Curtos, Nem Sempre Grossos Laerte Antonio textos 2
Sem Hesitar
Li o seu livro. Idéias plastificadas, concepções pasteurizadas — uma delícia de pudim azedo. Carne com varejeiras sobre a cama desfeita onde o sadomasoquismo ejacula porra fria. Seu livro, sem nenhuma metáfora, é uma loucura. Pura água suja a escorrer de xiranhas que se lavam semipútridas ( na mesma água de bacia ) para atender a fila de impacientes. Mas há uma coisa para remediá-lo: não pensar em publicá-lo. Ou melhor: jogá-lo fora. LA 11/001 Cena
O tempo pretejou de repente. O casario à beira rio ficou mudo, espiando estatelado atrás do medo... Raios terríveis — desavergonhados, e enormes!— entravam os pígios das pedras dentro d’água. Foi então que a pedraria toda, mesmo as de gesto mais casto — se pegaram de amor, degustando a afrodisia dos estalidos cor de ouro: faíscas penetrando as águas. LA 11/001
E Viva A Vida!
Hafiz, Hafiz, desconfie sempredo sultão, do mar, do amor e de si própria — principalmente, Hafiz, se eles estiverem sorrindo pra você, e você encantada de egoíce.
Sim: desconfie sempre, Hafiz. Do sultão — porque sua palavra decide sobre a vida e a morte. Do mar — porque um dia desejará lhe mostrar os seus fundos tesouros... Do amor — porque está sempre a um passo de não se sabe... De você — porque há dias em que está bem pior companhia pra si mesma do que o perigo que mora atrás do sorriso daqueles três.
E viva a vida, Hafiz! que é uma só para alguém chamada Hafiz — que ama o mundo e as flores e o haver um céu e estrelas com quem conversa ( sem saber se sabem de você... ) lá nas águas do seu coração. LA 11/001 Sistema Echelon
Diabos, Rosinha, diabos! Agora a gentenem vai mais poder fazer amor debaixo do pé de amora, paparicado de brisas, salpicado das pombas do luar...
Diabos, Rosinha! Os caras lá do Norte agora espiam tudo — por dentro e por fora, verso e reverso, direito e avesso — em prosema e coesia, em números e sonhos.
Diabos, Rosinha! Se pegam a gente trabalhando, vão mandar logo um míssil — pensando que estamos a cavar um túnel que irá dar perto de Bóston. LA 11/001 Companheiras De Viagem
Lá para os lados das certezasficou a infância e a mocidade.
Hoje sabemos como era bom ter certezas! E cá em voz bem baixa — foram elas que nos construíram esse respaldo que hoje nos resguarda do mundo... Tudo o que nos serviu de corrimão pelas pinguelas roliças de nosso querer-ousar — abismos que não víamos, perigos que só hoje arrepiam...
Belas, piedosas certezas! Só hoje as sabemos assim — deveras belas e piedosas. Só hoje as vemos bem ao lado de nossas pobres experiências e nossas muitas incertezas. LA 11/001
Reconsideração
Guerras religiosas?Não as há. Toda guerra é política. Interesse, inveja, ambição... Mágoas, ressentimentos, diferenças... Doenças de raízes.
Guerras de egos, não de espíritos. Os que fazem tais guerras têm um deus bem menor que o de seu ateísmo — um ateísmo que nem levam a sério, por não saberem que existe.
Guerras religiosas — máscaras de covardes que teatralizam ao povo ainda usando calças curtas.
Máscaras teológicas a camuflar o rosto da política com os santos de uns e o martelo de outros.
Guerreai, guerreai, almas escarlates! Quem sabe da vossa guerra não nasce a paz pra tomardes um fôlego, e logo após vos devorardes mais gostosamente? Donos dos céus e dos infernos, cuidado: não vos assenteis ( no furor da batalha ) sobre o vosso priapo. Colocai-o de lado, preservai-o: há mil e mil xoxolas que vos esperam — xiranhas místicas, reais-virtuais, de pele e surreais, mas todas ávidas de se fartarem. Aleluia, bravos homens! A História saberá contar vossas loucuras. Os filhos de vossos escravos se alforriarão com o germe de uma nova consciência. . LA 11/001
Cônjuge-Lagartixa
Não raro a bela esposa se ausentava, e por lá se demorava mais que o brim do consorte resistia — de tal modo que o pobre virava lagartixa...
E varria, e lustrava, e espanava... e dava brilho de espelhar-lhe o rosto a pingar suor... E encerava ( outra vez! ) os móveis, e lavava ( de novo! ) a calçada, e subia ( muitas vezes! ) no telhado e o varria... Fazia longas caminhadas ( duas, três vezes por dia ), tomava banhos frios, não se enxugava.... Abria a porta do freezer e o abraçava por longo tempo.... Fazia panquecas com salitre... Tecia toalhinhas de crochê... Jogava buraco sozinho... Ia ver, cedo, à tarde e à noite, se Deus estava na esquina, encarnado nalguma profetisa...
Seu amigo diácono ( bom amigo de infância ) jamais deixava de lhe telefonar ( às 20h30 em ponto, e toda a santa noite ): Olhe, André, agüente aí, meu irmão, pois — sem a sua Clara aqui — como é que eu poderia trabalhar? A seara é tão imensa e carente ( e aqui nesse sertão!... ) — sem Clarinha, como é que eu iria me arrumar? ..................................................................... Aliás, sorria, homem, aleluia! Seja a vontade Dele, e não a nossa! .......................................................................................... E numa noite ( e pela terceira vez ): O Senhor o tem escolhido, André, — Clara acaba de adotar outro bebezão... Um varão! E se parece com você... Sua tia vai adorar. Ela já não cria dois? Pois então, quem cria dois... Vai saber dos desígnios de Deus! Amém, homem! Aleluia! Sim: diga amém comigo, meu irmão! Abaixe a sua cerviz, para que Ele o exalte. Talvez no fim do ano, vamos levá-lo ( inclusive eu também irei ) para a sua piedosa tia. Vá preparando a escolhida. A indigitada pelo Altíssimo.
André gostava de Clara, e urrava a sua falta. Morava com sua mãe, mulher prática, chofer de taxi, e que mordia a língua e espetava com os olhos a situação do filho. Seu silêncio petrificado rugia como terremoto... Sofria por ver o filho tomando vodca com pólvora... e trepando em macauveiras...
Sofria até o ponto de chamá-lo, e com jeito lembrar-lhe ( mais uma vez ): Olha, André, segundo aquele poeta, que nunca teve nada de babaca, todos nós somos amigos daquele rei... Lembras? Lembro, mãe. — Então cria vergonha, homem, e te afunda entre as capituvas de outros brejos! LA 11/001
Pontos A Favor
O que a fome e sede de justiçatêm hoje a seu favor lá em humano é, sem dúvida, a velocidade com que as coisas vão mudando — tudo num evoluindo do andar a pé para o da carruagem; do automóvel para o avião; daí para as naves espaciais, e dessas para o clique eletrônico. O dilatar da consciência vai fazendo o ambiente insuportável... E que assim seja! Insuportável seja a cada dia mais! LA 11/001
Menino Afegão[Folha De S. Paulo, pág. A 17, domingo, 02/12/2001]
Quatro ou cinco anos. Belo e forte. Cheio daquela coragem-confiançada infância — ei-lo correndo, rodando o seu pneu de bicicleta enrolado com trapos...
Brinca tranqüilo, corre descalço-maltrapilho, e altivo, concentrado-confiante em seu brincar — o menino afegão corre tranqüilo no melhor dos mundos.... ...........................................................................................
Corre, roda o teu pneu, menino afegão! Vendo-te, nos lembramos que nós também já tivemos uma coragem limpa, bonita e forte como a tua! Que também já tivemos uma alma no céu com os pés sobre o chão.
Corre, roda o teu pneu, menino afegão! Corre no entre fronteiras hostis. Corre por sobre a terra esbranquiçada e seca, sobre essa terra pedrenta — a receber chuvas de mísseis — terra cheia de gemidos e feridas. Corre, menino, corre e roda o teu pneu entre essas pedras que já aprenderam a falar... em seu silêncio de sangue. Sobre essa terra cujo seio os homens rechearam com bombas — o que eles tinham em alma-coração.
Corre, menino, corre e roda o teu pneu como se rodá-lo fosse o que há de melhor e mais belo neste mundo...
Corre, menino, e jamais pares, jamais cresças, jamais pares, jamais cresças, jamais pares de rodar esse pneu... para que possas mostrar aos homens que rodar esse pneu tem muito mais sentido do que despedaçar corpos de pessoas. Jamais pares, jamais cresças, jamais pares, jamais... Ê, menino afegão! Menino-irmão-filho-neto- cidadão-gente-pessoa a correr bem lá dentro do sonho, lá nas entranhas do nexo de viver.
Esse divino-humano em ti é nós mesmos, menino! Nós mesmos num tempo em que ainda nem sabíamos falar de fé, de amor, de esperança — porque éramos essas três virtudes resumidas na alegria de viver — uma alegria que jamais precisava de razões. LA 12/001
Buscas
Que buscas, Diabo moço?— Busco o sucesso. E tu, Diabo velho? — Busco o êxito. E tu, Diabo D. Juan? — Busco xotas que saibam ordenhar. E tu, Diabo homossexual? — Busco priapos de duas cabeças. Quanto a ti, jovem Diabo? — Busco a delícia do proibido. E tu, Diabo menino? — Quero sorvete com muitos pistaches, grânulos de chocolate e rum daquela “Nau Sem Rumo”... E tu, Diabo broxa, Diabo ancião? — Quero muito, muito mais: Vivo orando o dia todo pra que os anjos desbundem na vigilância do céu... e eu — penetrando nele — possa dizer aos beatos que Deus entrou numa mala e se despachou pra Si mesmo. LA 12/001
Tempora Mala
Os tempossão maus lá dentro de nós. Lá fora, temos a guerra que nos distrai. Lá dentro, a esperança que trai. Sim: bem humana, engana ( em seu não-sim ) o amor, a fé até o fim. LA 12/001
Patos Sem Pena
Gostava de se sentir deprimido e triste. Adorava aquele tédio amarelo-encardido — Tédio de “Cartas a Milena”... Aquele tédio a escorrer pelo ver-sentir-pensar: viscosa melancolia somada a uma dolente, musical nostalgia — como a dos restos de jardins dos velhos casarões: avencas-musgos-limos entre as fendas dos muros com dálias doloridas espiando desenganadas o nada ter restado... e a morder os lábios rubro-carnudos — mordiscá-los num gesto de quem vê fantasmas em seu nevoento recordar... Degustava esse bonzo sagrado em alma-coração, enquanto a lua, um cachorro lulu, vagava em ganidos, ganidos frios de inverno. Gostava tanto de sentir-se deprimido e triste, que sua esposa lhe lia todos as noites jornais especializados em frankensteinizar a cabeça do patos sem pena de seus viciados leitores. LA 12/001
Hi-Tec
A gente se diverte vendo as guerras — a de Bin-Bush e a de Sharon-Arafat. Delícia! Sentados, comendo pipoca com cafezinho quente — a gente vê chover mísseis nas montanhas, nas ruas, nas cabeças dos cidadãos que porventura ( quem mandou? ) ali estejam.
De vez em quando rola um morto de turbante ou de boné lá de cima da montanha — e a gente ( com todo o respeito! ) acha magnífico: quanto maior a altura, maior a beleza do tombo. E os há até estéticos, sim: tombos de uma simetria em sinfônicas geometrias catatodinâmicas: magnificentes. Graças a Deus ( bem longe e em nossas casas ) temos cenas belíssimas de morte de verdade: na bandeja midiática, o ser humano, — a milhares e milhares de quilômetros, — estrebuchando em nossa tela: com esgares, gemidos, estertores e o azeite vermelho escorrendo... A realidade em carne viva.
O matar, isto é: telematar hi-tec. Bacana pacas! ..................................................... Ou um horror-terror que nos é impingido? LA 12/001
Canção E Pão
Bardos e bufos, menestréis e patetas, trovadores de repentes — dizei aos altos poetas que é na canção, com os pés bem no chão, que — por decantação — o social mais se mostra: sim: de tais comeres e excretos é que se deduz o quê e quem come-descome dentro da sede e da fome de alimento e de justiça. A canção tem sido o pão feito com o vômito do social.
Mas que é que o povo tem com isso, se a parte que ele tem nisso é só de comer tal pão enquanto o esfolam de trabalhar e o assassinam quando, não tendo trabalho, se aventura a roubar um pão? LA 09/001
Tsuname
Se vier a tal tsuname, minha Zefa, então me chame um pouco antes de seu instante espumante — para comer salame com pão crocante nesse momento a tremer... E, é claro, pra que a ame ao lado dessa tsuname, pouco antes de morrer — num desbragado, escatológico foder. LA 09/001
Solidão-Solitude
A solidão, meu velho, fora a maior punição de um imortal ( faz de conta que os há )...
Tenhamos dó do que não morre ( suponhamos que existem ). Sim: o principal gozo do homem é a sua gozosa mortalidade.
Aliás, a solidão, em meio à mortalidade, é doce, gostosamente suportável — tão assim, que se torna solitude: um status de quem se sente só, saborosamente a lidar com a alma tansversal do sonho. LA 09/001
Por Aqui
Sei que por aqui não passará nenhum trem, nenhum ônibus, nem condução ou OVNI que me possa levar daqui — porque aqui é um lugar em mim: um topos-universo ( para mim ) e algo não-existente ( para os outros ).
Por aqui não passará senão esse silêncio-solitude que me trespassa o íntimo do ser e essencializa a vida que respiro — já que pelo sentir-pensá-la metabolizo em alma outras gamas de mares, ares que se abrem para viagens por mim mesmo, em nenhuma distância entre o ser e Aba-Pai. LA 09/001
Pão E Bomba
Pã-pã-pã-pão. Bom-bom-bom-bomba — pão e bomba, bomba e pão. Pã-pã-pã-pã-pã-pã... Bom-bom-bom-bom-bom-bom... Pão-bomba, bomba-pão. A cada bom-m-m-m um pão. A cada pão-ão-ão-ão... uma bomba. Bu-Bu-Bu-Bush! Corram-subam-desçam-nadem! Da-W Bush, Bi-Bin Laden. Pão e bomba, bomba e pão. Bi-Bin, Bu-Bush — ão-om-ão-om-ão-om: Pão-bomba, bomba-pão. LA 12/001
Lucro-Show ( Um Pedaço De Página )
Menino, lembro bem: não eram poucos aqueles que contraíam comunismo. Uns por acharem nele um modo de prolongar a sua adolescência... ( adolescência não raro encanecida ), outros como se fora um jeito-status de brincar com fogo: “Olhem, gente, não temos medo de queimar-nos, nem por nós, nem por todo o nosso povo — sacrificarmo-nos ( se for preciso! ) ‘pela verdade’, pelos nossos filhos, até pelos eunucos e maricas, meios-homens que nos rodeiam...”
E havia, é claro, os que vestiam tal ideologia por legítima oposição: como entrada para um dos portais da necessária utopia... Mas todos — pró e contra — sabiam muito bem tirar proveito desse “ismo” demoníaco-divino. E assim faziam carreira social ( bilateral ): a) Os que — com ares de vanguardeiros do proibido-incompreendido — agiam como dentro de um sonho a bicar a própria casca... b) Os que se guindavam manejando os cordéis de escudeiros do Quixote... ou de exorcistas domonológicos. Tanto de um lado como de outro, o lucro era certo: status, cadeia e fama. Claro que também havia o lucro excessivo: tortura e morte. Mas lucro. Lucro-show de 70 anos — no fim do que o comunismo morreu de fome e mentira. Mas bela, bela mentira: se o homem perde a humanidade ganha.
Velhos demônios terríveis viraram frangos-d’água — depenados e degolados pelos anjos aloirados da Tocaia Econômica. ..................................................................................................... O proletariado acordou tirando dos olhos a remela de seus sonhos. E viu: viu que só tinha a sua prole!
O teatro acabara. Quando tiraram a máscara, vimos que só o script era um pouco diferente... Elenco e povo-platéia — eram os mesmos de todos os lugares. No chão: a maroma, os enormes sapatos, a bolota nasal, a camisa de bolinhas enrolada na maromba... ......................................................................
Hoje, sobrou o riso, não o de Marx ( que não ria ) — mas o das coisas prometidas. LA 12/001
Parlenda
— Cadê minha mulher daqui? — O vizinho a levou. — Cadê o vizinho? — Foi fazer cafuné. — Cadê o cafuné? — Virou uma só argila. — Cadê a argila? — Está moldando o amor. — Cadê o amor? — Foi confessar-se ao padre. — Cadê o padre? — Viajou com ele. — Com o amor? — Não, com a mulher que foi levada pelo bispo, que a transformou em sua camareira. — Cadê o bispo? — De dia reza e visita, de noite faz amor devagarinho, até a luz de fora projetar na parede o seu bundão de sombra. LA 12/001
Pule Este!
Quem não aprendeu a rir de si mesmo, tem uma idéia trágica da vida — há de pensar de si uma coisa que nunca foi... Mas por pensar já tê-la sido — há, sim, de jurar já portá-la em si. E glória ao Pai! E hosana a seus fiéis! O temporal passou sem xingar nem ofender. O padre disse na missa de domingo ( me informou a vizinha ) que as coisas são assim: quando precisamos delas, não raro, não estão ali. Mas ainda bem que Deus não tira férias... principalmente quando Deus está menstruado... Deus menstruado!?... Sim, machão panaca, — Deus menstrua a cada Yuga ( por favor, abra os Vedas ), que é quando Ele está existindo, pois quando não está Deus sempre nos socorre em Sua sombra... e nos convida para Seu teatro ( lá em poscênio ). E quando a vida nos faz sentir seguros, então, sim: batemos as punhetas mais gloriosas, e dizemos à nossa vizinha que não há nenhum perigo — pois nenhum M virá estrangular nosso prazer — e que fique bem tranqüila: receba no seu ventre nosso ciber-amor transformado no riso que o diabo pendurou na lapela de seu esfíncter anal.
Muito siso, dobrado riso — é o que me diz Glorinha. LA 12/001
Agora
Quando viver se multiplica, o resultado são cabelos brancos — o homem vai se tornando dobrável... e sua morte quase palpável. Resta-lhe o agora — um agora-anomia, se comparado ao que ele foi. Resta-lhe o agora — um agora bambo, se visto em seu tempo de vigor. Resta-lhe o agora — uma coisa-arremedo, talvez com medo de se ver a cada dia só com o seu agora. LA 12/001
Um puto De Um Soneto
Quero fazer um puto de um soneto que me faça capaz de me esquecer enquanto o escrevo, e saiba obsoleto, não escrevê-lo, mas isso saber. Um puto de um soneto tão completo de não-ventura, que só o escrever me faça relembrar o tom correto da canção que escrevi lá no meu ser.
Que escrevi, mas não pude musicá-la — esqueci o instrumento em minha mala, tão cheio de preguiça e adiamentos...
Um puto de um soneto em sonhamentos, que, quando lido em meio da putada, só provoque uma puta gargalhada. LA 12/001
Crocante
Na minh’alma plantaram joio e trigo e os dois cresceram com igual vontade de viver lado a lado num antigo conúbio opositivo em gesto-jade...
Quem me fez isso ( indago ) e quem me há de socorrer nesse duplo vitiligo — que fere a alma e a pele e, sem piedade, faz a esposa negar-me o seu umbigo?
Sim: suspendeu a esposa seus carnais quitutes a esse pobre corpo a arder sua libido uivando belos ais...
Com o trigo fiz o pão, o joio assei-o. O que sobrou guardei bem junto ao seio da amada. Em vindo a fome, é só comer. LA 01/001
Síndrome Fá...
— Estava tão sozinho, tão seco, tão crepitante, tão carente-pulsante — que coisou com um cacto.
— É... O que o virtual não faz! — Virtual uma pinóia, — real-realista, coisa-coisada, estrepe no estrepe, cara! — Mas como?! — Assim: André desceu o brim, escolheu um cacto-fêmea ( o homem é botânico... ) — e foram os arfares mais suaves, que jamais se ouviram de alguém chegado. — E houve orgasmo?! — Um orgasmo atravessado de punhais — como os românticos traídos... ..................................................................................... A amiga, que era médica, lhe retirou espinho por espinho — condoída, maternal e cheia de remorso, pensando bem baixinho e sem graça lá consigo: “Como pude deixar este pobre nesse estado?” ........................................................................................ Já em casa, a mulher — com infinita paciência e ternura — lhe jurou jamais deixá-lo em síndrome fá... fáli... califa... ( a língua não dá... ) Mas era tarde... Trop tard! Daí pra frente jamais André conseguiu relacionar-se com outra coisa a não ser aquele cacto — o cacto sensual, jeitoso, pilo-espináceo do jardim da psicanalista Jacobina ( vizinha do cacófilo ) — e que tinha um olhar tão penetrante, que em geral seus clientes deixavam seu consultório literalmente do avesso... Por isso é que o porteiro dizia que as pessoas saíam de lá outras. LA 12/002
Entre Querer-Ousar
A beleza da vida é nem ser bela. O bom da amizade é nem ser boa. O curioso da mentira é que muda a verdade. O engraçado da verdade é o seu lado de mentira. A beleza de ser é a esperança de ser-se. A magia de crer é usufruir bem antes. A glória de amar é não dever o que as moedas não pagam. A maior bênção de Deus não é Ele nos amar, mas nos ser. Suportamos a angústia porque a sabemos breve. Sim: tudo tem seu lado nobre: dura pouco. Existimos porque existir é o que há de melhor. Vivemos porque viver é o discípulo — dentro da vida, que é o mestre. Entre Ser e Tempo, o primeiro é cavaleiro, o segundo cavalo. Entre partir-chegar, há o querer-ousar dentro do Sonho-Quem. LA 01/002
Muy Amigo
O amigo vinha acasalar seus demônios com os meus. Depois que se ia, ficava por três dias um cheiro muito ruim de palavras ociosas — cheirando a enxofre e a vômito de veleidade e tolice. LA 01/002
Coisas De Homo Sapiens
Fim de festa. Cansaço. Sensações de quem bebeu até os tampos. De quem comeu e pediu mais. Certeza de que a ressaca, misturada com a luz do amanhecer, por vezes provoca vômitos — não vale a libido da festa... Ou vale? Sei lá. Pra alguém deve valer. .......................................................................................... Fim de festa. Quando viu — estava só com Heitor no quarto de uma das empregadas. E como Heitor precisava, não negou: não lhe ousou negar — mesmo porque era o melhor amigo de seu marido. Deixou Heitor chupar mel nos favos. Comer carne com ossos: bistecas ( com vontade de mijar ), frias em baixo, quentes de uísque na boca. Com infinito carinho, deixou Heitor comê-la em várias posições em que fingiu orgasmos celestiais, chiliques divinos — não esquecer que o de cujíssimo não era só o melhor amigo, mas também o patrão do marido — por isso lhe era generosa ( e agradecida aos céus ) — em trinta e duas posições, com fantasias que davam arrepios fosforescentes... LA 01/002
Não Mais, Mas Mais
A triste carne — envilecida — ensaia o canto, que já não sai. Ensaia o vôo, mas já não pode.
A triste carne já não vindima — envilecida de orgia e tempo. Em suas vinhas — secas — a lua é gorda e tem um jeito cansado: a esperança calada das donas de bordel. .................................................................... Não mais o canto, o espremer das uvas e o vôo azul. ....................................................................... A triste carne — envilecida — já não canta, nem voa — mas lembra: refaz suas venturas no mental. LA 01/002
Caturritas
Caso a mulher lhe diga: Já não te amo, desculpa. Considere-se feliz — em geral não pedem desculpas. Será um “fora” diferente — civilizado até. Melhor dizer a ela que aceita o “consensual” e que procure o advogado. Já quando na partilha, lhe dê a metade do gado ( se algum restou ), metade do telhado ( se não se hipotecou ), e, claro, metade das dívidas... E também diga a ela que existe o crime ( inafiançável ), no caso imputado aos dois, que foi o de prenderem duas belas caturritas que lhes liam a sorte por meio de bicadinhas pelas linhas da mão... enquanto a empregada — cigana — ia lendo em cada ponto paz-amor-felicidades... ........................................................................... E vá com calma, diga a ela ( e a você ) que essas coisas são assim mesmo. LA 01/002
Por Amor Do Teu Nome
O homem não morre, fica sem graça. Parece até que acabou de... Parece pedir desculpas por ter sido vencido. Sim: o morto fica muito sem graça — por não ter conseguido pegar o que lhe faltava... Ou por não ter tido perícia para dançar o tango... Por não se ter lembrado de esquecer. Por não poder se esquecer do esquecimento. Por ter estourado na mão a granada do amor, com que não soube lidar. Por não perceber que seu ver era apenas uma fresta — não um periscópio. Por essas e mil outras, um morto mais parece um mamífero que não foi desmamado — poucos genes o separam dos outros animais. Entre Deus e o homem há o biombo do “Eu te sou”, do “Tu me és”... Logo, sossegue, homem! Teus ares desencantados, tua morte sem graça — ao menos te livraram de seres um demônio de arrogância e prepotência insuplantáveis. .................................................................. Piedade, Senhor, de nós! Por amor do Teu nome — piedade, Senhor, de nós! De nós que nos vemos envelhecer, broxar e — como terceira loucura — ainda temos de morrer. LA 12/001
O Amor É Bom...
O amor é bom porque, quando não ama, há de saber ferir e desamar. E toda aquela trama ( a enorme trama de Penélope ) sabe destramar.
O amor é bom porque já não reclama — nem mesmo o silicone o faz recuar. E as quatro bolas, hoje, amor as chama de contrapeso muito irregular...
O amor é bom porque, hoje, é um safado, e quanto mais safado, mais amado. O amor é bom porque, hoje, já não é.
O amor é bom porque já nem precisa ser bom: vive sofrendo de coriza... Sim: o melhor do amor é o seu chulé. LA 12/001
Nem Tanto
Nem tanto para o altar, nem tanto para a zona. Entre putos e putas, entre bons ou nem tanto — atravesso uma ponte chamada mundo. Nem tanto para lá, nem tanto para cá — o caminho do meio é o que me seve. Os que sabem levitar ( lá em si mesmos ) podem se dar o luxo de ir pela margem espiral. LA 01/002
Vergonha E conivência
Não raro vemos o mundo como ele é — não como queremos que ele seja. Chamamos isso de realismo, e fundamos sobre isso a nossa moralidade.
Racionalizamos a realidade, e nossa culpa-arrogância-indiferença — que não vemos, nos faz cultivar a desventura da maioria do planeta.
Vítimas-vitimantes de um grande engano, há que inventarmos um novo caminho — não já, mas ontem. No ontem vergonhoso e estúpido do nosso fazer de conta que a realidade é tão mesquinha quanto nós: realidade de um lado só...
O futuro, sem nossas mãos no hoje — será a vergonha e a conivência das nossas omissões e a monoface das racionalizações, não do que poderia ser, mas do que — ferrenhamente — queremos porque-sim que seja. LA 01/002
Vítima-Vitimante
Lá em nossa arrogância-Titanicnão é de admirar que naufraguemos. Trocamos nossas bênçãos pelo chique luxurioso a faiscar em tons extremos.
A carne tem seus tiques e chiliques e manda que pilhemos e empilhemos... Nossa alma, de uma gula sem tabiques, abarca no olho os sonhos mais enfermos.
Vive-se na mais santa veleidade... A vida? Um amontoar de protoplasmas — sem-nexo-rumo-nem-finalidade.
O homem vira uma coisa sem sentido — vítima-vitimante em torres de aço e vidro. Pelas ruas, bandidos e fantasmas... LA 01/002
Um Mesmo Transeunte
Os jardineiros odeiam as formigas, que estupram suas rosas. Mudam a geometria musical de seus sonhos.
Os jardineiros odeiam matar formigas. Mãos que conversam com as flores, não são talhadas para a morte.
Os jardineiros que, à luz fresca do sol, deparam com suas plantas arrasadas pelas formigas — aprendem que para manter a vida é preciso vigilância e luta — do micro ao macro: vigilância, perspicácia e luta.
A nossa parte é a nossa parte, fazendo-a, aprendemos que por ser frágil é que a vida é tão bela. E que a vida, a verdade, a beleza, o homem são um mesmo transeunte. LA 01/002
Deixa Saudades
Como um anjo assume em paz a sua angelitude, assim ele fazia com a sua cornitude.
No começo ( é natural ) até lhe doía um pouco, mas leu muito sobre o assunto, deixou cruzeiros e cruzados, reais e dólares sobre o divã — até que reverteu a situação: já agora adorava ser corno. E tinha orgasmos deliciosos quando — frente aos amigos — se coçava ( manso e humilde ) em qualquer parte do corpo.
Rogava mesmo a Deus ( religioso que era ) que abençoasse os amigos que usufruíam das pérgulas da patroa.
“Bendita a tua cornitude, ó corno privilegiado, — ( lhe dizia o amigo hindu ) que te faz desapegar dos abismos da carne e livrando-te vai da roda de nascimentos e mortes!”
Quando a amada consorte foi desta para melhor, deu-lhe digna sepultura, com epitáfio e tudo: Deixa SaudadesLA 01/002
Seis
Um enterro? Seis pessoas. Sim: bastante suficiente — evita que competidores ( e amigos ) nos vejam assim sem graça, e os inimigos se encantem com nosso desencanto. Sim: um enterro não precisa de mais que seis pessoas. Seis pessoas numa tarde não-romântica — sem vento, nem céu pedrento, ou brumas... Nem aquelas pessoas que treparam com nosso cônjuge. Tudo, menos um enterro político, ou piegas. Não chega a morte? Sua presença crua, abissal não basta? Quanto mais gente mais triste um enterro.
Poucas, poucas pessoas. E muitas flores. Elas que falem. Só elas falem, mas falem nada. LA 01/002
De Diferente Em Diferente
Se essa é a minha vida, que fazer senão vivê-la assim minha? Sim: vivê-la assim minha, já que se precisasse vivê-la como a de outrem — que é que teria esse viver com o meu? Entre o meu e o do outro — o que existe são dois viveres, e o que é que entre eles pode haver, senão a diferença? Sim: a beleza e o caminho chamam-se diferença. E alguém poderia nos dar algo melhor que sermos diferentes? E há algo de errado em eu ser esse eu que a própria vida me deu? Não foi a criança, o moleque, o moço, o adulto, o maduro que me trouxeram até aqui? E aí está: nessas faixas de tempo eu mudei para mim. O diferente me interessa de mim para mim: enquanto organizar-me, superar-me, transcender-me — mudar-me para mim, para poder chegar àquele que me sou lá em funduras-ser: mudar-me de diferente em diferente para esse fim ontocósmico, essa finalidade que finjo não saber de frente e que olho de soslaio para melhor aprendê-la em meu aprender-me nela. LA 02/002
Purê Das Gramíneas
As notícias ofegantes, deixe-as ali na ponta daquela mesa... Gosto de lê-las nas tardes ensonadas, coçando o escroto sessentão com suas enormes batatas ( ah, descobri porque crescem tanto nessa idade, doutor: preparam-se para a festa do Purê das Gramíneas... Aliás, purê e ovos, doutora, ornam, agradam desde sempre... Mas não sejamos tão telúricos, ainda não é o caso...).
Nessa idade, as notícias já não espantam — tudo ganha uma relatividade com bocejos em que o mais belo já não seduz e o verdadeiro são esplêndidas incertezas.
{Esse riacho logo-ali é apenas uma fatalidade, chibata do destino em forma de rego d’água... com seu poscênio cheio de silêncio ( alagado), enquanto a alma marulha, entre lisos e escamas, as ironias sórdidas da vida: sórrrdidas — construídas quem sabe por nossas próprias mãos...}
A essa altura os anos passam muito rápido, os meses nem tanto... Dir-se-ia que passam feito cobra sob a galhada em que a gente se equilibra sentado... Já os dias caminham com os caracóis... E a existência só parece poder ser vivida de lado de nosso vê-la-consciência...
A vida é apreendida pelas penas ou pelo vôo... Seu volume vai se tornando tedioso, algo assim igual a coisas muito iguais... Tediosa não, mas feminista: foge como se não mais a merecêssemos... e nos deixa sozinhos como nossa mãe, que já nos morreu, e nosso cônjuge, que foi acasalar com o mundo sua última tarde a gemer os pruridos da carne.
Nosso ler-escrever-dedicação-estudo-pesquisa... tornaram-se nossos melhores companheiros, e cada um de nós ( de si ) um confiável amigo. Mandamos plantar favas nossos demônios gregos... Descobrimos a Pneumo-Amizade... com quem conversamos lá nas funduras de nós... Se racionalizamos as uvas do mundo, conseguimos também — secretamente — sublimá-las.
De modo que a felicidade nem mais precisa ser feliz, nem a ventura venturosa. Afortunado quem inventa seu modo de viver, e enquanto passa seu coração vai se lembrando do caminho de casa. LA 02/002
Adorações Em Lá Maior
Um apego ao infortúnio, sim: grande queda pela desventura. Adoramos ser infelizes... Talvez para sermos mimados, e compreendidos — lembrança deliciosa da voz de nossas mães.
Adoramos ser heróis ( ou anti- ) — fabular gabolices: recordar nossa infância entre vontades das coisas e a paciência dos de casa.
Adoramos dramatizar — apostar infelicidades... comparar desenganos... competir com desgraças... Aliás, tanto pela tragédia como pela comédia é que os gurus-orgânicos nos ensinam e nos tangem ( jeitosamente ) como gado.
Adoramos o não sei, o não lembro, o esqueci, o faço, sim: um dia faço... Adoramos justificativas, elogios e adiamentos do que devíamos fazer. Adorações em lá maior... a que lhes somos todo-ouvidos. LA 02/002
Aleluias E Formigas
O relacionamento a dois?Só Deus sabe como anda... Mas a três, a quatro ou mais — vai muito bem relacionado.
Mulheres reclamam de homens, homens reclamam de mulheres, mas, segundo o Procon, — os dois só pensam naquilo. E o pobre do Santo Antônio nunca teve menos sossego. Se bem, por vezes, é verdade, só para provar, talvez, ( a todos os linguarudo ) que o amor existe sim, senhor. Existe e é produto chique: sabidamente trambicado, ainda é o mais procurado.
Eronóia, filonóia! Velhanóia, novanóia! Glória, glória e pinóia! Aleluias e formigas! Bote um copo com água ao lado da oração das seis — e você pode salvar-se de morrer de tanta sede. Não dando resultado, procure por um guru — que sabe tudo, menos ser honesto e feliz. LA 02/002
Se O Amor Fosse...
Se o amor fosse, dispensaria os ensaios diuturnos — te-amo-me-amas, flores, bilhetes, bijuterias, jóias, mimos de novelas, telefonemas ao outro dia — esse andar cotidiano por maroma sem maromba, e trejeitos de saltimbancos.
Se o amor fosse, era, e pronto. Como não é, nem nunca foi — porque — graças a Deus — não é, justamente por isso, amor, minha Rosa, é coisa chique: faz inventar, gemer, tremelicar os seus chiliques e orquestrar os seus tiques.
Se o amor fosse, pobres de nós! Como iríamos achar ridículo o amor dos outros?
Ama o amor, minha amiga, o amor pelo amor do amor: luta, esgrime, duela, defende o humor, o riso, a gargalhada no amor. O homem, sem o amor, — como é que viveria sem a sua graciosa tolice, sem a graça de suas aventuras, seus desenganos, os flertes com o mundo, os adultérios incentivados pelas novelas (em seu burlesco romanesco e suas quixotadas), a traição saborosíssima, fornicações glamourosas, assiduamente em lúbricos requintes praticadas?
O amor-eros iguala os homens, por isso o amor é belo: além de fazer de bobo, também faz o homem se queimar. LA 02/002
Ida E Volta Do Herói
Construiu uma torre de capim: dez andares, rodeados de sacadas. Nela pôs cem das suas bem-amadas, e partiu para a Guerra do Alecrim...
Andou terras de Alá, Pedro, Joaquim... Passou por Londres, por Paris, Granada... Fez tal estrago, deu tanta paulada — guerreiro algum parou em seu selim...
Recobrou o brasão de Alecrinada, velho símbolo santo na cruzada contra os infiéis idólatras do Aipim.
Voltou pontudo igual a mil talheres... ( Os amigos lhe tinham cuidado das mulheres...) Festejaram comendo amendoim. LA 02/002
Rosa
Cerca pulada, jardim pisado — um tudo-nada, mas encantado: sal, nexo, sentido — feitos razão de ser.
Uma rosa não é só uma rosa, mas o que os séculos ( a cultura ) sonhou ser a rosa... Tudo o que simboliza, o que diz sem falar — sim: a rosa não fala a linguagem dos homens... O transverbal da rosa só a alma entende e sabe tão verdade quanto seus espinhos conversarem entre os dedos e a vida. A rosa morre, seu símbolo jamais. Suas pétalas murcham, sua intenção vive sempre. Se o vento a desfolha, suas pétalas viram pranto em nós lá dentro: sim: pranto nosso. Somos a rosa e ela nos é.
Não raro pisam a rosa que ofertamos a alguém num belo dia em que nosso coração brilhava e essa rosa falava ( lembra? ) a linguagem dos anjos. Pisá-la é fazer doer muito. O que amamos amamos porque-sim — o que chamamos nosso só é belo e compensa porque o fingimos assim. O encanto encanta por seu canto-nexo em alma. Amor pisado é rosa morta. Quem a matou que fique com a dor. LA 02/002
Barganha
Amansam-nos. Fazem-nos pensados. Fazem-nos sonhados. Toureiam-nos. Roubam-nos. Corneiam-nos. Acanalham-nos. Dizem-nos o que fazer e não fazer. “Provam-nos”estarem certas a pobreza e a miséria. Inventam “ismos”e “ias” que nos mostram tudo estar correto: ser essa a vontade de Deus e ponto final. .......................................................................... E em troca dessa aceitação — nos prometem o reino dos céus. LA 03/002
Aleluias E Minhocas
O pastor ia falar, alguém tossia. Ia falar, tossia. Ia, tossia. I... tos... Até que o pregador lhe repreendeu a tosse: “Em nome do Sen...!!!”... ........................................................ E pronto — não se ouviu mais tosse. Fez o sermão. LA 03/002
Fofundas
Rotunduras malhadas Sim: rotundo-modeladas com suor e desvelo — recompensadamente graciundas Facundas ( undas-ondas-undas-ondas-undas... ), ecoando deliciundas: redondas-ondas-ondas-ondas... Facundas a ondear: ondeando-ondeando-ondeando tagarelantes, mexemexundas Undas undas ( latinas undas ) Ondas-ondas-undas-undas — undivagantes, undívagas ao horizonte dos olhos, aos comichões digitais: ondeando-ondeando-ondeando rechonchundas-bochechundas Vós ocupais, ó rotundas, lugar de privilégio ( irreverentemente egrégio! ) sob o topete ( ou calva ) do momento — sempre belundas e jucundas: undas-ondas-undas-ondas-undas, jucundas quanto fecundas — fofosamente fofundas, e sempre-sempre sabichundas LA 08/002
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