundo com seu tesão furibundo. LA 10/008
Amigos? Tenhamos poucos, mas amigos amigos. LA 10/008
Daqui até lá ninguém sabe quanto tem. Só sabemos que até lá vamos aprender bastante, viver coisas nunca dantes. Daqui até lá Deuspai será a nossa força. LA 10/008
Obama veio montado no cavalo do destino — só não será presidente se for ( também ) assassinado. LA 10/008
Mr. Bush assou batatas e mandou o mundo (sem luvas) tirá-las do seu forno. LA 10/008
A consciência vai ouvindo e vendo os pensamentos. LA 10/008
Quando estiver cansado, faça uma pausa, repouse. O cansaço nos embaça a beleza e o sentido da vida. LA 10/008
Não tenha medo de apanhar da vida. Apanhar é um modo de ficar mais forte, forte e flexível. Um modo de conhecer a si e aos outros — de aprender a lidar com o diferente. À medida que se conhece mais e mais a si e ao mundo, vai-se perdendo o medo de mudar, vai-se gostando de mudar, aliás, a gente vai percebendo que a vida nos quer sempre diferentes, sem modelo ou protótipo, mas sempre diferentes — porque nos quer mais do que estamos sendo, ou melhor: alijados do homem velho — quer-nos renascidos de nós mesmos. Só então aprendemos que o hoje é a banqueta da oficina onde o ser é trabalhado pelo viver. E aprendemos que o hoje é tudo o que temos. Sendo o passado um país de fantasmas e o futuro alguém sem rosto que costuma mentir, o que nos resta a não ser o hoje? Sim, meu caro/minha cara, o hoje é o lugar-agora ( em nós e fora de nós ) onde podemos agir com uma ação direcionada — podemos fazer por nós e pelos outros, perdoar a nós e aos outros, curar a nós e aos outros: na carne, na alma e no espírito. Pratiquemos a paciência com nós mesmos e com os outros. Tenhamos muito cuidado no agir, no praticar nossas ações para não nos criarmos armadilhas — que nos atrasariam no caminho. Convivamos com bons livros, com a arte boa e madura, com os grandes e pequeninos e principalmente com pessoas que estão a serviço do humano. Saibamos trabalhar e descansar. Sintamos com muito amor a Deus, a nós, ao próximo e ao distante. Leiamos a escritura naquelas partes que conosco formam sinergia e dão um tônus de harmonia e paz a todas as nossas células. E jamais percamos de vista os nossos três melhores companheiros — a fé, o amor e a esperança, lembrando sempre que o altruísmo é o passaporte cósmico da vida. LA 10/008
Envolva no pensamento uma imagem de alguém ou de uma cena e diga (sentindo que tudo é possível para quem é filho de Eu Sou): Deus abençoe você! LA 10/008
Sabemos tão pouco da vida, de nós, do universo que toda humildade é pouca. LA 10/008
O amor, como as rosas — a mesma poção que os aviva, essa mesma os fulmina quando em excesso. LA 10/008
Hoje a poesia é companhia de toda hora, todo dia — virou uma entidade, uma amiga que tem cheiro, temperatura e, claro: uma voz interior. LA 10/008
O tempo é o belo do mistério, pura magia — tempo exterior é espaço, espaço interior é tempo. O tempo é o vinho da memória em que a alma sonha com Deus a caminho de Casa. LA 10/008
Viver vai ficando melhor à medida que o caroço da fruta vai se soltando da polpa lá em nós — de modo que entre nós e as coisas haja um espaço-tempo apenas teórico. Vamos sendo tudo e tudo nos sendo, tudo tão natural como de nossa vida já ir brotando o germe de uma nova árvore. O mais... não sei palavra, mas é mais, sempre mais. LA 10/008
O fim de alguma coisa é o seu começo nalgum lugar do multiverso de si mesma. LA 10/008
Acordados do sonho, estaremos em Casa. LA 10/008
Escrever me é uma desculpa para continuar vivendo: Escrevivendo. LA 10/008
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